Terça-feira gorda.Fascistas de esquerda e direita rasgam fantasia (REINALDO AZEVEDO)
Aproveito a terça-feira gorda para tratar da “profunda, silenciosa alegria” que sinto ao constatar que, ao denunciar as manhas e artimanhas da direita xucra, cumpro um dever civilizacional. Olho os que se alinham contra mim e sinto orgulho. O grupo, de fato, nunca foi tão variado, e as coisas se explicam por si mesmas: da extrema esquerda à extrema direita, estão todos indignados.
E isso também não surpreende. O principal adversário de um fascista de esquerda é um liberal. E a esquerda me tem nessa condição. O principal inimigo de um fascista de direita é o mesmo liberal.
Os petralhas nunca bateram com leveza, como se sabe. De anunciar a minha morte a acusações estapafúrdias, há de tudo. E, agora, eles se juntam com seus homólogos na extrema direita: os bolsonaristas. Os entusiastas do deputado – muitos devem ser robôs – atuam com uma violência inédita nas redes sociais.
Há tempos eu vinha alertando para os malefícios decorrentes da união de entusiastas da Lava Jato com extremistas de direita, que odeiam a política por princípio. Apontei óbvio: se a política passa a ser encarada, ela mesma, como um mal e se os homens públicos não podem nem mesmo exercer prerrogativas legais sem que haja a suspeita do ilícito, bem, se é assim, estamos no pior dos mundos. E a resposta será necessariamente traumática.
Parece que falava no deserto. Até que vieram as pesquisas eleitorais. E eis que Luiz Inácio Lula da Silva desponta como favorito. Sim, é muito cedo, e quero crer que os brasileiros disponham de elementos para não avançar por esse caminho. Mas o dado preocupante está aí: mesmo depois de ver a sua biografia esmagada pelos fatos, o Babalorixá de Banânia é ainda o favorito.
Em segundo lugar, empatado com Marina Silva, está o deputado Jair Bolsonaro, que é mesmo um portento das redes sociais. Seus acólitos repetem as grosserias do mestre, suas simplificações toscas, suas propostas grotescas. Algumas minoridades morais disfarçadas de jornalistas tentam emprestar uma roupagem noticiosa a um formidável apanhado de bobagens.
E notem: tanto Lula como Bolsonaro se apresentam como soluções mais ou menos mágicas. O petista porque, bem…, sabemos que sempre terá “a” resposta” porque seu lugar de demiurgo já está garantido. Bolsonaro está em fase de construção da sua mitologia – é chamado pelos seus de “bolsomito”. A ele se atribuem virtudes extraordinárias, como a “coragem”… Coragem de quê? De levar uma cusparada de Jean Wyllys, o seu oposto no mundo homoafetivo? Ou de defender a ação de torturadores?
Intimidação
A petralhas, bolsonaretes, olavetes e escatologias menores, somam-se oportunistas, notórios no mercado de ideias por fazer do ódio, do ressentimento e da vilania uma profissão de fé. Um dia se traem, e o veneno que secretam faz o seu trabalho. Questão de tempo.
Isso é tática de intimidação. Não funcionou antes, não vai funcionar agora. A exemplo daquele que se expressa no poema de Bandeira, eu não me importo com o alarido.
É curioso que eu realmente tenha virado um alvo quando as pesquisas eleitorais passaram a evidenciar o que eu vinha dizendo. Humilhados pela própria burrice, ficaram agressivos.
Protesto e ruído
Outra mentira grotesca está em afirmar que ou estou tentando sabotar o protesto do dia 26 – como se eu tivesse poder para isso – ou estaria chamando de “direita xucra” todos aqueles que decidirem participar.
Obviamente, é mentira. Sim, a direita xucra estará lá — mas estava também nos atos em favor do impeachment. A prudência fez com que as lideranças responsáveis a isolassem. Quem não se lembra dos entusiastas de Bolsonaro e Olavo de Carvalho a defender uma intervenção militar profilática? Alguns vigaristas que agora me acusam quase puseram tudo a perder. Afinal, a imprensa, que pende para a esquerda, tomava esse tipo de delinquência como expressão da opinião dos que iam às ruas.
