Mercado aprova plano econômico de Marina e juros começam a ceder

Publicado em 28/08/2014 15:19 e atualizado em 29/08/2014 16:14
e veja mais: Consenso no Alvorada é que Marina vai para o 2.o turno (nos blogs de veja.com)

Ela derrubou os juros, por Geraldo Samor

A “nova política” está consertando o estrago que a “nova matriz econômica” causou.

Com sua perspectiva de vitória no segundo turno, Marina Silva conseguiu um feito que há muito não se via no mercado de juros do Brasil.Marina Silva

Ontem, pela primeira vez em muito tempo, o custo do dinheiro no longo prazo voltou a ficar abaixo do custo do prazo mais curto.

Na BM&F Bovespa, o contrato de juros com vencimento em janeiro de 2021 fechou a 11,22%. A taxa para janeiro de 2017 fechou em 11,30%.

Isso significa que o mercado está exigindo menos “prêmio” no longo prazo por apostar que o Brasil fará, sim, um ajuste fiscal no próximo ano. Antes, os juros de prazo mais longo só subiam, pois o mercado colocava no preço a contabilidade criativa que o Tesouro ainda faz nas contas públicas e os esqueletos fiscais criados pelo Governo Dilma.

O mercado ainda tem reservas quanto a Marina, mas a dinâmica da curva de juros indica que seu time de assessores econômicos — Eduardo Giannetti da Fonseca, André Lara Resende e Maria Alice “Neca” Setúbal — está conseguindo passar credibilidade.

Amanhã às 14 horas, a Coligação Unidos pelo Brasil, de Marina, lança seu programa de governo com um evento no bairro de Pinheiros, em São Paulo.  Vários integrantes do mercado financeiro receberam o convite. (Por Geraldo Samor).

 

Estatais têm 50% de valorização na Bovespa com chance de 2º turno

No período de cinco meses, Bovespa registrou alta de 22,77%

Ibovepsa registra alta de 22,77% em cinco meses, desde que começou a ficar clara a perspectiva de disputa acirrada na eleição presidencial

Ibovepsa registra alta de 22,77% em cinco meses, desde que começou a ficar clara a perspectiva de disputa acirrada na eleição presidencial (Reinaldo Canato/VEJA)

A preferência do mercado financeiro por uma mudança no governo federal já rendeu uma alta de 22,77% no índice Ibovespa nos últimos cinco meses - desde que começou a ficar clara a perspectiva de que a presidente Dilma Rousseff não venceria em primeiro turno. A alta das cotações foi ainda mais forte nas ações de empresas estatais, apelidadas pelo mercado de "kit eleições", que subiram mais de 50% no mesmo período.

Nesta quarta-feira, o dia foi de mais apostas políticas na Bolsa de Valores de São Paulo. Com os últimos resultados das pesquisas eleitorais apontando o crescimento da candidatura de Marina Silva (PSB) o Ibovespa subiu 1,89% e chegou aos 60.950,57 pontos, maior nível desde 24 de janeiro de 2013.

Pesquisas - A primeira pesquisa que sinalizou a possibilidade de um segundo turno foi divulgada em 27 de março pela CNI-Ibope. O levantamento indicou uma queda na avaliação positiva do governo Dilma, para 36%, bem abaixo dos 43% observados no levantamento de dezembro de 2013.

Além disso, o porcentual daqueles que avaliavam o governo na época como ruim ou péssimo subiu de 20% para 27% no mesmo período. Até então, a presidente só havia sofrido reavaliação negativa do seu eleitorado durante a onda de protestos de junho de 2013, que fez desmoronar o índice de confiança na presidente para 48%, em comparação aos 75% do início do governo.

Rumores indicando chances da oposição na eleição aumentaram no primeiro trimestre deste ano, com a piora dos níveis de confiança do empresariado em uma recuperação da economia e também da redução da confiança dos consumidores. Desde então, a visão dos participantes do mercado é de que um novo presidente poderia estabelecer uma política mais tradicional na economia e menos intervencionista nas empresas, especialmente nas companhias estatais.

