Desafios e oportunidades para 2015, por Camilo Motter

Publicado em 27/11/2014 14:45
Camilo Motter é economista, jornalista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, em Cascavel/PR.

O grande desafio do Brasil no ano que se avizinha é a retomada da confiança entre governo e empresários para o retorno dos investimentos. Persiste o clima de incertezas e de desequilíbrios, que afugenta os investimentos. A sinalização desta aproximação mútua deve ser dada pelo governo, com controle fiscal, controle da inflação, ambiente favorável para os negócios e fuga da ideologização do debate econômico e social.

(As instituições e a democracia devem ser defendidas contra os constantes ataques. A História está repleta de exemplos em que aventuras ideológicas terminaram em torturas, sofrimento e degradação – quando não, eliminação – das condições de vida.)

É necessário quebrar a paralisia postada no consumo. É necessária a criação de um círculo virtuoso postado na oferta. O país precisa crescer e, para isto, é urgente a implementação de reformas, sobretudo a tributária e a trabalhista, não apenas com incentivos pontuais, mas com uma reestruturação geral. É necessário um choque de infraestrutura que, atualmente, constrange o setor produtivo. Objetivo: reduzir custos e estimular a produção. Os desdobramentos positivos completam o círculo: mais oferta, mais renda, mais consumo, mais arrecadação e melhora da relação dívida versus PIB.

As reformas feitas no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 já esgotaram a capacidade de gerar desenvolvimento. Mostraram a força e a extensão transformadora quando velhas estruturas já não respondem mais aos estímulos. Reformas não têm efeito perene. Tem prazo de validade. Sobre elas, novas alterações devem se sobrepor para atualizar-se à dinâmica do sistema. O estado precisa ser permanentemente reformador e os últimos governos não entenderam isto. Em matéria econômica, os governos perderam oportunidades e cometeram sérios deslizes nos anos mais recentes. 

A submissão da inflação, com o represamento dos preços administrados pelo governo e com controle do câmbio, é outro grande desafio para o próximo ano. E isto não é tudo. 
A solução do problema fiscal passa pelo crescimento. Se atuar somente com cortes de gastos, o governo estará atrofiando a economia e agravando o drama fiscal. Daí a necessidade de uma política industrial e cambial adequadas. O engenho propulsor das reformas e da retomada da confiança está na capacidade e na vontade – a meu ver, limitadas – deste governo no sentido de agregar forças políticas para uma mudança de rumo em relação ao mandato anterior. No mundo real, existem muitas incertezas sobre as intenções do governo para o próximo mandato. Até porque o desgaste com a corrupção e os escândalos irá consumir grande parcela de suas energias – mais uma razão para que as perspectivas de acerto sejam pouco otimistas.

Em 2015, com novo mandato e, espera-se, tendo aprendido com as lições negativas dos últimos anos, o governo tem a oportunidade de corrigir erros e dar um novo rumo à economia. Sem correções, continuaremos desperdiçando cenários favoráveis. Parceiros e concorrentes continuarão crescendo e ficaremos procurando culpados fora de nós mesmos. A oportunidade em 2015 está em corrigir rotas, promover ajustes na área fiscal, no controle de preços e na convocação dos brasileiros para um novo ciclo de crescimento. As velhas estruturas de arrecadação e de contratação da mão de obra por empresas e pelo setor público estão dissociadas do dinamismo que a economia moderna requer. 

A aposta do governo no consumo deve ser revertida pela aposta na oferta. Ao promover o aumento da oferta, por empregar mais pessoas e recursos, cria-se mais renda e, consequentemente, mais demanda. Isto exige aumento da poupança, com seu subproduto imediato, investimentos. Todo aumento de demanda – com a injeção de crédito ao consumo – sem o correspondente aumento do produto é inflacionário e tem vida curta.  “Não existe almoço grátis”. Mais participantes do mercado de trabalho – responsáveis pela própria renda – representa mais produção, mais consumo e menor dependência do estado. O que é salutar para os dois lados desta mesma moeda. 

É oportunidade para abrir uma ampla discussão sobre que país queremos para o futuro. Certamente, terá que passar por profundas reformas – tão propaladas, mas tão engavetadas – que vão além das áreas tributária, trabalhista e política, e requer uma ampla revisão da gestão do setor público e da relação entre os poderes – que resultem em confiança e em atração de investimentos. O clamor é por seriedade na lida com a coisa pública e respeito com o contrato social vigente. 