Conheço bem os bastidores dessa história. E um dia eles virão à luz.
Acho a convocação de um protesto, agora, um equívoco. Se ocorrer, espero que os movimentos de juízo consigam, até lá, ajustar a pauta. Mas temo que acabem se misturando, no noticiário, com os xucros da extrema direita. Sim, um dos motivos do ato é reforçar a Lava Jato — ou algo semelhante. Digam-me que risco ela corre para que possa denunciá-lo aqui.
Há a possibilidade efetiva de um ato assim degenerar em ainda mais ódio à política, num momento em que o país precisa do Congresso para algumas medidas essenciais.
“Reinaldo é tucano”
De todas as formas em curso para tentar me desqualificar, uma chama atenção: “Reinaldo é tucano, e tucano é de esquerda; logo, Reinaldo é de esquerda”. Bem, em tempos em que Donald Trump é considerado direitista, não chega a ser surpreendente que o PSDB seja tido como “esquerdista”. Eu mesmo já manguei diversas vezes do receio que tem o partido de parecer “de direita”; de sua mania de quer posar, às vezes, de um “PT mais educadinho”… Mas daí a ser “de esquerda”, eis uma afirmação que não resiste a 10 minutos de exame objetivo.
É curioso que a extrema direita agora volte suas pistolas e rifles contra mim, acusando-me de “tucano”. Ora, essa é a pecha que os petralhas me pespegaram desde sempre. Mas chegavam a uma outra conclusão porque, afinal, eles são fascistas de esquerda, e os outros, de direita. Diziam os companheiros: “Reinaldo é tucano; tucano é de direitista; logo, Reinaldo é de direitista”.
A inteligência é a mesma.
Princípios
Não tenho interesse objetivo nenhum a defender no governo Temer. Também não sou instrumento de especuladores. Não recebo salário ou benefícios de políticos. Apenas tive a ventura, ou o bom senso, de perceber, muito antes do que qualquer outro analista, que o cenário de terra arrasada a que nos conduzem alguns erros da Lava Jato, com o alarido da direita xucra, pode abrigar a volta das esquerdas ao poder.
Os esquerdistas, aliás, sabem disso e estão se divertindo a valer. Alguns chegam a ser engraçados porque, na prática, constatam a burrice assombrosa da direita xucra, deixam claro que estou certo quando afirmo ser ela uma aliada objetiva dos companheiros e camaradas, mas, claro!, também tentam tirar a sua casquinha. “Ah, Reinaldo, isso é culpa sua. Está com medo dos seus monstrinhos?”
Em primeiro lugar, esses “monstrinhos” não são meus. Se os tivesse, eles andariam armados de Maquiavel, Montaigne e Montesquieu, não de Bolsonaro ou de um 38 — ainda que simbólico. Em segundo lugar, o arquivo do meu blog está à disposição e desafio que apontem quando foi que saí do trilho do estado de direito ou quando foi que condescendi com fascistoides.
Sim, vocês encontram posts meus em defesa do direito que Bolsonaro tinha de falar suas bobagens. Quando, no entanto, ele afirmou, que certa deputada não “MERECIA” ser estuprada porque muito feia, eu vi ali apologia do crime. Vejo nisso quebra de decoro e razão para perder o mandato. Ou os/as bolsonaretes acham legítimo que os esquerdistas digam isso de suas respectivas mulheres? Ou serão estas todas, segundo o critério do líder, belas e, pois, potencialmente estupráveis? As palavras fazem sentido.
Meu blog está à disposição, reitero. Mostrem ali quando foi que condescendi com esse tipo de brucutu.
Caminhando para a conclusão
Nesta terça-feira gorda de Carnaval, renovo a minha profissão de fé antifascista — contra qualquer fascismo, pouco importa a sua cor.
Peço aos leitores de juízo que tentem enxergar um pouco além da bruma. Tudo o mais constante, vamos, infelizmente, como país, para um caminho ruim.
Noto, para encerrar, o esforço que setores de extrema direita têm feito para degradar ainda mais a imagem de Lula — como se isso fosse possível. Não é. Ele já chegou ao limite. O que os xucros vão conseguir com isso, aí sim, é dar início à transformação do vilão em vítima.
