EL País: “No Brasil, o Estado é demonizado e o mercado é o reino de todas as virtudes”, diz presidente do Ipea

Publicado em 21/11/2015 07:14 e atualizado em 23/11/2015 07:31
Presidente do Ipea, o sociólogo Jessé Souza questiona as bases do pensamento nacional

O sociólogo Jessé Souza lidera desde o início do ano, quando assumiu a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – na esteira da polêmica eleitoral do atraso da divulgação de uma pesquisa sobre miséria –, um levantamento que se propõe a fazer uma “radiografia do Brasil contemporâneo”. A pesquisa, que deve começar a apresentar resultados em setembro do próximo ano, faz parte de um esforço geral do Ipea para compreender melhor quem é o brasileiro e colaborar para a avaliação de políticas públicas que pretendem melhorar a vida da população.

Na radiografia, os pesquisadores pretendem analisar a composição social do país para além dos índices econômicos, como costuma fazer o instituto, e levar em conta questões como “socialização e o capital cultural”, conceitos que Souza explora no livro A Tolice da Inteligência Brasileira, a ser lançado neste mês. Na obra, o sociólogo questiona conceitos basilares do pensamento brasileiro, como o patrimonialismo e o “homem cordial”, e diz que nossa ciência social está baseada em mitos infundados criados e promovidos por pensadores como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.

Pergunta. Em que pé está a radiografia que pretende "estabelecer uma nova divisão de classes no Brasil"?

Resposta. Pretendemos ter um apanhado geral em seis meses, fechado em março. Até setembro do próximo ano, já vamos entrar em questões concretas, ao avaliar programas específicos. Além do MEC [Ministério da Educação] e do MDS [Ministério do Desenvolvimento Social], também trabalhamos com a Secretaria da Juventude em São Paulo, com um estudo sobre o jovem da periferia. Mas a radiografia é apenas uma das nossas pesquisas. Temos uma agenda estratégica, que é uma tentativa do Ipea de fornecer elementos ao Governo para guiar e orientar a estratégia pós-ajuste fiscal. Queremos montar uma inteligência que possa dizer em tempo real o que está acontecendo em cada grande projeto e como ele pode ser corrigido ainda na feitura. Estamos montando convênios e cooperações para analisar os programas profissionalizantes, como o Pronatec, estudar a política de apoio à entrada nas universidades públicas e contribuir com o PNE [Plano Nacional de Educação].

P. Vocês estão atrás de que tipo de informação?

R. As classes normalmente são percebidas como construídas a partir da sua renda. Isso não é verdade, porque não é o bastante para antecipar o comportamento das pessoas, como estudam, agem, como montam suas vidas. É isso o que importa saber, tanto para o mercado quanto para o Estado. E você não consegue antecipar o comportamento das pessoas pela renda. Um exemplo óbvio é o do professor universitário em início de carreira, que ganha 8.000 reais, e o trabalhador qualificado da Fiat, em Betim [MG], que ganha mais ou menos isso. É mínima a probabilidade de que essas pessoas tenham comportamento semelhante, de que lidem na família do mesmo modo, tenham estilos de vida semelhantes, com padrões de consumo e lazer semelhantes, uma concepção de mundo semelhante. O tipo de educação, de socialização familiar e escolar vão montar tipos de pessoas muito distintas, com escolhas muito distintas, embora recebam uma renda semelhante.

P. Como a socialização familiar influencia o rumo da vida desses brasileiros?

R. Os estímulos ao pensamento abstrato só existem na classe média. O estímulo à concentração na leitura só existe na classe média; a valorização das coisas do espírito. Na classe baixa, o filho do pedreiro está brincando com o carro de mão. Está sendo estimulado para ser trabalhador manual, e não para refletir. Dois tipos de pessoas muito distintas, e numa sociedade onde o grande elemento é o espírito, é o conhecimento. Além do capital econômico, o que vai definir a luta por recursos escassos é o conhecimento.

