Com aprovação na casa dos 7%, Dilma quer conversar com oposição para barrar impeachment. Como era quando tinha quase 70%?

Publicado em 23/07/2015 19:32
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

Com aprovação na casa dos 7%, Dilma quer conversar com oposição para barrar impeachment. Como era quando tinha quase 70%? Ou: O único pacto possível é com a lei!

Leio na Folha que também o Palácio do Planalto — deve ser a presidente Dilma Rousseff — estimula, a exemplo de Lula, a aproximação com a oposição. Deixem-me ver se entendi direito o modelo: o PT vence a eleição afirmando que o adversário pretende elevar juros, aumentar tarifas e provocar recessão. Uma vez vitorioso, eleva juros, aumenta tarifas e produz recessão. Certo. O PT vence a eleição transformando a oposição no Belzubu do atraso social e dizendo-se, ele próprio, a voz do povo. Uma vez vitorioso, vê-se obrigado a cortar benefícios com os quais comprou uma parte do eleitorado. Entendo. O PT vence a eleição sustentando que qualquer outro resultado que não o triunfo do partido implicaria uma marcha à ré na história. Uma vez vitorioso, acuado por suas próprias contradições, demonizado nas ruas, cobrado por suas promessas não cumpridas, eis que o partido descobre as virtudes de um “entendimento” com a.. oposição.

O ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, diz que, “em todos os países democráticos, é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes, que sejam chamados pelos presidentes em exercício”. E acrescenta: “Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo”. É verdade… No primeiro programa do segundo turno da campanha do ano passado, Dilma se referiu assim ao tucano Aécio Neves: “Ele representa um modelo que quebrou o país três vezes, que abafou todos os escândalos de corrupção, que provocou desemprego altíssimo, recessão, que esqueceu os mais pobres”.

É mesmo, Dilma? E está querendo conversar com “eles” por quê? Mais interessante ainda: os petistas decidiram agora distinguir os “bons tucanos” dos “maus tucanos” — e os “maus”, claro!, são aqueles que não querem bater um papinho em nome do entendimento. Na lista dos tucanos mauzinhos do PT está o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, o que é, claro!, uma distinção e tanto. Espero que o presidente do maior partido de oposição continue persona non grata aos petistas.

O Instituto Lula, que, num primeiro momento, negou que estivesse em curso uma tentativa de diálogo, resolveu mudar de posição por intermédio de seu presidente, Paulo Okamotto, que afirmou à Folha: “Minha opinião é que tanto o presidente Lula como o presidente Fernando Henrique são políticos importantes, com responsabilidades e capacidade de analisar o que o Brasil está enfrentando. Sempre fui a favor de que a gente converse com quem faz política”.

Ah, que bom que Okamotto pensa isso, não é? Na campanha eleitoral, a candidata à reeleição Dilma Rousseff afirmou o seguinte: “Está em jogo o salário mínimo. O candidato dele — ela se referia a Aécio —, o ministro da Fazenda (estava falando de Armínio Fraga) acha alto demais e tem que reduzir. Nós não vamos permitir que o Brasil volte para trás”.

Por que Dilma iria querer um entendimento com gente tão má?

Jaques Wagner, ministro da Defesa e candidato de sempre à Casa Civil, reconhece que isso pode não ter sido muito elegante e diz:
“Apesar da última campanha dura, não podemos deixar consolidar na alma brasileira, e na política brasileira, uma dicotomia que não se conversa. Essas posições, governo e oposição, a gente troca. O que não pode perder é o norte do país”.

Que bom! Segundo a candidata Dilma, como se evidencia acima, não tem essa de alterar oposição e governo. Ou o PT vence, ou se trata de retrocesso.

Acho que chega, não é mesmo? Essa conversa já foi longe demais. Se há tucanos querendo bater um papinho, o PT sempre será um lugar quentinho para abrigar o diálogo. Basta se bandear. Eu estou enganado ou a população elegeu o PSDB para liderar a oposição? Não! Eu não estou enganado. Sendo assim, que cada um honre o voto que recebeu.