Petrobras - Na primeira pesquisa, do dia 27 de março, os investidores já carregavam, por exemplo, a insatisfação com o governo Dilma pela gestão de preços de combustíveis e passaram a assimilar também as denúncias de irregularidades na aquisição da refinaria Pasadena pela Petrobras. São justamente as ações da petroleira que têm as maiores variações desde março. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da petroleira subiram 56% e as ordinárias (ON, sem direito a voto) tiveram alta de 51%, mas todas as ações do "kit eleições" acumulam valorizações de dois dígitos nesses cinco meses. Além disso, a insatisfação do setor econômico e financeiro também pesou na alta de 48,87% nas ações do Banco do Brasil.

(Com Estadão Conteúdo)

PT: É difícil renunciar subitamente a um grande ódio (por Reinaldo Azevedo)

Nada muda na campanha do PT com a ascensão de Marina Silva. É difícil acreditar que assim seja, mas isso é, ao menos, o que diz Rui Falcão, presidente do partido. Na noite desta quarta-feira, Dilma Rousseff reuniu no Palácio da Alvorada o comando político de sua campanha e os respectivos presidentes das nove legendas que a apoiam. Falcão falou com a imprensa ao término do encontro, que durou uma hora e meia, e afirmou que tudo ficará como está. Segundo disse, o grupo avaliou que Dilma foi a que teve o melhor desempenho no debate da Band. Não ficou claro se Falcão tentava enganar os jornalistas, enganar a si mesmo ou enganar os seus pares.

Escreveu o poeta latino Catulo, numa de suas infindáveis crises amorosas com a sua Clódia, que vivia a lhe pôr chifres: “Difficile est longum subito deponere amorem”. É difícil renunciar subitamente a um grande amor. E mais difícil ainda é renunciar a um grande ódio — mesmo que seja um ódio sem sentido, que serve apenas ao propósito político. Clódia e Catulo se amavam, mas ela, possivelmente, o traía. Quem odeia não sabe trair: jamais abandona o objeto de seu culto às avessas.

Por que digo isso? O PT combate o PSDB desde 1988, quando este partido foi criado. De maneira sistemática, metódica, incansável, obsessiva, desde 1995, quando FHC chegou à Presidência da República. Fez-lhe oposição ferrenha durante oito anos e depois passou outros 12, no poder, a demonizá-lo. O partido não tem repertório para enfrentar um adversário como Marina. Não que ela represente algo de novo. Essa é uma das tolices mais influentes que andam por aí. Em certa medida, nada representa mais a velha política do que Marina Silva, aquela que pretende falar acima e além dos partidos. Ocorre que, reitero, o PT não se preparou para isso. E, vejam vocês, segundo as pesquisas, quem hoje vence Dilma no segundo turno, e com folga, é… Marina.

O ódio que o PT sempre devotou a seu adversário preferencial, o PSDB, em certa medida, se voltou contra o próprio partido. Os petistas passaram a ser tucano-dependentes. Não têm outro repertório que não a tal luta do “nós contra eles”, do “povo contra as elites”… Vem Marina e os carimba a todos como políticos tradicionais.

Depois de 12 anos de poder, o partido de Lula viu-se tentado a aderir à estética obreirista, do “construí e aconteci”, que só tem passado, não futuro, da qual Marina passou a fazer pouco caso, com sucesso até agora. Disse Rui Falcão, no entanto: “Nós vamos continuar mostrando o que fizemos e apontando as propostas de continuidade das mudanças. Toda vez que houver oportunidade de expor tudo o que nós fizemos e tudo o que vamos fazer, isso é favorável para nós”.

Então tá. Destaco que essa política e essa estética são desdobramentos daquela velha demonização do seu adversário preferencial: afinal, “nós fizemos mais do que eles”. Marina chega e diz: “Isso tudo é propaganda; não é o país de verdade”. E os petistas, até agora, estão sem resposta.

Por quê? Porque é difícil renunciar subitamente a um grande ódio. Se o que Falcão disse a jornalistas reproduzir a qualidade daquela hora e meia de debate, Dilma pode começar a fazer as malas para mudar de endereço.

Por Reinaldo Azevedo

Consenso no Alvorada

Dilma: é hora de repensar a estratégia

Dilma: é hora de repensar a estratégia

A reunião de ontem no Palácio da Alvorada entre Dilma Rousseff e os presidentes dos partidos da base aliada apontou a estratégia do PT para enfrentar a subida de Marina Silva nas pesquisas.

