Custo para produzir alimentos sobe acima da inflação oficial
“O problema com qualquer ser ou organização humana é que tendem a esperar até que um problema tenha se tornado um GRANDE PROBLEMA para pensar em como lidar com ele.” Robert Greenhill – Diretor do Fórum Econômico Mundial
Uma tendência alarmante preocupa a agricultura brasileira. Nos últimos anos os custos para produzir alimentos têm sofrido altas seguidas, sempre acima da inflação oficial e com um efeito cumulativo inquietante. Os produtores rurais desde 2011 têm incorporado esses custos porque a maioria das commodities agrícolas atingiram preços remuneradores muito acima das médias históricas, mas que em 2013, com expectativas no mercado de preços menores, podem representar risco à viabilidade econômica das atividades agrícolas.
Os produtores de café, aves, suínos, trigo e cana passaram por maus bocados recentemente, registrando prejuízos e enfrentando crises que resultam muitas vezes na saída de produtores da atividade e redução na produção. No Paraná, por exemplo, a atividade da cafeicultura perdeu 50% da área nos últimos dez anos e o trigo 30% desde 2009.
Em 2013 já se verifica um cenário de preços menores com o agravante de custos significativamente maiores. E os voláteis preços agrícolas aumentam e reduzem substancialmente num mesmo ano, mas os custos raramente se reduzem na mesma proporção e com a mesma velocidade, sendo que certos componentes do custo somente aumentam como no caso da mão de obra.
Os preços agrícolas melhores nos últimos três anos se devem em boa parte à expansão na demanda dos países emergentes aliada ao desenvolvimento do mercado de biocombustíveis (etanol de milho nos EUA), que alavancou a procura por produtos agrícolas, mas a oferta não respondeu no mesmo patamar, contribuindo para isso também os problemas climáticos enfrentados nos principais países produtores, o que significou menores estoques de alimentos. Vale lembrar que o produtor rural é tomador de preços dos produtos agrícolas, ou seja, não pode fixar o preço do produto, pois esse está estabelecido no mercado.
E para demonstrar que os custos de produção dos agricultores estão em patamares preocupantes e obter um referencial de comparação foram utilizados dados oficiais de inflação medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A evolução dos custos de produção agrícola no Paraná foi analisada com dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná (SEAB/PR).
Analisando a inflação oficial de 38% do IPCA/IBGE, entre julho de 2007 e abril 2013, verifica-se que o levantamento da Conab do custo operacional de produção para as culturas de soja, milho, trigo e feijão no Paraná registrou variação média de 54% no mesmo período, muito superior à inflação. Perante uma inflação de 38%, o custo de produção do trigo subiu 53%, feijão 79%, milho 43%, soja convencional 55% e soja OGM fechou em 38%, conforme o gráfico abaixo.
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Entre os itens que se destacaram com maior alta nos custos de produção de grãos estão mão de obra, fertilizantes, sementes e armazenagem. Entre 2005 e 2013, o preço de semente de milho subiu 132% frente a uma inflação de apenas 50% medida pelo IPCA no mesmo período. Os fertilizantes também tiveram aumentos acima da inflação, o cloreto de potássio e as misturas completas, adubos 00-20-20 e 10-20-20, muito utilizados na produção de grãos, registram variações superiores a 62% para uma inflação de 50%.
Entre as safras 2007/08 e 2013/14, o custo operacional de café subiu 109% contra uma inflação de apenas 38,3% medida pelo IPCA/IBGE no mesmo período. O seu principal componente (responde em média por 55% dos custos) a mão de obra fixa e temporária, aumentou 150% no período conforme levantamentos da Conab.
CUSTO DA MÃO DE OBRA TRIPLICA
Mas o maior vilão no custo de produção tem sido o custo da mão de obra. A partir de maio de 2013, o piso salarial regional do Paraná, o maior do Brasil, foi reajustado de R$ 783,20 para R$ 882,59, acréscimo de 12,69% e ainda não foi considerado nos referidos levantamentos de custos. Desde sua criação, o piso regional paranaense tem aumentado significativamente acima dos índices de inflação. Entre maio de 2005 e abril de 2013, frente a uma inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) medida pelo IBGE em apenas 51% no período, o piso salarial do Paraná praticamente triplicou e foi reajustado em 194,19%.
E essa alta dos custos já é sentida há anos também na pecuária. Os produtores de suínos, aves, bovinos, ovinos e caprinos muitas vezes ficaram no prejuízo, pois além do aumento do custo de mão de obra, arcaram com o pagamento dos melhores preços no milho e na soja, componentes com grande participação na formulação de rações animais. E geralmente a variação do custo operacional de produção para pecuária de corte e de leite tem ficado acima do Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M/FGV, conforme os gráficos abaixo.

E essa alta dos custos já é sentida há anos também na pecuária. Os produtores de suínos, aves, bovinos, ovinos e caprinos muitas vezes ficaram no prejuízo, pois além do aumento do custo de mão de obra, arcaram com o pagamento dos melhores preços no milho e na soja, componentes com grande participação na formulação de rações animais. E geralmente a variação do custo operacional de produção para pecuária de corte e de leite tem ficado acima do Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M/FGV, conforme os gráficos abaixo.
CONCLUSÕES
O produtor define os novos investimentos que fará em suas atividades e deve ficar atento a sua real capacidade de pagamento, evitando gastos desnecessários que podem se converter em endividamento. Para isso precisa também conhecer profundamente seus custos de produção e pesquisar os preços dos seus fornecedores de insumos e serviços, buscando a melhor alternativa de custo-benefício.
Entre os diversos itens do custo de produção, vale lembrarse daqueles que se referem às operações de armazenagem e que podem ser alvo de maior pesquisa por parte do produtor rural. No Paraná há relatos de que numa mesma região e período do ano, as variações de custo chegam em 28% entre diferentes armazéns para os mesmos serviços e operações cobradas dos produtores como taxas de descontos de umidade, quebra técnica e armazenamento.
Sobre as estratégias de comercialização, os analistas de mercado sempre alertam aos produtores que não se deve esperar para acertar o “olho da mosca”, recomendando que realizem vendas escalonadas aproveitando os picos de alta antes, durante e após o plantio, realizando também o “hedge” como, por exemplo, mercado futuro e contratos de opção referente a uma parte da produção, que garanta a cobertura dos custos de produção. Trata-se de proteção de preço contra fatores que estão fora do controle e que podem afetar a margem de lucro na comercialização de commodities agrícolas. Porém, os custos de contratação são altos.
Para resolver essa situação, em 2013 o estado de São Paulo, que já conta com um programa de seguro rural, demonstrou mais uma vez que é possível construir políticas agrícolas eficientes ao criar o “Projeto de Financiamento do Custeio Agropecuário Atrelado a Contrato de Opção”, que visa subvencionar 50% (cinquenta por cento) do valor do prêmio pago na formalização do contrato de opção, garantindo ao produtor e sua família a estabilidade da renda. Um bom exemplo que deveria ser seguido pelos governos federal e estaduais.
Cabe ao governo federal atuar na política agrícola oportunamente com apoio à comercialização e nos programas destinados a mitigar riscos, como o seguro rural e o Proagro, visando manter a estabilidade da produção e da renda no campo, evitando dessa forma as indesejáveis renegociações de dívidas e os perversos efeitos multiplicadores que se alastram por todos os setores da economia, culminando geralmente com o êxodo rural e contribuindo com a inflação de alimentos aos consumidores.
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