Trigo: plantio e exportações crescem em meio à guerra na Ucrânia; confira análises da hEDGEpoint
• Olhando para diversos indicadores da safra 24/25 da Ucrânia, tudo aponta para mais uma safra de mais de 20M mt – um nível menor que o visto no período pré-guerra, mas longe de ser uma safra ruim ou uma quebra. Esperamos uma redução de somente 0.6M mt frente a safra anterior, que teve uma produtividade recorde.
• Os dados de plantio divulgados até o final de novembro apontavam para um aumento da área plantada, enquanto a umidade do solo segue próxima da média de 5 anos. A cobertura de neve diminuiu recentemente, porém as previsões apontam para um baixo risco de winterkill.
• As exportações ucrânias também têm de certa forma surpreendido o mercado. Em dezembro a Ucrânia embarcou 4,8M mt de alimentos, principalmente grãos, de seus portos do Mar Negro, superando pela primeira vez os volumes alcançados pelo corredor de grãos promovido pela ONU. Contudo, a escalada das tensões no Mar Vermelho pode alterar esse cenário.
Nos últimos relatórios temos visto que, apesar de alguns riscos, os principais produtores do hemisfério norte têm em geral trazido diversos fundamentos baixistas para os mercados futuros de trigo. Neste relatório, abordaremos mais um desses casos: A Ucrânia.
Mais uma safra de +20M mt a caminho
“Olhando para diversos indicadores da safra ucraniana, tudo aponta para mais uma safra de mais de 20M mt. Começando pela área plantada, os dados disponíveis até o momento nos levam a crer que os produtores ucranianos plantaram uma área maior em 24/25 frente a última safra. Até o final de novembro, o ritmo de plantio era superior ao de 2022, que foi o primeiro plantio impactado pela guerra com a Rússia. A umidade do solo também contribui para esse cenário. Apesar de estar abaixo dos níveis vistos neste mesmo período nas últimas 2 safras, ela se encontra próxima da média dos últimos 5 anos”, diz Alef Dias, analista de Grãos e Macroeconomia da companhia.
E prossegue: “Ou seja, não é um cenário excelente como o da safra anterior – onde a Ucrânia observou condições climáticas próximas da perfeição, levando a um rendimento recorde mesmo em um contexto de guerra – mas está longe de ser uma condição ruim. E analisando as previsões de precipitação, pode-se esperar uma melhora desse cenário nas próximas semanas”.
Do lado da temperatura, a situação também enseja certo otimismo com relação ao rendimento. Apesar de os dados mais recentes apontarem para uma redução da cobertura de neve, as previsões de temperatura apontam para um clima mais quente do que a média nos próximos dias, reduzindo os riscos de winterkill.
O país tem conseguido aumentar suas exportações, mas a situação no Mar Vermelho impõe riscos
A Ucrânia conseguiu aumentar suas exportações de grãos do Mar Negro a um nível nunca visto desde antes da invasão russa, embora a crise de transporte marítimo do Mar Vermelho represente um novo desafio para seu importante comércio agrícola.
De acordo com o analista, “o sucesso de Kiev em substituir um acordo de exportação do Mar Negro apoiado pela ONU por seu próprio esquema de transporte trouxe alívio para os agricultores ucranianos e para os países importadores, ao mesmo tempo em que representou um avanço naval para as forças armadas da Ucrânia, uma vez que a contraofensiva terrestre foi paralisada. Kiev embarcou cerca de 4,8M mt de alimentos em dezembro, principalmente grãos, de seus portos do Mar Negro, superando pela primeira vez os volumes alcançados pelo corredor anterior promovido pela ONU”.
Moscou abandonou o acordo em julho passado, dizendo que os compromissos de salvaguardar suas próprias exportações não estavam sendo respeitados. Antes da invasão da Rússia, a Ucrânia exportava cerca de 6M mt de alimentos por mês pelo Mar Negro.
“Contudo, os navios de grãos estão sendo cada vez mais desviados da rota Canal de Suez - Mar Vermelho, o que deve prejudicar principalmente as exportações para países mais distantes”, observa.
As exportações de grãos ucranianos por via marítima em janeiro podem cair cerca de 20% em comparação com o mês passado, disse um alto funcionário ucraniano na semana passada, principalmente por causa da crise do Mar Vermelho.
Em resumo, esperamos uma safra ligeiramente menor na Ucrânia, dado que a maior área plantada não deve compensar os menores rendimentos. Porém, na nossa visão, esse está longe de ser um fundamento altista, dado que no contexto pós-guerra é uma safra relativamente boa, superior à de 22/23 e com rendimentos superiores a muitas safras pré-guerra. As elevadas exportações ucranianas também tem sido uma força baixista para os contratos futuros, dado que quanto mais o país consegue exportar o seu trigo barato, menos os países importadores precisam comprar de fontes mais caras. Contudo, a escalada das tensões no Mar Vermelho pode alterar esse cenário.