Em 2023, mais da metade do volume de carne bovina do Brasil foi exportado para China, afirma Rabobank
Cerca de 52% de todo o volume de carne bovina exportado no ano passado teve como destino a China, segundo estudo do Rabobank. O mesmo relatório aponta que, no mercado de carne suína, esse percentual foi de 32%. O gigante asiático também é quem mais importa carne de frango do Brasil, responsável por cerca de 14% do volume de exportações brasileiras em 2023.
“A relação comercial com a China tem um grande impacto para o agronegócio do Brasil, principalmente pelo fato de que existe uma grande dependência nos setores de proteína animal”, avalia o analista de Proteína Animal do Rabobank, Wagner Yanaguizawa. Segundo o especialista, o Brasil vive uma dinâmica em que qualquer alteração da oferta ou demanda chinesa tem impacto direto nas vendas externas brasileiras.
Relações comerciais continuam com o panorama positivo
Reflexo disso é que no primeiro trimestre foram aprovadas 38 novas plantas de bovinos, de modo que, atualmente, o Brasil conta com 65 plantas habilitadas para exportar para a China. “Isso é um sinal claro de que as carnes brasileiras têm tido boa aceitação no mercado local, criando um ambiente de dependência mútua entre os países. Atualmente a China é o nosso maior importador das três principais proteínas, além de o Brasil ter se tornado o maior fornecedor de carne bovina para o país em 2023 – com cerca de 43% das importações. Cenário que, na nossa visão, deve se manter no curto e médio prazo”, diz.
Cenário econômico em desaceleração
O Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou uma queda de 4,6% no cenário econômico da China em 2024, frente aos 4,2% projetados em 2023. E terá uma desaceleração ainda maior no médio prazo, reduzindo para cerca de 3,5% projetado para 2028. A instituição avalia também que a economia local foi atingida pela fraqueza do setor imobiliário e pela demanda externa baixa. Diante desse cenário, uma crescente crise econômica aliada ao aumento da produção local pode provocar um menor volume importado do Brasil.
De acordo com Yanaguizawa, apesar de 2023 ter sido marcado como o segundo maior volume de carne bovina importado do Brasil pela China na história, houve uma queda de 3,4% nas importações com relação ao ano anterior. Para carne suína, a queda foi de 15,5% no mesmo período. “O canal cinza, padrão exercido pela fiscalização aduaneira que existe via terrestre com Hong Kong, tem sido utilizado novamente, o que explicaria os aumentos de 25% nas importações de carne bovina e 29% de carne suína, mas de fato, houve queda no consumo doméstico na China em 2023”, relembra Wagner.
O analista avalia ainda que, na indústria suína, a rápida recuperação da produção nos últimos anos superou a demanda, acentuada pela instabilidade causada por altos preços da ração e pela Peste Suína Africana (PSA). Isso resultou em preços mais baixos e levou muitos produtores a abater matrizes reprodutoras para reduzir custos, aumentando temporariamente a oferta, mas prejudicando a capacidade de produção futura. Os preços da carne suína reduziram a competitividade da carne bovina, de modo que o aumento na produção em 2023 refletiu no aumento da oferta.
Para o futuro
Com relação ao futuro dessa relação comercial, o próximo ano demanda cautela, de acordo com Yanaguizawa. A perspectiva é que a China continue sendo um parceiro importante para o Brasil, porém será preciso monitorar o movimento de novas habilitações feitas nos últimos meses não somente no Brasil, mas também em outros países. A estratégia chinesa é elevar o número de empresas, e assim, estimular a concorrência para reduzir o preço de importação. ”Para o Brasil, esse cenário é positivo pois aumentam as oportunidades para regiões em que pecuaristas não tinham acesso a bonificação, porém se o setor não se organizar, a entrada dos menores frigoríficos nesse mercado pode pressionar os preços da carne brasileira abaixo da realidade de mercado e impactar negativamente as margens de todo setor”, avalia o analista.
O Rabobank também alerta para o acordo entre a União Europeia e o Mercosul que pode trazer barreiras comerciais para o Brasil, já que o produto nacional é extremamente competitivo e impacta a produção local. "Em um cenário de custos elevados e investimentos mais sustentáveis, a limitação de importação de países como o Brasil pode ser uma alternativa para a Europa. A meta de garantia de rastreabilidade do gado brasileiro a partir de Janeiro/25 também deve ser outra variável de desafio para o setor produtivo. Além disso, questões sanitárias como a Gripe Aviária e a Peste Suína Africana ainda afetam parte da produção global, e o Brasil, até o momento, tem se destacado pela segurança alimentar somada ao potencial de entregar alto volume com um dos menores preços do mercado internacional”, conclui Yanaguizawa.
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