Mas a extrema direita não aprende.
É xucra!
E vai continuar a reconstruir, com suas boçalidades, a imagem de Lula.
(Um dos poemas de Manoel Bandeira (1886-1968) de que mais gosto está no seu segundo livro, “Carnaval”, publicado em 1919. Chama-se “Sonho de uma terça-feira gorda”. Como a de hoje. “Carnaval” é, na verdade, uma obra preciosa. Boa parte do que o modernismo teria de virtuoso no verso já estava ali ora esboçado, ora revelado. Mas vamos o texto,
Sonho de uma terça-feira gorda
Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros,
e negras eram as nossas máscaras.
Íamos, por entre a turba, com solenidade,
Bem conscientes do nosso ar lúgubre
Tão contrastado pelo sentimento de felicidade
Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo
Que nos penetrava… Que nos penetrava como uma espada de fogo…
Como a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas.
E a impressão em meu sonho era que se estávamos
Assim de negro, assim por fora inteiramente de negro,
– Dentro de nós, ao contrário, era tudo tão claro e luminoso.
Era terça-feira gorda. A multidão inumerável
Burburinhava. Entre clangores de fanfarra
Passavam préstitos apoteóticos.
Eram alegorias ingênuas, ao gosto popular, em cores cruas.
Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida,
De peitos enormes – Vênus para caixeiros.
Figuravam deusas – deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas.
A turba ávida de promiscuidade,
Acotovelava-se com algazarra,
Aclamava-as com alarido.
E, aqui e ali, virgens atiravam-lhe flores.
Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,
O ar lúgubre, negros, negros…
Mas dentro em nós era tudo claro e luminoso.
Nem a alegria estava ali, fora de nós.
A alegria estava em nós.
Era dentro de nós que estava a alegria,
– A profunda, a silenciosa alegria…
Economia se recupera, mas o ilegalismo xucro pisca para a crise!! (REINALDO AZEVEDO)
A economia dá sinais de recuperação, como todos sabem. Não é obra do acaso, da árvore da vida, de ciclos que se repetem aborrecidamente. Não! O que temos aí decorre de decisões tomadas pelo governo do presidente Michel Temer.
Para tomá-las, cumpre lembrar, foi preciso construir uma ampla maioria no Congresso.
Não obstante, a crise política prossegue. E ela é, sim, decorrente, ATENÇÃO PARA ISTO, do lado obscuro da Lava Jato.
Os senhores procuradores não precisam parar de fazer nada do que fazem de legal.
O juiz Sergio Moro não precisa parar de fazer nada do que faz de legal.
A crise política da hora não se teria instalado sem o vazamento da delação de Cláudio Mello Filho, ex-diretor da Odebrecht, segundo quem o presidente Michel Temer teria acertado com a Odebrecht uma doação ao PMDB de R$ 10 milhões, mas pelo caixa dois.
Desse total, R$ 4 milhões seriam reservados ao ministro Eliseu Padilha, e R$ 1 milhão teria sido entregue no escritório do empresário José Yunes, amigo de Temer. Este, por sua vez, disse à Procuradoria-Geral da República que recebeu, sim, um pacote para Padilha. Mas não sabia o que era. E ele próprio levantou a hipótese de ter sido usado como “mula”.
O presidente se viu na contingência de emitir nota repetindo o que já dissera antes: participou do pedido de doação, mas tudo se fez dentro da lei.
“O que você queria, Reinaldo, que essas informações ficassem debaixo do tapete?” Que bobagem! Queria o que quer o estado de direito: que, no devido tempo, os órgãos responsáveis apresentassem as respectivas denúncias, e os tribunais decidiriam.
O que constrange hoje o país é a instabilidade permanente, que só é útil, reitero, a especuladores. A indistinção entre os muitos crimes e irregularidades envolvendo a Lava Jato — de sorte que, para o povão, todo mundo é igual — já promoveu o que chamo de razia na classe política.
