Cutrale investirá R$500 mi em laranja no MS, diz governo; CitrusBR vê nacionalização do setor

Publicado em 21/03/2024 10:26 e atualizado em 22/03/2024 07:22

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) -O grupo Cutrale, um dos líderes globais na produção e exportação de suco de laranja, investirá 500 milhões de reais no plantio de 5 mil hectares da fruta na divisa de Campo Grande com Sidrolândia (MS), em movimento que marca a expansão da indústria citrícola para regiões do Brasil com menor pressão da devastadora doença greening.

A informação foi divulgada pelo governo de Mato Grosso do Sul na noite de quarta-feira, indicando que a indústria do Brasil, maior produtor e exportador de suco de laranja, está buscando alternativas para lidar com a doença citrícola.

Procurada, a Cutrale disse à Reuters que "confirma que esteve reunida com o governo do Mato Grosso do Sul para tratar de investimentos na citricultura da região".

"A empresa não tem informações a adicionar, além das que já foram veiculadas pelas autoridades governamentais sobre o assunto em referência", acrescentou. Não ficou claro o prazo para a implantação do projeto.

Segundo avaliação do diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, o movimento mostra que a indústria de suco de laranja vai se tornar cada vez mais nacional. Atualmente, o setor tem a maioria de suas indústrias no Estado de São Paulo, disparado o maior produtor da fruta do país.

"Dá para pensar que vai ter um movimento da cadeia do suco de laranja, que vai se tornar mais nacional e menos centrada no Estado de São Paulo", disse.

Segundo o executivo, investir em novos pomares em áreas com o greening é muito arriscado, pois a doença se espalha rápido. "Por isso que vai ser cada vez mais comum investimentos em áreas mais distantes", completou.

O greening se espalhou como nunca nos pomares do Brasil no ano passado, e a principal região produtora da fruta do país (São Paulo e Minas Gerais) pode ver sua safra levar um tombo de cerca de 25% ao final de uma década, considerando o pior cenário de infestação da doença, segundo modelo estatístico elaborado por integrantes do Grupo de Consultores em Citrus (Gconci) e da consultoria Agriplanning, conforme reportagem da Reuters.

Neste contexto, a Cutrale investirá em um plantio 1,73 milhão de pés de laranja irrigados, "garantindo o nível de produção que viabilizaria a instalação de uma futura indústria de processamento da laranja em suco", disse em nota a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Como as principais indústrias de suco estão instaladas em São Paulo, pode não ser econômico transportar as frutas até a tradicional área produtora, por isso pode haver uma eventual necessidade de se construir uma indústria processadora em Mato Grosso do Sul. A Cutrale não comentou.

Por outro lado, o plantio seria instalado em uma região de menor pressão do greening, doença da citricultura que não tem cura e que reduz a produtividade, um dos fatores da redução da produção de laranja no Brasil, mas principalmente nos Estados Unidos, o que tem levado os preços globais do suco para recordes.

"Identificamos que existia essa oportunidade de que essa laranja pudesse ser produzida em Mato Grosso do Sul, exatamente em função do greening", afirmou o secretário de Desenvolvimento, Jaime Verruck. "Nos próximos meses, vamos assinar um termo de acordo com a Fundecitrus, para desenvolver a cadeia produtiva da laranja em Mato Grosso do Sul", acrescentou.

Segundo o consultor Mauricio Mendes, sócio da Agriplanning e integrante do Gconci, um novo projeto de produção de laranja levaria de três a quatro anos para a empresa obter as primeiras safras.

"Mas o volume necessário para viabilizar uma indústria, se ela for implementada, demoraria sete a dez anos, dependendo de quanto plantar", explicou.

MENOR PRESSÃO

O pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi disse à Reuters que o greening já foi relatado em Mato Grosso do Sul em 2019, mas que a menor pressão da doença lá pode favorecer o desenvolvimento de um projeto de citricultura.

"Não é um Estado livre de greening. A doença está começando, e os municípios que encontraram a presença da doença são os da fronteira com Estado de São Paulo, na região noroeste. A maior parte ainda está em pomares não comerciais", afirmou.

Segundo ele, "hoje a expansão no Mato Grosso do Sul é uma fuga do produtor das regiões mais contaminadas".

"Iniciando com um pomar em lugares livres da doença, adotando o manejo correto, com rigor no controle do psilídeo (inseto transmissor da bactéria causadora da doença), não deixar aumentar as plantas doentes e eliminá-las desde o início, isso certamente vai facilitar o controle do greening nessa região."

"A pressão é menor, pois não tem o mesmo índice de greening, psilídeo e plantas contaminadas, como no cinturão citrícola, isso vai favorecer o manejo", completou.

Ele disse ainda que em Mato Grosso do Sul a situação climática ajuda, já que nas temperaturas altas do Estado, "de acordo com as nossas pesquisas, a bactéria não se desenvolve bem".

Segundo o pesquisador, em Mato Grosso do Sul os produtores precisam ter atenção com a disponibilidade de água, por conta do calor e temperatura mais alta, o que exigirá propriedades irrigadas.

OUTROS INVESTIMENTOS

Em paralelo a essas ações, o governo do Mato Grosso do Sul afirmou que iniciou contato com os investidores de São Paulo, na área da laranja.

O secretário lembrou que a Cutrale já havia iniciado, há cerca de dois anos, o plantio de 145 hectares em Sidrolândia, a fim de verificar como seria o comportamento dos pomares.

O secretário disse que o movimento da Cutrale "foi importantíssimo, porque nós fechamos há poucas semanas um projeto de 1 mil hectares de laranja irrigada no município de Paranaíba e temos outro iniciando em Santa Rita do Pardo".

Ele não divulgou o nome dos investidores. Além da Cutrale, o setor é concentrado em grandes empresas como a Citrosuco e a Louis Dreyfus Commodities.

"Nesse momento, nós temos a sinalização de praticamente 6,5 mil hectares de laranja plantada em Mato Grosso do Sul, em sistema irrigado."

Verruck opinou que "a citricultura vai bem nas áreas mais arenosas, com menor teor de argila e isso é importante". "Como a laranja está vindo com sistemas de irrigação, nós temos aí uma perspectiva de investimentos altos, mas com alta produtividade", disse ele, lembrando que tais projetos terão prioridade no financiamento via fundo constitucional.

(Por Roberto Samora; edição de Letícia Fucuchima e Pedro Fonseca)

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Fonte:
Reuters

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