"Se Dirceu fez, Lula aprovou"... E pare de falar mal da mais honesta viva alma...

Publicado em 04/02/2016 03:50
“A palavra do Capitão” e outras seis notas de Carlos Brickmann

 

“A palavra do Capitão” e outras seis notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Para o então presidente Lula, José Dirceu era o capitão do time. Era, enquanto esteve no governo, e depois de deixar o governo também. Como disse o próprio Dirceu, ele, quando dava um telefonema, “era o telefonema”. Dirceu também disse ao juiz Sérgio Moro que, quando fazia assessoria, seu trabalho era “personalíssimo”, pelo qual R$ 120 mil mensais se tornavam irrisórios. Certo: ninguém contratava Dirceu para ter aqueles relatórios pasteurizados com gráficos coloridos, bonitinhos, que nada analisam e nada significam. Quando dava consultoria, sabia que estar a seu lado ajudaria o cliente. Até agora ninguém tinha dito com tanta clareza o motivo pelo qual empresas e empresários queriam contratá-lo.

Prestemos atenção em Dirceu, pois; e há trechos em seu depoimento que estão passando despercebidos. Ele sabe das coisas. O que diz é para ser levado a sério.

1 - Todas as nomeações do governo passavam por ele, sim; e isso por ocupar a Casa Civil. Também tinha suas preferências, claro. Mas nenhuma nomeação era feita sem aprovação formal do presidente Lula. Se Dirceu fez, Lula aprovou.

2 - Dirceu diz que nem conhecia Renato Duque ao escolhê-lo para a Petrobras ─ Duque, diretor de Serviços, está hoje preso. Mas que, entre Duque, indicado pelo PT paulista, e um nome do PSDB, preferiu o petista, mesmo porque o PSDB já tinha recebido um cargo em Minas. Ou seja, o PSDB também lhe indicava nomes. Os tucanos o desmentem com dureza, mas Dirceu não é burro: não diria isso ao juiz se não tivesse respaldo. Agora é investigar a palavra do capitão.

Mais latim, menos grosseria

Não, Valério Máximo não é um certo carequinha que, preso e condenado, passa o tempo propondo delações premiadas que até agora ninguém quis ouvir. Valério Máximo é o escritor romano que registrou a frase “Ne sutor ultra crepidam” ─ não vá o sapateiro além das sandálias. A frase tem mais de dois mil anos, e até hoje há quem dê palpite no que não entende.

O conhecido advogado Nilo Batista, ex-governador, não precisaria ter estudado Direito para defender seu cliente Lula com ofensas aos adversários. Para Batista, “Lula é achincalhado por coxinhas”. Mas cada cidadão, diz a lei, tem direito de ser coxinha, com o recheio ideológico que quiser; e tentar desqualificá-lo não é coisa de advogado famoso.

Não há argumento, exceto insultos, para defender seu cliente?

Mais português 

O apê que é ou não é do Lula é tríplex ou triplex? Tanto faz: o juiz da questão é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que registra as duas formas. Usemos, então, a norma mais popular: triplex, duplex, com acento na última sílaba. O esforço dos jornais ao insistir em acentuar “tríplex” é comovente.

Ah, se soubessem que há as duas formas!

O que é sem ser

Vamos resumir a história do triplex. A família Lula diz que o apartamento não é dela, porque em novembro de 2015 desistiu da opção de compra. Só que a assinatura consta de um documento de 2009. Deve ser a confusão da cooperativa que suspendeu as obras, né? A família visitou o imóvel na companhia do presidente da empreiteira OAS, Leo Pinheiro.

Coincidência: ele estava lá, veja só, quando os Lula da Silva chegaram. Deve ter sido também por coincidência que a OAS reformou a unidade 164 A, justo a reservada a Lula! Dizem que empreiteiros não têm coração. Mas quem poria mais de R$ 700 mil num imóvel sem ter pelo menos o compromisso de compra e venda?

E pare de falar mal da mais honesta viva alma, seu empadinha acoxinhado: nunca viu uma coincidência?

Dilma no jogo

A pesquisa Ipsos, realizada em todo o país nos últimos dias, aponta a presidente Dilma com 6% de popularidade. Dilma está na disputa: pertinho do preço da gasolina, acima da ação da Petrobras e do dólar, perdendo ainda para a inflação. Todos os alertas estão acesos no governo: com apoio tão baixo, como: a) conduzir a administração; b) criar condições para eleger seu sucessor.

E as coisas, conforme os avanços da Operação Lava Jato, podem piorar para o governo.

A volta do Congresso

Deputados e senadores retomam agora as atividades, depois das férias. Um governo sem base de apoio popular tende a perder força no Parlamento ─ especialmente lembrando que, neste ano, haverá eleições municipais, e cada congressista tem candidato em suas bases eleitorais. A primeira lei de cada parlamentar é garantir sua sobrevivência política.

E governo fraco, para ele, é uma ameaça.

Alimentando bolsos

Quem andou roubando recursos da merenda escolar de São Paulo? As investigações sobre esse desvio inacreditavelmente perverso estão começando, é cedo para apontar culpados. Mas há coisas complicadas. O presidente da Assembleia foi acusado (até agora sem provas) de receber propina.

