O mito do ano: “o desmatamento da Amazônia provocou a seca no Sudeste”

Publicado em 13/12/2014 07:16 e atualizado em 06/03/2020 19:40
Desfazendo mitos: "Dilma foi personagem pouco relevante na luta contra a ditadura"... -- por Leandro Narloch, de veja.com (blog Caçador de Mitos)

O mito do ano: “o desmatamento da Amazônia provocou a seca no Sudeste”

Vejo muita gente dizer que o desmatamento da Amazônia causou a seca no Sudeste. O dano que provocamos à floresta teria desligado a “bomba de umidade” e interrompido “os rios voadores” que mandam umidade para Minas Gerais e São Paulo. “Esse crime ambiental tem a ver com a falta d’água na maior cidade da América Latina “, disse o Fantástico recentemente. “Nos aproximamos de um futuro desértico e a culpa é toda nossa”, concluiu outra reportagem em tom de lição de moral.

Nada disso. A ideia de que há um culpado para a seca não tem a ver com a Amazônia. Tem a ver com os astecas.

Sim, com os astecas. Quando sofriam uma colheita ruim ou uma estiagem no Vale do México, os astecas julgavam o infortúnio causado pelo clima como um castigo.  Achavam ter irritado os deuses e, para acalmá-los, realizavam centenas de sacrifícios humanos, atirando corpos decepados pelas escadarias das pirâmides de Tenochtitlán.

Como toda civilização que passou pela Terra, os astecas caíram na “falácia do mundo justo”, a tendência de acreditar que o universo segue uma lógica moral. Por causa dessa tendência cognitiva, é tão fácil para nós julgar desgraças como castigos. Se vivemos uma situação ruim, é porque fizemos por merecer.

Quando alguém comete a bobagem de culpar uma vítima de estupro (“foi horrível, mas ela não deveria sair por aí com uma saia tão curta”) ou de um assalto (“não precisava sair por aí ostentando um relógio tão caro”), não está expressando só um machismo ou marxismo da pior espécie. Também se deixa levar pela ideia de que uma força oculta pune quem não se comporta.

Como os astecas de oito séculos atrás, tem muita gente encarando a seca do Sudeste como um castigo. Se estamos sofrendo hoje, é porque nos comportamos mal no passado. Qual foi, então, o pecado que cometemos? Deve haver algum, é preciso procurar… Sim, claro! O desmatamento da Amazônia! Difícil resistir à tentação de relacionar a desgraça da seca à maldade do desmatamento.

Mas uma coisa não tem a ver com a outra. Conversei com três especialistas em dinâmica climática e eles foram categóricos. “Grande parte da comunidade científica concorda que não é possível fazer uma relação direta entre desmatamento da Amazônia e a seca no Sudeste”, diz Tercio Ambrizzi, diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

“A afirmação de que as secas do Sudeste estão sendo causadas pelo desmatamento é leviana, sem base científica e contrária ao bom senso”, afirma Luiz Carlos Molion, representante dos países da América do Sul na Organização Meteorológica Mundial (OMM). “A umidade para as chuvas do Sudeste não é produzida na Amazônia. Ela vem do Oceano Atlântico e apenas passa sobre a floresta. As raízes das árvores consomem mais umidade do que as folhas liberam para a atmosfera.”

“O resultado de estudos dos últimos dez anos mostra claramente que o desmatamento atual não tem nenhum impacto no regime de chuvas do Sudeste”, me disse Francis Wagner Silva Correia, coordenador do núcleo de Modelagem Climática do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Se chove no Brasil, agradeça mais aos Andes que à floresta.

Mais que a floresta, o que garante chuvas no Brasil é a Cordilheira dos Andes. Caso ela não existisse, a umidade que entra na Amazônia pelo Atlântico seguiria direto para o Pacífico. Principalmente no verão, época de mais chuvas na região Norte, a umidade bate na cordilheira e volta sentido sul, alimentando as chuvas de verão de boa parte do país.

