Soja: Próximas chuvas não recuperam parte das perdas na safra do Brasil

Publicado em 27/12/2018 15:32

A nova safra de soja do Brasil continua sofrendo com as condições de clima em diversas áreas produtoras do país em função das adversidades climáticas. As elevadas temperaturas e a falta de chuvas continuam a castigar as lavouras e diminuir seu potencial produtivo a cada dia em que o cenário se mantém dessa forma. E onde as chuvas chegaram, foram limitadas e insuficientes para promover uma mudança significativa. 

Além disso, há uma grande parte da área semeada com soja no Brasil em que as perdas já são irreversíveis. E assim, consultorias privadas já começam a reduzir suas estimativas para a temporada 2018/19.

E de acordo com as últimas previsões, o Matopiba e o Sul do Brasil deverão ter um novo período de tempo seco entre o final de dezembro e o início de janeiro, após algumas chuvas que chegaram a estas regiões nos últimos dias. De acordo com o mapa do centro de previsão da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), entre os dias 27 de dezembro e 04 de janeiro, menos chuvas acumuladas serão registradas na maior parte da região Sul do país.

Nesse mesmo intervalo, de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), os maiores volumes de chuvas deverão se concentrar na faixa Centro-Norte do Brasil. 

"O Centro-Norte do país vai se manter instável. Eu acredito que a Zona de Convergência do Atlântico Sul deve se formar e voltar a atuar e, com isso, essa chuva deverá ser estendida", disse o meteorologista do Inmet, Mamedes Luiz Melo.

Leia mais:

>> Tempo: Após precipitações, chuvas voltam a diminuir no Sul do Brasil no final de dezembro e início de janeiro 

De acordo com o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities, o novo número para a safra brasileira é de 113,18 milhões de toneladas, sendo 50,63 milhões no Centro-Oeste; 36,59 milhões no Sul; 9,07 milhões no Sudeste; 10,73 milhões no Nordeste e 6,16 millhões de toneladas na região Norte. 

Até este momento, Araújo estima que as perdas mais severas tenham acontecido no Paraná, com 14%, Mato Grosso do Sul, com 13%, Rio Grande do Sul, com 7% e Mato Grosso com 5%. 

"Há várias microrregiões com perdas irreversíveis. Houve a maturação fisiológica forçada, com grãos pequenos e esverdeados", diz o analista.

Soja prejudicada pelo calor em Ponta Porã (MS)

Há uma semana, o Notícias Agrícolas trouxe relatos de produtores de várias regiões onde as colheitas já vinham sendo adiantadas de 20 a 30 dias por conta do tempo extremamente quente e seco, na tentativa de perder ainda mais deixando suas lavouras no campo. 

Os relatos chegam de todas as partes. Há áreas sendo colhidas em Toledo, no Paraná, em que a produtividade chega a apenas 40 sacas por hectare, número bem baixo para as médias da região. Ao mesmo tempo, no Sul do Maranhão não chove há mais de 20 dias e o potencial vai sendo diariamente reduzido. 

Como explicou o José Carlos Oliveira de Paula, presidente da Aprosoja MA e do Sindibalsas (Sindicato dos Produtores Rurais de Balsas), as lavouras que mais sentem são aquelas que estão em fase de enchimento de grãos ou na formação dos canivetes. "Nessas áreas as plantas já estão abortando os canivetinhos", diz Oliveira. 

Há ainda, no sul do estado, cerca de 15% da área que foi semeada um pouco mais tarde e onde os prejuízos são ligeiramente menos agressivos. "Não há mais o que o produtor fazer, ele está só esperando a chuva chegar. As temperaturas têm variado de 34ºC a 38ºC", diz o presidente da Aprosoja. 

E como explicam analistas e consultores, a safra brasileira só não será menor porque o aumento de área foi considerável nesta nova temporada. Há números mostrando até 36,6 milhões de hectares, um aumento de 4,13% em relação à safra 2017/18. Ainda segundo cálculos de Marcos Araújo, com uma quebra de:

1% - Brasil colhe 118,87 milhões t;
3% - Brasil colhe 116,46 milhões t;
5% - Brasil colhe 114,06 milhões t

"Me parece que temos uma quebra já consolidada de pelo menos 5%", diz o analista. Ainda segundo explica o executivo, parte dessas perdas acabam refletindo a antecipação do plantio observada neste ano. "Muitos produtores, na expectativa de fazer o plantio do milho safrinha no cedo, colocam em risco antecipado o plantio da soja. As próximas chuvas vão ajudar as lavouras que foram plantadas dentro da época normal, com ciclo médio e tardio.Essas podem se recuperar", completa. 

