Banho de Bacia, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 17/03/2014 15:27 e atualizado em 05/03/2020 18:05
Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS.

Osvaldo Piccinin - novoNa roça, ninguém tinha o costume de tomar banho todos os dias. No máximo, se lavava o rosto, os braços e as pernas até na altura do joelho; que era o limite onde conseguíamos arregaçar a calça.

No verão era comum tomarmos banho de bica ou de rio, mas no inverno nem pensar! Toda família tinha uma enorme bacia de folha de zinco, que servia a todos, como uma banheira. A nossa ficava perto do fogão de lenha, num quartinho reservado.

Entre meus irmãos, ninguém queria ser o primeiro, principalmente quando fazia frio. Era “um tal” de vai você primeiro que não tinha fim. Só mesmo quando nossa mãe dava a voz de comando é que a fila andava. 

Um enorme caldeirão de alumínio era colocado ao fogão para ferver  água, e nossa mãe, pacientemente, ia temperando a água quente com a fria, e checando a temperatura, com cuidado, até ficar no ponto. 

Quando achava que estava no jeito, nos dizia: - experimente, acho que está boa. Era um pé atrás do outro, até nos sentarmos por completo naquela deliciosa água morna!

Enquanto preparava o jantar no nosso charmoso fogão, ela nos ordenava várias vezes: - lave as orelhas, lave o pescoço, tire o encardido dos pés.

O banho tinha que ser rápido, porque os irmãos aguardavam na fila. Usávamos sabão de cinzas - caipira – bucha vegetal ou caco de tijolo para tirar o encardido dos pés. 

Após o banho, vinha a enxugada no corpo, coisa que eu detestava que ela fizesse. A impressão que eu tinha é que, nossa mãe, também não tinha muita paciência em realizar esta tarefa, pois as vezes exagerava na pressão da toalha em nosso franzino corpo.

Se ela percebesse que estávamos demorando muito no banho, a bronca era certa; isso quando não, já meio sem paciência, acabava de nos dar o banho. A ordem era: - feche os olhos moleque, senão entrará sabão! E como ardia, este tal de sabão de cinzas, feito com soda cáustica, pinhão manso, cinzas e barrigada de porco!

Os pés da molecada eram “cascorentos” de tanto andar descalços, pisando na lama ou na poeira vermelha. Dizíamos que se pisássemos num prego este entortaria tamanho era o cascão nas solas dos pés.

Meu primeiro banho de chuveiro foi aos doze anos, quando em visita à casa de minha noninha.Claro que achei maravilhoso, e também fiquei maravilhado ao saber que a agua era esquentada através das serpentinas situadas entre as brasas do fogão á lenha. 

Confesso que nosso banho de bacia tinha um quê de romantismo, principalmente quando tomado sob a luz de uma lamparina a querosene!

E VIVA O BANHO DE BACIA!

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Fonte:
Osvaldo Piccinin

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8 comentários

  • sonia aparecida moreto Andirá - PR

    Parabéns, histórias em comum por todo o Brasil, onde nos faz sentir tão próximos, como se realmente fossemos todos irmãos. Uma grande sensibilidade que me fez viajar pela minha infância tão simples e tão feliz.Obrigada.

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  • Antonio Carlos Nogueira Fortaleza - CE

    Parabéns Oswaldo, estes seus comentários fazem nascer um clube de saudosistas como eu e também que tiveram uma infância e juventude muito em comum.

    Continue assim você nos faz retornar aos bons tempos e continuar curtindo a vida enquanto vivemos.

    Abraço.

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  • antonio carlos malta Astorga - PR

    sou do ano de 61, nascido e criado em astorga noroeste do pr e lendo as histórias do osvaldo até parece que ele é meu irmão tal a semelhança entre sua época de criança e a minha.Bons tempos

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  • Varley Machiavelli Junior Uberlandia - MG

    Grande Osvaldo, trabalhamos juntos na Apoio Rural, eu era consultor de vendas até 2005 em Chapadão do Sul, quiz o destino nos separar, mas trago grandes lembranças daquele tempo .... apesar de ser de outro tempo, ja tomei varios banhos de bacia ... rsrsrs

    Forte abraço amigo!!

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  • LAERTE SOARES ZAMPIER Iúna - ES

    Caro Osvaldo, apesar de ter vivido sua infância no interior de São Paulo e eu no interior de Minas Gerais, nossa forma de tomar banho e a maneira de nossas mães nos induzir e conduzir ao banho muito se assemelha. Até a receita do sabão era igual, somente o recipiente onde se esquentava a água que é diferente. Parabéns pela história contada, lembra-nos daquele tempo que a mãe era autoridade e trazia em sua fala os ensinamentos que muitos não cosseguem dar hoje.

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  • Lucineia Almeida Dourados - MS

    Gente apesar de ñ ser tão velha, sou do ano de 68, também já passei por essas situações, me lembro que depois da bacia, inventaram aquele chuveiro feito de balde de alumínio, para nos criança na época era tudo de bom. O tijolo minhas primas que moravam numa fazenda perto de Caarapó usava muito. Foi muito bom ler esse artigo, me fez lembrar muito da minha infância. Adorei.

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  • João Alves da Fonseca Paracatu - MG

    Prezado Osvaldo,nossa história e nossas histórias são muito parecidas ,vivemos uma infância e uma adolescência num Brasil extremamente rural, atrasado tecnologicamente,todavia movido por princípios éticos e de respeito acima de tudo; a educação ,o trabalho,os desafios do mundo moderno e a garra nos fez vencedores e,como dizia Guimarães Rosa "o sapo não pula por achar bonito e sim por necessidade",aí chegamos onde estamos...me preocupa muito a geração atual ,que seguindo exemplo de grandes malandros,acha que a esperteza está em passar o próximo para traz ao invés de ir à luta. Um caloroso abraço de um sujeito que saiu da roça,mas que a roça jamais sairá dele.

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  • Antonio Carlos Nogueira Fortaleza - CE

    Osvaldo, gosto das suas histórias, também me remetem a um passado saudoso e pelas suas narrativas temos muitas coisas em comum que aconteceu com que está na faixa dos 60 a 70 anos e viveu em cidades pequenas e nos sítios.

    Um abraço.

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