Esse fluxo não se desligou em 2014. A diferença é que, por causa da bolha de calor que misteriosamente se instalou no Sudeste no verão passado, as chuvas caíram antes de chegar a Minas Gerais ou São Paulo. Enquanto as represas esvaziavam em São Paulo, o rio Madeira teve a maior cheia já registrada.

Há cientistas que especulam até mesmo que haveria mais chuvas no Sudeste caso toda a floresta se transformasse num enorme estacionamento de shopping. “Na hipótese absurda de se desmatar completamente a Amazônia, a rugosidade da floresta deixaria de existir, choveria menos por lá e um fluxo de umidade um pouquinho maior que o atual seria transportado para o Sudeste, talvez aumentando as chuvas”, diz Molion.

Calma lá: não estou dizendo que devemos parar de nos preocupar com a floresta e asfaltar as margens do rio Negro. Há muitas outras razões para se preservar a Amazônia que este artigo não derruba. Mas não dá pra deixar de lado o rigor científico só para sensibilizar o público. Quem faz isso troca a sensatez por uma noção de culpa tão mística quanto a dos astecas.

 

2014 é o ano mais quente da história?

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou na quarta-feira passada um relatório contendo uma informação apavorante: 2014 está a caminho de ser o ano mais quente que se tem registro. A temperatura média, segundo a OMM, foi de 14,57 graus, 0,57 grau acima da média de 1961 a 1990.

Como sempre acontece diante de notícias desse tipo, ainda mais vindas de órgãos ligados à ONU, não houve jornal ou portal de notícias que não repercutisse o relatório. Poucos atentaram a um detalhe: é um tremendo exagero, e provavelmente um erro, dizer que 2014 é o ano mais quente da história. Por pelo menos quatro motivos:

1) De acordo com os dados de temperatura da superfície da Terra, nos quais o relatório se baseou, 2014 está 0,01 grau mais quente que 2010 e 0,02 grau acima de 2005. Mas a margem de erro da coleta de dados é de 0,10 grau Celsius. Ou seja, os candidatos estão empatados tecnicamente. “Cientistas de verdade teriam dito que este ano não deve ser significativamente mais quente que 2010 ou 2005”, disse, no Times, Matt Ridley, ex-editor de ciência da Economist e célebre divulgador científico da Inglaterra.

2) O próprio relatório, depois do alarme da primeira página, ameniza o tom. O “a caminho de ser o mais quente” muda para “há uma possibilidade”. “É mais provável que 2014 seja atualmente um dos quatro anos mais quentes desde o começo da medição, mas há uma possibilidade que a classificação final ultrapasse a margem”. A imagem abaixo, do Centro Nacional de Dados Climáticos dos Estados Unidos, mostra essa chance. A linha preta, referente a 2014, está entre as mais altas, mas, na média do ano, dificilmente será a mais alta de todas:

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3) Os dados de temperatura da superfície da Terra são vulneráveis ao fator humano. Erros e manipulações na tabulação das estatísticas rendem controvérsias frequentes. O hábito se comprovou em 2009, com o “climategate”, o escândalo das mensagens de cientistas reveladas por hackers. Num dos e-mails, Phil Jones, diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, disse usar um “truque” para “esconder o declínio” da temperatura.

4) Um índice mais confiável para avaliar a temperatura da Terra é a extensão de gelo da Antártida e da calota polar do Ártico, medida diariamente por imagens de satélite. Por esse critério, o cenário muda. A Antártida está maior que nunca – em setembro, atingiu o recorde de 20 milhões de quilômetros quadrados. E mesmo o Ártico já teve dias piores. A calota tem sua menor área em setembro, verão no Hemisfério Norte. No último setembro, a área ficou acima da registrada nos últimos quatro anos. E 1,61 milhão de quilômetros quadrados (mais que a área do estado do Amazonas) maior que em 2012, quando atingiu a menor extensão já registrada (veja abaixo). Não é exatamente o que se espera do ano mais quente da história, certo?

