Posse de Trump, câmbio e o agronegócio brasileiro na visão do professor Geraldo Barros, do Cepea

Publicado em 16/01/2017 13:08
Geraldo Sant´Ana de Camargo Barros é professor sênior da Universidade de São Paulo; é líder e coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP/ESALQ. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Macroeconomia e suas relações com o agronegócio. A evolução da produtividade agropecuária, com suas causas e desdobramentos, é temática de boa parte de seus trabalhos. O professor Geraldo graduou-se em Engenharia Agronômica pela ESALQ, onde também fez mestrado. Seu doutorado em Economia foi desenvolvido na Universidade Estadual da Carolina do Norte (1976), sendo sua tese premiada como melhor tese de PH.D em Economia Rural nos Estados Unidos. Fez também o pós-doutorado naquele país, na Universidade de Minnesota (UMN). Como parte de sua carreira acadêmica, já orientou 34 dissertações de mestrado e 25 teses de doutorado; atualmente, têm mais cinco orientados. Já publicou livros e centenas de artigos, sendo cerca de 70 em periódicos de grande relevância. Também presidiu a Sober (Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural) e tem atuado como consultor do Banco Mundial, FAO/ONU, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa) e Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) entre outras instituições.

Geraldo Barros - coordenador Cepea

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A menos de 3 dias da cerimônia de posse de Donald Trump como o 45º presidente dos EUA, o Notícias Agrícolas  consultou o Professor Geraldo Sant'Ana de Camargo Barros, professor Sênior da Universade de São Paulo e  coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada ( Cepea) , da USP/Esalq para  analisar os possíveis cenários que se desenham para economia mundial e as consequências para o agronegócio,  acompanhe a entrevista: 

Notícias Agrícolas - Como o discurso protecionista de Donald Trump poderia impactar no cambio/dólar em relação às demais moedas do mundo?

Professor Geraldo - O dólar no mercado internacional deverá se valorizar em decorrência do aumento dos juros nos Estados Unidos. Os juros deverão aumentar por causa do final do processo de “quantitative easing” e das novas medidas (aumento de gastos e redução de impostos) de Trump que deverão aumentar a dívida pública americana e trazer consequências inflacionárias devidas ao protecionismo (importações mais caras). Uma consequência direta é a valorização do dólar. 

Notícias Agrícolas - Em caso de dólar forte frente às moedas, uma desvalorização das moedas emergentes, entre elas a brasileira, seria inevitável ?

Professor Geraldo Haverá uma valorização do dólar externo. Isso provocará alguma queda no preço internacional de nossas commodities. O dólar no mercado interno poderá ter trajetória própria dependendo do ambiente político e institucional no Brasil, da reforma fiscal e da atitude do Banco Central. Quanto mais seguro e previsível o ambiente de negócios, mais o dólar interno tenderá a cair. Assim a queda do preço em dólar das commodities fica potencializada porque o dólar no mercado interno valerá menos reais. Isso prejudica o agronegócio por ser muito ligado à exportação. Além disso, dificulta ainda mais a ampliação das exportações industriais. Evidentemente, tudo se inverterá se as reformas não avançarem. Se o dólar disparar no mercado interno, as exportações em geral se beneficiam, mas a inflação poderá voltar e com ela os juros mais altos e o prolongamento da recessão.

Notícias Agrícolas- No caso da China, os grandes bancos avaliam que essa desvalorização do yuan frente ao dólar poderia ser mais intensa para que os chineses mantivessem sua competitividade na exportação, diante de uma possível taxação das importações dos EUA, isso é possível ? 

Professor Geraldo O mais provável agora é que o Yuan mantenha sua paridade com o dólar, num patamar desvalorizado, como o atual. A pressão, entretanto, – dos Estados Unidos e outros países desenvolvidos – é no sentido de que a China valorize sua moeda, o que se justificaria devido a sua pujança econômica em escala global. A China vai tentar postergar esse ajuste o quanto puder. Quando o fizer será num contexto de barganha em que possa ganhar algo importante, como o reconhecimento de ser uma economia de mercado. Se Trump não negociar a China pode escalar a desvalorização.

Notícias Agrícolas- Essa desvalorização do Yuan seria natural ou artificial ( imposta pelo governo chines) ? 

Professor Geraldo O atual nível desvalorizado decorre de controle no mercado cambial, motivo de muita queixa, entre outros de Trump. Novas desvalorizações do Yuan viriam de acirramento do controle.

Notícias Agrícolas- Estamos na iminência de um deslocamento das paridades entre as moedas? E podemos ver uma guerra cambial decretada?

Professor Geraldo Teremos que ver como Trump vai agir. Creio que vai pressionar da seguinte forma: ou a China valoriza sua moeda ou, então, vão ser impostas altas barreiras às suas exportações aos Estados Unidos. O ingresso definitivo na OMC deverá ser parte do embate.