Querer um diálogo com a oposição, como agora quer Dilma, com 7,7% de ótimo e bom, segundo a mais recente pesquisa, é um coisa. Os petistas deveriam ter se lembrado de dialogar quando a presidente tinha quase 70% de aprovação. Ah, a minha memória não falha: eles não queriam conversa. A ordem, então, era destruir até o PMDB, já que davam o PSDB por liquidado.

Vamos fazer um pacto, gente, em favor da governabilidade? Todos seguiremos as leis e a Constituição, que contemplam até o impeachment. Que tal?

Texto originalmente publicado às 5h16

Por Reinaldo Azevedo

Já foi o tempo em que a inflação empatava com popularidade de Dilma…

Já foi o tempo em que a inflação coincidia os índices de “ótimo/bom” do governo Dilma. Sendo o governo o que é, e sendo a economia o que é, aconteceu o óbvio: a inflação já é mais alta do que a popularidade de Dilma.

Segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta, o IPCA-15, tido como uma prévia da inflação do mês, subiu 0,59% neste mês, maior taxa para o período desde 2008, quando atingiu 0,63%. No acumulado de 12 meses, o índice alcança 9,25%.

Nos primeiros seis meses, o IPCA-15 ficou em 6,9%, acima do teto da meta de inflação, que é de 6,5% para o ano todo. Boletim Focus de segunda estimou a inflação no ano em 9,15%.

Ah, sim: segundo dados da pesquisa CNT/MDA, divulgados nesta terça, apenas 7,7% acham o governo ótimo ou bom.

Há 7,7% de brasileiros ou generosos ou empedernidamente petistas.

Por Reinaldo Azevedo

 

Pela primeira vez em sete meses, a onda de desconfiança atinge em cheio Joaquim Levy

Aconteceu o óbvio: o mercado reagiu pessimamente à redução da meta de superávit primário de 1,1% para 0,15% do PIB — uma diminuição da economia para amortizar juros da dívida de 86,36%. Bastaram sete meses para que os anunciados R$ 66,3 bilhões que seriam reservados para essa finalidade se convertessem em modestos R$ 8,5 bilhões a R$ 9 bilhões. Ao mesmo tempo, o governo anuncia que, para fazer esse 0,15%, terá de cortar mais R$ 8,6 bilhões do Orçamento. Aí entra a matemática elementar. O país está fazendo, hoje, déficit primário.

O mercado sabia que haveria o corte da meta? É claro que sim! Se, passados seis meses, tem-se déficit fiscal, como é que se vai conseguir economizar os R$ 66,3 bilhões no segundo semestre — um superávit, no período, que seria, então, de 2,2%? Impossível!

Ora, se sabia que isso iria acontecer, por que o dólar bateu em R$ 3,30, por que o Ibovespa fechou em baixa de 2,18%, para 49.806 pontos? Agentes do mercado dão as explicações corretas e convencionais. Entendem a redução como uma espécie de sinal do governo para o vale-tudo futuro. Mais: o país se mostra mais vulnerável do que parecia inicialmente. Sim, é isso. E é mais do que isso.

Pela primeira vez desde que Joaquim Levy é ministro da Fazenda, eu vi uma franca desconfiança se aproximado de seu nome. A âncora já não parece tão firme — e a reação negativa se deu mais por isso do que pelo corte em si, que já era tido como fatal, já que milagres não existem. Ou, se existem, os entes superiores costuma contemplar com eles desafortunados de outra natureza.

Ainda na semana passada, sabe-se lá movido por quais desígnios, Levy resistia até a baixar a meta para aquele 0,4% que era defendido pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). O mercado se divertia com a rigidez, vamos dizer, burocrática de Levy: “Ok, pessoal, não vai acontecer, mas, com ele lá, a gente tem a certeza de que alguém sempre forçará em favor do superávit”.

O anúncio de 0,15% surpreendeu pela pequenez do número; foi como se Joaquim Levy tivesse se rendido a uma realidade que definitivamente escapa das suas mãos. E ele deixou de ser visto como âncora da racionalidade, o que é uma péssima notícia. Se, antes, parecia que era o guardião turrão do combinado, ainda que se soubesse que a promessa não seria cumprida, passou a ser visto como um ser algo alheio à realidade e que desconhece os números de sua própria cozinha.