A calota polar em setembro de 2012...

A calota polar em setembro de 2012…

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… e em 2014: um estado do Amazonas a mais de gelo

Isso prova que o aquecimento global é um desvario dos cientistas? Não. Há provas do aquecimento do planeta bem mais difíceis de derrubar. Mesmo a área da calota polar, apesar da recente recuperação, ainda está abaixo da média (a linha rosa nas imagens acima). O mito do “ano mais quente da história” mostra apenas que, no meio de uma preocupação justificada com o clima, há exageros propagados pelos próprios cientistas.

Há, no entanto, uma vantagem nos cientistas que se deixam levar pelo alarmismo. Para caçadores de mitos, eles fornecem presas fáceis e saborosas.

 

Na FOLHA: Fundo do clima acumula US$ 10 bi, mas tem futuro incerto

Projeto pode ofuscar Fundo Amazônia, que capta recursos contra o desmatamento e é gerido pelo BNDES; Brasil não fará doações

RAFAEL GARCIAENVIADO ESPECIAL A LIMA

A entidade de financiamento que deverá ajudar a lidar com o aquecimento global nos países em desenvolvimento comemorou na Conferência do Clima da ONU, em Lima, o acúmulo de US$ 10,2 bilhões, mas pede mais verba.

Mesmo tendo atingido sua meta inicial, o comitê gestor do GCF (Green Climate Fund, ou Fundo Verde do Clima) afirma que ainda não há uma estratégia clara sobre como aumentar a quantidade de recursos para os US$ 100 bilhões de dólares anuais prometidos pelas nações para 2020.

O fundo e os objetivos de arrecadação foram formalmente estabelecidos na cúpula de Cancún, em 2010.

A intenção é repartir o dinheiro entre adaptação ""obras e medidas para lidar com o aquecimento que já é inevitável-- e mitigação ""medidas de redução de emissões.

"O relatório do PNUMA [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente] diz que precisamos de mais US$ 150 bilhões anuais para cobrir o custo de adaptação", diz Héla Cheikhrouhou, diretora-executiva do fundo. "Em mitigação, serão necessários US$ 350 bilhões anuais."

Um fator que desincentiva países a doarem é que não está claro se o próximo acordo do clima, a ser assinado em dezembro de 2015, vai incluir um compromisso de financiamento para além de 2020.

Os países desenvolvidos representam a maior parte dos 27 doadores até agora, como esperado. Os EUA, com US$ 3 bilhões, e o Japão, com US$ 1,5 bilhões, são os principais.

O Brasil, por enquanto, afirma que não fará doações e que vai se concentrar em projetos de cooperação "sul-sul" (entre nações em desenvolvimento do hemisfério sul).

Aparentemente, o país também não demonstra intenção de que o GCF consiga se capitalizar em detrimento de outros fundos também voltados à mitigação. O exemplo é o Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES, que já captou US$ 1 bilhão em doações do governo da Noruega.

"Os países desenvolvidos estão me devendo mais de US$ 13 bilhões no meu Fundo Amazônia, porque eu reduzi o desmatamento", diz a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira. "Estou esperando a doação deles."

 

 

País rico é país sem pobreza?

Nos últimos quatro anos, os brasileiros tiveram que conviver com a frase “país rico é país sem pobreza”. Ela esteve em toda logomarca, em toda propaganda do governo federal. Por isso é o caso de perguntar: é válida a afirmação do slogan de Dilma?

A princípio, é difícil discordar da frase. Mesmo se parte da população tiver picanha na mesa e iPhone no bolso, ainda estaremos mal se a outra parte seguir faminta. Em 2011, quando o governo lançou o slogan, houve quem reclamasse da obviedade da afirmação – é claro que país rico é país sem pobreza, disseram.