O papo entre 19h10 e 21h foi regado a sopa de galinha, risoto de carne seca e bacalhau. Dilma, que normalmente faz um longo discurso inicial neste tipo de encontro, entregou imediatamente a palavra para os presidentes de partidos ávida por ouvir opiniões.

Foi quase consenso entre os presentes que Marina estará no segundo turno com Dilma – Carlos Lupi do PDT discordou e Eurípedes Junior do PROS, mudo por quase duas horas, não opinou.

Por Lauro Jardim

Como combater Marina

Marina: adversários vão explorar contradições

Marina: adversários vão explorar contradições

A desconstrução de Marina passará por explorar as suas contradições políticas. Se nega a política, por que passou por quatro partidos (PT, PV, Rede e PSB)? Se nega a política, por que quando acabaram as eleições de 2010 não buscou um emprego ao invés de continuar atuando na vida político-partidária? Será este o tom para as próximas semanas.

Na área econômica, o ataque será ainda mais contundente. O PT dirá que dar autonomia ao Banco Central equivalerá a entregar aos banqueiros o comando da economia brasileira. “Não há condições de dar autonomia e manter programas sociais”, afirmou Dilma quando retomou a palavra.

Pelo governo, Aloizio Mercadante manteve-se otimista durante toda a reunião e Ricardo Berzoini nada falou.

Por Lauro Jardim

Até quando?

Dilma: cadê a Marina?

Dilma: cadê a Marina?

O núcleo central da campanha de Dilma Rousseff definiu que só começará a atacar Marina Silva de frente (por enquanto, o que há são ataques apócrifos na internet) a partir da segunda semana de setembro.

Até lá, quer deixar que Aécio Neves, hoje o terceiro colocado, assuma a missão de bater na vice-líder.

Beleza. De qualquer forma, é curioso que Dilma tenha escolhido Aécio para ser o seu alvo no debate da Band. Ninguém entendeu nada, visto que ele hoje é uma ameaça aparentemente menos urgente.

Por Lauro Jardim

Meta por semana

Aécio  e sua adversária da vez

Aécio e sua adversária da vez

Pelas contas feitas na campanha de Aécio Neves, o percentual de votos a ser alcançado neste primeiro turno, para levá-lo ao segundo turno, era de 25% antes do surgimento do fenômenoMarina Silva. Agora, passou para 30%.

Lá, a palavra de ordem é crescer dois pontos percentuais por semana nas pesquisas até o final de setembro para tirar a diferença hoje apontada nas pesquisas.

Por Lauro Jardim

Com Franklin Martins no “Muda Mais”, Dilma não precisa de inimigos!

Por Naiara Infante Bertão e Gabriel Castro, na VEJA.com:
O site Muda Mais, mantido pelo PT e criado para divulgar a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, publicou um texto na noite de terça-feira com potencial de fazer tremer bancos, investidores, empresas e o próprio eleitor. O texto evidencia o que pensam as facções ideológicas mais perigosas do partido — e que, se afagadas, podem colocar em risco a estabilidade econômica numa hipótese de reeleição da presidente. Intitulado “Tem candidato que defende a autonomia do Banco Central: saiba por que isso é ruim para a sua vida”, o texto foi publicado justamente quando o tema da autonomia da autoridade monetária era colocado em discussão no debate entre os candidatos à Presidência, transmitido pela Band.

Propondo-se a explicar como isso interfere no cotidiano do brasileiro, o material discorre sobre o que é o BC e como ele atua na condução da política monetária. “A autonomia do Banco Central é uma medida fundamentalmente neoliberal. Os adeptos dessa teoria acreditam que o salário e o emprego se mantêm estáveis pela autorregulação do mercado, portanto é desnecessária (e eles acreditam ser prejudicial) a interferência do estado nas questões econômicas”, diz o texto.

