E agora, João? Não tenho bandido de estimação - A renúncia do presidente (Editorial de O Globo)

Publicado em 19/05/2017 17:52
E agora João? ... Não tenho bandido de estimação.
E agora João? ... Não tenho bandido de estimação.

Em seu comentário desta sexta-feira (19), o jornalista João Batista Olivi, do Notícias Agrícolas, diretamente de Balsas (MA), comenta os recentes acontecimentos da política nacional.

Ele destaca seu posicionamento com a seguinte afirmação: "Não tenho bandido de estimação. Meu compromisso é comigo mesmo, com a sociedade e com os brasileiros do nosso país".

"Hoje podemos dizer que a perplexidade continua, o espanto continua", diz João Batista. Ele aponta que um presidente não pode receber um empresário na calada da noite - um homem que depois se revelou um criminoso - e dialogar, conversar e concordar com os crimes ali relatados. Entretanto, João Batista destaca também que Joesley não poderia ter gravado o presidente da República sem autorização do mesmo.

João Batista lembra que, horas antes da divulgação da delação, a JBS comprou 1 bilhão de dólares para lucrar com isso, além de vender ações da própria empresa, causando prejuízos.

O jornalista salienta que é sabido também que a empresa comprou e fechou vários frigoríficos no país - e que o monopólio de três empresas está paralisando o setor da pecuária.

Por fim, ele diz que a marcha rumo a um país grande não pode parar, devendo-se recuperar a ética.

Editorial de O Globo: A renúncia do presidente

Um presidente da República aceita receber a visita de um megaempresário alvo de cinco operações da Policia Federal que apuram o pagamento de milhões em propinas pagas a autoridades públicas, inclusive a aliados do próprio presidente. O encontro não é às claras, no Palácio do Planalto, com agenda pública. Ele se dá quase às onze horas da noite na residência do presidente, de forma clandestina. Ao sair, o empresário combina novos encontros do tipo, e se vangloria do esquema que deu certo: "Fui chegando, eles abriram. Nem perguntaram o meu nome". A simples decisão de recebê-lo já guardaria boa dose de escândalo. Mas houve mais, muito mais.

Em diálogo que revela intimidade entre os dois, o empresário quer saber como anda a relação do presidente com um ex-deputado, ex-aliado do presidente, preso há meses, acusado de se deixar corromper por milhões. Este ex-deputado, em outro inquérito, é acusado inclusive de receber propina do empresário para facilitar a vida de suas empresas no FI-FGTS da Caixa Econômica Federal. O presidente se mostra amuado, e lembra que o ex-deputado tentou fustigá-lo, ao torná-lo testemunha de defesa com perguntas que o próprio juiz vetou por acreditar que elas tinham por objetivo intimidá-lo.

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Sem renúncia de Temer, resta o impeachment

(por RONALDO CAIADO, artigo publicado na FOLHA DE S. PAULO)
  Ueslei Marcelino - 18.mai.17/Reuters  
O presidente Temer durante pronunciamento em que negou renúncia, na quinta (18)

Os acontecimentos desta semana, que sepultaram o governo Temer, evidenciam o estado terminal da política brasileira —e devolvem a economia à UTI, para onde a gestão desastrosa do PT a havia conduzido. Economia e política são, na verdade, indissociáveis.

Não é possível que uma esteja sã quando a outra está doente. A esperança de que o governo Temer representasse efetiva mudança no país, depois de 13 anos de escândalos e gestão temerosa, fez com que a economia, ainda sem melhorar, parasse ao menos de piorar.

Mas o governo Temer frustrou essa expectativa. Perdeu a oportunidade histórica de atender o clamor da sociedade, que, em megamanifestações de rua, sem precedentes na história do país, pedia justiça, transparência e elevação do padrão moral da política.

Temer, inversamente, optou por formar um ministério em que figuravam alguns personagens associados às piores práticas. Em vez de um governo de notáveis, optou por um governo de notórios.

Não podia dar certo. A cada ministro que saía, envolto em escândalos, a reputação e a confiabilidade do governo derretiam. Se a economia, entregue à gestão de técnicos competentes, continha a sangria herdada do desgoverno anterior, a credibilidade política, que deveria avalizá-la, definhava. A melhora dos indicadores, anunciada com euforia, não tinha sustentabilidade política.

Dependia de reformas, sobretudo a da Previdência, que o governo, mesmo antes das denúncias desta semana, não estava em condições morais de impor à sociedade. Agora, muito menos.

Um governo desacreditado não pode pedir sacrifícios à sociedade, sobretudo a uma já suficientemente penalizada, com 14 milhões de desempregados, perplexa diante do circo de horrores que a Lava Jato exibe há mais de três anos.