Mas a frase não é óbvia. Na verdade, ela esconde um problema fundamental: é muito difícil não haver pobres num país rico. Essa condição não é estável, pois países ricos atraem pobres. Um país rico e sem pobreza até é possível, mas somente se o mundo todo enriquecer ao mesmo tempo ou se impedirmos migrações erguendo muros e cercas nas fronteiras.

O problema fica claro se o leitor imaginar exatamente o que o slogan propõe, um país rico e sem pobreza. Digamos que, ao acordar amanhã de manhã, você percebe que tudo deu certo no Brasil. O menor salário pago no mercado chega a 3 000 reais. Mesmo a turma do último tijolo da pirâmide social vive com alguma dignidade. Não há favelas ou indigentes; não sobrou sequer um único sujeito que reutilize o copo de requeijão ou seque roupa atrás da geladeira. Incrível.

A alta de salários causa mudanças no estilo de vida dos brasileiros. Vagas em trabalhos menos produtivos que 3 000 reais por mês se extinguem. Uma família de classe média, que dispõe de apenas 900 reais para pagar alguém que limpe a casa, passe a roupa e passeie com o cachorro, terá de se virar com o serviço doméstico.

Mas 900 reais por mês é luxo em alguns países latino-americanos. Haitianos logo perceberão a demanda não atendida por empregos domésticos no Brasil e virão contentes trabalhar aqui. Como demonstram os haitianos que já se mudaram ao Brasil, 900 reais para eles significa um ganho e tanto. Podem economizar todo mês o equivalente ao salário integral que ganhariam no Haiti – onde o salário mínimo, para quem não está entre os 40% de desempregados, é de 13 reais por dia.

Acontece assim o jogo preferido dos economistas: o jogo de soma diferente de zero. No futebol ou no pôquer, a soma dos resultados é nula. Um time precisa perder para o outro ganhar. Quem tem duas damas no pôquer perde as fichas para o sortudo que tirou uma trinca de setes. Não é assim nos acordos voluntários da economia. As fichas se multiplicam; todos voltam para casa com um pote maior. Você e o haitiano jogam. E os dois ganham.

A chegada em massa de haitianos, ainda maior que a atual, faria bem a eles e às famílias brasileiras que os contratariam, mas há uma consequência. Eles trariam pobreza para dentro das linhas imaginárias brasileiras. Alguns dos recém-chegados morariam em cortiços com cinco pessoas no mesmo quarto. Outros, para economizar no transporte, montariam casebres em terrenos próximos à casa de brasileiros enriquecidos, criando cenas tocantes de contraste. Em pouco tempo, não seríamos mais um país rico e sem pobreza.

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Sim, há uma boa notícia na famosa foto da desigualdade social

Os jornais mostrariam fotos de gente pobre no Brasil, e essas imagens circulariam pelo mundo. Os políticos da oposição alardeariam dados sobre a péssima qualidade de vida dos novos moradores que, segundo eles, seriam explorados pelas famílias de classe média. Ainda que todos os pobres envolvidos na história tivessem melhorado de situação.

Quanto esse exercício de imaginação explica a realidade brasileira? Um bocado. Muita gente entristece diante da desigualdade sem notar que aquelas pessoas estão numa situação melhor que no passado. É o caso da famosa foto acima, da favela de Paraisópolis ao lado de apartamentos de luxo do Morumbi. Quando livros didáticos ou provas de vestibular escolhem essa imagem para retratar a desigualdade social – e fazem isso com frequência –, comparam a riqueza dos apartamentos com a miséria da favela. Mas a comparação mais adequada é dos moradores da favela hoje e no passado, antes de mudarem para a metrópole. “A pobreza urbana não deveria ser comparada à riqueza urbana”, diz o economista Edward Glaeser, professor de Harvard e o mais celebrado especialista em economia urbana dos Estados Unidos. “As favelas do Rio de Janeiro parecem terríveis se comparadas a bairros prósperos de Chicago, mas os índices de pobreza no Rio são bem menores que no interior do Nordeste brasileiro.”