O tema foi trazido à discussão eleitoral justamente porque, ao longo do governo Dilma, as decisões técnicas do BC sofreram interferência do Palácio do Planalto, com a presidente traçando meta de redução da taxa básica de juros num momento em que a inflação apresentava trajetória crescente. Em 2012, Dilma chegou a afirmar que a Selic seria reduzida a 9% até o fim daquele ano — o que, de fato, se concretizou sem que as condições macroeconômicas permitissem tal afrouxamento. A Selic caiu mais do que o previsto, a 7,25%. Mesmo diante da suspeita de ingerência, que causou danos à imagem do BC que ainda não foram reparados, o governo jamais reconheceu sua atuação junto ao presidente da autoridade, o economista Alexandre Tombini.

O texto, apesar de não ser de autoria do governo, pertence ao site mantido pelo partido justamente para comunicar aos jovens a opinião defendida por suas lideranças. “Pedir um BC autônomo hoje só acontece porque ele deixou de ser nos últimos anos. Havia o desejo expresso da presidente em derrubar a Selic a qualquer custo, sendo esse custo a inflação”, afirma Sérgio Vale, economista da MB Associados.

Independência
Apesar de os diretores do BC serem nomeados pelo governo, sua atuação deve ser independente e essencialmente técnica — por essa razão, o quadro não é composto de nomes ligados a partidos políticos. Há casos em que tal autonomia é garantida por lei, como ocorre na Grã-Bretanha, por exemplo — e esse é o projeto defendido pela candidata Marina Silva, do PSB. O tucano Aécio Neves também afirmou não descartar tal alternativa. Segundo o economista Otto Nogami, professor do Insper, a necessidade de se ter um BC independente, seja por lei ou por decisão do próprio governo, se deve ao fato de as políticas monetária e fiscal serem conflitantes. “Enquanto um defende gastos públicos para o crescimento da economia, o outro deve ter ação restritiva, pois os gastos públicos podem ser inflacionários. Daí a necessidade da independência do BC. Caso contrário, há conflito de interesses”, diz Nogami.

Já o PT pensa diferente. Diz o texto: “Dar autonomia completa ao Banco Central significa que o governo vai abrir mão de parte importante da gerência do país. O presidente do BC, que não será mais escolhido por uma figura que representa o povo, terá poder absoluto sobre as taxas de juros, crédito e valor da moeda”. A frase mostra um completo desconhecimento sobre a figura dos banqueiros centrais. Os técnicos escolhidos para gerir a autoridade não representam o povo. Por isso, não são políticos. Em teoria, são simplesmente profissionais de carreira capacitados para exercer a função, como ocorre nas demais democracias do mundo.

Inflação
Mais grave que a visão distorcida sobre a atuação do BC está a percepção sobre a inflação. Segundo o texto, “neoliberais defendem que o controle da inflação a níveis que atendam exigências dos mercados é a única prioridade, não importando os estragos no meio do caminho”. A inflação tem sido uma das maiores derrotas do governo Dilma, que, mesmo administrando preços como o da gasolina e o de energia, não consegue trazê-la ao centro da meta, de 4,5% ao ano. Ao cortar os juros em 2012, sem que houvesse um cenário propício para tanto, o BC tornou ainda mais distante o cumprimento da meta.

Agora, mesmo com a recente alta dos juros (a Selic está em 11% ao ano), o IPCA continua no teto do limite determinado pelo BC, deteriorando o poder de compra da população. O uso de instrumentos de política monetária para controlar a inflação é visto pelo partido (e tal visão também é atribuída a Dilma, segundo o texto) como forma de defender “os interesses do mercado”, e não a estabilidade econômica — ferramenta tão necessária para proporcionar um ambiente de crescimento e geração de emprego. “O Poder Executivo deve delegar parte de seu poder ao BC como faz com as agências reguladoras. Não tem nada a ver com o neoliberalismo e sim com a forma como o regime democrático funciona. Há diferenças entre Estado e governo, e partido e Estado. A dificuldade de quem escreveu o texto é entender isso. Confunde o partido com o governo e com o Estado”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Procurados pelo site de VEJA, integrantes da campanha de Dilma disseram estar constrangidos pelas afirmações publicadas pelo site do partido. Situação semelhante ocorreu quando o Muda Mais publicou críticas pesadas ao comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O primeiro episódio levou o PT a desvincular o site da campanha presidencial. A página, que é comandada pelo ex-ministro Franklin Martins, passou a ser ligada diretamente ao partido. Franklin entrou em confronto direto com a equipe mais próxima a Dilma porque aposta no conflito com adversários e em críticas ácidas. Com uma atuação presente nas redes sociais, o Muda Mais atua como uma espécie de porta-voz da campanha para um público mais jovem.

