Inflação segue elevada, mas entrará "em longo período de declínio" em 2015, diz BC

Por Patrícia Duarte
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central vê a inflação brasileira subindo no curto prazo e seguindo em alta em 2015, sob a pressão do câmbio e dos preços administrados, mas ainda no próximo ano ela inicia um "longo período de declínio", indicando que o atual ciclo de aperto monetário pode não ser tão forte quanto os vistos no passado.
Por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC justificou a decisão da semana passada de acelerar "neste momento" a alta da Selic a 0,5 ponto percentual, para 11,75 por cento ao ano, argumentando que o balanço de riscos para a inflação está "menos favorável".
Mas repetiu que os efeitos cumulativos e defasados da política monetária sustentam a visão de que o "esforço adicional" deve ser feito com "parcimônia". Na semana passada, boa parte dos especialistas havia entendido que o BC deixara em aberto a possibilidade de voltar a desacelerar em breve o aperto.
Isso porque, na avaliação deles, o BC está à espera de sinais concretos de como será a política fiscal da nova equipe econômica, formada por Tombini e os ministros indicados Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento).
O novo ciclo de aperto começou em outubro passado, quando o BC elevou a Selic em 0,25 ponto percentual.
"Está em aberto o próximo aumento (da Selic, em janeiro), mas parece que o tamanho do ajuste total não vai ser muito forte", afirmou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, para quem o BC elevará a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual no próximo encontro do Copom e, em seguida, fará outra de 0,25 ponto, levando a Selic a 12,50 por cento no final do ciclo de aperto.
No mercado futuro de juros, segundo dados da Reuters, as apostas majoritárias são de que a Selic será elevada em 0,5 ponto no próximo mês.
As colocações na ata repetem parte do discurso feito por Tombini na terça-feira em audiência pública no Congresso Nacional, quando já havia dito que a inflação continuaria pressionada nos próximos meses, mas que o BC trabalha para colocá-la em trajetória de convergência para o centro da meta até final de 2016.
Pela ata, o Copom também defendeu que a política fiscal tende a ir para a "zona de neutralidade" em termos inflacionário, mas não descarta que possa ir para "a zona de contenção fiscal".
Tombini já havia dito que a meta de superávit primário de 2015, recentemente anunciada, é neutra ou "ligeiramente contracionista". "Quanto mais apertada a política fiscal, tanto melhor para a autoridade monetária", afirmou ele nesta semana.
A futura equipe econômica informou que a nova meta ajustada para o superávit primário de 2015 é equivalente a 1,2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e levou em consideração projeções feitas pelo mercado para a economia.
Pela ata, o BC também deixou claro que conta com a política fiscal mais apertada, incluindo menos repasses a bancos públicos para não afetar o endividamento do país, já sinalizada pela nova equipe econômica.
"(São) oportunas iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito; além disso, atribui elevada probabilidade a que ações nesse sentido sejam implementadas no horizonte relevante para a política monetária", traz a ata.
INFLAÇÃO
O BC não piorou suas projeções de inflação pela ata do Copom, mas ainda continuaram elevadas. Sem citar números, pelo cenário de referência, informou que a conta sobre a inflação reduziu em 2014 e manteve-se "relativamente estável" em 2015, mas se encontram acima do centro da meta --de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
E repetiu que, nos três primeiros trimestres de 2016, "apesar de indicarem que a inflação entra em trajetória de convergência", as projeções também estão acima da meta.
O IPCA acumulou alta de 6,56 por cento em 12 meses até novembro, acima do teto da meta oficial.
O BC voltou a repetir que os preços relativos --câmbio e preços administrados-- continuam pressionando a inflação. A autoridade monetária manteve a estimativa de alta de 5,3 e 6 por cento dos preços administrados em 2014 e 2015, respectivamente, mas elevou a conta de 2016 a 5,2 por cento, frente aos 4,9 por cento anteriores.
Para a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro, pela ata o BC sinalizou que não vê necessidade de a Selic ficar tão alta e, por isso, acredita que já em janeiro, a intensidade da alta da taxa vai ser reduzida, a 0,25 ponto percentual, encerrando o atual ciclo de aperto.
Uma alta mais forte do dólar sobre o real poderia mudar o cenário de "parcimônia" do BC, avaliam os especialistas, pressionando a inflação ainda mais.
Só entre setembro e novembro, o moeda norte-americana mostrou valorização de quase 15 por cento sobre o real e, no ano, acumulava alta de quase 11 por cento até quarta-feira.
Sobre atividade, o Copom repetiu que o crescimento neste ano será menor do que em 2013, mas tende a entrar em trajetória de recuperação no segundo semestre do próximo ano.
(Com reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília)
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