Por essa nova comparação, a famosa foto da desigualdade social mostra uma excelente notícia. Quem mora em Paraisópolis vive muito melhor do que se tivesse permanecido no sertão nordestino, nas lavouras de boias-frias do Paraná ou entre os escombros de Porto Príncipe. Não importa se a miséria está mais aparente ou mais próxima; o principal é que para os miseráveis ela tenha diminuído. Glaeser arremata:

A pobreza urbana não deveria envergonhar as cidades. As cidades não criam pobres. Elas atraem pobres. Elas atraem pobres justamente porque fornecem o que eles mais precisam – oportunidade econômica.

Esse raciocínio vale não só para cidades, mas para países. Mesmo se enriquecer, o Brasil jamais será um país sem pobreza. E é bom para os pobres que seja assim.

 

Não só a Diletto: artistas e políticos também inventam histórias para conquistar o público

O costume de inventar histórias de vida para valorizar o produto ou a marca, como fizeram asorveteria Diletto e o Suco do Bem, não é exclusividade das empresas de varejo. Na música, nas artes plásticas e na política, o hábito não só é mais comum e antigo como mais influente.

Os músicos costumam adotar a estratégia oposta à do Suco do Bem. São geralmente bonzinhos e inofensivos; apresentam-se como rebeldes representantes do mal.

Na política, o fato de um candidato ter lutado contra a ditadura, sido torneiro mecânico ou herói de guerra rende mais votos que propostas ou a sensatez econômica. Um passado heroico ou sofrido dá ao político a imagem de guardião da virtude, de âncora moral da nação. É por isso que, dependendo da biografia, escolhemos políticos intragáveis como suco em pó pensando que são laranja caseira, apreciamos geladinho como se fosse Häagen-Dazs. Selecionei abaixo cinco casos de storytelling na música e da política.

Os Rolling Stones não eram rebeldes
A imagem de bad boys dos Rolling Stones começou como puro marketing. Em 1963, o produtor Andrew Loog Oldham percebeu que os Stones deveriam se posicionar como uma banda anti-Beatles, menos comportada e arrumadinha que os cantores de Liverpool. O amigo Sérgio Martins, crítico musical de VEJA, entrevistou Oldham em 1996. “Ele me contou que o próprio empresário dos Beatles, Brian Epstein, havia sugerido essa estratégia aos Rolling Stones”. Antes da influência de Oldham, só o músico Brian Jones era de fato um jovem rebelde. Mick Jagger aprendeu a cantar no coral da igreja, tirava boas notas e cursou contabilidade na London School of Economics. Keith Richards cantava no coral da escola e chegou a se apresentar para a rainha Elizabeth. Com o tempo, é verdade, os Rolling Stones transformaram o marketing em realidade.

Stones, em 1962: uma banda comportada

Stones, em 1962: uma banda do bem

 

Leadbelly, nem tão transgressor assim
Um dos grandes músicos negros da década de 1930, Leadbelly tocava vestido de presidiário e não perdia a chance de contar histórias de violência de sua vida na prisão. Tudo exagero. Leadbelly queria – e conseguiu – se encaixar no estereótipo do bluesman negro e transgressor vindo do sul dos Estados Unidos.

Aleijadinho: a doença vale mais que a obra
Os admiradores também são responsáveis por incluir lendas na biografia dos artistas. É o caso de Aleijadinho. As histórias dramáticas que os brasileiros conhecem sobre suas doenças, e a imagem do artífice trabalhando com as ferramentas amarradas no punho, valorizam Aleijadinho muito mais que as esculturas em si. Se a biografia de Aleijadinho fosse a de um pagador de impostos saudável e sem dramas, eu aposto que ele seria tão conhecido hoje quanto José Coelho de Noronha. Quem é José Coelho de Noronha? Um dos principais nomes do barroco mineiro, mestre de Aleijadinho.