Oficialmente, a equipe de campanha disse ao site de VEJA que a página do Muda Mais não expressa a opinião da campanha e que Dilma não é contra a independência do Banco Central.

Por Reinaldo Azevedo

Presidente do BB pagou multa para se livrar de investigação

Por Leonardo Souza, na Folha:
O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, pagou multa de R$ 122 mil à Receita Federal para se livrar de questionamentos sobre a evolução de seu patrimônio pessoal e um apartamento pago com dinheiro vivo em 2010. Bendine foi autuado por não comprovar a procedência de aproximadamente R$ 280 mil informados em sua declaração anual de ajuste do Imposto de Renda. Na avaliação da Receita, o valor de seus bens aumentou mais do que seus rendimentos declarados poderiam justificar.

Dirigente da maior instituição financeira da América Latina, Bendine tem por hábito declarar que mantém dinheiro vivo em casa, de acordo com documentos aos quais a Folha teve acesso. Ele informou em suas declarações à Receita ter recursos em espécie quatro anos seguidos, entre 2009 e 2012, no valor de pelo menos R$ 400 mil. Bendine entrou no radar da Receita Federal em 2010, quando a Folha revelou que ele comprara um apartamento no interior de São Paulo pelo valor declarado de R$ 150 mil, pagos integralmente em espécie. O executivo também declarou ter feito obras no imóvel no valor de R$ 50 mil. Ao justificar a legalidade da transação imobiliária, ele informou que declarou à Receita possuir R$ 200 mil em dinheiro vivo em casa, guardados desde 2009.

Em 2012, os auditores da Receita enviaram a Bendine um extenso questionário sobre suas despesas em 2010, perguntando quanto ele gastara com seus cartões de débito e crédito, com saúde, educação e outras despesas. O executivo prestou as informações solicitadas, mas não convenceu. Em novembro de 2012, foi autuado em R$ 151 mil, incluindo multa e juros. Ele não contestou a autuação e pagou o auto à vista, ganhando um desconto. Assim, a conta caiu para R$ 122.460. Bendine diz que não discutiu com a Receita a origem dos recursos usados na compra do apartamento e diz que o auto de infração resultou de um mero erro em sua declaração à Receita. Mesmo depois de identificar o erro, ele não retificou a declaração.

Questionado pela Folha, Bendine não quis falar sobre o dinheiro, alegando tratar-se de uma questão familiar.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

TCU, Graça Foster e a política nos tribunais

O TCU já formou uma maioria contra o bloqueio dos bens de Graça Foster, presidente da Petrobras. O processo diz respeito às irregularidades apontadas pelo tribunal na operação que resultou na compra da refinaria de Pasadena. Olhem aqui: nem vou entrar, de novo, no mérito da aquisição. O que soa escandaloso é que seja empregado com Graça um critério distinto daquele que valeu para os demais diretores. Para ser claro e preciso: os ministros José Jorge, o relator, e Augusto Sherman defenderam para ela a mesma medida aplicada a 11 outros diretores. Aos dois votos, no entanto, seguiram-se outros cinco contra a indisponibilidade de bens. Quem deu início à divergência foi Walton Alencar Rodrigues. E o fez com tal entusiasmo que chegou a dizer que, em lugar de Graça, teria atuado do mesmo modo. 

Vamos ver. O que segue agora é uma espécie de crônica de costumes – ou de maus costumes de Brasília. Há muito tempo já, o petismo faz, como direi?, malabarismos de natureza política às portas dos tribunais superiores e do TCU. A pressão, desta feita, foi fortíssima. Não custa lembrar: se o tribunal tivesse tornado indisponíveis os bens de Graça Foster, ela teria de deixar a Presidência da Petrobras. 

