Pequim desmente Trump sobre acordo para novas compras de produtos agrícolas

Publicado em 12/07/2019 10:57

As importações de soja da China em junho recuaram 11,5% em relação aos números de maio e somaram 6,51 milhões de toneladas, de acordo com números divulgados pela Administração Geral das Alfândegas nesta sexta-feira (12). O volume é menor também do que o de junho de 2018, quando os chineses importaram 8,7 milhões de toneladas. 

Nos primeiros seis meses de 2019, as compras de soja da nação asiática somam 38,27 milhões de toneladas, 14,7% menos do que no mesmo intervalo de 2018. 

Gráfico mostra o desempenho das importações de soja da China - Fonte: Bloomberg

De acordo com informações de agências internacionais, a baixa nas compras se deu por conta dos impactos da Peste Suína Africana e também em função da guerra comercial com os Estados Unidos que continua. Ainda como explicam os especialistas, este ano os compradores estavam com estoques mais regulares, diferente do ano passado, quando se anteciparam nas aquisições da oleaginosa diante do início do conflito comercial com os norte-americanos. 

Em maio, quando as relações entre China e Estados Unidos voltaram a ficar ainda mais sérias e distantes, os americanos exportaram apenas 980 mil toneladas de soja ao país asiático de um total adquirido por eles de 7,36 milhões. O Brasil foi o responsável pelo envio de cerca de 6 milhões de toneladas aos chineses. 

Há alguns meses, as empresas estatais da China realizaram algumas compras nos Estados Unidos, como parte da trégua firmada entre Donald Trump e Xi Jinping em uma reunião do G20 no final do ano passado, na Argentina. Como um sinal de boa vontade, os chineses compraram alguns milhões de toneladas da oleaginosa norte-americana, porém, boa parte ainda não foi embarcada. E, no último mês, o que havia programado para julho foi postergado para agosto. 

Ao mesmo tempo, as empresas privadas da nação asiática seguem distantes da soja dos EUA, uma vez que permanece a tarifa dos 25% sobre o produto, tornando-o o menos atrativo, neste momento, para os importadores chineses. E diante disso, a preocupação dos americanos segue aumentando. 

No fim de junho, Xi e Trump voltaram a se encontrar em uma nova cúpula do G20, dessa vez no Japão, onde uma nova trégua foi firmada e quando o premier chinês teria se comprometido a já começar a comprar mais produtos agrícolas norte-americano, o que não vem acontecendo. 

"A China está nos decepcionando porque não comprou os produtos agrícolas de nossos grandes produtores como que disseram que fariam. Espero que eles comecem em breve!", disse Trump em sua conta no Twitter nesta quinta-feira (11). 

No entanto, de acordo com informações apuradas pela agência internacional Bloomberg, o governo chinês informou que este acordo não foi feito durante o encontro dos dois líderes no G20. As informações partem de fontes oficiais em Pequim. Trump teria feito uma confusão, segundo eles, sobre o que foi acordado em Osaka. 

O principal é que ele e Xi teriam concordado em não mais aumentar as tarifas sobre produtos de ambos os países, enquanto entre os principais pontos ainda de discordância estão a Huawei, uma gigante chinesa da tecnologia, e quanto e quando a China começará suas importações de produtos agrícolas dos EUA. 

Mais do que isso, o ministro do Comércio da China disse ainda que "discussões substanciais ainda têm que recomeçar apesar de os dois lados terem se falado pelo telefone nos últimos dias". 

"Os dois lados das negociações irão retomar suas conversas baseados em igualdade e respeito mútuo, seguindo o consenso acordado entre os dois líderes em Osaka", disse Gao Feng, porta-voz do ministério. 

Fontes familiarizadas com o assunto, porém, informaram à Bloomberg que a China já estaria sim se preparando para fazer compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos, mas não compremeterá grandes volumes até que veja um progresso concreto nas negociações. 

Em entrevista à Bloomberg, o especialista chinês He Weiwen afirma que o caminho é, na verdade, contrário ao que Trump imagina. "Não é o caso de a China comprar produtos americanos para que cheguem a um acordo final, mas para a América conseguir vender com sucesso seus produtos à China ela depende da chegada de um avanço nas negociações", diz. 

Um outro executivo que vem acompanhando o assunto e que está familiarizado com as discussões, além de ser um influente pesquisador do agronegócio, diz ainda que acredita ser praticamente impossível que Pequim começe a comprar grandes volumes de produtos americanos tão cedo. 

PARA O BRASIL

Embora sobre os preços da soja os efeitos da concentração das compras da China não venham sendo registrados tão intensamente como os produtores gostariam, o Brasil continua se destacando como o principal fornecedor da nação asiática e assim deve permanecer, ainda de acordo com analistas e consultores de mercado. 

Os últimos números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que os embarques da oleaginosa seguem muito aquecidos no país e que já chegam a 48,9 milhões de toneladas, superando o total do mesmo período do ano passado. Somente na primeira semana deste mês, o Brasil embarcou 1.758,4 milhão de toneladas do grão. 

Os embarques fortes refletem negócios feitos antecipadamente e novas operações seguem escassas neste momento. O sojicultor brasileiro acredita em oportunidades melhores mais a frente, justamente em função dessa força da demanda e do maior comprador mundial da commodity manter-se focado na oferta brasileira. 

Apesar disso, produtores vêm relatando que os preços atuais ainda não recebem todo o impacto dessa guerra comercial entre China e Estados Unidos. O conflito, afinal, mantém as cotações pressionadas na Bolsa de Chicago - apesar das altas recenter em função das adversidades climáticas nos EUA - e, como referência para os indicativos no mercado nacional, acabam limitando seu avanço. 

Do mesmo modo, um recente recuo do dólar levou a moeda americana aos seus patamares mais baixos em meses e, ao mesmo tempo, os prêmios pagos pela soja do Brasil também encontram, ao menos por hora, pouco espaço para um avanço mais forte, e seguem no intervalo de 90 a 100 cents de dólar. 

"No entanto, estamos entrando no segundo semestre, e se aproximando do período de entressafra", lembra Steve Cachia, diretor da Cerealpar e relações internacional da Leaxcoin. E com isso, boas oportunidades poderiam aparecer. "Como o cenário internacional só esta ajudando  não caindo mais ao invés de subir, e com o dólar também em queda, pode ser importante o produtor aproveitar quando essas oportunidades aparecerem", completa. 

Assim, o executivo afirma que, por enquanto, ainda temos os mesmos fatores direcionando o mercado da soja. "Clima nos EUA, guerra comercial e peste suína dominando a relação oferta x demanda e, para o Brasil, a taxa de câmbio adicionada para formar o parâmetro de preço". 

Para Cachia, o dólar não deve encontrar um espaço muito maior para baixas agora, "porque esta etapa já está precificada e, provavelmente, teremos uma correção técnica para cima, nem que seja momentânea", diz. Mas, "mais pra frente no ano sim, quando se caracteriza que dinheiro do investidor estrangeiro está voltando ao Brasil, que não é o caso até o momento", conclui. 

Com informações da Bloomberg e da Reuters Internacional.

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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