Soja: Novas estratégias de comercialização só depois da posse de Trump, diz consultor

Publicado em 16/01/2017 17:21

Com uma safra que deverá alcançar um novo recorde nesta temporada 2016/17, o Brasil pode registrar o maior volume de soja armazenado nas regiões produtoras da história, segundo explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. O ritmo de vendas antecipadas foi bem mais lento neste ano comercial e há, como explica o consultor de mercado, cerca de 40% da produção já comercializada, contra índices bem mais elevados em anos anteriores. 

Os preços menos atrativos, a falta de uma direção bem definida para o câmbio e os produtores brasileiros mais capitalizados criaram um ambiente mais propício para essas vendas contidas. "Não há interesse em vender agora e, não há porque o produtor vender agora", diz o consultor. Nesta semana, porém, poderão ser registradas um volume ligeiramente maior de ofertas dada a evolução da colheita no país. "Nas áreas de colheita, estavam entregando contratos e deixando novos negócios para frente". 

Para que isso se concretize, porém, Brandalizze explica que as referências precisam reagir e estimular as operações. "Com os vendedores esperando uma nova onda de altas, para voltar aos negócios boa parte do setor espera que os níveis avancem mais uns R$ 5,00 para que o ritmo forte retorne", informa o consultor. 

Nesta segunda-feira (16), sem a referência de Chicago, as referências nos portos do Brasil permaneceram estáveis em relação ao fechamento da última sexta-feira (13). Em Rio Grande, a soja da nova safra tem como último indicativo os R$ 80,10 por saca, enquanto em Paranaguá esse valor é de R$ 78,00. As referências de pagamento são, respectivamente, março e junho/17. 

No interior do país, os preços subiram acompanhando uma nova alta do dólar nesta segunda. A moeda americana fechou o dia cotada a R$ 3,2385, avançando 0,52%. 

"Sem a referência dos Estados Unidos e com a agenda esvaziada, o mercado monitorou o exterior, sobretudo à espera pela May", disse o analista de câmbio da corretora Gradual Investimentos, Marcos Jamelli em entrevista à agência de notícias Reuters, referindo-se ao discurso da primeira-ministra britânica, Theresa May, na terça-feira. 

Câmbio

E é consenso entre os analistas, consultores e especialistas que o câmbio deverá ser, de fato, o mais decisivo dos fatores ao se traçar as próximas estratégias de comercialização para daqui em diante. Para os economistas da Apexsim Inteligência e Mercado, "o câmbio continua sendo visto como principal fator a contribuir para um futuro mais próspero de preços para quem ainda necessita realizar negócios antes da colheita". 

A atenção, portanto, deve ser redobrada nesta semana em que Donald Trump toma posse como novo presidente dos Estados Unidos e pode trazer ainda mais volatilidade para este mercado, ao lado, portanto, de algumas oportunidades. Complementando o quadro, há ainda a volta dos holofotes para o desenvolvimento do Brexit, ou seja, a saída do Reino Unido da União Europeia e seus desdobramentos impactando o mercado cambial internacional. 

Para Carlos Cogo, consultor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, toda essa movimentação ainda vai depender de políticas a serem definidas por Trump e a orientação é de que os produtores aguardem o pós posse para novas operações. "Aí sim teremos mais clareza", diz o executivo.  

O Notícias Agrícolas, a poucos dias da posse de Trump, entrevistou o professor Geraldo Sant'Ana de Camargo Barros, da Universade de São Paulo e  coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada ( Cepea) , da USP/Esalq para  analisar os possíveis cenários que se desenham para economia mundial e as consequências para o agronegócio. 

Veja mais:

>> Posse de Trump, câmbio e o agronegócio brasileiro na visão do professor Geraldo Barros, do Cepea

Prêmios

Outro ponto de atenção para o produtor brasileiro serão os prêmios nos portos. Para Cogo, essa maior concentração de oferta que pode ocorrer nos próximos meses poderia pesar sobre as referências - as quais oscilam, hoje, entre 45 e 60 cents de dólar sobre os valores praticados em Chicago - e, portanto, seria interessante garanti-las. 

Já para Vlamir Brandalizze, a migração da demanda internacional para o Brasil pode dar sustentação a esses valores. Há navios carregando as primeiras ofertas de soja do Brasil e a cada semana, chegam mais. "E os importadores deverão seguir focados no Brasil também em função das perdas que vêm sendo registradas na Argentina, e que podem ser ainda maiores", diz. 

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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