Mais: todos têm a consciência de que as agências se classificação de risco deixaram claro que a situação fiscal será a pedra-de-toque da análise que farão da economia brasileira.

Por enquanto, o governo conseguiu produzir a recessão que se dava como certa, mas ainda não viu os efeitos positivos do corte de gastos — até porque eles cresceram — e da elevação da taxa de juros. Estamos na fase em que, para melhorar, será preciso piorar bastante.

O mercado só não sabia que o buraco era tão fundo. Agora sabe. Levy, em suma, virou o guardião de uma equação que parece sem solução. Pior para todos.

Por Reinaldo Azevedo

 

Levy é derrotado pela realidade; superávit será de 0,15% do PIB; o país já está em déficit primário

E o governo federal reduziu mesmo a meta de superávit primário de 1,1% do PIB para 0,15%, conforme antecipou a Folha na sua edição desta quarta. Um pequeno corte no corte de 86,36%. Governo que planeja é assim. Não custa lembrar que essa meta foi definida há coisa de cinco meses. Há três dias Joaquim Levy se mostrava contrário até a que se reduzisse a dita-cuja de 1,1% para 0,4%, conforme propunha o senador Romero Jucá (PMDB-RR), mais realista do que o governo, sim, mas, ainda assim, muito otimista.

Previ nesta manhã que a reserva esperada para a amortização dos juros da dívida ficaria em R$ 9 bilhões. O governo anunciou hoje que será algo entre R$ 8,5 bilhões e R$ 9 bilhões. Por que você deve acreditar? Bem, você não deve.

E a razão é simples, ditada pela lógica. A economia inicialmente prevista era de R$ 66,3 bilhões. Se bastaram 150 dias para que ela fosse capada em mais de R$ 57 bilhões, por que apostar que o governo vai mesmo conseguir economizar aqueles R$ 9 bilhões.

O erro de cálculo foi tamanho que mesmo esse 0,15% só se será alcançado, segundo o governo, com um bloqueio de R$ 8,6 bilhões.

Nesta manhã, afirmei que o país caminha para o déficit primário. Na verdade, os números divulgados pelo governo indicam que o país já está produzindo déficit primário: notem que o valor do novo corte do Orçamento praticamente coincide com tudo o que se espera economizar.

Os dados seguem devastadores para as contas públicas. O governo reduziu em R$ 46,7 bilhões a receita líquida esperada — ou quase 0,9% do PIB, mas a previsão de gastos aumentou em R$ 11,4 bilhões.

O ministro Joaquim Levy tentou fazer do limão uma limonada: “O objetivo é diminuir a incerteza da economia. Ao informarmos a meta que nós consideramos alcançável, adequada, segura diante do cenário que vivemos, nós damos uma informação importante para a economia”.

Ok. A verdade é melhor do que a mentira, mas é evidente que o que se tem aí não serve de consolo, não é? Não são números que estimulem os agentes econômicos. A queda da receita é fruto direto da queda de arrecadação determinada pela recessão em curso. Mais corte de gastos oficiais implica um pouco mais de recessão.

A propósito: no período de 12 meses até maio, o setor público — que compreende o governo central, Estados, municípios e estatais — acumulou déficit de 0,68% do PIB. Nem que o Espírito Santo baixasse em Brasília se conseguiria fazer um superávit primário de 1,1%.

É cada vez mais frequente no mercado a previsão de que a recessão atingirá também o ano de 2016, o que jogaria a economia para uma tímida retomada só em 2017. Os petistas adoram comparar o país com uma casa, e o Orçamento da União com o orçamento doméstico.

Você entregaria as suas contas pessoais para essa turma gerenciar?

Trata-se, sim, de uma derrota gigantesca de Levy. Não que ele não tenha tentado fazer a sua parte. Mas está vendo que o navio é teimoso e se sente atraído pelo iceberg.

Por Reinaldo Azevedo

 

“The Economist”: PMDB está tocando o país, e Temer é “primeiro-ministro”

Na VEJA.com:
O PMDB é a estrela da principal reportagem da editoria Américas da revista britânica The Economist que chega às bancas neste fim de semana. Com o título “O poder por trás do trono”, a reportagem diz que o “sócio menor do governo está tocando o país”. Para a revista, o vice-presidente Michel Temer tem exercido parcialmente o papel de “primeiro-ministro” e Dilma Rousseff “precisará do PMDB mais do que nunca se ela sobreviver até 2018″.