Os experimentos de Gandhi com a mentira
Em 1906, o governo britânico criou um imposto per capita aos zulus, nativos sul-africanos. Os zulus se revoltaram com a medida, dando início à rebelião Bambatha. Gandhi, na época um dos líderes da comunidade indiana na África do Sul, defendeu a guerra contra os negros e recomendou que os indianos apoiassem os ingleses. Ele próprio serviu de voluntário na repressão da revolta, liderando um grupo de carregadores de macas do governo britânico. Mas Gandhi conta outra coisa na autobiografia A História dos Meus Experimentos com a Verdade, publicada duas décadas depois. Omite a participação no conflito, reclama das atrocidades dos brancos e diz que estava do lado dos negros: “meu coração estava com os zulus”.

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Gandhi, em 1906: voluntário da repressão inglesa aos zulus

O novo passado de Dilma
A presidente foi um personagem pouco relevante na luta contra a ditadura, mas esse passado se transformou quando Dilma se tornou Ministra das Minas e Energia, em 2003. De repente, ela virou protagonista. Na primeira versão de Mulheres que Foram à Luta Armada, lançada em 1998 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho, Dilma sequer aparece. Em 2003, num caso exemplar de como o passado muda de acordo com o presente, o jornalista adicionou a história de Dilma ao livro. Uma ficha policial falsa circula há pelo menos cinco anos na internet, atribuída erradamente ao Dops. A falsificação já foi publicada como original pela Folha de S. Paulo e apareceu na última campanha de Dilma. Mesmo depois da própria presidente admitir que se trata de uma criação.

 

A falsa ficha policial de Dilma

A falsa ficha policial de Dilma

(por Leandro Narloch)

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Fonte:
Leandro Narloch, de veja.com

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4 comentários

  • ariel gomez Manaus - AM

    vcs do suldeste estao condenados a desertificao, as florestas amazonica em conjuto com os fraguimentos de mata atlantica que fazem o ciclo das chuvas no continente. vcs estao ferrados.

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  • Paulo Marcos Ribeiro da Veiga São José da Barra - MG

    A falácia do aquecimento global só atende as ambições dos países ricos, que teoricamente mais contribuiram para o tal aquecimento, impedir que os países em desenvolvimento possam produzir energia para alimentarem as industrias e as moradias.

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Às vezes nuvens filosóficas tomam meu céu. Os cientistas opinam que a origem dos humanos anatomicamente modernos, Homo sapiens, é de 100.000 anos atrás.

    Àqueles lumens da espécie citam que as mudanças ocorridas pela presença humana no planeta, podem se tornar irreversíveis. Quanta soberba! Esquecem que esta bola que habitamos tem 4,5 bilhões de anos, infelizmente não conseguimos, por incapacidade nossa, entendê-la; acho que muito iríamos aprender.

    Nós percebemos só 4% do que nos cerca; 23% são de matéria escura e 73% de energia escura, que muito pouco sabe-se sobre elas, ou seja, ...SABEMOS MUITO ... POUCO!!!

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    A tática dos socialistas para implantar o seu regime é conseguir comandar os cidadãos. Conseguem comandar dois tipos de pessoas. Os Inocentes Úteis e os Criminosos. Quando faltam criminosos, eles os criam através da instituição de regras cada vez mais incumpriveis para mante-los com o rabo preso. Os inocentes úteis são criados aos milhões através do Método de "ENCINO" Paulo Freire, baseado nos ensinamentos de Antonio Gramsci, aplicados na "EDUCASSÃO" dos brasileiros. Mais adiante todos são transformados em IDIOTAS ÚTEIS para ficarem papagaiando as palavras convenientes que a elite dirigente colocar em sua boca. Alcançado o objetivo pela elite dirigente, onde só tem vaga para a nata do Partido, os idiotas úteis serão descartados...

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