Endurecimento do Consecana pode valorizar movimento por novos contratos ou pela cana spot

Publicado em 03/04/2018 17:25

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Na largada de uma safra do Centro-Sul com um volume menor dos fornecedores (60 milhões/t) – e próxima do empate ou 1 a 2% mais fraca na soma geral com a cana das usinas (590 milhões/t) -, não há sinais de mudanças na formulação dos preços como havia esperança há uns dois meses. E voltou-se a discutir a necessidade de que muitos produtores, dentro do possível, revejam seus contratos de fornecimento, exigindo contrapartidas ou não assinando mais, ou mesmo se aventurem na cana spot.

Notícias Agrícolas conversou nesta terça (3) com várias lideranças que falam em alguma forma de “rebelião” em relação ao Consecana – o colegiado que precifica o valor da cana – após a entrevista dada aqui pelo presidente da Orplana, Eduardo Romão, nesta segunda (2), quando ele disse que houve retrocesso na possibilidade de aplicação de uma nova fórmula de cotação (confira aqui Consecana recua e novo modelo de preços mais amigável ao produtor de cana sai da agenda nesta abertura de safra). Mas a maioria pediu anonimato enquanto a entidade que agrega as 33 associações regionais permanecer na mesa de negociação.

Segundo Romão deixou bem claro, por pressão dos grupos industriais praticamente saiu da agenda a nova política proposta de fixação do ATR, que pode-se resumir em pagamento por meritocracia, elevando assim a possibilidade de valores maiores que não apenas a formulação atual que pondera custos e comercialização no mix.

Mas não foi surpresa geral também. Na Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) há muito tempo que se prega o fim do “Concesacana seco”, ou seja, o contrato de fornecimento sem nenhum tipo de bônus. José Coral, presidente da entidade e primeiro presidente da Orplana, que defendeu a criação do colegiado, há quase duas décadas, vem há muito tempo batendo nessa tecla, inclusive em entrevista ao Notícias Agrícolas em 2017.

Defasagem

E Arnaldo Antonio Bortoletto, presidente da Coplacana, cooperativa e braço comercial da Afocapi, acha que o momento é mais apropriado, depois de uma safra passada com rentabilidade baixa e com a 18/19 sem perspectivas de melhoria. “Não temos capacidade de investimentos”, diz.

E não é só a dificuldade de emplacar um novo sistema de preços para o ATR, mas mesmo dentro da configuração atual a defasagem está estabelecida. O estatuto do Concecana fala em revisão dos modelos de custos, por exemplo, de cinco em cinco anos, mas já está a sete sem revisão. “Entendemos a crise do setor, mas não podemos ficar só nós com a remuneração deprimida.

Pela base de cálculo, de maneira simplista, os custos do Consecana deveriam ser  maiores na parte agrícola e menores na parte industrial, mas haveria uma inversão, e as usinas estão levando entre 6 a 7% a mais. As usinas, de acordo com Bortoletto, alegam que investiram mais e, portanto, têm mais riscos.

Ele vê, diante desse impasse setorial, a possibilidade de a Coplacana crescer, isto é, produtores vão saindo dos contratos e devem migrar para a cooperativa fazer a comercialização, que hoje é apenas 5% dos 8 milhões de toneladas de cana independente da região de Piracicaba.

Embora nenhuma usina consiga sobreviver só com a cana dela própria – a menos nas unidades que optaram apenas por matéria-prima comprada, coma a Zilor (Lençóis Paulista/SP) e Coruripe (Campo Florido/MG), porém com sólidas parcerias no campo -, está em jogo a questão da concentração – ou desconcentração. Em regiões com pouca ou, pior, nenhuma concorrência pela cana, haveria a dependência total dos produtores com o dono da esteira, daí que dificilmente o usineiro acaba dando um plus. Há regiões, por exemplo, com várias unidades, mas sob uma ou duas bandeiras, o que daria no mesmo. E, outras, onde a proporção da cana esmagada própria das usinas e de terceiros é mais proporcional à primeira.

E, nessas horas “por mais técnico que o Consecana pode ser, as usinas tem totais condições de dar as cartas”, disse um dos entrevistados.

Cana balcão

O melhor cenário é da região Centro-Norte e Norte de São Paulo, onde a concorrência é boa. Lá acontece de muitos reservarem parte de sua safra para negociar apenas no spot, quando conseguem até um pouco além da referência Consecana especialmente quando há falta de matéria-prima. Em 2018 há uma expectativa de que esse grupo cresça, já que poderá faltar cana.

Mas isso embute riscos também. “E também em um momento ruim a usina pode não precisar  comprar”, lembra Gustavo Chavaglia, presidente do Sindicato Rural de Ituverava (SP). Aí, o produtor terá que rifar a qualquer preço.

A questão de fundo que deve se levar em conta é de como esse movimento se desenrolará diante da insatisfação crescente. Se aumentar o número de contratos pelo Consecana e mais alguma coisa ou o mercado ‘spoteiro”, como os grupos vão usar seu poder de fogo?

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Por:
Giovanni Lorenzon
Fonte:
Notícias Agrícolas

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