Mas ele só pode ser investigado pelo procurador-geral de Justiça do Estado ─ do qual sua esposa é assessora. A esposa do procurador-geral, por sua vez, trabalha na Consultoria Jurídica da Secretaria do governo. É preciso tomar cuidado com esses nós, para que a investigação não deixe dúvidas sobre a inocência ou não dos acusados.

Marco Antonio Villa: A crise e seu espetáculo

Publicado no Globo

Como é possível um governo lambuzado em dezenas de casos de corrupção, e tendo o seu principal líder acusado de graves crimes, continuar agindo e dirigindo os negócios públicos como se o país vivesse em plena bonança econômica e respeito aos valores republicanos? Vivemos uma situação anômala. O mais estranho é que os dias vão passando, as crises — pois são várias — vão se sucedendo e se aprofundando, mas nada muda. Nada no sentido da interrupção deste perverso processo. É como se estivéssemos condenados ao fogo eterno, cada vez mais quente e mais devastador.

A sucessão das denúncias e as condenações na operação Lava Jato — quase uma centena, até agora — são recebidas como algo natural, parte intrínseca da política. Diversamente dos Estados Unidos, o nosso destino manifesto seria conviver com a corrupção. Sempre teria sido assim — e sempre será assim. O que em outros países encerraria a carreira de um político aqui passou a ser entendido como um ato falho, de falta de esperteza.

Não é preciso ir muito longe na nossa história ou buscar formas metafóricas para tratar da conjuntura brasileira e de seus personagens. As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição e nem na contemporaneidade ocidental. Isto porque, além dos indícios de ocultação de patrimônio denunciados pelo Ministério Público, são estabelecidas relações com o maior desvio de recursos de uma empresa pública da história, o Petrolão. E que levaram a Petrobras a uma situação pré-falimentar.

Lula continua agindo como se vivesse em um país imaginário e sobre ele não pesasse nenhuma acusação ou — o que é pior — fosse inimputável. Quando disse que era a alma mais honesta do Brasil, a afirmação foi recebida como chacota. Mas não: ele acredita que é intocável, como os nossos imperadores de acordo com a Constituição de 1824 — ressaltando, claro, que nenhum deles, Pedro I ou Pedro II, cometeram ilícitos da magnitude do Petrolão. Evidentemente, não imagino que Lula leu a Constituição Imperial. Qual o quê. Não leu nem a de 1988 — penso até em sugerir uma edição exclusiva para ele e, para deixar a árdua tarefa mais palatável, poderia colorir artigo por artigo.

Dilma considera que tudo vai bem. Ficou — ou fingiu? — indignada com a avaliação do FMI sobre a economia brasileira. Fala de um Brasil que não existe. As entrevistas com os jornalistas, às sextas-feiras, foram patéticas — patéticos também foram os jornalistas: alguns tiram selfies com a presidente. Estamos na maior depressão econômica da nossa história, e Dilma age como se tivéssemos crescendo a ritmo chinês. A reunião do tal Conselhão — que não tem legalidade constitucional; o que há na Constituição é o Conselho da República, que nunca foi convocado por ela — foi mais um exemplo de dissociação entre o mundo imaginado pela presidente e o cenário de caos econômico que vivemos. O mais patético foram os representantes empresariais que compareceram e legitimaram a farsa.

Teremos um 2016 onde as crises ética e econômica vão se agravar. A Lava Jato — e outras eventuais operações da Polícia Federal — deverão devassar ainda mais os crimes deste triste método de governança adotado desde 1º de janeiro de 2003. Tudo indica que a economia deve ter um desempenho igual ou pior que 2015, ou seja, a recessão deve chegar a um resultado negativo do PIB próximo de 4%. É como se assistíssemos a um naufrágio de dentro do navio, com acesso aos botes salva-vidas, mas sem que façamos qualquer movimento, inertes, passivos, quase que um suicídio histórico.

O projeto criminoso de poder ainda tem muita lenha para queimar. E estão queimando. Destruíram a maior empresa brasileira. Atacaram com voracidade os fundos de pensão dos bancos e empresas estatais. Agora, estão solapando as bases do FGTS com a complacência das centrais sindicais pelegas. Possuem uma ampla base de apoio que é sustentada pelo saque do Estado. A burguesia petista ainda tem os bancos e benesses oficiais como suas propriedades. Os sindicatos nunca tiveram tanto dinheiro, produto do famigerado imposto sindical. Os tais movimentos sociais sobrevivem com generosas dotações governamentais sem que haja qualquer controle da utilização destes recursos. E são milhares de sindicatos e associações. Isto sem falar em outros setores, como os blogueiros e jornalistas amestrados, os artistas — em tempo: o que Chico Buarque acha do triplex e do sítio do Lula? São tenebrosas transações? Pseudointelectuais et caterva.