Na classe baixa, o filho do pedreiro está brincando com o carro de mão. Está sendo estimulado para ser trabalhador manual, e não para refletir

P. Nosso Estado ainda não tem noção de quem é o brasileiro?

R. Não só o Estado, mas a sociedade brasileira não tem esse conhecimento ainda. É sempre algo aproximado, e a gente quer contribuir para isso criando um novo elo para além desses dados. Estamos unindo, em um estudo inédito, o dado quantitativo a dados qualitativos, mas qualitativo crítico, que não interpreta a fantasia das pessoas sobre elas mesmas como a verdade. A gente quer descobrir quais são as necessidade e carências desse brasileiro, e também os seus sonhos, e não as fantasias que ele monta sobre si mesmo para continuar vivo. A gente quer saber o que falta para construir uma inteligência institucional mais sofisticada, que se adapte melhor a esse público.

P. É por conta desses conceitos que você questiona os dados que indicam redução nas desigualdades do país nos últimos anos?

R. Houve uma histórica e importante inflexão no Governo Lula, algo que não acontecia há 60 anos, porque o Brasil foi, desde o Golpe 1964, um país feito para a minoria, para 20%. É algo que havia acontecido apenas com Getúlio Vargas e Jango [João Goulart]. Jango quis, no fundo, aprofundar as mudanças que Getúlio tinha procurado estabelecer, que tem a ver com o fato de que o Estado deveria ser também dos pobres, da maioria da população brasileira historicamente esquecida. Não vejo um fato mais importante nos últimos 60 anos do que porções significativas dos nossos excluídos tiveram uma ascensão social significativa, não só no consumo, mas em acesso à escola, a serviços estatais importantes. Essa é a grande herança que vale a pena se lutar para ser mantida e aprofundada. Longe de negar que houve esse combate à desigualdade, a gente quer ajudar a combater ainda melhor essa desigualdade.  

Leia a notícia na íntegra no site do El País Brasil.

 

Ipea produz mais uma cantilena para ninar bandidos (por REINALDO AZEVEDO)

 

No ano passado, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), aquele órgão do governo que mantém uma sucursal na Venezuela e sustenta que o modelo econômico de Nicolás Maduro é viável e progressista, divulgou uma pesquisa estarrecedora, que fazia dos brasileiros potenciais estupradores de mulheres, incluindo as… mulheres. Segundo o IPEA, 65,1% concordavam com a frase de que uma saia curta justificava ataques a suas portadoras.

Foi um fuzuê. Notei, então, que, para que fosse verdade, a quase totalidade dos homens tinha de concordar com aquilo, claro!, mas também um número expressivo de mulheres. Bem, não era verdade. O Ipea se corrigiu. Era um erro. Só 26% concordavam com a afirmação.

Como notei à época em que se divulgou o número escandaloso, ele era incompatível com outros, revelados pela própria pesquisa: 91,4% concordavam total (78,1%) ou parcialmente (13,3%) que homem que bate na própria mulher tem de ser preso. Nada menos de 70% discordavam total (58,4%) ou parcialmente (11,6%) da tese de que mulher que é agredida e fica com o marido gosta de apanhar. Enormes 81,1% discordavam total (69,8%) ou parcialmente (12,3%) da afirmação de que a mulher que apanha deve se calar para preservar os filhos. Mesmo diante de tais dados, o Ipea não percebeu que seus números sobre a minissaia estavam errados.

E por que não? Porque existe uma diferença entre pesquisar e descobrir o que está na realidade e torcer os dados para adaptar essa realidade a uma tese.