Em Brasília, muita gente se conhece, né? Walton é marido de Isabel Gallotti, ministra do Superior Tribunal de Justiça. Aqui vai uma informação – não se trata da denúncia de um crime, mas da revelação de um hábito. Em 2008, Lula queria nomear um negro para o STJ. O desembargador federal Benedito Gonçalves estava na lista, mas Isabel, mulher de Walton, também queria a vaga. O então presidente deixou claro que havia chegado a vez de Benedito, mas que Isabel seria a próxima. E assim se fez. Em 2010, a mulher de Walton tomou posse no STJ. O interlocutor de Lula nessas conversas era o então presidente do tribunal, Cesar Asfor Rocha, a quem o petista acenava com uma vaga no Supremo, promessa nunca cumprida. Sigamos. 

Em abril deste ano, Douglas Alencar Rodrigues, irmão de Walton e cunhado de Isabel, que era ministro do TRT do DF, tomou posse como ministro do TST. Alguém, a esta altura, pode se perguntar: “Mas o que isso quer dizer, Reinaldo?”. Eu acho que isso quer dizer que as coisas não poderiam ser feitas dessa maneira. Como as duas nomeações dependeram da vontade do Executivo, acredito que o ministro Walton faria melhor se tivesse se declarado impedido no caso de Graça. Seria mais prudente para a democracia do que seu entusiasmado voto contrário à indisponibilidade de bens.

Reitero: não estou contestando o currículo de ninguém. Até parto do princípio de que a mulher e o irmão de Walton têm méritos para ocupar o cargo que ocupam, mas é preciso indagar, então, se os canais não estão se misturando, não é mesmo? Ademais, não é segredo para ninguém que Lula, pessoalmente, se mobilizou para interferir no julgamento do TCU. Convocou para uma reunião em São Paulo, e foi atendido, José Múcio, que foi seu ministro das Relações Institucionais. Mais: há muito se acena para ministros do TCU com uma vaga no Supremo. O próprio Walton é um pré-candidato. O outro é Benjamin Zymler.  

É dispensável dizer que tribunais superiores não deveriam ser submetidos a esse tipo de especulação. É dispensável dizer que o TCU, que é um órgão de assessoramento do Congresso, deveria se manter longe do mercado político. Mas assim são as coisas. O leitor tem o direito de saber para formar seu próprio juízo.

Por Reinaldo Azevedo

Venezuela estuda importar petróleo: o socialismo faria até faltar areia no deserto!

Fonte: Estadão

“Se colocarem o governo federal para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia”. Foi essa frase de Milton Friedman que escolhi como epígrafe de meu livro Privatize Já. Lembrei dela ao ler a absurda notíciade que a Venezuela, “sentada” em um imenso barril de petróleo, estuda importar o produto pela primeira vez:

O governo da Venezuela está considerando importar petróleo cru pela primeira vez na história do país e poderá usar o produto vindo da Argélia, mais leve, como uma mistura para estimular as vendas do petróleo venezuelano, pesado. A informação consta de um documento obtido na quarta-feira, 27,pela agência de notícias Reuters.

Apesar de o país latino-americano ter as maiores reservas de petróleo do mundo, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal responsável pela exploração petrolífera no território venezuelano, tem comprado um volume crescente de subprodutos refinados do insumo, como nafta, para misturar com o petróleo pesado extraído da bacia do Orinoco, sua maior região produtora.

Isso é feito para tornar o produto venezuelano exportável, enquanto a extração de petróleos de teor mediano e leve – que também têm sido usados como diluentes – tem diminuído no país.

O nafta tem sido importado por altos valores atualmente, o que tem prejudicado o fluxo financeiro da PDVSA, a maior fonte de dólares do governo da Venezuela. A compra de petróleo leve da argelina Sonatrach seria uma forma de o governo tentar diminuir o custo de exportação de seu petróleo.

A possibilidade de a Venezuela importar petróleo cru de outro país havia sido classificada neste ano pelo ministro do petróleo, Rafael Ramírez, como o “último recurso” para diluir a produção local.

A produção de petróleo da Venezuela tem sido decrescente ano após ano, por péssima gestão e uso político da estatal, que virou um instrumento do populismo bolivariano. O país produzia quase 2,7 milhões de barris por dia em 2003, e hoje produz 2,3 milhões. O principal cliente é a nação americana, demonizada pela retórica bolivariana como “exploradores”.

