"Nunca antes neste País": Ser chamado de covarde por Renan Calheiros é o último prego no caixão da dignidade do presidente do PT

Publicado em 27/11/2015 07:59 e atualizado em 28/11/2015 08:10
por CLÓVIS ROSSI, na FOLHA DE S. PAULO (leia também o editorial da FOLHA deste sábado)

 

Nunca antes neste país

Por CLÓVIS ROSSI, (artigo na FOLHA DE S. PAULO deste sábado)

O primeiro choque viera na quarta-feira, 25, ao ver na capa da Folha o pecuarista José Carlos Bumlai sendo levado preso pela Polícia Federal.

Como é possível que, em pleno Brasil, não adianta um amigo do rei (no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) gritar "sabe com quem está falando?"? Vai preso assim mesmo.

Um pulo para trás: idêntico choque já ocorrera quando da prisão de executivos e proprietários de algumas das maiores empreiteiras do país –eles que são, sempre, amigos do rei, seja qual for o rei e seja qual for o país.

Mas foram tantas as prisões que eu já estava anestesiado quando veio o episódio Bumlai.

Nem deu tempo para uma nova injeção de anestesia e veio o choque definitivo: um banqueiro preso, junto com um senador em pleno exercício do mandato, ainda por cima líder do governo no Senado.

  Pedro Ladeira - 25.nov.2015/Folhapress  
O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que foi preso pela PF nesta quarta (25)
O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que foi preso pela PF nesta quarta (25)

Nunca antes neste país houve algo parecido. E eu achava que morreria sem ver.

Também não achava que veria a decomposição ética do Partido dos Trabalhadores. Nunca antes na história deste país tantos dirigentes de um mesmo partido –ainda por cima do partido do governo– foram presos e condenados como está acontecendo com o PT.

Uma vez, muitos anos atrás, Lula almoçou na Folha e, já no cafezinho, pousou o braço nos ombros de Octavio Frias de Oliveira, então o publisher do jornal, e disse:

"Frias, você ainda vai se orgulhar desse petezinho", como se o publisher fosse um companheiro que Lula tivesse conhecido nas greves do ABC.

Frias morreu sem ter tido tempo de se envergonhar, em vez de se orgulhar, desse petezinho.

Afinal, não há diagnóstico mais preciso, até pela melancolia e pela poesia, do que o da ministra Carmen Lúcia do STF, em seu comentário sobre a prisão de Delcídio.

Depois de dizer que houve um momento em que a maioria dos brasileiros acreditou que a esperança vencera o medo, completou: fatos posteriores (alusão ao mensalão) demonstraram que "o cinismo venceu a esperança" e, agora, "o escárnio venceu o cinismo".

É tamanho o escárnio que o presidente do PT, Rui Falcão, tem a cara de pau de soltar nota para dizer que "nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado".

OK, Rui, vamos fingir que acreditamos que Delcídio do Amaral acordava, vestia o terno de senador, participava das atividades inerentes ao posto, depois voltava para casa, trocava o terno por um uniforme de trambiqueiro (existe?) e, já sem a estrelinha vermelha no peito, partia para as maracutaias que o levaram para a cadeia "em flagrante".

Ridículo, Rui. Ou "covarde", por abandonar um companheiro na desgraça, como fizeram questão de dizer o presidente do Senado, Renan Calheiros, e reafirmar o senador Omar Aziz.

Ser chamado de covarde por Renan Calheiros é o último prego no caixão da dignidade do presidente do PT.

Também não adianta a tentativa de desvincular o senador do governo do qual é líder. Afinal, a mídia internacional deixa claro, como o fez Vinod Sreeharsha, no "The New York Times" de quinta-feira, 26:

"A prisão de Amaral tende a complicar os esforços [de Dilma] de governar e levar adiante propostas econômicas, incluindo medidas impopulares de austeridade, por meio do Congresso".

Mais: o jornal cita nota do Grupo Eurasia, da mesma quarta-feira em que Delcídio foi preso, na qual diz que o risco de que Dilma não termine o seu período de governo subiu para 40%.