Estamos em meio a uma selva escura. E, pior, sem que um Virgílio nos conduza. Fazer o quê? Este é o paradoxo que vivemos. O projeto criminoso de poder nunca esteve tão debilitado, desmoralizado. Sobrevive porque não encontra obstáculos na estrutura legal do Estado — as instituições, diferentemente do que dizem as Polianas, não funcionam —, e inexiste uma oposição política digna deste nome. Há esforços isolados, quando muito. Os líderes oposicionistas não estão à altura do momento histórico. São fracos, dispersivos. Não gostam de serem obrigados a ter de enfrentar o governo e seus asseclas. Preferem o ócio, a conciliação parlamentar. Acreditam que a Lava Jato e a gravidade da crise econômica vão, por si só, derrotar a quadrilha que tomou conta do aparelho de Estado. Não entenderam que, assim como o hábito não faz o monge, a crise pode não conduzir mecanicamente a uma queda imediata do petismo. Pode sim empurrar o Brasil para uma depressão econômico-social nunca vista na nossa história. E quando forem assumir o governo, só haverá ruínas.

Lula e Dilma que paguem a farra petista (por FELIPE MOURA BRASIL)

Vamos dar um panorama da situação dos líderes petistas.

Dilma Rousseff arrombou as contas públicas em 2014 para ganhar a reeleição e agora cobra mais imposto do povo brasileiro para equilibrar essas contas

Montou até um Conselhão de amigos escolhidos a dedo para fingir que debate com o povo a intervenção do Estado no nosso bolso, mas no Congresso, na volta do recesso, foi merecidamente vaiada por parlamentares ao pregar a volta da CPMF.

Agora, Dilma está mais uma vez nas mãos do vice Michel Temer, que se acertou com Renan Calheiros e Eunício de Oliveira e tomou conta do PMDB. Os grupos de Temer e Renan vão dividir os principais cargos da Executiva do partido.

Renan pode virar réu a qualquer momento, se o STF não protegê-lo como protegeu Dilma contra o impeachment. Depois de três anos da denúncia, o Supremo finalmente vai julgar se abre ação penal contra o presidente do Senado. O ministro Luiz Edson Fachin liberou para a pauta de julgamento o inquérito que apura se Renan usou dinheiro de empreiteira para pagar pensão a uma filha que teve fora do casamento, com Mônica Veloso.

Enquanto isso, José Dirceu admitiu que o delator Milton Pascowitch pagou a reforma de sua casa e de seu escritório, mas Lula ainda nega que o tríplex e o sítio reformados por empreiteiras que têm contratos com o governo sejam dele ou de sua mulher.

É natural que poderosos chefões usufruam bens registrados em nome de ‘laranjas’ para evitar provas contra si na hora do cerco policial.

O Ministério Público investiga se este é o caso de Lula, que, aliás, usufruiu 111 vezes nos últimos três anos o sítio em Atibaia, registrado em nome de dois sócios de seu filho Fábio Luís, o Lulinha.

É como se fosse normal ir 111 vezes ao sítio de um “amigo”.

Resta a suspeita de que aceitar reformas de imóveis como forma camuflada de pagamento de propina é um hábito que petistas só admitem depois de presos e condenados, como Dirceu.

Até porque as investigações apontam que a OAS levantou recursos para a construção do condomínio Solaris, do Guarujá, junto ao FGTS com ajuda de outro petista, André Luiz de Souza, ligado ao próprio Lula e à CUT.

Resultado: além de processar jornalistas, tentar tirar o caso das mãos do juiz Sérgio Moro, reforçar sua equipe de advogados com Nilo Batista e dizer-se a viva alma mais honesta do país, Lula agora recorre ao ex-ministro da Justiça Nelson Jobim para se contrapor à avalanche de suspeitas e críticas contra si e, quem sabe, influenciar os tribunais superiores, porque finalmente se deu conta de que os blogueiros petistas são inúteis para salvá-lo da cadeia.

Para completar, a Operação Zelotes descobriu que o valor total dos contratos do escritório Marcondes & Mautoni com a empresa de outro filho do Lula, Luís Cláudio, pode ter chegado a 4 milhões de reais.

O valor seria pago a “colaboradores” do governo petista para a aprovação da Medida Provisória 471, mas os pagamentos teriam sido interrompidos em março de 2015, justamente o mês da primeira deflagração da Zelotes. Luís Cláudio Lula da Silva acabou recebendo ‘apenas’ 2,5 milhões de reais de Mauro Marcondes na conta da LFT Marketing Esportivo.

Em resumo: enquanto Dilma tenta mascarar os escândalos de seu desgoverno, Lula, sua mulher e seu filho estão sendo investigados, sem contar que estão presos seus amigos como José Carlos Bumlai, seus parceiros de negócios, como Marcelo Odebrecht, seu antigo braço-direito, José Dirceu, e, claro, seus colegas de partido, como João Vaccari Neto.

Dirceu, aliás, está com “dificuldades financeiras” para pagar suas despesas e agora quer receber uma pensão maior por ter sido preso na ditadura.

Como sempre acontece no caso dos petistas, quem paga a conta é você.

* Veja também aqui no blog:
– Lula investigado! Veja as malandragens no tríplex e no sítio do ex-presidente
– Câmara usa argumentos deste blog para reduzir a pó voto de Barroso sobre rito do impeachment

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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Fonte:
veja.com

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