No Brasil, estamos vendo uma espécie de reprise dessa trajetória, com a Petrobras sendo cada vez mais usada para interesses partidários e habitando as páginas policiais como resultado dos escândalos de corrupção. A empresa perdeu quase metade de seu valor, recuperado em parte recentemente graças às pesquisas eleitorais e às chances maiores de Dilma e o PT saírem do poder.

Quando há uma politização das estatais, risco sempre presente, a eficiência é a primeira vítima. Se quisermos evitar o mesmo destino trágico da Venezuela é preciso blindar tais estatais das garras políticas, é preciso “despolitizar” essas empresas. Infelizmente, ainda parece tabu falar em privatização por aqui.

“O petróleo é nosso”, dizem os nacionalistas estatizantes de esquerda ou direita. Como podemos ver, o petróleo, que fica mais escasso com a gestão incompetente do governo, não é “nosso”, e sim deles. Até durar…

Rodrigo Constantino

Máquina de doutrinação em defesa do relativismo moral e da bandidagem

Isso NÃO é um coitado em busca de comida!

Isso NÃO é um coitado em busca de comida!

Jantar em família é algo de que não abro mão. É neste momento que podemos conversar melhor com os filhos, e eles aprendem também sobre postura diante dos outros, limites de comportamento e a dialogar (escutar além de falar). Nesta quarta o clima foi quente, mas a lição, creio, fundamental. Minha filha adolescente chegou com um discurso em prol do relativismo moral, alegando que não sabe o que faria se fosse pobre, e que talvez seja compreensível esses marginais roubarem por desespero.

Senti, imediatamente, que não era ela falando, mas alguma professora de esquerda. Líquido e certo. Ela confessou que tinha escutado isso da professora naquele dia. A doutrinação começa cedo, cada vez mais cedo, e mesmo em escolas particulares e tradicionais. Todo cuidado é pouco. Iniciei, portanto, o processo de desintoxicação para torná-la mais imune a essa tentativa abjeta de lavagem cerebral.

Primeiro, expliquei que “furto famélico”, de que ela falava, era coisa muito rara atualmente. Ninguém mais rouba na penúria só para comer, por fome, ainda mais em país em “pleno emprego” e com esmolas estatais para todo lado. Os galalaus roubam por vários outros motivos, não por desespero causado pela falta de comida.

Em segundo lugar, perguntei se ela achava que realmente seria capaz de apontar uma arma para a cabeça de um inocente, pelo motivo que fosse. Conhecendo os valores absorvidos por ela e sua empatia para com o próximo, já sabia a resposta. Após rápida reflexão, ela teve de admitir que não se imaginava fazendo nada disso, mesmo em desespero.

Passei, então, a explicar que há basicamente dois grupos de pessoas: os que têm valores e dignidade, e os que não têm. E não é a conta bancária que os separa! Mostrei como seu discurso era, inclusive, ofensivo para com nossa empregada, que dá um duro danado para se manter com honestidade e dignidade. Lembrei que a maioria dos moradores de favelas é gente trabalhadora, apesar do entorno, e que muitos bandidos são de classe média, alguns até graduados.

A narrativa de vitimização da bandidagem não é algo novo. Desde os anos 1960 que isso começou a ganhar força. Teve até um livro famoso que falava do “crime da punição”, ou seja, o crime verdadeiro era prender o bandido! A tentativa de retirar a responsabilidade individual por seus atos vem de longa data, com a adesão maciça de muitos sociólogos, psicólogos, antropólogos, enfim, a turma das “humanas”. O criminoso, dizem, é uma marionete da biologia, visto como um objeto em vez de sujeito, ou uma esponja do ambiente, incapaz de decidir por conta própria, de escolher seu curso de ação.

Por acaso estava lendo ontem o livro Not With a Bang But a Whimper, do psiquiatra britânico Theodore Dalrymple, que fala justamente disso. Ele viu a Inglaterra deixar de ser um país relativamente pacífico e com uma polícia admirada para se transformar no país com os piores indicadores de criminalidade do Ocidente desenvolvido. Por trás disso está o relativismo moral e o clima de impunidade produzidos pelas elites intelectuais.