Olhem as escolhas eleitorais e verifiquem o percentual de pessoas dispostas a ceder a um messianismo de esquerda, a um messianismo de direita ou a um messianismo transcendental…
É claro que esses golpes contribuem para diminuir, vamos dizer, a visibilidade dos investidores. É evidente que, nessa toada, a recuperação esmorece. E isso significa que os pobres pagarão as contas, o que vai levar água para o moinho das esquerdas.
Temer ficará, agora, sem seu chefe da Casa Civil. Dado o mal que cometeu o ministro, cuidados posteriores etc., é recomendável que se mantenha afastado do governo. No que diz respeito à investigação, sua situação não melhorou. Ela, na verdade, piorou.
Esse país que não consegue relaxar, que não consegue respirar normalmente, que está sempre caçando mais um… Bem, desse mato não sai coelho. Desse mato, o que sai é petista, é esquerdista.
E os vermelhos estão farejando tudo com precisão, não é? Só a direita xucra não percebeu. Ou melhor: finge não ter percebido. Até ela já sabe. Mas como recuar agora sem parecer covarde diante dos brucutus.
Já deixei claro que não chamo de xucros todos os grupos que decidiram protestar no dia 26. Há os sérios. E já discriminei seus nomes em outras circunstâncias. A propósito: os verdadeiros xucros já zurraram.
Sim, a equação econômica tem jeito. Por enquanto, o risco é o país afundar na equação política.
A esquerda agradece à direita xucra que escoiceia (REINALDO AZEVEDO, na FOLHA)
Os grupos responsáveis que constituíram a base popular do movimento de impeachment deveriam agora é estar empenhados em construir alternativas, já pensando em 2018, que assegurassem a continuidade das mudanças a que o presidente Michel Temer deu início.
Para tanto, não é preciso paralisar a Lava Jato. Ela que prossiga nos limites da lei. Mais: o inventário do desastre petista, a sua herança, ainda não foi feito. Em vez disso, infelizmente, nós flagramos esses a que me refiro a insuflar, queiram ou não, a razia das forças políticas organizadas, cedendo ao alarido da direita xucra e dos messiânicos.
É pena! A economia exibe sinais modestos, mas consistentes, de recuperação. A simples perspectiva de ajuste no setor público começa a dar algum resultado. Mas ainda vai demorar até que a população comece a perceber os efeitos da melhora. Por enquanto, esses indicadores compõem os arcanos da macroeconomia, cartas que não costumam ser lidas pelos mais pobres, especialmente punidos pela recessão fabricada pelo petismo.
Com habilidade, o presidente Michel Temer tem logrado vitórias importantes no Congresso. E olhem que os dias não andam nada fáceis. Os que dependem de voto sabem haver uma diferença importante entre apoiar a PEC do teto de gastos e defender a reforma da Previdência; entre mudar as regras do pré-sal e emplacar mudanças importantes na legislação trabalhista. Ou por outra: está chegando a hora de o povo de carne, osso, opinião e urna participar do jogo.
Aposto que Temer irá até o limite das mudanças que o Congresso puder lhe oferecer. Mas as nuvens que se armam ameaçam jogar o país, mais uma vez, no colo das esquerdas. Tudo o mais constante, e não vai depender de acertos ou erros do presidente, é ao encontro delas que marchamos.
As maiores manifestações de protesto da história do país deram o suporte popular necessário ao impeachment de Dilma, o que obedeceu a todos os rigores da lei. Mas sabemos, e eu apontei isto muitas vezes nesta Folha, no meu blog e em todo lugar, que dois elementos bastante distintos se combinaram para resultar na deposição.
Os que coalharam as ruas de verde-amarelo lá estavam contra a corrupção; mal sabiam que diabo era "pedalada fiscal" –o crime de responsabilidade sem o qual a então presidente não teria caído.
Mantenho-me relativamente longe do bueiro do inferno em que se transformaram as redes sociais e páginas da internet que, embora se apresentem como jornalísticas, ou são miasmas do esgoto ou são expressões bisonhas do lobby de especuladores e bucaneiros.
Igualam-se na violência retórica, na irresponsabilidade, na ligeireza com que sentenciam pessoas à morte. Embora longe, é claro que acabo alcançado pelo fedor. Sempre há aquele que diz: "Viu o que falaram de você?".