Já no "Financial Times", o correspondente Joe Leahy aponta outro "bunker" afetado pela prisão, neste caso do banqueiro Esteves:

"A prisão do sr. Esteves traz o escândalo pela primeira vez para o sofisticado distrito financeiro da avenida Faria Lima, em São Paulo, onde muitos da nova casta de bancos de investimento do setor privado têm seus QGs".

(O francês "Le Monde", a propósito, copia da mídia brasileira a informação de que Esteves é a 13ª fortuna do país).

É uma pena que Lula não possa usar seu bordão favorito e dizer que "nunca antes na história deste país" a elite foi parar na cadeia, inclusive (ou principalmente) seus amigos, correligionários e financiadores.

 

EDITORIAL da folha de s. paulo:

Crise sem fim

Dado seu impacto e ineditismo, a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) ofuscou, ao menos por uns dias, outras fontes de turbulência no cenário político.

Não se pode desprezar, contudo, uma sequência de acontecimentos que é capaz de impor novas dificuldades à sobrevivência do esquema de corrupção e desgoverno criado em torno do PT.

Um dia antes de estourar o caso Delcídio, era preso um amigo do ex-presidente Lula –o pecuarista José Carlos Bumlai, por envolvimento na contratação suspeita de um navio-sonda para a Petrobras. Ele alega ter recebido do lobista Fernando Baiano um "empréstimo" de R$ 12 milhões.

O lobista, que conta com o benefício da delação premiada nas investigações da Operação Lava Jato, dá outra versão: o dinheiro teria sido retribuição pela ajuda de Bumlai nos negócios da Petrobras.

A dimensão política do episódio assume maior interesse porque cerca de R$ 2 milhões, segundo Fernando Baiano, teriam sido repassados pelo pecuarista a ninguém menos que uma nora de Lula.

Enquanto se vai projetando sobre a família do ex-presidente um conjunto de graves suspeitas, não diminuem os riscos de que sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), conheça novos problemas.

É que, depois de longas tratativas, formaliza-se o acordo de delação premiada entre os procuradores da Lava Jato e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, peça-chave na malfadada aquisição da refinaria de Pasadena. Em que medida, e a partir de quais evidências, será possível dizer que Dilma conhecia as irregularidades do negócio?

Outra delação premiada –a do próprio Delcídio do Amaral– não está descartada das inquietações que rondam o Planalto.

Desse modo, a Lava Jato parece não ter fim; e não se extingue, por isso mesmo, a crise política que corrói o PT e o governo Dilma.

A próxima semana há de trazer mais turbulências. A começar pela continuidade do processo de cassação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), temporariamente eclipsada pela agitação no Senado.

Há muito de positivo, sem dúvida, no clima de seriedade e autonomia institucional que emana das investigações e das prontas respostas da Justiça.

Há muito de negativo, contudo, no fato de o governo se mostrar a reboque dos acontecimentos. Paralisa-se a discussão sobre economia no Legislativo. Medidas inadiáveis de controle do deficit público são praticamente abandonadas, e nem sequer uma previsão orçamentária se sustenta.

A hipótese de uma desorganização cabal da economia não pode ser esconjurada enquanto a crise política se prolonga a perder de vista.

 

No limite

Por IGOR GIELOW

BRASÍLIA - O desânimo que tomou conta dos círculos mais altos do governismo é boa régua da fragilidade do terceiro ciclo de Dilma Rousseff na Presidência, iniciado na reforma ministerial de outubro.

Ainda sofrendo o choque das prisões da semana pela Lava Jato, os remanescentes na cidadela de Dilma estão sem reação, como moradores intramuros sitiados pela peste.

Os termos do acordo da Andrade Gutierrez no escopo da operação, admitindo corrupção em vistosas vitrines dos anos do PT no poder, vieram como prego de caixão luxuoso. Como diz um governista graúdo, "agora é rezar em dobro".

