Vendas de soja e milho no Brasil perdem força após queda dos preços

Publicado em 07/06/2019 17:28

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - As vendas de produtores de soja e milho do Brasil esfriaram nesta semana, com a queda nas cotações após um câmbio menos favorável e um recuo no mercado referencial de Chicago, disseram agentes do mercado nesta sexta-feira.

"Falta vendedor, demanda tem tranquilo, para agosto, setembro... O produtor não está fixando, aí o comerciante fica fora do mercado", disse um corretor no Paraná, que trabalha com milho.

A falta de interesse se deu após um período de bons negócios, marcado pelo dólar acima de 4 reais em maio --que torna o produto brasileiro mais competitivo-- e por ganhos fortes na bolsa de Chicago, influenciados por um atraso recorde no plantio nos Estados Unidos, os maiores produtores globais das duas commodities.

A soja e o milho fecharam com perdas semanais após subirem nas últimas três semanas, com o mercado citando que os produtores do norte-americanos esperam conseguir alguma janela de tempo seco para realizar o plantio.

Já o dólar fechou em ligeira baixa ante o real nesta sexta-feira, mas caiu mais de 1% no acumulado da semana, a terceira seguida de recuo da moeda norte-americana, reflexo de melhora do apetite por risco no exterior e de clima ainda visto como benigno para a aprovação de reformas no Brasil.

"A desvalorização do dólar frente ao real e o recuo nos preços futuros negociados na CME Group (Bolsa de Chicago) pressionaram as cotações domésticas da soja nesta semana. Esse cenário, atrelado a preocupações com o clima nos Estados Unidos, afastou agentes do mercado", disse o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em nota.

A soja em Paranaguá (PR) recuou 1,9% entre 30 de maio e 6 de junho, para 81,81 reais/saca de 60 kg na quinta-feira, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.

Já o milho fechou a 37,38 reais/saca de 60 kg na quinta-feira, recuo de 2,6% frente ao dia 30 de junho, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, que apura o preço região de Campinas (SP).

"Do lado da oferta, o avanço da colheita nas principais regiões produtoras (do Brasil) eleva a disponibilidade interna e pressiona as cotações. Alguns vendedores, no entanto, aguardam maior definição sobre a safra norte-americana", disse o Cepea.

Diante do histórico atraso no plantio de milho nos Estados Unidos, "esses vendedores mantêm a expectativa de aumento das exportações brasileiras e, consequentemente, de novas reações nos preços internos", acrescentou o centro da Esalq/USP.

A queda nos preços domésticos ocorre com o Brasil realizando a colheita de uma safra recorde de milho de cerca de 100 milhões de toneladas, enquanto a produção de soja já colhida foi uma das maiores da história, apesar de problemas climáticos.

  • Preços globais dos alimentos sobem em maio, diz FAO; vê menor produção de cereais

ROMA (Reuters) - Os preços mundiais dos alimentos aumentaram pelo quinto mês consecutivo em maio, depois que o mau tempo elevou os preços do queijo e do milho, informou a agência de alimentos da ONU nesta quinta-feira.

A Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também alertou que uma queda acentuada na safra de milho esperada nos Estados Unidos, afetada por cheias, diminuiu sua previsão anterior de produção global de cereais em 2019.

O índice de preços dos alimentos da FAO, que mede as variações mensais de uma cesta de cereais, oleaginosas, laticínios, carne e açúcar, registrou uma média de 172,4 pontos no mês passado contra 170,3 pontos em abril - seu maior nível desde junho do ano passado.

O índice de preços do leite da FAO subiu 5,2% em relação ao valor de abril, atingindo máxima de cinco anos, com o queijo ajudando a elevar o índice graças à forte demanda global pelo produto, já que uma seca na Oceania limitou as perspectivas de exportação da região.

O índice de preços de cereais da FAO subiu 1,4% devido a um aumento repentino nas cotações de preço do milho após o plantio da safra ter caído para o ritmo mais lento já registrado nos Estados Unidos devido às inundações generalizadas e chuvas.

Em contrapartida, o índice do açúcar caiu 3,2% no mês e o índice de preços dos legumes caiu 1,1%.

Em sua segunda previsão para 2019, a FAO previu que a produção mundial de cereais chegará a 2,685 bilhões de toneladas, abaixo da previsão anterior de 2,722 bilhões de toneladas, mas ainda 1,2% acima dos níveis de 2018, quando a produção caiu.

"O aumento na produção mundial de cereais na comparação anual reflete a expansão da produção de trigo e cevada, enquanto a produção global de arroz deverá permanecer próxima ao nível recorde do ano passado", disse a FAO.

"A produção mundial de milho, no entanto, está agora projetada para cair, com a produção dos EUA podendo encolher 10% em relação ao ano anterior, em meio a um ritmo muito reduzido de plantações devido às condições climáticas desfavoráveis".

A agência da ONU disse que as novas estimativas de produção e utilização sugerem que os estoques mundiais de cereais podem cair em até 3% na nova temporada, atingindo uma mínima de quatro anos de 830 milhões de toneladas.

(Reportagem de Crispian Balmer)

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Fonte: Reuters

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