Na Folha: Agronegócio e a morte da Amazônia, por Leão Serva

Publicado em 24/11/2014 12:27
Leão Serva, ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de 'Como Viver em SP sem Carro'.

Vamos dar nome aos bois: as maiores ameaças à floresta e às águas no Brasil são a pecuária e a soja

É comum ver nos discursos de empresários e políticos o pensamento ufanista sobre as maravilhas de nosso agronegócio, dizendo que a produção brasileira "alimenta o mundo" e que nosso gado é "verde". É um discurso que lembra a propaganda do Brasil Grande, de triste memória, e tenta pôr uma grande sujeira para baixo do tapete.

Os estrangeiros já sabem: nossa exploração agrícola, soja à frente, já destruiu 4 de cada 10 hectares de cerrado. Nesse ritmo, esse ecossistema estará extinto em 20 anos. Não é à toa, visto que o nosso gado tem a pior produtividade do mundo: uma vaca ocupa, para engordar, um hectare de terra, cada vez mais frequentemente roubado à Amazônia. Com os mesmos metros quadrados, um agricultor europeu produz alimentos nobres e caros, para alimentar e enriquecer seres humanos. Enquanto isso, nossa soja alimenta porcos na China.

Se computarmos o dano irreversível ao meio ambiente, bem público que destrói com a devastação da terra, e o somarmos aos subsídios e às generosas rolagens de dívidas dos grandes produtores, o cálculo revelará um agronegócio insustentável. Em vez de alimentar o mundo e enriquecer os brasileiros, ele se tornou uma destrutiva usina de insumo industrial barato.

É um modelo que ameaça (ao invés de garantir) o objetivo de dobrar a produção mundial de alimentos em 35 anos para receber 2 bilhões de novas bocas. Para fazer sua parte, alimentar os brasileiros e ganhar dinheiro exportando comida de gente, não de suínos, é necessário mudar a escandalosa cultura de desperdício do campo brasileiro.

Leia a coluna de Leão Serva na íntegra no site da Folha de S. Paulo.

Na Folha: O muro de Dourados, por Fabiano Maisonnave

Fabiano Maisonnave é repórter especial da Folha.

A construção de imponentes muros altos se tornou item obrigatório dos condomínios de luxo que se proliferam pelo país afora. A peculiaridade do Ecoville Residence, em Dourados (MS), é que, vizinha à sua barreira eletrificada de três metros, fica a superlotada reserva indígena guarani-kaiowá.

O muro de Dourados não bloqueia, filtra. Todos os dias, dezenas de guaranis-kaiowás atravessam o acesso destinado a funcionários. São a maioria dos empregados domésticos e dos pedreiros que constroem as mansões. Antes, porém, precisam comprovar a ausência de antecedentes criminais.

Dentro desse simulacro de espaço público, não é permitida a entrada das dezenas de carroças de guaranis-kaiowás, que todos os dias passam oferecendo mandioca, cana ou batata e aproveitam para pedir qualquer coisa que seja.

A tragédia indígena no sul de Mato Grosso do Sul está bem documentada. No processo de colonização da região, ao longo dos anos Vargas (1930-1954), fazendeiros e agentes do Estado expulsaram os índios da maioria de suas terras, confinando-os em pequenas reservas, hoje superlotadas.

Dourados, onde cerca de 14 mil indígenas se amontoam em 3.500 hectares, se tornou o símbolo dos problemas gerados pelo confinamento. Já anexado ao casco urbano, o espaço mal permite a agricultura familiar, para não falar do modo de vida tradicional.

Leia a coluna de Fabiano Maisonnave na íntegra no site da Folha de S. Paulo.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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11 comentários

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Mais um ledo engano dos IGNORANTES. Os leigos acreditam que a floresta amazônica, por sua evapotranspiração, fornece umidade para a atmosfera. Sim, mas ao contrário do que afirmam, devido à rugosidade, ou aspereza aerodinâmica da superfície para o escoamento do ar, a turbulência e a atividade convectiva (formação de nuvens e chuva) é maior com a presença da floresta. Ou seja, a presença da floresta faz com que a umidade que entra na região vinda do Oceano Atlântico Norte, a principal fonte de umidade para as chuvas de verão no Brasil, seja mais eficientemente transformada em chuva sobre a Amazônia. Assim, se ocorresse um desmatamento em grande escala, a rugosidade diminuiria, choveria menos na Amazônia e mais umidade seria transportada para o Sudeste e Centro Oeste e choveria mais, e não menos, em São Paulo.

    Fonte: http://www.alerta.inf.br/a-seca-em-sao-paulo-e-o-fantastico-modo-de-falsear-os-fatos/

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  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

    Milton, o ideal era adotar o modelo dos EUA.

    La eles cauculam o valor a ser pago por serviços ambientais de acordo a renda media que se produz em ha daquela região.

    Só que la tambem ninguem é obrigado a manter a reserva, o produtor mantem a reserva ambiental enquanto achar conveniente, enquanto der retorno. Caso contrario ele volta utilizar a sua propriedade da forma que achar melhor.

    As coisas que são boas não precisam ser obrigatórias/compulsórias.

    Que o pagamento seja anual, mas com base na receita/lucro da atividade de cada propriedade.

    se é um propriedade de pecuaria, que se pague com base na renda que gado gera, se é soja e milho em duas safras por ano, que se pague a renda que essas duas safras gera.

