PIB Brasil: Mais uma vez o agro salvando a lavoura, por José Otavio Menten

Publicado em 15/07/2014 11:55 e atualizado em 02/03/2020 10:29
José Otavio Menten é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.

O PIB (soma de toda a renda gerada no País) do primeiro trimestre de 2014 foi assunto de muita discussão. Cresceu apenas 0,2% ante o trimestre anterior, trazendo preocupações, devido, principalmente, as quedas no consumo das famílias, da indústria e dos investimentos. As previsões de crescimento em 2014 estão sendo revistas para baixo, variando entre  0,8 % e 1,90%, com mediana de 1,30%. Trata-se de crescimento muito inferior ao desejado e abaixo do previsto para outros países, tanto desenvolvidos como emergentes.

Mais uma vez, o agro impediu que o crescimento do PIB brasileiro fosse ainda mais desastroso. No primeiro trimestre, a agro cresceu 3,6% em relação ao trimestre anterior, graças, dentre outras, as safras de soja, arroz, feijão e algodão. Outros setores positivos foram produção de eletricidade, gás e água (1,4%), intermediação financeira, previdência complementar (1,2%), atividades imobiliárias e aluguel (0,9%), transporte, armazenagem e correio (0,8%) e indústria extrativa mineral (0,5%). Os serviços, setor de maior peso na economia, cresceram apenas 0,4%. A construção civil apresentou queda de 2,3%, a taxa de investimento foi de -2,1%, a indústria de transformação -0,8%, e o consumo das famílias -0,1%. Considerando o acumulado dos últimos 12 meses, o agro cresceu 4,8%, enquanto o PIB total foi de 2,5%.

O bom desempenho do agro não está sendo suficiente para evitar o pífio crescimento do PIB do Brasil. Considerando a variação no primeiro trimestre de 2014 em relação ao primeiro trimestre de 2013, o PIB brasileiro cresceu 1,9%, abaixo da China (7,4%), Peru (4,8%), Coreia do Sul (4,0%), Grã-Bretanha (3,1%), Japão (3,0%), Chile (2,6%), Estados Unidos (2,3%) e Alemanha (2,3%). O Brasil só superou o México (1,8%), África do Sul (1,6%), Portugal (1,2%), Rússia ( 0,9%), França (0,8%), Espanha (0,6%) e Itália (-0,5%).

As perspectivas não são animadoras para 2014. Certamente não será repetido o resultado de crescimento observado em 2013, de 2,5%, com o agro crescendo 7,3%. Mesmo com a estimativa do agro apresentar bom desempenho em 2014, não será suficiente para evitar que a economia brasileira cresça menos que seus principais competidores. O Brasil continuará a apresentar baixa eficiência e capacidade produtiva.

O agro deve continuar sendo o setor mais competitivo da economia brasileira, representando mais de 20% do PIB (cerca de 1 trilhão de reais) e com 41% das exportações e 25 a 30 milhões de pessoas trabalhando (cerca de 30% da população economicamente ativa). A produção de grãos deve atingir 191 milhões de toneladas em 2014, mantendo taxa de crescimento de 4% ao ano. A expectativa é de que, no próximo trimestre, o agro mantenha a tendência crescente devido ao término da colheita da safra de verão e inicio da colheita da segunda safra e de algodão.

Agronegócio, o paraquedas da economia - editorial do Estadão desta terça-feira (15)

O Brasil continua salvo de um desastre cambial e de uma crise econômica muito mais séria graças ao agronegócio, o setor produtivo mais eficiente do País, capaz de garantir um superávit comercial de US$ 40,77 bilhões no primeiro semestre, enquanto se acumulava um déficit global de US$ 2,36 bilhões no comércio exterior. O campo e as fábricas diretamente ligadas à agropecuária continuam proporcionando a maior parte das poucas notícias positivas da economia, enquanto a maior parte da indústria permanece atolada em problemas de competitividade, agravados pela sucessão de erros da política econômica. De janeiro a junho o agronegócio exportou produtos no valor de US$ 49,11 bilhões, ou 44,4% do total faturado por todos os setores com as vendas ao exterior. A contribuição do setor de commodities para as contas externas foi completada com os embarques de minérios, principalmente de ferro.

No campo, a perspectiva é de mais um recorde na produção de grãos e oleaginosas - formada principalmente por algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo. A safra desses produtos deve alcançar 193,87 milhões de toneladas. Confirmado esse número, terá havido aumento de 2,8% em relação à colheita da temporada anterior, segundo a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura.

A irregularidade das chuvas tem prejudicado o rendimento das lavouras e por isso o aumento da produção deve ser menor que o da área plantada (6,1%). Esse tem sido um evento raro. Nos últimos 20 anos as safras têm crescido muito mais que o espaço ocupado pelas culturas. A produtividade tem sido há muito tempo uma das principais vantagens da agricultura brasileira e, mais recentemente, o seu sinal distintivo na economia nacional.

