Feijão-caupi puxa a fila e Embrapa amplia pesquisa com pulses em Mato Grosso
A visita à Ásia, especialmente a Índia, realizada no fim de 2016 por uma comitiva brasileira liderada pelo ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, confirmou o interesse do país asiático na importação de leguminosas de grãos secos, as chamadas pulses, produzidas no Brasil. O potencial de mercado de produtos como feijão-caupi, feijão-mungo, grão-de-bico, lentilha, entre outros já era previsto por pesquisadores da Embrapa.
Há mais de dez anos a Embrapa Meio-Norte realiza pesquisas com feijão-caupi em Mato Grosso visando à produção em grande escala com foco na exportação. Testes de linhagens e validação de cultivares são feitas buscando materiais que apresentem alta produtividade, qualidade de grãos e adaptação à colheita mecanizada.
Cultivares como a BRS Tumucumaque, BRS Novaera e BRS Guariba já são utilizadas por produtores de Mato Grosso, que em 2016 cultivaram 173 mil hectares de feijão-caupi, de acordo com dados da Conab.
Mesmo com a falta de chuva afetando a produtividade, a produção do estado foi de 130 mil toneladas do grão. A maior parte ainda é destinada ao mercado nacional, sobretudo da região Nordeste. Entretanto, o volume exportado para países como Índia, Egito, Paquistão e Afeganistão tem sido crescente.
Mercado crescente
Desde que iniciou as pesquisas com melhoramento genético do feijão-caupi visando à colheita mecanizada e o cultivo em grandes áreas, a Embrapa tem trabalhado em conjunto com o setor produtivo e com o setor de comercialização em Mato Grosso. Esse alinhamento possibilitou uma visão antecipada das demandas externas não só para esta cultura, mas também para outros pulses.
“Já esperávamos que essa demanda chegaria. A Índia é o segundo país mais populoso do mundo e a tendência é de crescimento nos próximos anos. A Índia é um grande importador de alimentos e boa parte da população tem nos vegetais (pulses) a principal fonte de proteínas, conta o pesquisador da Embrapa Meio-Norte lotado na Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop-MT), José Ângelo Menezes Júnior.
Somente o sul da Ásia, incluindo países como Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Paquistão representam aproximadamente 40% do mercado mundial de pulses. A Índia passa por um momento especial em que a população cresce cerca de 18 milhões de habitantes por ano e em que a economia está em expansão. Com maior renda, o consumo de alimentos tem sido maior.
“Além disso, a produção agrícola indiana é menor que a demanda. Para agravar a situação, nas últimas safras agrícolas, 2014-2015 e 2015-2016, foram produzidas dois milhões de toneladas de pulses a menos devido, principalmente, às adversidades climáticas. Isso provocou aumento das importações de 2,2 milhões de toneladas de pulses”, explica o pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Kaesel Jackson Damasceno e Silva.
Diante deste mercado promissor, juntamente com as pesquisas, estão sendo realizados em Mato Grosso dias de campo, reuniões e visitas técnicas. Até o Congresso Nacional de Feijão-caupi de 2016 foi realizado no estado, em Sorriso. O objetivo de todas essas ações é o de divulgar a cultura e o conhecimento gerado a partir das pesquisas, além de transferir tecnologias sobre o cultivo para agricultores, aumentando a oferta de grãos no mercado.
“O setor de comercialização identificou que há um grande mercado para exportação, mas para isso é necessário ter quem produza para ofertar o produto. Não adianta apenas fechar contratos internacionais, é preciso ter o produto em quantidade e qualidade para entregar e hoje, para feijão-caupi, a oferta de grãos para exportação é resultado das pesquisas para desenvolvimento de cultivares aptas ao sistema de cultivo de Mato Grosso”, explica o pesquisador José Ângelo.
Diversificação de opções
Alvo de crescente interesse dos produtores mato-grossenses, o feijão-caupi representa uma opção produtiva para o setor. Com ciclo mais curto e mais tolerante à seca, tem sido usado em Mato Grosso como cultura de segunda safra em áreas onde não é possível semear o milho dentro da janela de plantio.
Outra vantagem da cultura é o custo de produção mais baixo em relação a outras culturas e com menor risco para cultivar na safrinha.
“O custo está em torno de R$ 700 a R$ 800 por hectare, de acordo com produtores da região. O produtor investe menos e tem um risco menor devido à boa tolerância à seca, o que faz do feijão-caupi uma ótima opção para a safrinha”, analisa José Ângelo.
Novo mercado
Uma cultivar lançada pela Embrapa no ano passado, a BRS Imponente, é outra promessa de aumento da produção. Com grãos extra grandes, o material atende a uma demanda do mercado internacional e será uma nova opção para os agricultores.
“A BRS Imponente está na fase de produção de sementes. É uma demanda que veio do setor de comercialização. Eles queriam um grão grande. Ela não está substituindo outras cultivares, é um novo mercado que está sendo aberto. É importante para diversificação, aumentando as opções para o produtor, explica o pesquisador José Ângelo.
Feijão mungo verde
O contato entre o programa de melhoramento da Embrapa Meio-Norte com o setor de comercialização estabelecido na cultura do feijão-caupi também tem expandido o interesse por outros pulses. Em 2014, o programa de melhoramento da Embrapa Meio-Norte começou a fazer testes com vinte linhagens de feijão mungo verde (Vigna radiata) nos estados do Piauí e de Mato Grosso. A espécie é muito consumida na culinária oriental na forma de broto de feijão (moyashi) ou em grãos.
Para acelerar o processo de pesquisa, um dos parceiros exportadores de pulses ajudou no processo de escolha das linhagens disponíveis no banco de germoplasma que seriam estudadas. Com isso, o trabalho de campo já começou restrito às sementes com as características que interessam ao mercado internacional.
De acordo com o pesquisador José Ângelo Menezes Júnior, os resultados das primeiras avaliações em Mato Grosso são animadores, com materiais produzindo bem, com boa qualidade de grão, boa arquitetura de planta e, o mais interessante, com ciclo produtivo curto. Algumas linhagens produzindo em cerca de 65 dias.
As pesquisas ainda estão em fase inicial, mas a previsão é de lançamento de cultivares de mungo verde já nos próximos anos.
Atualmente não há no mercado cultivares de feijão mungo verde com recomendação de cultivo para Mato Grosso.
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