Lavouras de soja no Brasil terão chuva abaixo da média no início de 2019

Por José Roberto Gomes
 

SÃO PAULO (Reuters) - Os primeiros dias de 2019 ainda serão marcados por chuvas abaixo do normal nas principais áreas produtoras de soja do Brasil, e o setor do maior exportador global da oleaginosa já fala em perdas concretas após um dezembro seco e de altas temperaturas.

O receio é de que a continuidade de condições climáticas adversas resulte em um impacto significativo sobre a safra 2018/19, que até o momento é estimada em um recorde de 120,1 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Conforme o Agriculture Weather Dashboard, do Refinitiv Eikon, as precipitações ficarão aquém da média histórica até 10 de janeiro em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná e São Paulo. Juntos, esses Estados respondem por quase dois terços de toda a produção nacional de soja.

Na parte nordeste de Mato Grosso, o maior produtor brasileiro, as chuvas tendem a ser 50 milímetros inferiores ao esperado para este momento do ano. Já no Paraná, há áreas na porção sul que terão 20 milímetros menos água ante o normal.

Em Mato Grosso do Sul e em São Paulo, a previsão aponta para precipitações entre 40 e 60 milímetros abaixo da média histórica, ainda de acordo com o Agriculture Weather Dashboard.

"O clima afetou, está afetando e poderá afetar ainda mais nesta safra 2018/19", resumiu o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz.

"(A estiagem) tem afetado bastante, principalmente a região Sul do Brasil... Isso deverá afetar muito nossa produtividade, porque as temperaturas estão muito altas", afirmou Braz, citando relatos de perdas de produtividade de até 30 por cento em algumas áreas e falta de chuvas também no Matopiba, fronteira agrícola composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Na quarta-feira, produtores de Mato Grosso disseram à Reuters que o tempo adverso está reduzindo o rendimento das lavouras de soja no Estado, cuja colheita está estimada em cerca de 32 milhões de toneladas pelo governo.

CÁLCULOS

O secretário-executivo do Sindicato Rural de Chapadão do Sul, Guilherme Tamanini, comentou que na região do município, no nordeste de Mato Grosso do Sul, há quem já aponte perdas de 40 por cento no potencial produtivo.

"A seca foi brava, queimou muita soja, muitos produtores adiantaram a colheita", disse. Por lá, os trabalhos de campo podem começar no início de janeiro, uma quinzena antes do habitual, resultando em grãos ainda longe do desenvolvimento pleno.

Embora não descarte prejuízos, Tamanini disse não prever que a safra "seja tão ruim", afirmando que chuvas um pouco mais fortes nesta semana contribuíram para uma melhora das plantações. De acordo com a Conab, Mato Grosso do Sul deve produzir 9,2 milhões de toneladas, figurando como quinto maior produtor do país.

No Paraná, os relatos, por ora, são de perdas de 3 por cento, algo entre 500 mil e 600 mil toneladas, principalmente de lavouras plantadas mais cedo, disse o gerente técnico da Organização das Cooperativas do Estado (Ocepar), Flávio Turra.

"Já tem perdas, sim. Já tem uma ou outra colheita sendo feita, no oeste do Estado, com produtividade baixa. Nas piores lavouras, as que foram mais afetadas, a produtividade tem sido na casa de 15 a 20 sacas por hectare, sendo que o normal são 58 sacas", comentou, ponderando que esses rendimentos ruins ocorrem apenas em regiões pontuais.

Conforme Turra, o sudoeste, o noroeste e o oeste do Paraná são as áreas que mais geram preocupações atualmente.

O Estado deve colher 19,6 milhões de toneladas de soja na atual temporada, segundo a Conab.

(Por José Roberto Gomes)

Tags:

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Soja recua em Chicago nesta 2ª, voltando a focar o clima bom nos EUA
Soja/Cepea: Valorização do farelo e clima adverso mantêm preços do grão em alta
Soja tem nova alta em Chicago, fica acima dos US$12/bushel, mas continuidade do movimento ainda depende do clima nos EUA
Paraguai: soja safrinha terá um dos menores rendimentos dos últimos anos, diz StoneX
Safra de soja do RS pode cair 15% por chuvas, com impacto em números do Brasil