É rotineira, mas sem fundamento, a alegação de que os problemas externos vêm afetando e estagnando a economia brasileira. O mundo tende a crescer mais de 3% neste ano. A piora na gestão pública não se limita à economia. Os indicadores estão piorando na educação, na saúde, no meio ambiente, no resgate dos que vivem na miséria. Esta contradição está ocorrendo no cerne de um governo que se declara social. Mais um sinal de que o discurso e as versões oficiais mascaram os fatos. 

Em 2015 o governo tem a oportunidade e a necessidade de sanear erros, redirecionar os objetivos, desativar as armadilhas montadas com políticas irracionais e redefinir a agenda econômica e social. Não adianta jogar contra o mercado, com medidas fora da razão. Mais cedo ou mais tarde vem a fatura. É urgente ouvir a voz do mercado mais do que as vozes estatizantes. Estas são individuais; aquela, coletiva. O segmento privado está no aguardo da sinalização do governo, que está com a tocha acesa na mão e dará a palavra por onde andar. (A liderança nem sempre é para o bem. O gado que vai para o matadouro segue bovinamente o sinuelo.) Trata-se de mais previsibilidade e de menos improviso. Se o governo persistir no mesmo caminho, o Brasil estará se aprofundando na crise, com desperdício de tempo e recursos. Nosso país não acabará por isso, mas consumirá mais tempo e mais recursos para recuperar-se e recolocar-se nos trilhos do desenvolvimento. 

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Camilo Motter

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Tem certos momentos em que fico pensando, sobre se o debate econômico realmente é o mais importante. Penso então na liberdade, e como não pode deixar de ser, surge então o fantasma da dignidade humana;... Descobri hoje que os mendigos são os maiores libertários do país. Há aqui em B. Camboriú, um serviço público chamado resgate social, para recolher os mendigos da rua. Eles vivem de drogas, cachaça, esmola e alguma comida que almas piedosas lhes dão. O poder público quer lhes dar alguma “dignidade”, um teto, trabalho, comida que não é resto de restaurantes... E eles não querem. Por diversas vezes perguntei o por quê? A resposta é sempre a mesma, lá não existe liberdade! É isso, o ser humano nasce livre, quer ser livre e morrer livre. Ao inferno com essa dignidade falsificada, em que o homem é ensinado, domesticado, e levado a acreditar que não importa o que faça... ele tem direitos. Para que haja uma mudança trabalhista, tributária, econômica, política, é necessário uma mudança nos princípios morais, para os derivados da lei natural. Eu acredito piamente que o Brasil vai tornar-se um grande País, no dia em que o governo deixar as pessoas viverem como querem, como podem, no dia em que cada um será um homem livre para escolher o que quer ser, e o que quer fazer de sua vida, sem um estado que o proteja, de ter de arcar com as conseqüências de seus atos. Se o governo deixar as pessoas em paz, elas progredirão sozinhas, e com elas o país. Quando os Judeus estavam no deserto, sem estado, sem governo, sem rei, a ponto de matar Moisés, pensando que morreriam de fome, Deus lhes mandou codornizes do céu. Prefiro a fé em Deus, que acreditar no estado e seus governantes. Por fim um exemplo de ideologia anti-religiosa, o aquecimento global. Se o homem assume a responsabilidade por isso, Deus não tem poder. E como muito bem falou Dostoievski, se Deus não existe, então tudo é permitido. “...até que do alto, o espírito seja derramado sobre nós.

    Então o deserto se tornará um vergel, e o vergel valerá

    uma floresta.

    O direito habitará no deserto

    e no vergel se estabelecerá a justiça.

    A obra da justiça será a paz:

    o empenho da justiça, calma e segurança para sempre.

    Meu povo se estabelecerá em um remanso de paz,

    em moradias seguras, tranqüilos lugares de repouso...”

    ( Is 32, 15-18. )

    Leiam também Isaias 35; lhes garanto que vale a pena.

    Prezado Camilo, imagino que leia os comentários de seus artigos, e não sei se consegui passar a mensagem que queria, então para não parecer tão estranho um comentário como esse, quero dizer que concordo com tudo o que você escreveu, menos que a questão da gestão seja mais importante que as reformas. Muito bom artigo.

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