A relação entre crime e pobreza não é direta, tampouco causal – linha de raciocínio “progressista” que é bastante ofensiva aos pobres honestos, em maioria numérica. O crime é uma escolha. O Zeitgeist contribui com as más escolhas, ao eximir o bandido de responsabilidade, ou ao relativizar o que é certo ou errado. O ranço marxista joga mais lenha na fogueira, ao atacar o “sistema” e tratar o criminoso quase como um rebelde legítimo que busca “justiça social”. O roubo, por essa ótica bizarra, passa a ser uma espécie de “política redistributiva”.

Dalrymple trabalhou em prisões e tratou de milhares de criminosos. Conheceu de perto o estrago que tal mentalidade causa nessas pessoas, e como serve de pretexto e álibi para seus atos criminosos. “Não tenho como evitar”, “não consigo me controlar”, “eu apenas roubei, nada mais”, “quem nunca errou?”, e por aí vai. Mas ele mostrava para esses marginais que não eram vítimas, e sim agressores, e que nas prisões sabiam se controlar, sob a ameaça de punições. O comportamento depende do mecanismo de incentivos, assim como dos valores morais.

Há, ainda, aspectos mais prosaicos, como os altos gastos públicos e a tentativa de reduzi-los justamente nas esferas mais necessárias, como as prisões. Ocorre, então, um relaxamento das penas, e muitos bandidos são soltos antes do prazo estipulado. Dalrymple conta casos chocantes, e não são isolados. Marginais que espancaram gente inocente gratuitamente, destruindo suas vidas e de suas famílias, com sequelas eternas, e que foram soltos em poucos meses. Que mensagem isso transmite para os jovens, sabendo-se, ainda por cima, que um curto tempo na prisão é visto até como um “rito de passagem” e motivo de orgulho para muitos deles?

São muitos interesses por trás desse sistema fracassado, porém. O aparato envolvido nisso é gigantesco. A quantidade de “especialistas em criminologia” não para de crescer. Não parece coincidência o enorme crescimento dessas profissões em paralelo à explosão da criminalidade. Será apenas um efeito, ou seria parte da causa?

O fato é que nenhum desses especialistas ganha créditos sugerindo que a punição severa é parte fundamental de uma sociedade civilizada. Tal discurso é visto com asco pelos “ungidos” de esquerda, que demonstram toda a sua compaixão e bondade ao “compreender” os motivos dos criminosos, e ainda acusar os Estados Unidos, com sua grande população carcerária, de o “Gulag das Américas”, como se não houvesse distinção entre a União Soviética e os Estados Unidos. Alguns, como fez Francisco Bosco ontem, colocam tudo na conta do racismo das elites.

Quando Dalrymple era moleque, roubou um chocolate de uma loja e contou para o irmão mais velho. Era uma tentativa de mostrar “bravura” e conquistar o respeito do irmão. Em uma briga, dedurou algum malfeito do irmão, que, por sua vez, entregou seu crime aos pais. Sua mãe o levou à loja e o obrigou a pedir desculpas ao dono e pagar pelo roubo. Um tanto humilhante. Alguns podem, nos estranhos tempos modernos, considerar tal ato um exagero. Afinal, era “apenas” um chocolate e ele, “apenas” uma criança. Nada mais falso!

É esse tipo de educação que faz tanta falta. Impor limites, demarcar claramente o certo e o errado, com clareza moral. Pegar o que não lhe pertence é roubo, e ponto final. Deve ser punido, visto como inaceitável, e isso não tem nada a ver com a situação financeira das pessoas. Podemos considerar um atenuante o fato de um miserável faminto furtar comida de algum mercado, mas não é disso que se trata a explosão da criminalidade, e tentar pintar o quadro como se fosse é fruto de profunda ignorância ou extrema má-fé.

Marmanjos que roubam e às vezes matam por um par de tênis ou um celular, em busca de poder, de destaque em sua comunidade, não podem jamais ser vistos como vítimas ou coitadinhos desesperados. São bandidos, marginais que optaram pelo caminho errado, e merecem ser punidos por isso, pois a impunidade é o maior convite à reincidência no crime. Espero que minha filha tenha absorvido bem a lição. Sua professora vai ter dificuldade em doutriná-la com o manual relativista dos “progressistas”. Para cima de mim, não!

Rodrigo Constantino

 

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