As preces até estavam funcionando. O arco narrativo da crise sugeria um respiro tático a Dilma, jogando alguns de seus problemas centrais para 2016. Não mais: os sortilégios insinuados na delação de Nestor Cerveró e numa eventual fala de Delcídio do Amaral se unem à vitória progressiva da entropia na vida real.

A gravidade da situação é mensurável no terrorismo feito por Joaquim Levy em entrevista ao "Estado". O ministro da Fazenda sugeriu uma variante bananeira do "shutdown" americano. Não acabou bem assim, mas indica a extensão do efeito das forças destrutivas na economia.

Como escreveu o senador tucano José Serra, só uma solução política, qualquer que seja, pode fazer a roda girar. Dada a geleia em que o Parlamento se transformou e o fato de que o Executivo é um senhorio ausente, os olhos se voltam para o conglomerado jurídico-policialesco para que o desejado "algo" aconteça.

Há riscos evidentes nesse cenário, como um ativismo judicial que seja confundido com asseveração de autoridade. A esta altura, contudo, são preferíveis interpretações legais draconianas à estarrecedora sem-cerimônia explicitada na trama hollywoodiana contra a Lava Jato.

É o melhor que temos agora, e sinaliza algum limite para a esgarçadura institucional do país.

 

A voz do Planalto

Por DEMÉTRIO MAGNOLI

O relógio marcava 19h59, na quarta (25), quando Renan Calheiros tomou o microfone para qualificar como "oportunista e covarde" a nota oficial na qual o PT tentava se desvincular dos atos de gangsterismo de Delcídio do Amaral. Depois, como a confirmar o diagnóstico de Calheiros, o líder petista Humberto Costa encaminhou o voto de sua bancada, contrário à prisão determinada pelo STF. Um a um, com apenas duas exceções, os senadores do PT expuseram-se ao escárnio público, votando pela libertação do celerado. Uma análise apressada indicaria a cisão entre a direção partidária e a bancada no Senado. De fato, não foi isso: os senadores petistas inclinaram-se à voz do Planalto. Delcídio é um fio desencapado.

A voz do Planalto soou três vezes na sessão do Senado. Na primeira, às 19h06, o deputado José Pimentel, líder do governo no Congresso, propôs que, violando a Constituição, os senadores escondessem seus votos na urna do segredo. Na segunda, pela boca alugada de Calheiros, o governo rasgou a nota petista assinada por Rui Falcão. Na terceira, às 20h59, quando tudo já estava perdido, Humberto Costa chamou seus pares a praticarem o gesto de autoimolação destinado a conquistar o silêncio do companheiro preso. Delcídio nunca foi um "soldado do partido", como Delúbio ou Vaccari. Mas, como eles, sabe demais.

O personagem que tramava melar a Lava Jato, organizando a fuga de Nestor Cerveró, um colaborador sentenciado, não é um senador petista qualquer. Desde abril, desempenhava o papel de líder do governo no Senado. Ele representava Dilma Rousseff na Câmara Alta, condição que não perdeu mesmo após a delação de Fernando Baiano, na qual figura como destinatário de US$ 1,5 milhão em propina pela compra da refinaria de Pasadena. Delcídio tem algo a dizer sobre o único documento do "petrolão" que leva a assinatura da presidente da República.

Pasadena ocupa um lugar político especial. O "petrolão" adquiriu dimensão explosiva em 18 de março de 2014, quando Dilma afirmou que, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, aprovou a aquisição com base em "informações incompletas" de um "relatório falho" produzido por Cerveró. Naquele dia, tentando insular-se, a presidente rompeu o cristal da confiança que a ligava a Lula: as relações entre ambos nunca mais foram as mesmas. Os blogs chapa-branca reverberaram a fúria do ex-presidente, vociferando contra a "traição". Dilma lançava Cerveró ao mar, desatando um nó invisível no trançado da malha do "petrolão". Hoje, tantos nós depois, só o incerto silêncio de Delcídio pode evitar a exposição do capítulo faltante na história oculta da Petrobras.

