Déficit de armazenagem do Brasil passa de 50 milhões de toneladas

Publicado em 18/03/2014 12:56 e atualizado em 20/03/2014 13:50

A falta de infraestrutura logística do Brasil tem causado um prejuízo de, aproximadamente, R$ 9,056 bilhões por ano para o agronegócio brasileiro e esse número cresce 6% anualmente. As informações são de um estudo feito pela Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), segundo o economista da entidade, Antônio da Luz. 

Apesar de perdas expressivas causadas por adversidades climáticas na safra 2013/14 de grãos do Brasil, ainda assim o volume colhido será bastante expressivo e maior 0,7% em relação à temporada anterior. 

Esse ganho na produção, entretanto, esbarra, em mais uma safra, na ineficiente e insuficiente infraestrutura logística do país, que engloba todo o processo de armazenagem, circulação e distribuição dos produtos. De acordo com lideranças do setor especializadas nesse período de pós colheita, a estrutura brasileira é defasada e não atende mais a capacidade de produção do produtor nacional. 

De acordo com o último levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), os produtores brasileiros deverão colher cerca de 188,7 milhões de toneladas de grãos. Porém, atualmente, a capacidade de armazenagem do Brasil é de 140 milhões de toneladas, o que causa, portanto, um déficit de quase 50 milhões de toneladas. 

Entretanto, como explicou Irineu Lorini, presidente da Associação Brasileira de Pós-Colheita (Abrapos) o país deve ter de 20 a 25% a mais de capacidade armazenadora do que a sua produção para que possa conseguir deslocar e transportar sua safra de forma adequada e que não reduza a rentabilidade do produtor. "E nos Estados Unidos, por exemplo, eles têm uma capacidade além da sua produção muito maior do que isso", completa. 

Além disso, diz ainda que as estruturas disponíveis são de 35 a 40 anos atrás, já ultrapassadas e que acabam comprometendo a qualidade dos grãos. "Ao ser considerado isso, nosso déficit sobe para quase 70 milhões de toneladas", diz. 

A falta de uma estrutura eficiente, adequada e capaz de receber uma crescente produção de grãos no Brasil vem causando prejuízos cada vez mais expressivos para o produtor. Os investimentos neste setor há muito têm sido quase que inexpressivos e não acompanham a evolução no campo, como explicou Sinval Reis, diretor técnico da Codapar (Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná) e membro da Associação Brasileira de Armazenagem (ABCAO). 

Reis critica ainda a falta de políticas públicas para esse setor, bem como a falta de investimentos por parte do governo que poderiam amenizar a situação. "Nós temos ainda um grande déficit sobre a estrutura que já existe no país, não há nem mesmo uma preocupação com o que nós já temos", diz. O representante da ABCAO, bem como o presidente da Associação Brasileira de Pós Colheita, afirmam que a preservação dessa produção de grãos também exige uma atenção maior e que, em função dessa falta de estrutura, muito se perde em qualidade, já que todos os serviços do setor acabam comprometidos. 

Com isso, há ainda uma perda física desses grãos, que acabam registrando um grau de umidade maior do que o ideal para ser aceito pelos compradores, problemas de impurezas, contaminantes - como insetos que se alimentam desses grãos -, além da incidência de microtoxinas. Esses são problemas, como explicou Irineu Lorini, que não prejudicam somente os grãos, como também a produção de carnes, já que milho e farelo de soja, por exemplo, são os dois principais componentes da produção de ração animal. 

Completando o quadro preocupante da situação de armazenagem no Brasil, há ainda o alto custo com essas estruturas. Para o produtor, segundo explicaram os representantes do setor, ainda não é vantajoso ter uma estrutura armazenadora em sua propriedade, já que a manutenção, bem como a mão-de-obra também custam bastante caro. 

"Precisamos de mais centrais de armazenagem, de mais armazéns do governo. Se pudéssemos contar com mais estruturas armazenadoras nas principais áreas de produção, os produtores não teriam, por exemplo, custos tão elevados com fretes, além de termos melhores condições de padronização desses grãos. Isso contribuiria, portanto, para o escalonamento de outras etapas do processo de logística, o que aliviaria todo o sistema", diz o presidente da Associação Brasileira de Pós Colheita. 
 
Atualmente, a situação mais apertada no setor de armazenagem é registrada no Mato Grosso, maior estado produtor de grãos do Brasil. Atualmente, a capacidade estática do estado é de pouco mais de 29 milhões de toneladas, contra uma projeção de uma safra de grãos de 77.888,9 milhões de toneladas, de acordo com a Conab. 

Já no Sul do país, a situação preocupa, mas é menos apertada do que no Centro-Oeste. Enquanto a produção de grãos do Paraná, por exemplo, deve chegar a 33,498,8 milhões de toneladas, a capacidade estática do estado é de 27.717,893 milhões de toneladas. 

O armazenamento ineficiente vem comprometendo também a comercialização dos produtos brasileiros. Com a falta de espaço ao lado de problemas no escoamento pelas rodovias e ferrovias do país, além de portos que também se mostram insuficientes para o alto índices das exportações brasileiras, o produtor acaba se deparando com um prazo mais curto para realizar suas vendas, prezando pela qualidade do seu produto.

"O caos está instalado e aumenta ano a ano. Os armazéns funcionam como reguladores de mercado e diante dessa deficiência não há um equilíbrio adequado entre a oferta e a demanda. É preciso um governo que se preocupe com o pós colheita, com a conservação dos produtos, é preciso um departamento específico e capacitado para cuidar disso", disse Sinval Reis, membro da Associação Brasileira de Armazenagem. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • LUIZ CARLOS SOBRINHO Aparecida de Goiânia - GO

    - Interessante esta matéria e todo ano a produção Brasileira bate recorde, nem que seja 1 ton. e tem capacidade para aumentar próximo de 20% durante uns dez anos.

    - No entanto o bom mesmo seria fazer uma greve REDUZINDO a produção uns 30% nos próximos anos.

    - Desta forma, tenho certeza que os Governantes daria mais atenção e respeito para os produtores.

    - Neste Pais, somente na base da Greve e que a coisa funciona.

    sds

    Lcs

    0