A reportagem explica aos leitores estrangeiros a presença do PMDB nos diversos governos brasileiros desde a redemocratização. “Uma máxima da política brasileira é que ninguém governa sem o PMDB”, diz a revista, ao comentar a composição do partido com diversos governos e a força do grupo nos governos locais. A presença do partido na base governista, porém, nem sempre é fácil. A reportagem lembra da recente ruptura do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo.Mesmo com o esforço do partido de correr para avisar que a decisão do deputado “era pessoal e não do partido”, a Economist diz que o gesto de Cunha preocupa a presidente Dilma Rousseff. “A senhora Rousseff precisará do PMDB mais do que nunca se ela sobreviver até o fim de seu mandato em 2018. Cada vez mais, eles têm tocado o show”, diz a revista.

 

Economist cita especialmente Temer que, segundo ela, está exercendo parcialmente o papel de “primeiro-ministro”. “Joaquim Levy, o ministro da Fazenda do corte de gastos, encontra-se com ele mais frequentemente do que com a presidente, dizem assessores de Levy”, cita a reportagem, ao lembrar que lideranças do partido prometeram candidato próprio nas eleições de 2018.Apesar de reconhecer o papel crescente do PMDB, a Economist não comprou a ideia de que o partido concorrerá efetivamente nas próximas eleições presidenciais. “Isso pode ser conversa fiada”.

A revista nota que o partido não tem candidato próprio desde 1994 e que, desde então, o ocupante do Palácio do Planalto procura o PMDB “para apoio, mas não para orientação sobre como governar o país”.Uma das razões pode ser a falta de uma linha ideológica mais marcada, diz a revista. “O programa [do partido] transborda platitudes: sua única posição firme é contra a pena de morte. É mais pró-negócios que pró-mercado, mas muitas vezes faz lobby para benefícios locais e específicos da indústria”, diz a reportagem. Essa falta de força do discurso ideológico faz com que o partido tenha a imagem de um “guardião da governabilidade”, diz a revista. “Um banqueiro [pró-PSDB] diz que o PMDB é uma razão pela qual o Brasil nunca será a Venezuela.”

Por Reinaldo Azevedo

 

As principais notícias do planeta Dilma Rousseff, por FELIPE MOURA BRASIL

Dilma caiEstou de volta, após ter de resolver um monte de coisas. Eis o resumo das notícias sobre o que Dilma Rousseff e seus comparsas fizeram com o país durante a minha ausência:

1) 240 mil postos de trabalho formais foram fechados neste ano, segundo o IBGE. O desemprego subiu para 6,9%, a maior taxa para junho em cinco anos.

2) 298 mil demissões ocorreram no setor de serviços e comércio em junho, nas seis principais regiões metropolitanas. O maior número desde 2002.

3) “A Votorantim Cimentos, que no ano passado faturou 12,9 bilhões de reais, resolveu fechar temporariamente sua fábrica de cimento em Ribeirão Preto (SP). Com a decisão, mandou embora 128 funcionários”, exemplificou a coluna Radar.

4) A inflação já supera os dois dígitos em Curitiba e no Rio de Janeiro em doze meses. Alta de preços é de 10,73% e 10,04% pelo IPCA-15, as duas maiores do país.

5) O dólar subiu ainda mais e encostou em 3,30 reais após o anúncio do governo sobre a redução da meta fiscal (que prometia não reduzir) e de um novo contingenciamento de gastos. A bolsa de valores fechou em queda de 2,18%, aos 49.806 pontos.

6) Fernando Rodrigues, no UOL: Ministro da Fazenda “Joaquim Levy e equipe cometeram barbeiragem de 58 bilhões de reais”. Este foi o valor do rombo nas previsões das contas públicas neste ano de 2015 entre “receitas a menos” e “despesas a mais”.