O país só terá condições de retomar a agenda reformista —e com ela a restauração efetiva da economia— em outro ambiente político.

O governo Temer acabou. O presidente, político experiente e pragmático, sabe disso, mas insiste em desafiar a crise, em defesa de sua imunidade institucional. O cargo lhe garante foro privilegiado. Com isso, presta um desserviço ao país —e a si mesmo.

Renúncia, em prol de algo maior —no caso, o interesse público—, é também ato de grandeza. Temer está diante de um momento decisivo de sua biografia, em que definirá em que termos a história irá tratá-lo. Se insistir em ficar, será supliciado.

Não estão em pauta suas chances de absolvição no campo jurídico. Politicamente, ele já foi condenado pelo conjunto da obra. Convém lembrar que Fernando Collor, condenado politicamente, foi absolvido pelo STF. O tribunal político tem régua própria —e é implacável quando se quebra o cristal da confiança.

É possível ainda que o presidente caia em si e perceba que o melhor serviço que pode prestar à recuperação da economia é permitindo a salvação da política.

Não percebeu que reformas de tamanha profundidade —e aí destaco a da Previdência, por sua profunda repercussão na vida de cada trabalhador— não se restringem à contagem de votos no Parlamento. É preciso que tenham a chancela do cidadão, que só a dará mediante o fator confiança, que inexiste.

Sem renúncia, resta o doloroso caminho do impeachment ou o (mais provável) da cassação da chapa Dilma-Temer. Só eleições diretas podem renovar e oxigenar o ambiente poluído da política. Crise política se resolve com política. E a necessária mudança constitucional pode ser obtida por um pacto suprapartidário que contemple, enfim, a voz das ruas.

Um teste para o Brasil (editorial do ESTADÃO) 

O País vive o seu momento de maior instabilidade política desde a promulgação da Constituição de 1988

O País vive o seu momento de maior instabilidade política desde a promulgação da Constituição de 1988. À instabilidade e à incerteza quanto ao futuro que dela advém, soma-se ainda o clima anuviado, urdido – não é demais lembrar – pela incessante campanha petista pela cisão dos brasileiros entre “nós” e “eles”. Quando o salutar debate de ideias perde força porque os interlocutores são tratados como inimigos em potencial, está formado o meio de cultura ideal para o florescimento dos arautos do caos e da irresponsabilidade.

Os afoitos que propugnam a destituição de um governo antes que estejam reunidas as provas para além de qualquer dúvida razoável quanto à sua correção não atentam apenas contra um presidente, um partido ou a sociedade – o que já seria grave o bastante –, atentam contra a própria Constituição.

É importante resgatar uma lição de nossa História. A última gambiarra constitucional feita sob uma atmosfera de instabilidade política deu duramente errado. O arremedo de parlamentarismo instituído em 1961 – como solução de compromisso para viabilizar a posse de João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros – durou pouco mais de um ano. João Goulart articulou a volta do presidencialismo a fim de recuperar seu protagonismo político, o que ocorreu, de fato, em 1963. Sabe-se o que veio depois.

Não há a mais remota chance de uma intervenção militar nos dias de hoje. O general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército Brasileiro, veio a público – por meio de uma rede social – dizer que “a Constituição há de ser sempre solução a todos os desafios institucionais do País. Não há atalhos fora dela”. Portanto, este risco de quebra da ordem constitucional, felizmente, o País não corre mais. Mas há outros. Paira o risco dos messiânicos e dos salvadores da pátria. Paira o risco do populismo. Saídas extravagantes e casuísticas começam a ser discutidas ante a eventual hipótese de descontinuidade do governo do presidente Michel Temer.

Qualquer irresponsável que propuser ou defender uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altere os termos do artigo 81 e institua eleições diretas em caso de vacância da Presidência e da Vice-Presidência a menos de dois anos do término do mandato estará propondo, na verdade, um golpe à ordem constitucional. Estará propondo, em última análise, um golpe contra a sociedade que se organizou em torno da Carta Magna em vigor, por meio de representantes legitimamente eleitos para um dos mais altos desígnios em um regime democrático. No caso de os termos do citado preceito constitucional não mais se coadunarem com os anseios da sociedade, eles podem e devem ser revistos, mas em um momento livre das paixões e dos interesses que, por ora, turvariam a visão daqueles designados para redigir sua alteração.

Em caso de um eventual afastamento do presidente Michel Temer, Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, deve assumir a Presidência da República e Eunício Oliveira, presidente do Senado, deve convocar o Congresso Nacional para, em até 30 dias, eleger um novo presidente, que deverá governar o País até o dia 1.º de janeiro de 2019. É precisamente o que determina a Constituição.

