No G1: O que Dilma não disse, mas poderia falar sobre a crise hídrica, por André Trigueiro

Publicado em 26/01/2015 11:21
André Trigueiro fala sobre sustentabilidade e meio ambiente

"Minhas amigas e meus amigos,

Como se sabe, o Brasil vem enfrentando uma das piores estiagens de sua história, especialmente na região Sudeste, a mais rica e populosa do país.

Acompanhamos de perto a evolução dos acontecimentos nos estados e municípios castigados pela seca, sempre respeitando a autonomia federativa que confere a governadores e prefeitos, dependendo da localidade, a gestão dos recursos hídricos. 

De nossa parte, monitoramos a situação dos rios federais que atravessam mais de um estado, como é o caso do Paraíba do Sul, que corta os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. 

Apesar de o país dispor de uma Lei Nacional de Recursos Hídricos, da Agência Nacional de Águas, dos Comitês de Bacias Hidrográficas e de outros instrumentos de gestão e governança, este governo entende que é preciso fazer mais. Nesse sentido, a atual crise hídrica representa uma excelente oportunidade para avançarmos ainda mais na direção de um modelo mais inteligente e eficiente de gerenciamento de recursos hídricos.

Decidimos, portanto, tomar as seguintes providências:

- Estou instituindo um Conselho de Notáveis com os mais prestigiados hidrologistas, cientistas e representantes das mais importantes instituições de pesquisa e universidades brasileiras (com pessoas de todos os estados) para que possam instruir o governo sobre como tornar o Brasil não apenas o país com o maior volume de água doce superficial de rio do mundo, mas também o mais eficiente no uso dessa água. Nosso compromisso é o de ampliar este debate com consultas públicas e trabalhar pela implementação das medidas sugeridas ainda este ano. 

- Instruí o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, a convocar representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Agência Nacional de Águas (ANA) para que reapresentem as críticas formuladas por essas instituições contra o novo Código Florestal, no que se refere aos riscos que ele representaria às bacias hidrográficas. Em se confirmando que as alterações aprovadas pelo Congresso no texto original dessa lei carecem de estudos devidamente embasados sobre o seu impacto na resiliência dessas bacias, meu compromisso é o de mobilizar todos os esforços possíveis no sentido de reabrir o debate e, se for o caso, defender uma nova mudança na legislação.

- Ordenei ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que apresente no prazo de uma semana propostas de novos estímulos fiscais a produtos e serviços que promovam a drástica redução do consumo de água e energia nos mais diversos setores da economia. É preciso elevar os parâmetros já existentes e apoiar quem já investe em inovação.

- Determinei à ministra da Agricultura Kátia Abreu que realize um amplo levantamento das técnicas mais eficientes no uso de água pelo setor agrícola. Aproximadamente 70% das águas doces em nosso país são usadas nas lavouras, nem sempre com o devido cuidado ou orientação. O Brasil não pode continuar promovendo o uso perdulário de água nas irrigações com a utilização de pivô central, aspersores ou culturas de inundação, para citar apenas alguns exemplos de técnicas que já estão sendo abandonadas em muitos países. Há muito o que se avançar neste setor e pretendo ainda neste governo condicionar a concessão de crédito agrícola à eficiência no consumo de água no campo.

- Encomendei ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, um estudo identificando quais os empreendimentos que mais consomem energia elétrica hoje no país. Nossa intenção é condicionar a liberação de recursos públicos, via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou outros órgãos de fomento públicos, à apresentação de planos que confirmem a disposição desses setores em serem exemplos de eficiência e inovação. 

- Declaro que este governo apoiará ostensivamente a ampla disseminação da água de reúso em todo o território nacional. Instruí o diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, a realizar os esforços necessários para a tão esperada regulamentação técnica da água de reúso, definindo seus parâmetros e características para que não haja mais nenhuma hesitação do mercado em investir nessa direção. Queremos apoiar todas as atividades que utilizem água de reúso em suas rotinas. 

- É nosso desejo que todas as companhias públicas ou privadas de água e esgoto no país sejam mais eficientes. Não é possível que registremos em média 37% de perdas de água potável nas redes, desperdiçando preciosos recursos públicos. Para estimular a maior eficiência do setor, pretendemos condicionar a liberação de recursos federais à redução dessas perdas no sistema. Acertaremos caso a caso quais são as metas possíveis e aplicaremos as novas regras de financiamento.

- Este governo deverá encaminhar ao Congresso, logo após a votação para a Presidência da Câmara e do Senado, um projeto de lei determinando a criação de linhas especiais de crédito para todas as construções que sejam comprovadamente eficientes no consumo de água e energia elétrica, e que possuam certificações reconhecidas internacionalmente.

Encerro meu pronunciamento reconhecendo que esta terrível estiagem nos estimula a sermos ainda mais propositivos na Conferência do Clima, que terá lugar em dezembro em Paris. Infelizmente, ao que tudo indica, eventos extremos como esse poderão ser tornar cada vez mais frequentes em função das mudanças climáticas. Mas é meu dever, enquanto Chefe de Estado da maior potência "mega biodiversa" do planeta, preparar o país para qualquer um dos cenários previstos pelos cientistas. Sinto-me pronta para esta missão. 

Convoco todos os brasileiros a unirem forças em favor das nossas águas – o bem mais precioso e indispensável à vida, sem o qual nenhuma atividade humana é possível – que a natureza generosamente nos proporcionou e que mantêm o Brasil em condição ainda invejável perante o mundo neste século XXI.

