O desenvolvimento de solos produtivos no sistema Plantio Direto
Afonso Peche Filho*
Solos produtivos são aqueles modificados pelo agricultor em busca de melhorar a produção agrícola. Originalmente, os solos são formados pela interação de cinco fatores: rochas (material original), clima, relevo (paisagem e topografia), atividade biológica diversificada (ABD) e o tempo. Com atividades agrícolas, o processo de formação do solo sofre uma profunda mudança, principalmente nas interações entre os fatores abióticos (rocha, radiação solar, temperatura, vento, entre outros) e fatores bióticos (microrganismos, fungos, insetos, plantas e outros animais). Essa interação no desenvolvimento do solo agrícola é altamente complexa. E no sistema plantio direto, essas interações são diferentes daquelas que ocorrem com os solos expostos, derivados da agricultura convencional. A construção de um solo altamente produtivo depende principalmente da qualidade de implantação da cobertura. Sem qualidade, a otimização tecnológica dos insumos fica comprometida. A cobertura do solo (verde e morta) é norteada pela rotação de culturas, e o aporte de biomassa diversificada tem um efeito único e complexo nas condições ambientais das áreas de produção. A cobertura de biomassa, quando manejada de forma adequada, potencializa os efeitos benéficos da radiação solar, estabiliza a temperatura e a umidade no perfil e progressivamente vai construindo a bioestrutura ativa do solo. A formação do solo produtivo em regiões tropicais é dominada por processos biológicos, que são impulsionados pela presença contínua de uma biomassa de cobertura, daí a importância do sistema plantio direto evoluído, que equilibra a dinâmica da vida no solo, reduzindo progressivamente a dependência de insumos sintéticos, principalmente agrotóxicos. A dinâmica construtivista de solos produtivos varia acentuadamente nos diferentes biomas brasileiros, principalmente em comunidades biológicas estabelecidas. A gênese do solo produtivo e sua interação com a cobertura biológica, que são processos complexos, não se adaptam bem a generalizações. No entanto, três conceitos são cruciais para compreender a interação entre o plantio direto e a construção de solos produtivos:
1. Solos produtivos, cobertura de qualidade e agricultores coevoluem a cada safra.
2. A contínua agregação, a fixação de carbono e a estabilidade hidrológica do plantio em nível fazem a grande diferença entre solos produtivos no sistema plantio direto e os solos descobertos no sistema convencional.
3. A rotação de culturas que privilegia a biodiversidade é fundamental para construir solos supressivos e ambientes resilientes.
Adotar um “sistema de proteção do solo” também é estratégico, para o desenvolvimento de ambientes produtivos, para melhorar a eficiência das plantas e principalmente manter e aumentar a renda do produtor. A proteção integra "solo-água-ar-vida-homem", com características para estabelecer um sistema de "prevenção-controle-remediação-supervisão", adequado a cada tipo de solo. A figura ilustra um perfil cultural em evolução e os elementos fundamentais para a manutenção da capacidade produtiva do solo.
* Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas
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