Lideranças contestam estudo que questiona potencial agrícola do Matopiba

Publicado em 24/11/2016 08:34
Desafios do Matopiba têm sido driblados com pesquisa, tecnologia e acompanhamento das fases cíclicas do clima, levando os índices de produtividade a níveis satisfatórios. Desenvolvimento, porém, ainda esbarra na falta de atenção do Governo Federal e de infraestrutura, apesar do potencial logístico. Região conta com 73 milhões de hectares e, destes, 35 milhões já estão aptos à produção de alimentos. 11 milhões, destinados à preservação ambiental.
Confira a entrevista de Gisela Introvini - Superintendente Fapcen

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Liderança do agro do Maranhão contesta dados de estudo sobre o potencial agrícola do Matopiba

 

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Uma pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico, realizada pela consultoria Agroicone, contesta o potencial agrícola do Matopiba, que segundo eles, já estaria "perto do limite".

A CEO e superintendente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte (Fapcen), Gisela Introvini, que atua em Balsas (MA), contesta a pesquisa e lembra que muitos pesquisadores, como Evaristo de Miranda, da Embrapa Monitoramento por Satélite, estiveram presentes na área, levados pela atual senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu (PMDB-MA), percorreram a região a campo e começaram a visualizar a capacidade de desenvolvimento da região. Ela lembra também que "tudo é questão de ciclo" e que um estudo não pode ser baseado apenas nas três últimas safras. Neste ano, a região já trabalha com otimismo e, com a safra plantada, os produtores esperam por uma superssafra, diferente do ocorrido nos anos anteriores.

Ela aponta que o primeiro desafio na região foi o desenvolvimento da genética da soja, onde a Embrapa teve participação importante no processo, criando uma cultivar adaptada para as baixas altitudes, "que revolucionou o Cerrado brasileiro". A partir de 2008, segundo ela, a região se transformou. Foram permitidas cultivares de ciclo precoce que deixaram mais palha no solo e algumas propriedades se tornaram modelo a nível internacional, com alguns perfis de solo simulando uma "floresta invertida".

A veracidade do estudo é contestada, portanto, pela CEO, uma vez que houve ausência de uma pesquisa realizada a campo na região. "Uma reportagem desastrosa como essa pode interferir e matar uma região. E isso nós não podemos admitir", diz. Ela também acrescenta que a única observação procedente é de que não é possível avançar para as áreas do semiárido da Bahia e do Piauí, mas que ainda há muito potencial agrícola no centro do Maranhão que ainda não foi aproveitado.

Veja ainda o posicionamento do presidente da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), Julio Cézar Busatto, em entrevista ao Notícias Agrícolas:

>> Aiba contesta dados do estudo sobre a limitação de expansão de área para a produção de grãos na região do Matopiba

E, na sequência, a nota de repúdio da Aprosoja PI:

>> Aprosoja PI divulga nota de repúdio sobre estudo que mostra potencial limitado do Matopiba

A técnica do plantio direto evoluiu junto com a agricultura no Matopiba. Para Gisela, a introdução das braquiárias foi um grande feito e hoje está havendo entrelaçamento entre as regiões produtoras do estado do Maranhão. "A Embrapa está para lançar o gado tropical, o que é muito interessante para as nossas regiões", conta. "Precisamos de pesquisas direcionadas para esses avanços".

Ainda há muito espaço para percorrer. Gisela aponta ainda que o centro do Maranhão se encontra em situação de miséria, uma vez que o estado, juntamente com o Piauí, figura entre os mais pobres do país. Ela acredita que o avanço da cultura da soja poderá trazer transformação de renda e de empregos para estas áreas, criando um novo cenário que ainda deve ser desbravado no estado. Uma vez que a gestão anterior do Ministério da Agricultura havia planos para essa expansão, ela espera que o atual ministro, Blairo Maggi, dê continuidade a esses planos, salientando também a necessidade de escolas técnicas e de cursos profissionalizantes destinados ao agronegócio na área, gerando mais treinamento para uma mão-de-obra qualificada. "A Bahia já está resolvida neste caso, mas o Piauí e o Maranhão, ainda não", afirma.

Outro ponto a ser tratado é a questão logística. Para ela, "a partir do ponto em que existir uma estrada [melhor, em relação às atuais] irá fomentar outros nichos interessantes, o que vai ser bom para todo mundo, ajudar tanto os grandes [produtores] quanto os pequenos", acredita. O transporte fluvial da região é beneficiado pelo Porto de Itaqui, mas existe um problema logístico por conta da situação das estradas, o que faz o frete ficar mais alto da propriedade até o transbordo. Por outro lado, a região é facilitada para exportar à Europa e também para a China, por meio do Canal do Panamá.

São 73 milhões de hectares disponíveis na região. 35 milhões de hectares já estão aptos e 11 milhões de hectares estão destinados para a preservação. Ela chama atenção ainda para o grande potencial dos rios, a partir dos quais poderia ser feito um estudo sobre sua perenização e, assim, manter o lençol freático, ter reserva de águas de chuva e outros fatores que poderiam vir, de alguma forma, minimizar os efeitos da seca em determinados locais.

A região já atrai o interesse de investimentos estrangeiros, uma vez que a Europa compra créditos de soja responsável, resultado de uma parceria com a Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS). Falta, agora, uma maior atenção para que a região se desenvolva por completo. "Aqui é desafiador e você vê uma mudança de cenário a todo o momento", conta Gisela, que, assim como muitos produtores, é imigrante vinda da Região Sul do país.

O mês de novembro veio com muitas chuvas e os agricultores estão "otimistas e satisfeitos", torcendo para que seja um ano de superssafra.

Por: Carla Mendes e Izadora Pimenta
Fonte: Notícias Agrícolas

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