São estimadas colheitas maiores para algodão, amendoim, arroz, feijão, soja e trigo. A produção de milho deve ser 4,1% menor que a da safra anterior, mas, ainda assim, o abastecimento será tranquilo e o estoque final deverá aumentar. O aumento mais notável de produção deverá ser o do trigo, principal cultura de inverno. A última estimativa indica uma área plantada 18,9% maior que a da safra anterior - consequência de preços favorecidos por uma forte demanda internacional, com influência evidente da crise na Ucrânia, importante país produtor e exportador. Se nenhuma surpresa ocorrer, a produção poderá crescer 33% e chegar a 7,39 milhões de toneladas. Nesse caso, a importação no ano-safra poderá ficar em 5,5 milhões de toneladas, 14% abaixo da estimada para o ano anterior.

Boa produção no campo contribui para a demanda de bens industriais no interior, para o reforço das exportações e para a contenção do custo de vida. Os preços internos são em boa parte determinados pelas condições do mercado internacional e isso se reflete, ocasionalmente, em pressões de alta no comércio de alimentos.

Mas as pressões seriam certamente maiores, e até muito maiores, se a produção interna fosse menor. Além disso, cotações em alta nas bolsas internacionais afetam muitos países e poucos têm inflação tão alta quanto a brasileira. A alta geral de preços é determinada por vários fatores, além das condições do mercado agrícola, e o desarranjo das contas públicas é um dos mais importantes. Nesse quesito, poucos emergentes vão mal como o Brasil.

As exportações do agronegócio renderam US$ 99,451 bilhões nos 12 meses até junho, com superávit comercial de US$ 82,43 bilhões. A receita foi 1,1% menor que a dos 12 meses até junho de 2013 e o gasto com a importação, 2,2% maior. Isso se explica principalmente pela evolução dos preços dos produtos vendidos e comprados. Ainda assim, o saldo foi elevado, embora insuficiente para compensar o déficit no comércio de outros tipos de bens e nas contas de serviços e rendas.

Nos 12 meses até maio, último período com informação disponível, chegou a US$ 81,85 bilhões o déficit em transações correntes - o mais amplo indicador das transações com o exterior. Esse déficit equivaleu a 3,61% do Produto Interno Bruto (PIB). Como estariam as contas externas sem a competência do agronegócio?

Agronegócio: Motor da Economia, por Renê Gardim no DCI

O agronegócio é o motor da economia nacional, registrando importantes avanços quantitativos e qualitativos, que se mantém como setor de grande capacidade empregadora e de geração de renda, cujo desempenho médio, tem superado o desempenho do setor industrial, ocupando, assim, a posição de destaque no âmbito global, o que lhe dá importância crescente no processo de desenvolvimento econômico, por ser um setor dinâmico da economia e pela sua capacidade de impulsionar os demais setores. 

O conceito de agronegócio implica na idéia de cadeia produtiva, com seus elos entrelaçados e sua interdependência. A agricultura moderna extrapolou os limites físicos da propriedade. Dependendo, cada vez mais, de insumos adquiridos fora da fazenda, e sua decisão do que produzir, quanto e como está fortemente relacionada ao mercado consumidor. Há diferentes agentes no processo produtivo, inclusive o agricultor, em uma permanente negociação de quantidades e preços..O agronegócio brasileiro compreende atividades econômicas ligadas, basicamente, a:
 - Insumos para a agricultura, como fertilizantes, defensivos, corretivos.
 - A produção agrícola, compreendendo lavouras, pecuária, florestas e extrativismo. 
- A agroindustrialização dos produtos primários. 
- Transporte e comercialização de produtos primários e processados. 
Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro se desenvolveu numa velocidade muito alta, em virtude da moderna tecnologia voltada para o setor. Esta atividade tomou dimensão tão grande que tem caminhado para se tornar a principal atividade econômica do país. Com esse desenvolvimento, o setor contribui para baixar a taxa de desemprego, em conseqüência melhorar as condições de vida da população, conciliando o desenvolvimento econômico com o social. 
 O agronegócio contempla a visão sistêmica das cadeias produtivas agroindustriais, envolvendo todos os segmentos abrangidos nos setores, tais como:
 - Insumos materiais: sementes, mudas, fertilizantes, corretivos, agrotóxicos, máquinas e equipamentos dentre outros;
 - Setor da produção rural propriamente dito; 
- Setor de transformação (industrialização), 
- Setor de distribuição e comercialização, 
- Ambientes institucional (aparato legal) e organizacional (pesquisa, extensão e ensino, entidades de classe, cooperativas, agentes financeiros) que dão suporte aos ambientes produtivo e de negócios.
 O Brasil se credencia a ser o grande fornecedor de alimentos do mundo. E por isso, identificar interpretar e analisar gargalos e oportunidades do agronegócio são de suma importância para o crescimento e destaque do setor no Brasil. 

Leia a íntegra no site do DCI.

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Fonte:
CCAS + Estadão

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