Parte da família Biagi ainda resiste à venda da Santelisa Vale

Publicado em 19/06/2009 06:42 e atualizado em 28/02/2020 11:58

Apresentada como irreversível quando foi anunciada, no início de abril, a incorporação da Santelisa Vale pela multinacional francesa Louis Dreyfus ainda corre risco de não se confirmar por divergências envolvendo o comando da operação, mas esta possibilidade diminuiu bastante na quinta-feira.

O Valor apurou que, na quinta-feira pouco antes do almoço, em conversa reservada com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, um dos acionistas da família Biagi, dona da Santelisa, tentou acordo paralelo para manter o controle da usina por meio de um possível aporte do banco. Diante da negativa, a tendência é que família assine nos próximos dias a venda da empresa, na qual os atuais acionistas ficarão com cerca de 30% da fatia em seu antigo império.

Mas parte dos Biagi, que estão há 111 anos no Brasil - quase 90 anos deles dedicados ao segmento sucroalcooleiro - ainda resiste.

Em situação financeira delicada, a Santelisa negocia suas dívidas com os bancos credores e fornecedores. E isso é fundamental para que a venda se concretize. Por conta disso, a Santelisa já bateu o martelo e vai se desfazer dos 25% de participação que possui na Tropical Bionergia, na cidade de Edéia (GO), em parceria com o grupo inglês British Petroleum (BP), com %, e Maeda, com outros 25%, e também de sua fatia no projeto da Amyris, que chegou ao Brasil para produzir biodiesel a partir da cana, segundo apurou o Valor.

Procurado, o empresário André Biagi, controlador da Santelisa, negou, por meio de sua assessoria, resistência nas negociações com o grupo Louis Dreyfus.

Fontes familiarizadas com a negociação afirmaram que o conselho da família Biagi reuniu-se, na quinta-feira, e decidiu manter o acordo preferencial com a Dreyfus, uma vez que uma sinalização do BNDES de adquirir maior participação na Santelisa, por meio do BNDESPar, não deveria sair antes do dia 31 de julho, fim do prazo de acordo preferencial com a Dreyfus. O BNDESPar também não deverá elevar sua participação na companhia, informaram as fontes.

A resistência dos Biagi na venda para a Dreyfus começou nas últimas semanas, quando parte da família Biagi e a família Junqueira (acionistas da Vale do Rosário, de Morro Agudo, incorporada na fusão com a antiga Santa Elisa), questionaram os termos do pré-acordo assinado com a múlti. Essa parte da família entrou em conflito, levando os irmãos Biagi a buscar uma nova solução que os manteria no controle.

No Brasil desde 1888, a família Biagi começou a produzir açúcar em 1922. Controladores de uma empresa engarrafadora da Coca Cola e também de indústria equipamentos a Sermatec/Renk Zanini, os Biagi deram um grande salto em 2007 ao promover a fusão da Santa Elisa com a Vale do Rosário e outras três usinas paulistas, tornando-se o segundo maior grupo do setor no país. Os negócios começaram a desandar no ano passado, quando o setor já passava por uma profunda crise, e se agravou ainda mais com turbulência financeira global.

Altamente alavancada (com dívidas de R$ 3 bilhões), a Santelisa não tinha outra solução a não ser encontrar um sócio. "Um sócio é fundamental para o grupo", disse uma das fontes familiarizadas com as negociações. O perfil agressivo dos novos controladores começou a desagradar os atuais acionistas. Segundo a mesma fonte, os executivos franceses também quiseram rever cláusulas do pré-acordo assinado com os Biagi, o que teria desencadeado a busca por "um plano B". Procurado, o grupo Louis Dreyfus não comenta o assunto.

"A resistência da família é natural, uma vez que os acionistas estão no setor há muito tempo. É um sentimento de frustração muito grande", afirmou a fonte. "A família Biagi é uma das mais conhecidas no setor e na região de Ribeirão Preto. Maurílio Biagi [pai dos atuais acionistas, falecido em 1978] é referência até hoje."

Fonte: Valor Econômico

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