Notícias Agrícolas- Estamos diante de uma mudança de referência do dólar, principalmente em relação às commodities agrícolas?

Professor Geraldo Há uma tendência de longo prazo no sentido de o dólar perder parte de seu papel de moeda de troca e de reserva mundial. Para isso a China teria que abrir seu mercado, reduzir a presença do Estado e deixar sua moeda flutuar, o que a levaria no sentido da valorização.

Notícias Agrícolas- E como o agro brasileiro pode responder à essas mudanças ? Tem benefícios? Pra quem? 

Professor Geraldo Uma valorização do Yuan favoreceria o agronegócio porque aumentaria o poder de compra dos Chineses enquanto o dólar for a moeda em que são denominadas as commodities brasileiras. No Brasil, porém, o dólar no mercado interno joga um papel que pode ser preponderante. Uma forte valorização do real como a havida na primeira década de 2000 prejudicou muito o agronegócio, que pouco se beneficiou com o boom das commodities. Uma forte valorização do real agora, quando o dólar no mercado internacional também deve se valorizar, pode prejudicar duplamente o agronegócio. Felizmente para o Brasil, o agronegócio conta com alta resiliência na forma de um crescimento de produtividade de longo prazo mesmo sob as condições mais adversas.   

Leia mais:

>> O que o agronegócio deve esperar das mudanças atuais na economia internacional, por Geraldo Barros

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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2 comentários

  • JOSÉ DONIZETI PITOLI CORNÉLIO PROCÓPIO - PR

    A reportagem é muito boa (Posse de Trump, câmbio e o agronegócio brasileiro)... Entretanto a chamada do artigo (dólar valorizado + real valorizado) gere uma confusão, pois não tem como duas moedas se valorizarem ao mesmo... Extraí da leitura a apresentação de dois cenários: o primeiro, demonstrando os efeitos nas commodities caso o dólar se valorize perante as demais moedas, dentre elas o "real'... Situação muito favorável para as exportações brasileiras, especialmente agora que iniciamos a colheita de um dos principais produtos, que é o soja... Produtores precisam ficar muito atentos a este cenário, especialmente na combinação, "alta em CBOT e alta na paridade cambial"... Atenção especial no entanto para os produtos importados, pois os preços podem subir abruptamente. O segundo cenário, seria no caso de o dólar se desvalorizar perante as moedas mundiais. Situação com desenrolar inimaginável para todo o cenário econômico mundial, especialmente para o comércio de commodities, cuja referência são as bolsas americanas, com bases de precificação em dólar. A verdade é uma só. Trump, presidente eleito nos EUA, tem comportamento imprevisível e arrogante. Promete governar com mãos de ferro e recuperar fortemente a economia americana... Talvez seu grande erro é acreditar que o todos os demais países sejam submissos à essa estratégia... A resistência mundial pode gerar o dólar à uma deterioração, conduzindo num desequilíbrio, talvez semelhante ao de 1929... A recomendação no momento presente e nos próximos 60 ou 90 dias, é somente, observar e observar.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Seu raciocinio esta' errado----Se o dolar se valorizar perante as DEMAIS moedas as exportaçoes de commodities brasileiras nao serao beneficiadas porque as moedas das naçoes onde voce exporta ficarao no mesmo nivel de antes--

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    • JOSÉ DONIZETI PITOLI CORNÉLIO PROCÓPIO - PR

      Carlo. Entenda, que a relação que nos interessa é somente aquela que diz respeito à nossa moeda. Assim, às exportações brasileiras interessa um dólar acima de R$.3,22 atuais, daí vem o benefício. Lembre-se que a base negocial é a CBOT, cuja cotação é realizada em dólar.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      A valorizaçao do dolar nao aumenta o preço das comodities em dolares, logo o volume das transaçoes e o total das receitas em dolares permanecera estavel------Melhora o lucro dos produtores fora dos EUA, mas piora a situaçao dos compradores de comodities ---para compradores de outros produtos provenientes do euro continua tudo na mesma.

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    A quantidade de erros nessas teorias é proporcional ao número de diplomas do entrevistado. São 23 horas agora, e fico com um certo cansaço de escrever esse comentário. Mas algumas coisas são tão gritantes que decidi escrever. Primeiro a moeda valorizada favorece as importações ao contrário do que foi dito. Segundo: moeda desvalorizada diminui as exportações. Isso já é provado, experimentado, comprovado empiricamente, comprovado na teoria, comprovado na prática, mais não digo. Chega que isso dá uma canseira. Se meus antagonistas quiserem debater, não percam tempo me xingando, leiam todos esses artigos aqui, http://www.mises.org.br/Search.aspx?text=a%20desvaloriza%C3%A7%C3%A3o%20cambial%20e%20a%20exporta%C3%A7%C3%B5es

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