Embora o noticiário dê conta de que o Estado foi tomado de assalto por interesses corporativos e a corrupção foi alçada a método de governo, não será o recurso a soluções esdrúxulas e milagreiras que propiciará o avanço institucional do País.

Este especial momento por que passa o Brasil representa um grande teste, não apenas para a vitalidade da Constituição, mas sobretudo para a própria disposição da sociedade brasileira de viver sob um regime constitucional democrático, de absoluto respeito aos ditames mais caros à democracia que a Carta Política apregoa, ainda que a ela se possa, pontualmente, fazer reparos. Afastar-se deste compromisso de observância coletiva aos mandamentos constitucionais significa o perigoso afastamento da própria essência da democracia em nome de soluções casuísticas, irrefletidas e, portanto, perigosas.

Grau de engajamento da Globo numa tese — “Fora Temer” — é inédito (por REINALDO AZEVEDO)

A mim me incomoda ver a própria política sendo demonizada, e tratarei desse assunto em particular, pela principal emissora do país (REINALDO AZEVEDO)

Não me lembro de ver os veículos e canais ligados às Organizações Globo engajados com tanto vigor numa tese. No caso, a deposição de Michel Temer. Sim, há exceções. Trato da regra.

Por quê? Bem, não especulo sobre motivos. Até porque, note-se à partida, eu estou entre aqueles que defendem que os meios de comunicação têm o direito de expressar a opinião que lhes der na telha — desde que esta esteja assentada em fatos. “E se não estiver, Reinaldo?” Nem assim apoio a censura. Que cada um arque com o peso de suas opiniões se incidir em crime.

Falo ainda mais. Lamento muito que o sistema de radiodifusão, no país, dependa de concessões públicas. Por mim, seria uma atividade como outra qualquer, com a possibilidade de estrangeiros competirem com os nacionais em igualdade de condições.

Não é assim com automóveis? “Ah, não são a mesma coisa”. Claro que não! Os danos decorrentes de uma opinião podem ser bem mais duradouros do que os decorrentes de um acidente de carro. Por isso, quanto mais pluralidade, melhor.

Mas, creiam, há quem seja liberal em quase tudo, menos nisso. Liberalismo é como gravidez: não existe pela metade. Mas volto ao leito.

São 21h51 neste ponto em que estou do texto. O “Jornal Nacional” continua do ar. A grande estrela foi Joesley Batista, o nababo que está se divertindo em Nova York. Ele acusava Deus e o mundo com impressionante desfaçatez. Até aí, vá lá.

O que me causou óbvia estranheza é que o “Jornal Nacional” decidiu fazer três perguntas “a especialistas” (como se anunciou) para saber se Temer havia cometido crime de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. Quantos foram ouvidos? Três. E os três contra Temer! Quando menos, convenham, dever-se-ia evidenciar que o assunto é controverso. Ou erro? Ou o JN não encontrou ninguém que dissesse o contrário?

De vez em quando se percebiam um “outro lado” aqui e outro ali. Mas a pegada editorial da emissora é aquela presente em quase todos os seus produtos, com honrosas exceções: Temer tem de cair. Seguindo-se a Constituição, ter-se-ia eleição indireta; não seguindo, pode-se apelar ao golpe das diretas.

O que quer a Globo? Consta que quer Cármen Lúcia em eleição indireta. Ela estaria acima do lixo político. Essa aspiração a uma pureza que transcende as mundanidades existe desde Dionísio II, um dos tiranos de Siracusa (sec. IV a.C.). Sempre dá errado. Como deu em 1964.

Reitero: a Globo tem o direito de ter a opinião que quiser. Até porque, como se vê, no que concerne a Temer, é explícita, não sorrateira.

A mim me incomoda, aí sim, é que a emissora não polemize minimamente nem sobre a óbvia ilegalidade de gravar clandestinamente o presidente da República.

A mim me incomoda que não se deixe claro que tais gravações não podem ser usadas nem pela Justiça nem pelo juiz.

A mim me incomoda que a delação de um assumido criminoso passe a ser vista como o elemento que vai definir se Temer fica ou vai. ATENÇÃO: DELAÇÃO DE INOCENTES É UMA CONTRADIÇÃO NOS PRÓPRIOS TERMOS, EU SEI. Mas não pode ser ela a ditar o ritmo dos acontecimentos.

A mim me incomoda ver a própria política sendo demonizada, e tratarei desse assunto em particular, pela principal emissora do país.

Acho que se trata de um erro grave e de uma aposta arriscada no “vamos nos livrar de tudo o que está aí e começar do zero”.

Eis outra ideia que nunca deu certo. Ao contrário: costuma ser a mãe de todas as tragédias.

 


Fonte: NA + O GLOBO + FOLHA + VEJA

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