A extrema direita, a extrema burrice e o extremo oportunismo se uniram para me declarar, acreditem!, inimigo da Lava Jato. Acusam-me também de sabotar a manifestação de protesto –ou algo assim– do dia 26 de março, marcada por alguns dos grupos que apoiaram o impeachment.
A inconsistência da pauta é a melhor evidência de por que não deveria acontecer. Chamam de sabotagem uma crítica política legítima. Antes, no dia 15, haverá a marcha das esquerdas. Notas: eu seria adversário da Lava-Jato porque critico algumas decisões de membros do MPF e do juiz Sérgio Moro. Pois é. Não nasci para fazer hagiografias.
A esquerda agradece embevecida.
O conservadorismo responsável pode ainda se tornar a principal vítima da criminalização da política, promovida por irresponsáveis que se querem conservadores. Ademais, se não serve a política, que venha a porrada!
Temer, até agora, conseguiu responder à necessidade com a coragem
Assistam a este vídeo.
Sem uma reforma da Previdência, o Brasil continuará quebrado — sim, é importante deixar claro que já está quebrado hoje. Quando nos damos conta do que vivemos do começo de 2016 até esta data, algo como um milagre — que, definitivamente, não frequenta a política — parece ter acontecido. Temos um governo que se instaurou, segundo as regras da democracia, enfrentando, não obstante, a maior máquina de mobilização social (não se entra aqui no mérito da pauta) jamais criada no país. De mobilização social, mas também de assalto aos cofres públicos, de assalto ao Estado de Direito, de assalto à institucionalidade e, por tudo isso, também de assalto à matemática.
Por que o Brasil é, de fato, sui generis nesse particular? Precisamos de um estudo mais detalhado, temos de aprofundar a investigação das mentalidades. O Brasil corporativista que aí está nasce do que de pior poderia nos legar um regime fascistoide, o de Getúlio Vargas: há a imposição da diretriz de um suposto “estado abstrato”, que só teria como ponto de chegada o bem comum — é o fascismo de direita —, e há a ideia da assistência universal, do Estado provedor, fonte das generosidades: também é herança da cultura fascista, mas de esquerda.
E quem senão Getúlio Vargas juntou essas duas coisas numa só personagem? É endeusado em certos círculos intelectuais como figura única na história. Sem dúvida: nunca um fascista de direita, é isso o que era originalmente como crença política, foi adotado com tanta generosidade pelos socialistas, os fascistas de esquerda. Ele nos legou um modelo destinado a não funcionar. E é glorificado. Acredito que nem nas ditaduras mas ferozes do planeta o líder de um regime que torturou e matou de forma inédita daria nome a instituições e logradouros públicos. O autoritarismo está entranhado em nós.
O Brasil passa por um momento notável, em que pistoleiros de quinta categoria, que não leram nada de relevante sobre o Brasil, se atrevem a explicar o país e o mundo. Alguns deles ficam mendigando dinheiro na Internet. Vigaristas! Afirmei certa feita que o PT é, sim, partido de esquerda, mas que “socialista” propriamente não é. Ora, basta ver sua política e suas relações com o empresariado. Mas aí um velho doido, tirando cocô de urso da sola do sapato, proclama: “Os empresários também são comunistas”. Em suma, todos têm de ser comunistas para que ele possa ser o profeta. Lixo.
As consequências mais nefastas dos 14 anos de poder petista não têm nenhuma relação direta com seu viés de esquerda. O pior Brasil que o PT nos deixa como herança é, sim, o país getulista, carregando aquela mesma ambiguidade do Getúlio original: há o viés autoritário, centralizador, supostamente organizador do próprio capitalismo — estudem a relação que Lula estabeleceu com as empresas —, e há o viés do distributivismo doidivanas, que não olha o caixa. Nessa hora, a esquerda se arrepia: “Reinaldo acha que o povo tem benefícios demais!” Não! Acho que tem é de menos. Precisamos de benefícios sustentáveis.