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  • milton liebert Nova Santa Rosa - PR

    Uma correção do meu comentário anterior. Quando escrevi da proposta, da remuneração pelos serviços Ambientais, com o valor de 10 sc. de soja por cada hectare preservado, esse valor é anual. Na minha opinião, esse valor ainda é baixo, deveria de ser 2 vezes por ano, por que o Agricultor faz 2 safras por ano.

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  • milton liebert Nova Santa Rosa - PR

    A morte da Amazônia, só vai acontecer se o proprietário da terra não for remunerado pelos serviços ambientais que ele está prestando p/ a sociedade brasileira, e por que não dizer; p/ o mundo. Foi aprovado no 10º Congresso Nacional da CONTAG em Brasília, PELO MOVIMENTO SINDICAL, data; 10 a 14/03/2009. uma proposta p/ remuneração pelos serviços ambientais, com o valor de 10sc. de soja, por cada hectare preservado. Esta e as demais propostas foram enviadas p/ o CONGRESSO NACIONAL naquela época, e até hoje não foi posto em prática esta proposta. Não é justo que, meia dúzia de GENTE, que são os AGRICULTORES, preservem a floresta de graça, p/ outros terem aproveito deste benefício que a dita floresta da Amazônia trás p/ o Brasil,como dizem... e porque não dizer, p/ o Mundo. Não tem como o agricultor pagar esse presso sósinho. Todo ser vivente que está sobre este planeta terra, e que não tem floresta,precisa contribuir financeiramente, p/ preservar a floresta. Esta é a única maneira e solução justa p/ preservar a floresta. falam tanto em preservar a floresta, mas esquecem que as cidades são as que mais contribuem para o aquecimento global, por causa do concreto e asfalto. E o secamento das vertentes, por que não há em filtração de água.

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  • Luiz de Santana Junior Aracaju - SE

    Faz algum tempo que muitos desfizeram-se de patrimônios para produzirem na Amazônia e com essa produção alimentar alguns países que mal tinham para comer, agora a nossa produção é tanta que sobra até para os porcos da China, nosso gado só é verde porque nossas terras são baratas e produzem muito, se fossem caras, não existiriam sem terras, que pouco produzem. A Amazônia não está sendo devastada, está sendo aproveitada, tendo destinação para alimentar o Brasil e o Mundo. O clima é como o tempo vacas gordas e vacas magras.

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  • salvador reis neto santa teresa do oeste - PR

    se para o clima funcionar bem e´ preciso manter a amazônia intacta, então como explicar seca e falta d aguá no sudeste pois se e´ da amazônia que vem o tal corredor de umidade? balela , conversa pra boi dormir!!! puxe o mapa dos EU e da Europa veja o tamanho da reserva deles, miniatura perto da nossa.

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  • Elízio Carlos Cotrim Uberaba - MG

    Se eu fosse o dono do Brasil, plantaria soja em 50% da Amazônia sem destruir o ecossistema. Vai ser tapado lá na China! Agora só o Brasil é responsável pelos problemas climáticos do mundo. A Europa e os EE UU substituiu mais de 90% de suas florestas por riqueza e desenvolvimento e nós vamos ter que resolver todos os problemas do mundo. Na Europa e nos EE UU não parou de chover e os problemas climáticos continuam ocorrendo como sempre ocorreram!

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  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

    Rodrigo, esse tipo de artigo me da "preguiça". é o tipo de gente que é bobagem argumentar, é como jogar xadrez com um pombo.

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  • Emanuel Geraldo C. de Oliveira Imperatriz - MA

    > Dois idiotas que tem raiva de produtor rural mas gosta de churrasco aos fins de semana. Eles tem as mãos limpas, talvez tenham nojop de terra, de minhoc

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Amigos, pensei que não ia querer comentar o artigo de Leão Serva, sobre a Amazônia, depois de comentar o Reinaldo Azevedo. Foi quando liguei o que escreveu Leão Serva com Kátia Abreu, os dois tem familiaridade com a Folha de São Paulo. Diz Leão, Se computarmos o dano irreversível ao meio ambiente, bem público que destrói com a devastação da terra, e o somarmos aos subsídios e às generosas rolagens de dívidas dos grandes produtores, o cálculo revelará um agronegócio insustentável. Em vez de alimentar o mundo e enriquecer os brasileiros, ele se tornou uma destrutiva usina de insumo industrial barato.

    Quase posso ver Kátia Abreu deitando falação sobre isso, vai negar tudo, até o que é verdade, “os subsídios e generosas rolagens de dividas dos grandes produtores”. Alguém conhece algum político que depois de virar deputado ou senador, cresceu que nem mato? Pois é, um desconhecido (comuna roxo), levanta a bola, para a talvez, futura ministra chutar.

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  • Roberto Calzolari Nova Canãa do Norte - MT

    Caro Leão entendo sua posição e até concordo com alguns pontos.

    Porem nós do agronegócio, quer grande ou pequeno produzimos comida.

    Se quem nos compra, vende para alimentar porcos ou pessoas na China nós não temos como controlar.

    Se temos de rolar ou quem não consegue, como eu, ter suas dividas executadas judicialmente.por conta de baixos preços, porque produtividade eu consigo e acredite sou tão capaz quanto qualquer produtor europeu, e como você é um escritor nos ajude, escreva um livro com o títtulo (comida barata! só as custas do campo brasileiro)

    A minha segunda sugestão de título seria (como seria viver em SP sem comida) um grande abraço .Roberto Calzolari

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