Boa noite."

OBS: A Presidente Dilma não escreveu esse discurso. Mas neste momento em que a crise hídrica impacta uma população estimada de 46 milhões de brasileiros, qualquer manifestação propositiva da maior autoridade da República seria muito bem-vinda.  

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Fonte:
G1

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4 comentários

  • Antonio Carlos Nogueira Fortaleza - CE

    Há mais de dois anos os governos estaduais e o governo federal vem recebendo criticas da inercia para administrar o setor energético e hídrico e vem empurrando com a barriga. No ministério de minas e energia colocou um politico que não entende nada do setor e as agencias reguladoras foram politizadas e atendem interesses do partido no poder. Infelizmente a vaca foi pro brejo e até brejo está secando e agora tira-la é tarefa complicada e os novos ministros nomeados são fraquíssimos com exceção da fazenda e do ministro de desenvolvimento. O Aécio se livrou de um abacaxi construído em 8 anos de governo do PT e mudanças somente em 2018. Até lá vamos sofrer com falta de agua, falta de energia e encarecimento dos custos repassados a todos brasileiros. O custo da utilização de agua é barato e a forma imediata de reduzir o consumo é aumentar as tarifas e infelizmente isso será repassado nos preços e portanto gerando mais inflação e não vejo disposição nessa administração.

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  • Luiz de Santana Junior Aracaju - SE

    Poderia não só ter escrito, mas feito muito para que sequer notássemos o flagelo que a seca pode provocar na região mais rica de nossa querida nação, os prejuízos já são incalculáveis e deverão se multiplicarem, tudo por falta de planejamento e visão futurista não só da Presidenta, como de seus antecessores com políticas de falso respeito aos eco terroristas, no que diz respeito à construção de barragens e adutoras e uso de nossas florestas, falta de incentivo que poderiam vir até com isenções de impostos para que mais empresas nacionais ou estrangeiras invistam e desenvolvam tecnologias de produção de energia tanto solar quanto eólica, forçando ao menor consumo de água das hidroelétricas e reservatórios nacionais.

    A maior seca e a maior cheia estão por vir, ninguém sabe quando (isso é bíblico), por isso a melhor política é a do trabalho sério, deixando a politicalha de lado e priorizando e amparando a capacidade laborativa que o brasileiro têm.

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Dizem que a DilmANTA disse isto: "Instruí o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, a convocar representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Agência Nacional de Águas (ANA) para que reapresentem as críticas formuladas por essas instituições contra o novo Código Florestal, no que se refere aos riscos que ele representaria às bacias hidrográficas. Em se confirmando que as alterações aprovadas pelo Congresso no texto original dessa lei carecem de estudos devidamente embasados sobre o seu impacto na resiliência dessas bacias, meu compromisso é o de mobilizar todos os esforços possíveis no sentido de reabrir o debate e, se for o caso, defender uma nova mudança na legislação."

    Cabe-nos desde já arrumar munição e homens inteligentes como o Prof. Molion, Prof. Ricardo Felício e outros para contestar esta corja de ambientalóides.

    Como é que pode, fazem poucos dias que o nosso desafeto maior,Carlos Nobre do IPCC disse textualmente que não se pode afirmar que o aquecimento global causou a escassez de chuvas sobre São Paulo. Fique alerta!

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  • wilfredo belmonte fialho porto alegre - RS

    Um estadista tem planos de futuro e, não de governo. A décadas as maiores "cabeças" do país já diziam que a exploração predatória de nossas florestas, o desmatamento sem "noção" iriam no futu

    ro trazer problemas para o abastecimento de águas, além de que a "politicagem" que a nossa instruída classe política fez com a questão de saneamento básico, questão que veio a impactar a inda mais a qualidade das águas devido a falta de saneamento básico. A nossa "instruída classe política nunca gostou de obras de saneamento pois estas não davam visão. Cano enterrado não

    dava votos. Aquí na região de Porto Alegre temos o caso clássico do Rio do Sinos e do Rio Gravatai

    este último parece mais com água de esgoto do que qualquer outra coisa. E, olha que o PT administrou o estado por diversas ocasiões. Mas, na questão precisa do sudeste, a maior causa das

    secas tem tudo a ver com o desmatamento na "amazônia legal" pois, a transpiração das florestas são as responsáveis pela formação de nuvens, por isto da expressão "rios aéreos" ou seja massas

    de vapor dágua deslocadas na atmosfera. Devastou-se milhões de hectares para criar gado e plantar soja e, agora todo o dinheiro ganho com estas monoculturas, deve ser gasto o triplo para tentar recuperar o que foi destruído. Não há outra solução ou diminui-se a população nestes centros urbanos, ou mude-se completamente os hábitos de consumo de águas e energia. Um estadista conclamaria a população a arregaçar as mangas e tomar participação em ações que

    irão demandar até gerações para mudar um "desastre" provocado por governos descompromissados com o futuro pois, o que vale é o "partido" se manter no poder e, o Sol tapamos com a peneira e, os problemas empurramos com a barriga ou varremos para debaixo

    do tapete. Só que a população está antenada e, se não tomarem atitudes sérias, as passeatas retornarão mas aí será por algo muito sério, vital, que é a falta de água e energia. Quem viver

    vera. Mandem este discurso para a Presidenta Dilma, talvez um dos neurônios dela tome ciencia

    do conteúdo e tenha capacidade de interpretá-lo.

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