Coragem
Chegar ao poder nas condições em que Temer chegou; ter de formar uma maioria no Congresso que precisa ter uma folga para surpresas e traições de última hora; saber que uma mudança essencial tem de ser feita para que o conjunto se sustente; ter clareza de antemão de que tal mudança mobiliza essa tradição arraigada de estado-patrão, bem, meus caros, isso tudo requer um político de coragem.
Foi assim com a PEC do Teto de gastos, com a mudança das regras do pré-sal — projeto de Serra que o governo apoiou —, com a renegociação da dívida dos Estados, com o reconhecimento de que a segurança pública é agora também um problema federal.
E isso se dá num momento em que forças messiânicas, de extrema-direita e de extrema-burrice tentam, na prática, inviabilizar o país, transformando a política e os políticos numa espécie de obsolescência.
Que reforma haverá?
A proposta do governo é boa, dada a conjuntura política. Ela vai ao limite do potencial do Congresso — é uma pena que textos não possam ser debatidos no vácuo. Quem entende o sentido das palavras já percebeu: é muito provável que concessões tenham de ser feitas. Ainda que muitos possam achar a democracia uma porcaria, ainda é o que se pode ter de melhor para responder, inclusive, às demandas distributivas.
No alto, vai dos vídeos produzidos pelo site https://apoieareforma.com/. Ajude a divulgar.
É improvável que o país viva de novo conjuntura tão favorável como a que temos para emplacar a reforma.
Imprensa: Jornalismo criativo prova conspiração com fonte anônima
Usar um off como evidência de uma tramoia é só exercício de jornalismo criativo — vale dizer: é picaretagem
Informei na segunda-feira de manhã que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) seria o ministro da Justiça. A escolha nasce de algum acerto extracurricular, para tentar livrar a cara deste ou daquele na Lava Jato? Com a devida vênia, é bobagem.
Mais uma vez, o que mais me incomoda nessa acusação de conspiração é a ausência de meios para que tal interferência se realizasse. Vivemos dias realmente notáveis. Ninguém mais precisa demonstrar um ponto de visa com argumentos. Mesmo alguns jornalistas já se dispensam dos fatos. No limite, há um recurso que os senhores diretores de redação precisam começar a disciplinar: a declaração em off que sustenta o lead.
Não que se deva desconfiar da honestidade e da honradez deste ou daquele, mas convenham: uma mentira deslavada pode ter como evidência outra mentira deslavada, não é mesmo?
Observem as diferenças. Posso escrever: “Um interlocutor de Temer, que prefere o anonimato, diz que o novo ministro das Relações Exteriores será Fulano de Tal”. O “meu” Fulano de Tal, por exemplo, é Sérgio Amaral. A informação pode ser publicada sem risco a ninguém. Se o escolhido for outro, não há prejuízo nenhum. Mesmo o jornalista que publicou a antevisão errada pode se escorar em hipóteses razoáveis: 1) o presidente mudou de ideia; 2) o convidado recusou a oferta; 3) houve pressão política de descontentes etc.
Coisa muito distinta ocorre quando se informa que o presidente escolheu, por exemplo, um ministro para tentar, de algum modo, aplacar o ânimo de seus correligionários, que estão preocupados com a Lava Jato. De saída, há a informação, então, de uma ação deliberada.
Ora, essa deliberação requer evidências. E é nesse ponto que o “jornalismo de bastidores” está virando exercício de prestidigitação. Não é raro que se encontre algo assim, com suas variantes: “Sob a condição do anonimato, um deputado da base do governo diz ser preciso fazer alguma coisa”. Aí não é possível.
Mas vou ainda além ao entrar no caso em espécie. Fiquemos com Osmar Serraglio. O que ele poderia, efetivamente, fazer para interferir na Lava Jato? Resposta óbvia: ora, mudar o diretor-geral da PF. Está claro, e já estava, que isso jamais acontecerá por determinação do governo.
A propósito: a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou, nesta quinta, uma nota parabenizando Serraglio (PMDB-PR) pela nomeação. Segundo o texto, o principal desafio será “encontrar soluções para acabar com a crise generalizada de segurança pública vivida pelo país”.
Como se nota, não há a preocupação de que o novo ministro possa interferir na Lava Jato.
