Soja: Com disparada do dólar, preços em reais no Brasil surpreendem

Publicado em 06/08/2015 11:10

Julho foi um mês turbulento para as commodities negociadas pelo mundo e no caso das agrícolas, o cenário não foi diferente. Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago enfrentaram - e ainda vêm enfrentando - dias de muita volatilidade, com sessões de baixas acentuadas e outras com rallies de alta. 

Para consultores e analistas, o início de agosto não deve ser diferente e, nos primeiros pregões deste novo mês, já é possível observar essa falta de direção no caminhar das cotações. No intervalo de 31 de julho à última quarta-feira (5), por exemplo, o vencimento agosto/15 recuou 4,71% - passando de US$ 10,40 para US$ 9,91 por bushel - enquanto o novembro/15 caiu de US$ 10,29 para US$ 9,53, perdendo7,39%.  Já em relação a 31 de julho do ano passado, as baixas são, respectivamente, de 19,04% e 11,92%.Por outro lado, no mesmo período, o dólar disparou frente ao real. Somente no mês de julho, a moeda norte-americana subiu mais de 10% frente à brasileira, saindo da casa dos R$ 3,10 para superar os R$ 3,40. Nesta quarta-feira, pela primeira vez em 12 anos, a divisa passou dos R$ 3,50 e, no dólar futuro - para novembro - já superava esse patamar. Em um ano, até 31 de julho, o dólar já subiu mais de 50% e, desde o início de 2015, a valorização é de quase 30%. E assim, apesar da turbulência em Chicago, julho foi um mês importante e positivo para a formação dos preços no Brasil, com os valores chegando nas melhores referências do ano e boas oportunidades sendo aproveitadas pelos produtores nacionais. Ainda nesta quarta, negócios pontuais nos principais portos de exportação do país chegaram aos R$ 80,50 por saca de soja nos pagamentos mais curtos. 

Um levantamento feito pelo economista do Notícias Agrícolas, André Lopes, mostra que em julho os preços da soja praticados no Brasil - com referências nos portos e valores coletados junto aos sindicatos e cooperativas - registraram boa valorização, com ganhos que chegaram a superar os 14% em algumas praças, como São Gabriel do Oeste/MS, por exemplo. "Sobre julho é fácil resumir. O mês foi de preços bons para as safras velha e nova. Tivemos um momento de rally em Chicago ajudando. Quando o mercado devolveu os ganhos, apareceu o dólar dando suporte, impedindo uma queda e até deixando o mercado mais firme", disse o consultor de mercado da Cerealpar, Steve Cachia, em viagem de negócios a Malta, na Europa. As estimativas de consultorias apontam que cerca de 25% da safra 2015/16 de soja do Brasil - ou até um pouco mais - já esteja comercializada e, nesse último mês, os movimentos de venda foram bastante acentuados, com os produtores brasileiros protegendo sua colheita ao aproveitarem os momentos mais oportunos. Um levantamento feito pelo Cepea mostrou que, com a boa liquidez observada nas primeiras semanas de julho, "as vendas da safra 2015/16  estão bem mais adiantadas que o normal".

E apesar de preços menores sendo praticados na Bolsa de Chicago neste ano, os registrados no Brasil apresentam uma significativa valorização em relação ao mesmo período de 2014, situação também motivada pelo dólar. Em Paranaguá, a alta em relação ao mesmo período do ano passado é de 14,93% para a soja disponível e de 25,12% para a futura se comparadas as cotações do dia 31 de julho. Em Rio Grande, os ganhos foram de, respectivamente, 15,77% e 25,48%. 

No interior do país, os preços também melhoraram em relação a 2014 e tiveram um julho positivo. Em algumas praças como Não-Me-Toque/RS, Ubiratã, Londrina e Cascavel, no Paraná, altas de mais de 10%. 

Como relatou Marcelo De Baco, analista de mercado da De Baco Corretora de Mercadorias, de Viamão, no Rio Grande do Sul, diz que julho foi um mês muito forte para os preços no estado. Por volta do dia 1º, o valor bateu em R$ 69,50 no interior em alguns momentos e, no dia 31, chegou a R$ 72,50 por saca. 

"O que se pode perceber é que a bolsa (de Chicago) corrige a diferença cambial. Em todos os países, o dólar despontou frente às principais moedas, mesmo as de economias menores", explica. " Os fatores mais importantes foram: a crise da Grécia, que expôs a fragilidade do bloco do euro; relatórios da economia chinesa mais pessimistas; e o Brasil diminuindo seus índices de crescimento e isto também fez com que nossa moeda se desvalorizasse mais do que em outros países", completa. 

Demanda 

A demanda pela soja brasileira - e sua maior competitividade neste momento também estão em foco. Em sua última projeção divulgada no final de julho, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) elevou sua estimativa para as exportações de soja do país neste ano para um recorde de 50,3 milhões de toneladas, contra o projetado em junho de 48,7 milhões. O número fica ainda bem acima das exportações de 2014 de 45,7 milhões de toneladas. 

Ao mesmo tempo, ainda é possível observar bons volumes de soja sendo adquiridos pela China - onde as margens de esmagamento da oleaginosa seguem positivas e assim devem se manter até o final deste ano, segundo um grupo líder no agronegócio asiático. 

Sem o mês de julho ter sido finalizado, a China já havia recebido 8,7 milhões de toneladas de soja, e é bem provável que tenha alcançado os 9 milhões, disse Liones Severo, consultor de mercado do SIM Consult, afirmando que esse pode ser o maior volume de importação mensal do país. O consultor relata ainda que somente o o Brasil já embarcou 42.797,170 milhões de toneladas do grão, sendo 30.051,533 milhões com destino a China. Além disso, diz ainda que "somando os navios que já estão nos portos para carregar estamos comprometidos em 47 milhões de toneladas". 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário