Caríssmo Carlito Lopes, por Osvaldo Piccinin
CARÍSSIMO CARLITO LOPES,
Venho através desta, comunicar-lhe que você está fazendo muita falta para nós - seus admiradores e fãs. O “Caríssimo” foi uma retribuição ao carinho a mim dispensado em seus e-mails - Caríssimo Cunhado! A propósito, minha caixa de mensagens também ficou mais triste e vazia!
Por aqui as coisas estão caminhando e desanuviando aos poucos. O baque foi muito grande, pois na nossa cabeça você foi antes do combinado e isso transtornou seus órfãos. Devagar a ficha vai caindo e aos poucos vamos nos restabelecendo do susto que nos pregou.
Posso até imaginar seu largo sorriso ao tomar conhecimento destas minhas palavras. Sua constante simpatia, otimismo e bom humor, eram suas marcas registradas e continuarão sendo, em sua nova jornada.
Eu imaginava o quanto que você era querido entre aqueles que o cercavam, mas muito aquém da constatação feita por ocasião de seu velório. Foram muitas manifestações de carinho, muitas lágrimas derramadas e também muitas histórias bonitas e honradas sobre sua pessoa.
Sabe, Carlito os presentes falaram de você com respeito e admiração. Você fez parte da vida de todos eles, de alguma forma, principalmente como amigo, confidente, esposo, pai, filho, mestre e cidadão acima de qualquer suspeita. Sua grandiosidade nos contagiava! Apesar da tristeza, os depoimentos carinhosos das pessoas nos confortavam.
Conheci você como o “Carlito da Farmácia”. Pedalava uma bicicleta pelas ruas empoeiradas de Ibaté dando carinho e atenção aos enfermos da farmácia do Chico - seu patrão. Sempre foi irreverente, ousado e determinado. Lembro-me da primeira vez que o conheci.
Eu, com apenas dez anos de idade, e você em plena adolescência. Foi em frente à padaria do Nelsão. O Durval Di Gênova, em sua potente moto, tendo você na garupa, adentrou no estabelecimento logo na largada. Mas você não desistiu - montou novamente e partiram para um passeio, apesar de um pouco assustado. Pensei comigo mesmo: que sujeito atrevido!
Após fazer o ginásio com dificuldade, formou-se Técnico em Agrimensura. Entrou na polícia para custear os estudos e chegou a sargento. Em seguida prestou vestibular para Engenharia de Agrimensura classificando-se em segundo lugar, mas não deixou por menos -, cravou um brilhante primeiro lugar na graduação! Deus, entre tantos atributos também lhe concedeu uma inteligência privilegiada, Caríssimo Cunhado! Para nós, você sempre foi o primeiro e não o “Segundo”Carlos Lopes – como é seu nome de batismo.
Fez mestrado e doutorado em sua área de atuação. Isso mesmo! Você foi doutor e dos bons! Diga-se de passagem, e numa área considerada nobre da Engenharia – construção de estradas e GPS. Se não bastassem tantos atributos e tantas obras que realizou, para sua cidade, sem nada cobrar, fiquei sabendo que estava prestes a lançar um livro de Topografia - juntamente com uma colega da Universidade. Mais um grande feito, sem dúvida!
Muito me impressionava sua eterna paciência, para com a minha irmã, na hora de escolher um prato no restaurante. Você era capaz de ler todo o cardápio até que ela se decidisse por um prato, de sua preferência. E fazia, com educação, com amor e muita gentileza - era um mau exemplo para outros casais não tão românticos assim!
Você viveu intensamente toda a etapa de sua existência. Até Vice - Prefeito você foi, apenas para servir com extrema honestidade, a cidade que tanto amava, pois foi lá que derramou seu suor para vencer os desafios, impostos pela vida. E foi lá, por ironia do destino, que derramou seu sangue, na hora da partida. Por não acreditar em acaso, mas sim na nobreza de sua alma, permita-me registrar mais este feito em seu rico e extenso currículo. Seu gosto por adrenalina era fora do comum. Pilotou sua potente motocicleta pelo Brasil afora, além de viajar para vários países da América Latina. Você era assim - um homem simples, culto, humilde e destemido! Alguns dizem: Ele morreu fazendo o que mais gostava – pilotando uma moto! Será? Eu acho que gostava sim, mas gostava mesmo de viver intensamente; cultivando amizades, enfrentando com coragem, todos os obstáculos da vida e dando sempre o melhor de si. Era um chato perfeccionista!
Deixou saudade, mas já que não tem volta, construiremos nosso consolo em cima de seu legado e de seu exemplo de vida. “Afinal não há cura para o nascer e o morrer, a não ser saborear o intervalo”. Lembra-se quando me disse estas palavras? Seu intervalo foi sabiamente saboreado!
Desejamos sinceramente que sua jornada espiritual seja coroada de êxitos assim como foram seus sessenta e três anos na terra. Por fim, quero lhe dizer sinceramente - esta é uma coluna que eu jamais queria ter escrito, mas o destino assim o quis - Caríssimo Cunhado!
E VIVA O CARLITO LOPES!
João Roberto Cruvinel Ribeirão do Sul - SP
Texto belo...emotivo...e simples, assim como a essência do seu conteúdo, onde devemos admirar as coisas belas da vida...o respeito...a admiração e o carinho pelos nossos entes queridos...Parabéns por ter saboreado os intervalos!