Não obstante, Serraglio teve de se ajoelhar de frente para Curitiba, como em regra somos todos convidados a fazer hoje em dia, estejam os bravos rapazes certos ou errados. Em sua primeira declaração, o nomeado deixou claro que recebeu orientação expressa para se manter longe da Lava Jato — como se houvesse modo de se aproximar da coisa. E não há.
Alguém aí imagina, nos dias que correm, um ministro da Justiça a chamar o diretor-geral da PF para dizer algo como: “Olhe, precisamos dar um jeito de controlar essa operação…”?
O que mais é preciso para que fique claro que a Lava Jato não corre risco nenhum?
Usar um off como evidência de uma tramoia é só exercício de jornalismo criativo — vale dizer: é picaretagem.
Antigamente, o off era o começo de uma investigação. Agora é ponto de chegada — e isso na hipótese de que tenha existido e de que não seja ele também puro exercício de ficção.
Indignados com Bruno solto? Eu também! Então agora vamos pensar!
Eu não teria concedido o habeas corpus, mas decisão de Marco Aurélio não é exótica. Exótico mesmo é o funcionamento das instâncias inferiores da Justiça
Sim, vou falar sobre a liminar que o ministro Marco Aurélio concedeu ao tal goleiro Bruno, que tanta indignação tem gerado. E é compreensível. Todos devemos estar de acordo com que o lugar dele é a cadeia. Por mim, ficaria lá para sempre. A Editora Record publicou o livro “Indefensável: O goleiro Bruno e a história da morte de Eliza Samudio”, de Leslie Leitão, Paulo Carvalho e Paula Sarapu. Não sou especialista na área. Mas o seu comportamento na tragédia caracteriza a pscicopatia — sem cura conhecida. Nesses casos, só uma postura protege a sociedade: a reclusão permanente. Sigamos.
A depender da razão por que você acesse o meu blog, não tenho como não dizer logo de saída: ERRO DE PÁGINA! É para ler o que eu penso a respeito de um determinado assunto, com base na lei, que é o que chamo de “opinião objetiva”? Então acertou. É para ver se repito a língua negra do bueiro do inferno das redes sociais e dos blogs caça-níqueis e pega-pra-capar? Então vocês têm alternativas variadas: dos oportunistas aos psicopatas, passando pelos bucaneiros, a rede está lotada. Boa viagem.
Escrevi aqui umas oitocentas vezes que essa história de que a impunidade no Brasil é apanágio do STF é lorota. Escrevi aqui umas oitocentas vezes que é mentira que um processo demore mais para ser julgado no STF do que nas instâncias inferiores. Escrevi aqui umas oitocentas vezes que esse debate está absolutamente desfocado. Escrevi aqui umas oitocentas vezes que a celeridade com que o juiz Sergio Moro condena está longe de ser o padrão das instâncias inferiores, estaduais ou federais. Escrevi aqui umas oitocentas vezes que Moro vive a situação privilegiada de cuidar de um único caso…
Ah, mas a língua negra que vaza do bueiro, lotado de estrume moral, ético, burrice e vigarice vai se espalhando… “Ah, quer foro especial!? Quer impunidade!” Não basta lembrar que o STF condenou um réu do mensalão a mais 40 anos, enquanto Moro condenou Sergio Machado a uma vida de nababo. “Tá vendo, já está falando do Sergio Moro!” Em primeiro lugar, quando quero, falo. Em segundo, estou constatando um fato.
A impunidade que realmente infelicita a vida dos brasileiros é aquela — e as razões são as mais diversas; não quero demonizar ninguém — que se pratica nas instâncias inferiores, nos foros que não são especiais. Ela, sim, acaba botando na rua um assassino frio, determinado, meticuloso — incapaz, note-se, de sentir empatia.
Ler
Vamos fazer o que, resta evidente, a esmagadora maioria dos babões não fez: ler o habeas corpus concedido por Marco Aurélio. Ele está aqui.
