Dólar fecha perto da estabilidade em meio a expectativas sobre política monetária
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar voltou a fechar perto da estabilidade em relação ao real nesta terça-feira, em sessão marcada por expectativas sobre decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil, enquanto vários investidores chamaram a atenção para uma melhor percepção sobre a economia doméstica.
O dólar spot teve variação negativa de 0,06%, a 5,0352 reais na venda, seu menor patamar para encerramento desde 10 de junho de 2020 (4,9398 reais). O dólar futuro negociado na B3 tinha queda de 0,12%, a 5,053 reais.
Em um dia de agenda mais tranquila, vários especialistas destacaram as expectativas em torno de dados norte-americanos sobre a inflação que serão divulgados na quinta-feira.
Com a aproximação da reunião de política monetária do Federal Reserve, os investidores ficarão atentos a qualquer sinal de superaquecimento da maior economia do mundo, já que algumas autoridades do banco central norte-americano começaram a reconhecer que estão mais próximas de um debate sobre quando retirar parte de seu nível de apoio à economia.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed encerrará sua próxima reunião em 16 de junho.
A data também contará com a decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, com expectativa de elevação da taxa Selic a 4,25% ao ano, ante patamar atual de 3,5%.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, chamou a atenção para os juros domésticos: "amanhã temos a divulgação do IPCA, e uma aceleração da inflação deve reforçar a expectativa de nova alta de 0,75 ponto percentual por parte do BC. A estratégia do BC de iniciar um processo de normalização tem favorecido o real".
Além da perspectiva de juros mais altos no Brasil --que pode tornar investimentos locais atrelados à taxa Selic mais atraentes para o investidor estrangeiro--, Rostagno também destacou dados econômicos recentes melhores do que o esperado, que, segundo ele, têm ajudado o real a ganhar terreno.
Na semana passada, o IBGE informou que a economia do Brasil registrou crescimento no primeiro trimestre de 2021 e retornou ao patamar pré-pandemia, enquanto números desta terça mostraram que as vendas no comércio varejista brasileiro subiram bem mais do que o esperado em abril.
Com um cenário promissor por aqui, nem mesmo a perspectiva de prorrogação do auxílio emergencial, que já foi motivo de nervosismo nos mercados domésticos, pareceu assustar os investidores. Nesta terça-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo deve estender a rodada de pagamentos aos mais vulneráveis por mais "dois ou três meses", com a expectativa de ganhar tempo para o avanço da vacinação contra a Covid-19.
Em nota desta terça-feira, analistas da Levante Investimentos disseram que "a prorrogação do auxílio vai na contramão dos planos iniciais de Paulo Guedes e sua equipe, mas já foi aceita com naturalidade em Brasília."
"Com a economia mais robusta neste ano, o mercado não deve se preocupar tanto com essa nova rodada (...)."
O dólar acumula queda de aproximadamente 3% contra o real até agora em 2021.
Daqui para frente, afirmou Rostagno, os investidores ficarão atentos à marca psicológica de 5 reais. "É um nível importante, e, no ano passado, acabou se provando como um patamar de resistência difícil de ser rompido, mas o cenário é bom para o real. Devemos ver a moeda cruzando essa marca."
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que a recente valorização do real está relacionada a notícias favoráveis sobre crescimento e no campo fiscal, acrescentando considerar "razoável" que os fluxos financeiros voltem a fluir para o país nesse cenário.
(Edição de Maria Pia Palermo e Isabel Versiani)
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