"No caso da Dilma, ele [Cerveró] diz: a Dilma sabia de tudo de Pasadena." São palavras de Delcídio, gravadas no smartphone do filho de Cerveró. Só néscios duvidam de que "Dilma sabia de tudo", mas um processo exige mais que uma delação premiada. Delcídio, um dos padrinhos da indicação de Cerveró à diretoria da Petrobras, sabe "de tudo" –e é por isso que a voz do Planalto contrariou a do PT na tensa sessão do Senado.

Diversos fios conectam Delcídio a Bumlai, preso um dia antes. Foi o senador que apresentou o pecuarista a Lula, intermediando uma bela e proveitosa amizade. Segundo duas delações premiadas, a de Baiano e a do banqueiro Salim Schahin, Bumlai também operou na esfera da Petrobras, influenciando a bilionária licitação de um navio-sonda. Dilma "sabia de tudo" sobre Pasadena, mas talvez não soubesse de toda a extensão da pilhagem organizada na estatal. "Não é o meu governo que está sendo acusado atualmente", disse a presidente há um mês, colocando o acento no pronome "meu" para enviar uma mensagem óbvia.

O Planalto assustou-se com a prisão de Delcídio. Mas o outro Planalto, o Planalto do B, tem motivos ainda maiores para acender a luz de alerta vermelho.

 

Nota contra Delcídio é 'desastrosa', segundo parte dos dirigentes do PT

Por MÔNICA BERGAMO

Bem recebida em redes sociais por militantes e simpatizantes do PT, a nota de Rui Falcão, presidente do partido, com duras críticas ao senador
Delcídio do Amaral (PT-MS) foi considerada desastrosa por alguns dirigentes da sigla.

TENSÃO
Um parlamentar influente do partido diz, sob a condição de anonimato, queFalcão "trouxe para dentro do PT uma agenda perigosíssima e contraditória".

TENSÃO 2
O dirigente segue dizendo que o partido sempre defendeu outros de seus integrantes presos ou condenados. Com a nota divulgada por Falcão, "o PT perde o discurso que adotou até agora, o de que todos, sem exceção, têm o direito de se defender".

ASSINATURA
O parlamentar afirma ainda que "o momento é o pior possível" para o posicionamento de Falcão. "O Judiciário e o Ministério Público estão numa ofensiva contra o PT." O partido, em vez de criticar, segundo ele, acabou desta vez chancelando "e perdendo seu poder de questionamento".

NO CHÃO
Delcídio do Amaral, completa ele, "é um corpo estendido no chão", e portanto indefensável. Mas o Partido dos Trabalhadores não "poderia ter perdido a oportunidade de questionar a constitucionalidade da ordem de prisão contra um senador no exercício do mandato que não cometeu crime inafiançável".

 

Para quem o cachorro ainda

Por RUY CASTRO, DO RIO DE JANEIRO - 

Nenhum escritor policial inglês ou americano conseguiria criar sozinho a trama que estamos vivendo sob o nome de Operação Lava Jato. Nem Agatha Christie ou Raymond Chandler seria capaz de dar conta de tantos plots e subplots, quebras de narrativa, cenas de ação e, como suspeitos, gente com conta bancária de até 11 dígitos. Sem falar na dança dos coadjuvantes: todos os dias um novo nome assume o primeiro plano. Só não tivemos –até agora– um cadáver.

O primeiro grande personagem foi José Dirceu. Equivalia ao sinistro professor Moriarty, criado por Conan Doyle como o cérebro por trás de tudo de ilícito na Londres vitoriana. Como um Moriarty com ideologia, Dirceu armou o esquema que drenaria milhões da Petrobras e financiaria um sistema que se eternizaria no poder. Só que, de repente, Dirceu se tornou um personagem de John Le Carré: revelou sua fraqueza humana. Aproveitou para também locupletar-se em causa própria e foi apanhado.