7) A agência Austin Rating, maior empresa nacional de classificação de risco, rebaixou a nota de crédito de longo prazo do Brasil em moeda estrangeira de “BBB-” para “BB+”. Com isso, o país perde o grau de investimento pelos parâmetros desta escala. “O rebaixamento do rating está fundamentado na acentuada e contínua piora dos resultados das contas públicas, com destaque para o baixo nível de superávit primário, que é incapaz de reduzir ou neutralizar o avanço do endividamento público”, diz a agência.

8) Relator no TCU (Tribunal de Contas da União) das contas do governo Dilma Rousseff de 2014, incluindo as chamadas “pedaladas fiscais”, o ministro Augusto Nardes foi visitar os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, para “pedir urgência na votação das contas de ex-presidentes”, assim como pediu urgência para a análise dos documentos encaminhados pelo Executivo ao tribunal. A foto do alegre momento da entrega da defesa do governo pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, é tão indecente quanto o que Adams disse em seguida para blindar a chefinha contra o impeachment: “São as contas governamentais. Não cabe responsabilizar Dilma”. Ou seja: Dilma é a presidente-fantasma que não responde nem sobre o seu próprio governo.

TCU

Já ouviu a da mandioca?

A propósito: O Globo descobriu que o escritório de Tiago Cedraz foi contratado por 1,58 milhão de reais(!) para defender a Itaipu Binacional junto a diferentes Cortes, entre as quais o TCU presidido pelo papai de Tiaguinho, Aroldo Cedraz. Junto com o também ministro Raimundo Carreiro, Aroldo fez pressão para que a Itaipu passasse a ser fiscalizada pelo TCU, de modo que a permanência de ambos no tribunal é, também, tão indecente quanto a foto acima.

9) A Folha revelou o conteúdo de uma mensagem de celular enviada pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, ao ex-diretor financeiro da empreiteira, Walmir Pinheiro, em 29 de julho de 2014, que trata da doação à campanha de Dilma:

“Estive com Edinho [Silva]. A pessoa que você tem que ligar é Manoel Araujo [hoje chefe de gabinete do petista]. Acertado 2,5 [milhões de reais, a serem pagos no] dia 5/8 (até) e 2,5 [milhões de reais] até 30/8. Ligue para ele que está esperando. O problema é bem maior. Me de resposta. Edinho já passou os dados. Abs”.

Depois dos pagamentos, Sobrinho acertou com Pessoa o repasse de outros 5 milhões para o caixa eleitoral de Dilma. Pessoa entregou metade do valor pedido e se comprometeu a pagar a parcela restante depois das eleições. Não cumpriu o prometido porque foi preso antes, como VEJA já havia revelado.

10) O Ministério Público Federal pediu a condenação do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, e do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Eles são acusados de recebimento de propina em dois contratos de navios-sonda, sendo 15 milhões de dólares para Cerveró, que já negocia delação premiada e pode complicar ainda mais o PT e o PMDB. No mesmo pedido, o MP recomenda a condenação do executivo Julio Camargo – o mesmo que acusou Eduardo Cunha de ter pedido 5 milhões – e do doleiro Alberto Youssef, mas, como ambos celebraram acordos de delação, devem receber benefícios judiciais.

11) A coluna Painel, da Folha, informa: “Na volta do recesso, a CPI da Petrobras foi instruída a votar todos os requerimentos que estão na gaveta. As convocações dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secom) são dadas como certas pela cúpula da comissão. Na mesma leva estão os depoimentos dos ex-ministros Antonio Palocci e José Dirceu. Na avaliação de setores do governo, será uma missão quase impossível barrar a articulação costurada para constranger o Palácio do Planalto e o PT.”

12) O TRF negou mais um pedido de habeas corpus preventivo de José Dirceu. Resta saber se ele vai preso ou ainda solto à CPI.

Já Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Marcelo Odebrecht pediram habeas corpus ao STJ. Resta saber se o STJ terá o mínimo de decência como o TRF.

13) As mensagens de Marcelo Odebrecht analisadas pela Polícia Federal citam os nomes de Mercadante (PT-SP) e do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli como contatos políticos da empreiteira nas negociações. Dizia Marcelo:

“Quanto a Petrobras precisamos saber quem é que decide este assunto e a estratégia para influenciá-lo. No que tange a influenciar temos vários caminhos (mais ou menos eficazes), mas precisamos ter cuidado com a reação de Estrela [Guilherme Estrela, ex-diretor da Petrobras] e equipe a esta pressão, pois uma coisa é influenciar na construção de uma solução desde o início, outra é pressão para reverter uma decisão tomada. Junto ao Estrela vejo importante a conversa de vocês (importante saber também feedback conversa Mercadante – me acionem se não conseguir obter do Luiz Elias). Posso também pedir a Mercadante um reforço. Por fim tem o próprio Gabrielli como ultima tentativa, que poderia fazer. Ele não gosta da gente (Suzano, Quattor, sondas), mas a tese é boa e talvez quem sabe?”

14) O juiz Sérgio Moro estendeu até segunda-feira o prazo dado à Odebrecht para que os advogados da construtora expliquem as anotações “perturbadoras” de Marcelo (e possam reinventar o dicionário com verbetes mirabolantes).

15) O Financial Times publicou uma reportagem com o título “Recessão e corrupção: a podridão crescente no Brasil”. O principal diário de economia e finanças da Grã-Bretanha diz, conforme resumo da BBC, que “incompetência, arrogância e corrupção quebraram a magia” do país, que poderá enfrentar “tempos mais difíceis”. O jornal cita também a investigação do Ministério Público sobre a suspeita de tráfico de influência de Lula e o rompimento de Eduardo Cunha com o governo após ter sido citado por um delator na investigação da Petrobras. “Até agora, políticos em Brasília tem preferido que Dilma siga no poder e assuma os problemas do país. Mas este cálculo pode mudar para tentarem salvar a própria pele”, diz o Financial Times.

16) Felipe Miranda, da Empiricus: A “presidente está completamente isolada. Não tem apoio popular, não encontra respaldo na base aliada e muito menos na oposição. Diante disso, só resta um caminho possível à presidente: se agarrar ao único dos lados em que ainda teria algum trânsito. Uma reconciliação com a base aliada e a guinada à esquerda” [conforme este blog disse que lhe seria a última opção]. “Voltar-se novamente aos interesses e à agenda de quem a elegeu, colocando a culpa em Levy e em sua política neoliberal.” Diz Eduardo Giannetti: “Aí, meus caros, apertem os cintos. Vamos enveredar para uma crise financeira logo no inicio do segundo mandato, porque o mercado financeiro vai perceber rapidamente que o Brasil não se sustenta. Eu realmente temo que essa possibilidade aconteça.”

17) A Nasa descobriu um planeta similar ao nosso, em potencial zona habitável. O Kepler-452b, chamado pelos cientistas de “primo distante”, é 60% maior e tem boa chance de ser rochoso. Ele demora 385 dias para dar uma volta completa ao redor de sua estrela, a Kepler-452, que está a 1.400 anos-luz de distância da Terra. Ainda não se sabe se o planeta recém-descoberto já foi aparelhado pelo PT. De qualquer modo, há lugares mais próximos para quem quiser fugir do planeta Dilma Rousseff.

Planetas

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

Como? Lula quer conversar com FHC para brecar o impeachment de Dilma? Mas será que ele está em posição de ser um condestável da República?

Oh, será o “Dia da Marmota”, o filme? Dez anos depois, estamos de volta àquele 2005, quando os companheiros, então, procuraram tucanos, para falar das inconveniências do impeachment de Lula? No ano seguinte, o petista venceu a reeleição. Em 2010, o PT venceu de novo. E, em 2014, outra vez, tendo sempre como uma de suas bandeiras a suposta herança maldita dos… tucanos!  Reportagem da Folha desta quinta informa que o ex-presidente petista encarregou amigos comuns, seus e de FHC, de marcar uma conversa com o ex-presidente tucano para debater a crise e… ora vejam!, conter o impeachment de Dilma. Logo, tudo indica, o Babalorixá de Banânia vê mesmo no horizonte o impedimento da presidente. Sabem como é… Quem tem PT tem medo.