Nos últimos anos, costumo discordar de boa parte das decisões de Marco Aurélio. Não que lhe falte competência técnica. Ao contrário. Poucos ministros argumentam tão bem se a gente consegue atravessar o glacê retórico e aquela sintaxe de exceção em que gosta de se esmerar. Mas é notório que ele, com frequência, apela ao direito criativo, como quando resolveu afastar Renan Calheiros da Presidência do Senado, monocraticamente, contrariando a letra explícita da lei. Ou quando determinou que o presidente da Câmara abrisse um processo de impeachment contra o então vice-presidente, Michel Temer.
Marco Aurélio, por quem tenho simpatia pessoal, destaco, é o que a meninada chama um “causão”.
Mas e o habeas corpus para Bruno? Encontra ou não respaldo na lei? A resposta, infelizmente, é “sim”. O goleiro Bruno está preso há mais de seis anos. O julgamento em primeira instância, quando foi condenado a 22 anos e 3 meses de reclusão, em regime inicial fechado, por “homicídio qualificado por motivo torpe, com emprego de asfixia e com recurso que dificultou a defesa da vítima”; sequestro e cárcere privado qualificado por haver vítima menor de 18 anos (referência ao filho de Elisa e Bruno) e ocultação de cadáver”.
O tribunal de primeira instância recusou o pedido para que o condenado recorresse em liberdade, alegando razões para a prisão preventiva ou cautelar.
Por onde vai Marco Aurélio e por que ele erra?
Escreve o ministro de forma absolutamente correta: “3. Os fundamentos da preventiva não resistem a exame. Inexiste, no arcabouço normativo, a segregação automática tendo em conta o delito possivelmente cometido, levando à inversão da ordem do processo-crime, que direciona, presente o princípio da não culpabilidade, a apurar-se para, selada a culpa, prender-se, em verdadeira execução da pena. O Juízo, ao negar o direito de recorrer em liberdade, considerou a gravidade concreta da imputação. Reiterados são os pronunciamentos do Supremo sobre a impossibilidade de potencializar-se a infração versada no processo. O clamor social surge como elemento neutro, insuficiente a respaldar a preventiva. Por fim, colocou-se em segundo plano o fato de o paciente ser primário e possuir bons antecedentes. Tem-se a insubsistência das premissas lançadas”.
Para quem não entendeu
O doutor está a explicitar um fundamento do direito, que não tem sido seguido, diga-se, pelo juiz Sergio Moro e pela segunda instância federal: o crime já cometido, em razão do qual o sujeito se tornou investigado ou réu, não pode ser causa da preventiva, determinada por riscos presentes:
a) para manter a ordem pública;
b) para manter a ordem econômica;
c) em benefício da instrução criminal e
d) para garantir a aplicação da Lei Penal.
Qualquer advogado sabe que boa parte das preventivas da Lava Jato não obedeceu a esse critério — contou sempre o crime cometido, em desacordo com a lei. Ora, se a lei é ruim, mude-se.
No seu despacho, Marco Aurélio diz que o atraso do julgamento não pode concorrer para que uma pessoa fique em prisão preventiva sem prazo. Em si, faz sentido. A propósito: se isso é verdade para quem já está condenado em primeira instância, como explicar as preventivas sem prazo no Brasil mesmo para quem não é nem réu?
Você teria concedido o habeas corpus, Reinaldo?
Não. Não teria. Embora reconheça que a decisão de Marco Aurélio tem amplo respaldo na lei e na jurisprudência do Supremo. Eu teria me fixado na “garantia de manutenção da ordem pública”. Quando a gente se informa sobre os detalhes do crime, resta a suspeita, quando menos, de que estamos diante de um psicopata.
Não é por aquilo que fez que a preventiva deveria ser mantida. É por aquilo que pode fazer quando se leva em conta o que e como fez. Mais: que Marco Aurélio tivesse cobrado mais informações sobre o caso e levado a questão à turma, ora. Afinal, que urgência há na concessão da liminar para um assassino comprovado, com pena de 22 anos?
Concluo
De todo modo, eis aí um caso escancarado e chocante da ineficiência das instâncias inferiores da Justiça. E, por incrível que pareça, isso não mobiliza os Robertos Barrosos da vida.
Ele prefere cair no colo da galera e, sendo o mais esquerdista de todos ministros, cair nos braços da direita xucra, que, por xucra, o abraça e o saúda. (REINALDO AZEVEDO)
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