O impeachment e o futuro do câmbio, por Flávio França Jr.

Publicado em 04/12/2015 17:20
+ MAURO ZAFALON, (COLUNA VAIVEM DAS COMMODITIES)

Prezados amigos. A aceitação pelo presidente da Câmara dos Deputados de abertura do processo de impeachment da presidente da república trouxe forte impacto sobre o mercado financeiro nesta última semana, notadamente com a expressiva valorização da Bolsa de Valores e o forte recuo na taxa de câmbio. Qual foi o raciocínio básico utilizado pela maioria dos operadores, e que levaram a esse movimento? Essencialmente, o de que a saída da presidente poderia trazer a esperança de que o país pudesse começar a buscar fórmulas efetivas para sair do atoleiro em que o (des) governo no poder há quase 13 anos nos meteu. Em outras palavras, se continuarmos como estamos, a situação política, moral e econômica só irá se agravar, e a renúncia ou cassação da presidente iria contribuir para que as coisas pudessem ao menos parar de piorar.

Com esse pano de fundo, duas importantes questões podem ser levantadas: primeiro, se há lógica nesse raciocínio? E segundo, o que podemos esperar daqui para frente, especialmente, em função da relevância para o agronegócio, na questão da taxa de câmbio? Uma coisa que aprendi nesses anos todos de análise agroeconômica, é que o mercado é soberano. Por mais que concordemos ou deixemos de concordar, a direção mais lógica e positiva para a economia é normalmente trazida pelo mercado. Neste caso não é preciso ser um expert em economia para perceber que o país não pode continuar mais três anos na condição em que nos encontramos hoje. E tudo o que vier no sentido de interromper esse ciclo nefasto é bem vindo. Se não, vejamos alguns dos principais indicadores divulgados nas últimas duas semanas:

  • » A inflação voltou a subir em novembro e as projeções apontam que deve superar os 10% no acumulado de 2015. E com os novos aumentos autorizados nos preços administrados, especialmente combustíveis e energia elétrica, não há sinais de reversão no curto e médio prazos.
  • » Com isso, apesar dos juros reais do Brasil já serem os maiores do mundo, voltou a surgir a possibilidade de que o Banco Central poderia iniciar novo ciclo de alta na taxa básica de juros, estacionada atualmente em 14,25% atuais.
  • » A dívida pública voltou a subir em outubro (aliás, como em todo o ano) e o país se prepara para fechar o ano com déficit de R$ 120 bilhões, impressionantes 2,1% do PIB projetado. E o que é pior, agora chancelado pelo Congresso, que esta semana aprovou a revisão do orçamento de 2015 e está impedindo que o governo fechasse o segundo ano seguido em situação ilegal.
  • » Esta semana o governo anunciou que a economia brasileira encolheu 1,7% no terceiro trimestre do ano, comparado ao trimestre anterior. Este é sexto trimestre consecutivo de retração da economia. Com isso a recessão anualizada já chega à casa dos 3,5%, com expectativa de que feche o ano próxima de 4,0%.
  • » E o impacto no nível de empregos tem sido devastador. Oficialmente o IBGE apontou desemprego em 8% até outubro. Mas os desempenhos de novembro e dezembro tendem a ser muito fracos, o que nos sugere que a taxa feche o ano acima de 9%, e entre o ano de 2016 afora já na casa dos 10%.

E o pior de tudo é que ainda não chegamos ao fundo do poço. Ou seja, ainda vai piorar. Por tudo isso é fácil entender porque a simples possibilidade do comando atual do país mudar de mãos é tão alentadora para o mercado. Respondida então a primeira pergunta.

Mas e o impacto disso tudo sobre a taxa de câmbio? Ao longo dessa semana li e ouvi algumas manifestações de analistas e comentaristas econômicos de que o processo de impeachment seria traumático e ruim para o país, pois tende a trazer paralisia nas decisões políticas e econômicas do governo e do congresso. Santa ingenuidade...ou santa cara de pau. No país em que eu vivo, nós estamos sem governo há meses. Completamente paralisado pela incompetência, pela corrupção e pela falta de apoio político e popular.