Oficialmente, o Instituto Lula nega essa movimentação e diz que o petista nem mesmo tem a intenção de conversar com FHC. Informa, no entanto, a reportagem que, em off, nos bastidores, a abordagem existe mesmo. Ouvido pelo jornal, respondeu o tucano o seguinte: “O presidente Lula tem meus telefones e não precisa de intermediários. Se desejar discutir objetivamente temas como a reforma política, sabe que estou disposto a contribuir democraticamente. Basta haver uma agenda clara e de conhecimento público”.

Boa resposta. Aliás, o encontro poderia se dar, deixem-me ver, no Itaquerão, com portões e microfones abertos e telão. Aí a gente poderia saber, afinal, que diabos Lula gostaria de conversar com FHC. Seria de todo conveniente, claro!, que os tucanos não caíssem nessa cascata. A melhor relação que um partido de oposição pode manter com o PT é a distância. O espaço institucional da convivência é o Congresso Nacional, certo?

Esse papo de encontro é um dos desdobramentos da tese bocó da crise institucional que estaria em curso e que poderia se tornar aguda com o eventual impeachment de Dilma. Diga-se de novo:
a) não há crise institucional nenhuma; há uma crise política, uma crise econômica e uma crise de confiança;
b) o eventual impeachment de Dilma seria seguido por um suspiro de alívio de praticamente dois terços da população; o outro terço compreenderia.

Nota antes que continue: não, eu não acho que se deva impichar um presidente só porque a maioria quer. Há leis no país. Ocorre que considero que leis que levam ao impedimento foram violadas. Que tal deixar que o sistema jurídico e as regras da democracia se encarreguem do assunto? Lula julga estar no Afeganistão? Acha que uma crise pode ser debelada com o encontro de senhores da guerra e chefes de tribos, que decidirão, então, os rumos da nação?

Basta ler a reportagem de Daniela Lima, Marina Dias e Ricardo Balthazar para concluir, ademais, que os petistas estão é tentando levar a sua própria confusão para dentro do PSDB, listando tucanos que seriam e que não seriam “conversáveis”.

Dilma ganhou uma eleição há nove meses com uma determinada pauta. E governa há sete. Se não pode cumprir o que prometeu e se aderiu a todas as práticas que demonizou durante a campanha — algumas delas corretas, diga-se —, ela que se vire. Afinal, é presidente da República e tem responsabilidade política.

Houvesse realmente o risco de o país ir à breca com a sua eventual saída, ok. Então que se conversasse. A política também serve ao propósito de evitar o mal maior. Ocorre que o mal maior é a presidente ficar, não sair, como sabem hoje amplos setores da sociedade. O episódio patético do superávit primário dá conta da encalacrada em que se meteu o governo. A pergunta que requer uma resposta mais urgente não é o que vai acontecer com o Brasil se Dilma sair, mas o que vai acontecer se ela ficar. Um governo que reduz a previsão de superávit primário em 86,36% depois de cinco meses está absolutamente perdido.

Sei que os petistas têm dificuldades para entender como funciona a democracia. Mas eu lembro a eles. Nos regimes democráticos, a oposição também é eleita pelo povo. Eleita, no caso, para vigiar o governo e cobrar que se comporte segundo as regras.

Lula quer conversar? Ora, se Rodrigo Janot lesse direito a Constituição, as pedaladas fiscais dadas por Dilma no primeiro mandato já teriam motivado uma denúncia à Câmara, não é mesmo? Afinal, elas contribuíram para a mistificação dos números. Em 2014, coube a Aécio lembrar os rigores da crise. Dilma anunciava, como é mesmo?, uma nova etapa do desenvolvimento brasileiro.

Eu estou querendo fazer terceiro turno? Eu não! Quero apenas que essa gente responda por sua obra. Já disse e repito: as pedaladas fiscais também foram uma forma mais do que escancarada de crime eleitoral. Que se cumpram as leis. Sem papo furado!

De resto, acho bom que Lula comece a se preocupar mais consigo mesmo do que com Dilma. Ele não está em posição de negociar nada. A depender do que venha por aí, ele vai ter de pedir arrego, sim, mas é em seu próprio benefício.

Assim falou “RA”, “o blogueiro falastrão”, segundo a gentil denominação com que Lula me brindou. E eu me orgulho muito disso.

Por Reinaldo Azevedo

 

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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