Agora vem a público um novo estudo do Ipea. Segundo informa a VEJA.com,  o instituto aponta que “o Brasil continuará apresentando altas taxas de violência até 2023. A perspectiva se baseia em uma lista de ‘tendências que dificilmente serão revertidas’ em oito anos, como a alta desigualdade social, o fácil acesso a arma de fogo, o avanço da criminalidade no interior do país, a baixa confiança na polícia, o problema de governança na segurança pública, entre outros motivos. A consideração foi feita no relatório intitulado de ‘Violência e segurança pública em 2023: cenários exploratórios e planejamento prospectivo’, divulgado nesta segunda-feira.”

Bem, o problema já está dado no enunciado, que atribui como principais causas da violência a desigualdade social, o fácil acesso à arma de fogo, a baixa confiança na polícia etc.

Notem o método da pesquisa: os doutores selecionam aqueles que acreditam ser o fatores que induzem a violência, afirmam que eles não serão brevemente corrigidos e, com base nisso, tiram suas conclusões. Bem, e por que assim seria até 2023, quando haveria estagnação ou reversão? Bem, vai ver aqueles fatores passarão por alterações.

É uma falácia em sentido técnico: trata-se de uma conclusão verossímil com base em raciocínio falso. A violência no Brasil explodiu no Nordeste, região do país que mais cresceu nos últimos dez anos e onde se diz ter havido redução da desigualdade. O Ipea está obrigado a provar em que medida a desconfiança na ação da polícia – que coisa boa não é – faz aumentar a criminalidade. Se os indivíduos sitiados pelo crime nos morros do Rio, por exemplo, confiassem mais na polícia, conseguiriam se libertar de seus algozes? Como?

Calma! O estudo tem um objetivo: produzir proselitismo. Informa a VEJA.com:
“O estudo também conclui que o endurecimento da legislação penal, diante das medidas que vem sendo propostas no Congresso, não deve diminuir o índice de criminalidade. ‘A opção por uma política mais repressiva, punitivista e encarceradora (…) e maior utilização da prisão pode diminuir a nossa liberdade e aumentar a exclusão, sem reduzir as taxas de criminalidade’, diz o texto. O relatório também ressalta que a repressão policial direcionada à população mais vulnerável cria ‘um sentimento generalizado de injustiça’, o que afasta a polícia dessas comunidades. O Ipea também critica o que chama de “encarceramento em massa”, dizendo que esse processo ‘facilita o recrutamento do jovem no negócio do crime organizado, além de permitir um aprendizado das tecnologias criminosas, cujo resultado retorna às ruas’”.

O vocabulário é típico do sociologês mixuruca na esquerda bocó. Se a política mais repressiva não é boa, então a menos há de ser. Aí é preciso provar. Vejam no que deu a política de segurança pública do Rio, que:
a: não investiu na punição;
b: não investiu no encarceramento;
c: investiu na integração da polícia à comunidade sem reprimir o pequeno tráfico.

Quem disse que há uma política “encarceradora” no Brasil? A ideia de que se prende demais no país é uma piada grotesca. Que, de resto, desafia a realidade: a taxa de homicídios nos estados brasileiros é inversamente proporcional à de presos. Ou por outra: nos Estados em que se prende mais, mata-se muito menos; nos Estados em que se prende menos, mata-se muito mais. O Mapa da Violência deixa isso muito claro, com um desvio ou outro da evidência, que só confirma a relação inversamente proporcional entre uma coisa e outra.

O estudo do Ipea não serve pra nada. É pura ideologia rombuda. Segundo consta, foi produzido com a participação de pesquisadores do instituto e com a colaboração do Ministério da Justiça. Pé de jaca não produz maçãs, não é mesmo?

O petismo não tem como explicar a carnificina em que se transformou o país em sua gestão e agora busca culpar aqueles que acham que lugar de bandido é na cadeia.

Bem, não me estranha que muitos deles possam achar que lugar de bandido é no governo, nas estatais, nos ministérios e concedendo entrevistas sobre o nosso futuro. O Ipea deveria estudar o impacto que a roubalheira oficial tem na formação da moralidade média do brasileiro.

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Fonte:
El País Brasil +Reinaldo Azevedo

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