A esses analistas eu me manifesto dizendo que se acham o crime de responsabilidade fiscal pouco para a cassação da presidente, lembrem que a operação Lava-Jato leva ao Supremo Tribunal Eleitoral a obrigação moral de cassar a chapa Dilma x Temer por crime eleitoral. 

Assim sendo o que imagino ver pela frente, caso a população brasileira permaneça em sua doentia passividade:

- Politicamente, um grande balcão de negócios, com a tentativa de compra de cada voto no Congresso. E o governo conseguindo em plenário os 172 votos que precisa para barrar o processo.

- Indicadores econômicos piorando, com mais recessão, inflação e desemprego.

- Aumento de impostos (CPMF) e de tarifas públicas.

- Perda de grau de investimento por demais agências de classificação de risco. Com isso, mas fuga de capitais.

- Possível novo aumento de juros.

- Avanço das investigações da Lava-Jato levando ao processo de impugnação da chapa Dilma x Temer por crime eleitoral. 

E o câmbio com tudo isso? Entendo que o afastamento da presidente é legal, constitucional, urgente e necessário ao país, e representa o amplo anseio da população. E caso seja levado à cabo, trará a taxa de câmbio para baixo do nível atual. Possivelmente abaixo dos R$ 3,50. Mas não entendo que esse processo será fácil e nem rápido. Antes desse parto, ainda teremos muitas dores. E com tanta turbulência pela frente, e em tempos de aumento dos juros nos EUA, vocês acham que a queda na taxa de câmbio desta semana se sustenta? Só vejo uma chance disso acontecer: o Congresso Nacional ouvir a voz da população e decidir pela cassação imediata. Mas, infelizmente, não é o que eu espero. 

Um “AgroAbraço” a todos!!!

Flávio Roberto de França Junior

Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

www.francajunior.com.br [email protected]

Na FOLHA: Para agronegócio, impeachment deveria ser de todo o sistema político

Por MAURO ZAFALON, (COLUNA VAIVEM DAS COMMODITIES)

O agronegócio vive um paradoxo. Ele quer que Dilma Rousseff apeie o quanto antes da Presidência, mas, pelo menos no curto prazo, poderá sofrer as consequências dessa saída.

Uma eventual consumação do impeachment poderá trazer um cenário melhor para a economia. Se isso ocorresse, o preço do dólar recuaria, tornando as negociações das commodities menos favoráveis em reais.

E o setor vive atualmente por causa do dólar. A alta da moeda norte-americana ocorrida nos meses recentes compensou a queda de preços internacionais das commodities em Chicago, a principal Bolsa do setor.

O perigo Dilma são as incertezas que ela traz para a economia, segundo Anderson Galvão, especialista no setor do agronegócio.

Na avaliação dele, os preços atuais da soja de US$ 8,50 a US$ 9 necessitam de um dólar acima de R$ 3,50 para dar liquidez aos produtores.

Com um dólar abaixo desse patamar, é necessária uma alta de preços da soja em Chicago para compensar o aumento dos custos dos insumos provocado, em parte, pelo próprio dólar.

Glauber Silveira, ex-presidente da Aprosoja (entidade que representa os produtores de soja), é mais cético.

"A mudança de apenas uma pessoa [a da presidente Dilma Rousseff] não resolve nada. Precisamos de um impeachment de todo o sistema político brasileiro."

O setor do agronegócio quer mudança de atuação de governo. "Se a Dilma sair, vai ocorrer alguma mudança com o Michel Temer? O problema do Brasil não é a presidente, mas o sistema."

Segundo ele, o país já deveria ter feito o impeachment dos presidentes anteriores. O país deixaria de ter partidos que servem apenas para negociatas, acrescenta.

