Reino Unido decide pela saída da União Europeia; Bolsas desabam (petróleo perde + de 6%)

Publicado em 24/06/2016 02:28
Em veja.com.br + Folha + Reuters

Em decisão histórica, o Reino Unido optou por deixar a União Europeia (UE) em referendo realizado na quinta-feira. Com 52% dos votos, os britânicos votaram pelo 'brexit', a saída do bloco, contra 48% para a permanência na UE.

Faltando a apuração de apenas 12 das 382 zonas que compõem o mapa eleitoral, a saída já vencia com vantagem superior a 1 milhão de votos - mais de 16 milhões de pessoas favoráveis ao 'brexit'.

Após sua entrada na UE em 1973, quando então o bloco era conhecido como Comunidade Econômica Europeia (UEE), o Reino Unido decidiu romper os laços com Bruxelas, com repercussões para toda a Europa.

O líder do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage, qualificou a data de hoje como "o dia da independência", e afirmou que se trata do triunfo de gente "decente" que se enfrentou grandes corporações e os bancos, que pediam a permanência britânica na UE. O político afirmou que o povo britânico conseguiu se livrar da UE sem "disparar nenhuma bala".

Renúncia - Segundo os analistas políticos, a situação do primeiro-ministro britânico, David Cameron, pode ficar insustentável após convocar o referendo e pedir que a população que apoiasse a permanência do país no bloco europeu. Ao prometer a consulta popular caso vencesse as eleições gerais de 2015, o líder do Partido Conservador colocou seu próprio cargo para voto.

A pressão separatista e a insistência por um referendo permeiam a relação do Reino Unido com UE desde a década de 90. O ponto máximo das tensões se deu quando as crises econômica e migratória atingiram o continente nos últimos anos. Cameron, que buscava uma reeleição em 2015, tentava pacificar o Partido Conservador - dividido entre permanência e saída - e encontrou na promessa de um referendo sua maior chance de sucesso. "É o momento de o povo britânico ter voz sobre o assunto", confirmou no ano passado, sem esperar que a possibilidade de uma derrota fosse tão real.

O avanço do "brexit" gerou nervosismo nos mercados internacionais com uma forte queda na libra, mais de 8% em relação ao dólar.

No início da madrugada, manhã na Ásia, a libra chegava ao menor valor em relação ao dólar em 31 anos. A cotação estava em US$ 1,32, queda de 11% em relação ao fechamento de quinta (23). Na Ásia, as bolsas despencavam em Tóquio (–7,22%), Hong Kong (-4,67%) e Seul (-4,09%).

Os mercados asiáticos foram dominados pelo pânico nesta sexta-feira (24), diante da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia.

A Bolsa de Tóquio recuava 8%, e Hong Kong e Sidney perdiam algo em torno de 3% no final da manhã.

Por volta da 0h15 de Brasília, a libra esterlina era cotada a US$ 1,3466, seu nível mais baixo em relação à moeda americana desde 1985. Minutos depois, caía a US$ 1,33.

Paralelamente, o dólar era cotado abaixo dos 100 ienes e o euro, a menos de 110 ienes.

As ações dos grupos bancários Standard Chartered e HSBC, com sede em Londres, recuavam 9,2% e 8,6%, respectivamente, na Bolsa de Hong Kong.

No setor petroleiro, o barril do West Texas Intermediate para entrega em agosto cedia 3,11 dólares, a US$ 47,00. O barril do Brent do Mar do Norte recuava 3,14 dólares, a US$ 47,77. 

Asconsequências econômicas de uma saída devem se estender para o comércio —com prejuízo maior para Londres do que para Bruxelas, já que os britânicos dirigem metade de suas exportações à UE.

O resultado oficial seria formalmente anunciado por volta das 7h de Londres (3h em Brasília). A consulta popular registrou índice histórico de comparecimento —71% do eleitorado— e recorde de 46,5 milhões de eleitores registrados.

Até 2h15 (hora de Brasília). o premiê conservador, David Cameron, principal fiador do voto pró-UE, não havia se manifestado. Em caso de vitória da saída, sua liderança no Partido Conservador e o cargo de premiê poderão ser contestados.

O placar expõe um país dividido e despertará um sentimento anti-UE continente afora

Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a movimentos separatistas como o escocês e o catalão.

O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de Londres, pondera que o "efeito dominó" tem mais força se o Reino Unido deixar efetivamente o bloco.

Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais problemas caso seus países decidam deixar a UE.

Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.

A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria, Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.

Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte dos britânicos.

Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27 países da UE.

O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco, transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e "roubam" empregos.

Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.

Votar com o coração ou o bolso (Clóvis Rossi/ na FOLHA)

Só mesmo recorrendo a uma velhíssima piada para explicar a resistência dos adeptos do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) à catarata de previsões apocalípticas sobre as consequências da saída.

É aquela história do inglês, que, vendo a intensa névoa que cobre o Canal da Mancha, comenta: "O continente está isolado".

É típico do adorável humor britânico, mas também revelador do estado d'alma de uma parte importante dos súditos da rainha: para eles, uma coisa é a Europa, outra são as ilhas britânicas. Não se misturam.

Se, de todo modo, ganhar o não ao divórcio com a Europa, será pela carteira, jamais pelo sentimento. Afinal, até o geralmente sóbrio Fundo Monetário Internacional acaba de divulgar estudo em que afirma que deixar a União Europeia afetaria o padrão de vida dos britânicos, atiçaria a inflação e faria evaporar 5,5% da riqueza nacional.

Se, no Brasil, com uma queda menor (3,8% no ano passado), houve toda a fúria contra o governo então no trono, era de se supor que um desastre tão formidável no Reino Unido tornaria inexorável votar contra o Brexit.

Mas essas questões econômicas não são o elemento principal a mover o eleitor. "Não creio que o grosso da população entenda bem os cálculos que se apresentam pró e contra a saída do Reino Unido da União Europeia", disse àFolha John Carlin, excelente jornalista e escritor.

Reforça Phoe­be Ar­nold, di­reto­ra da cam­panha sobre o referendo na em­pre­sa de con­ferência independente de dados Full Fact:

"Os mesmos dados [econômicos] podem servir a um ou ao outro lado. No fim das contas, os votantes decidirão com o coração."

E o coração dos britânicos é britânico, não europeu: só 15% dos britânicos, na média, se identificam como europeus. Os demais são, antes de mais nada, ou ingleses ou escoceses ou irlandeses ou galeses, as quatro tribos que convivem no território do Reino Unido.

Para John Carlin, essas identidades nacionais açularam um "populismo xenófobo, que resultou ser a arma mais eficaz para convencer os eleitores a votar pela saída da UE".

O curioso é que essa xenofobia não é abrangente. Às vezes, caminhar por Londres dá a sensação de que se veem mais turbantes dos sikhs do que na Índia. Não é verdade, claro, mas indica que eles não se sentem constrangidos na multicultural capital britânica.

Da mesma forma, há uma área de Londres, saindo do Marble Arch, um dos monumentos centrais, em que há tanta gente fumando narguilé que o apelido da região é "Londonistan".

Suspeito não ser exagerado dizer que o populismo xenófobo dirige-se muito mais aos novos imigrantes, em especial do Leste Europeu, do que aos imigrantes em geral.

Confirma essa sensação empírica uma frase ao jornal "El País" do taxista aposentado Ma­sum Go­ra, que emigrou da Índia faz 60 anos: "Os i­mi­gran­tes con­tri­buí­mos com este país, mas agora há demasiados poloneses, romenos, hún­ga­ros".

Endurecimento da política de imigração

Protesto na embaixada da França em Londres a favor dos refugiados. As políticas imigratórias devem endurecer com a vitória do Brexit Foto: DANIEL LEAL-OLIVAS / AFP
Foto: DANIEL LEAL-OLIVAS / AFP
A imigração é um dos temas centrais da campanha do Brexit, que anunciou sua intenção de criar um sistema de pontos para aceitar imigrantes. Neste caso, cada solicitação de permissão de residência ou trabalho seria tratada de acordo com as habilidades e qualificações do solicitante. Com a saída da UE chega ao fim a livre circulação de pessoas.
 
 
 
 
 
Eleitores contra a permanência do Reino Unido na União Europeia, celebram o fechamento das urnas, em Londres
Eleitores contra a permanência do Reino Unido na União Europeia, celebram o fechamento das urnas, em Londres(Toby Melville/Reuters)

(Com EFE)

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Fonte:
Veja + Folha + reuters

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1 comentário

  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    De pronto, a moeda chinesa (YUAN), que seria a mais estável, sofreu uma desvalorização de 10%..., Quanto será a desvalorização do REAL ?

    10
    • PEDRO FIORENZO Sorriso - MT

      0,37% neste momento.

      3