Mas o esquema sobreviveu, graças ao caso de amor do partido e de seus aliados com diretores e gerentes da Petrobras. O resultado foi uma armação de deixar no chinelo as redes de corrupção descritas por Dashiell Hammett em "Seara Vermelha" e "A Chave de Vidro". A chegada de tubarões como André Esteves, José Carlos Bumlai e Marcelo Odebrecht, por sua vez, conferiu à história uma densidade digna de Frederick Forsyth.

Já o senador Delcídio do Amaral deu-lhe um toque de 007. Sua tentativa de comprar o silêncio do diretor da Petrobras Nestor Cerveró, tirá-lo da cadeia e despachá-lo para a Espanha num jatinho secreto parece coisa de James Bond.

E todos os fãs de romances policiais sabem que, se o cachorro não latiu para o criminoso, é porque este era conhecido do cachorro. Só falta, portanto, descobrir para quem o cachorro ainda não latiu.

 

Eppur si muove

Por OSCAR VILHENA VIEIRA

O cinismo, a corrupção, o escárnio e as iniquidades não subjugarão a lei: "o crime não vencerá a Justiça". Esse o resumo do voto proferido pela ministra Cármen Lúcia, da bancada do Supremo, por ocasião da prisão do senador Delcídio do Amaral.

Já o senador Jader Barbalho, do outro lado da Praça dos Três Poderes, bradou que ceder ao voto aberto seria passar um "atestado de minoridade política" aos membros do parlamento, pois a publicidade lhes restringiria a independência! Como se uma vez conferido o mandato ao parlamentar esse lhe pertencesse, como coisa privada, para seu proveito. Não devendo, portanto, satisfação a ninguém. Nem mesmo aos cidadãos.

Esses discursos retoricamente carregados constituem uma representação viva de um confronto cada vez mais agudo entre duas concepções concorrentes em torno da natureza das instituições políticas brasileiras.

De um lado, persiste uma visão patrimonialista, que entende as instituições como uma esfera de poder, dotada de vastos recursos, a ser capturada e ordenhada em benefício dos governantes de ocasião e daqueles que os apoiaram no processo de competição política.

De outro lado, se fortalece uma perspectiva mais republicana, que toma as instituições como uma construção voltada a solucionar os principais problemas de coordenação de interesses conflitantes dentro de uma sociedade pluralista. Para essa concepção, as instituições não devem apenas ser inclusivas, para responder aos interesses dos diversos setores da sociedade, mas também imparciais e rigorosas no respeito e na aplicação da lei.

Esse confronto não é novo, e por mais que tenha cores partidárias aparentes, é mais profundo. Por muito tempo, no entanto, a vitória de uma visão patrimonialista das instituições brasileiras não sofreu sérios desafios. Antes o contrário. Foi fortalecida pelo atendimento dos interesses corporativistas, dentro e fora do Estado. Esse patrimonialismo institucional também contribuiu, em muito, para fomentar um capitalismo preguiçoso e pouco competitivo, cultivado à base de privilégios, exonerações fiscais, juros subsidiados ou simplesmente contratos fraudulentos.

Não é por outro motivo que nos tornamos uma das sociedades mais desiguais do planeta. Nossas instituições foram projetadas para isso. Também não é por acidente da natureza que as leis aqui sempre foram mais dóceis com as elites e mais arbitrárias com os mais pobres.

O que parece novo, no entanto, é que a visão republicana, tal como enfatizada pela ministra Cármen Lúcia, vem angariando adeptos dentro das instituições de aplicação da lei.

Embora seja chocante testemunhar um diálogo como o do senador Delcídio do Amaral, com suas insinuações que atentam contra a integridade do Estado de Direito, bem como seja desalentador tomar conhecimento dos canais que irrigam com recursos públicos as burras de empresários, até ontem tão distintos, é extremamente encorajador verificar a consistência com que certos setores das instituições de aplicação da lei têm enfrentado bem a tempestade.

Com a trapalhada do senador Delcídio, o Supremo foi obrigado a entrar de forma mais contundente na disputa sobre a natureza que queremos conferir às nossas instituições. Mesmo para os mais céticos é necessário, "entretanto", como diria Galileu, aceitar que os corpos estão se "movendo".

 

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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