Silveira não ataca apenas o sistema político brasileiro, mas o de outras corporações que se perpetuam no poder, inclusive as do agronegócio.

Para ele, o agronegócio, assim como o país todo, precisa de políticas sérias e adequadas para gerar investimentos, que vão desde a produção até a infraestrutura.

O setor do agronegócio não está satisfeito com o que está aí. São necessárias mudanças, inclusive do sistema, para que as novas pessoas tenham representatividade para fazer as mudanças, afirma.

Em um ambiente atual de custos mais elevados, o Brasil vai encontrar pela frente uma concorrência ainda maior dos demais produtores agrícolas. Essa concorrência virá também da vizinha Argentina, cujo novo presidente promete uma retirada
gradual dos impostos do setor.

Além disso, a produção de grãos avança nos EUA, na Europa e na América do Sul, derrubando preços.

Quanto aos efeitos do dólar, Silveira concorda com Galvão. Mas a queda diminuirá os custos do produtores endividados em dólar, afirma.

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Milho A produção em 2015/16 fica em 87,5 milhões de toneladas, prevê a Céleres. Já a Safras & Mercado estima 89,3 milhões. Anderson Galvão, da Céleres, diz que o atraso no plantio da soja poderá fazer o milho perder a janela ideal em alguma regiões.

Boi A arroba subiu para R$ 149 no noroeste de São Paulo nesta sexta-feira (5), conforme acompanhamento de preços da Informa Economics FNP. A alta é de 0,7% no dia e de 3,5% em 12 meses.

Etanol Os preços mantêm alta nas bombas dos postos da cidade de São Paulo. Pesquisa da Folha apurou R$ 2,553 por litro do combustível na média dos 50 postos acompanhados semanalmente. Em 30 dias, a alta acumulada é de 7,9%.

Clima adverso A produção gaúcha de trigo caiu parfa 1,5 milhão de toneladas neste ano, 56% menos do que em 2014. A produtividade média recuou para 1.693 quilos por hectare, 19,5% menos. Os dados são da Emater/RS.

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Apesar do El Niño, safra de soja pode ser de 100 mi de t

Foi divulgada mais uma série de dados sobre a safra brasileira de soja de 2015/16 nesta semana. A produção pode superar, pela primeira vez, 100 milhões de toneladas.

Apesar dos efeitos do El Niño, as estimativas da Céleres apontam para 101,9 milhões de toneladas no período. A Safras & Mercado também aponta para 100 milhões.

Já a AgRural, que indicava no mês passado um volume superior a 100 milhões, reduziu a estimativa para 99,7 milhões nesta sexta-feira (5). A agência espera produtividade menor em Mato Grosso, mas recuperação no Sul e em Mato Grosso do Sul.

A Abiove (associação das indústrias) estima uma safra de 98,6 milhões de toneladas. 

 

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Fonte:
Flávio França Jr.

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Boa a análise do Flávio França Jr... Já o Glauber Silveira não desceu do muro ainda. Fiquei surpreso e feliz, quando li: Glauber ataca as corporações que se perpetuam no poder, inclusive as do agronegócio. Para, imediatamente após, perceber que foi o jornalista quem afirmou isso e não o Glauber. Ele diz, basicamente, que a culpa é do "sistema" e não da Dilma. Está errado o Glauber, ainda que o País necessite urgentemente de reformas, a tributária e a trabalhista são as mais urgentes, o "sistema" não é o culpado pela escolha das politicas públicas adotadas pelo governo. A interferencia governamental na economia, o capitalismo de compadrio, os juros subsidiados, o aumento dos gastos públicos, a desvalorização da moeda, tudo isso, mais uma agenda cultural cara e irresponsável, de compra de corações e mentes, que contou com apoio de empresários importantes do agronegócio, é que são, entre outros, os culpados pela situação caótica do Brasil hoje. Não é então, o sistema politico, o culpado, a culpa é das pessoas que apoiaram as politicas do PT

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