Clima, Índia e China movimentam mercado global de açúcar
De acordo com Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint Global Markets, a semana passada foi marcada por uma leve recuperação dos preços do açúcar bruto, depois que o mercado percebeu que o governo indiano está mais inclinado a retomar o programa de etanol do que a permitir qualquer exportação.
“Essa noção está de acordo com o que discutimos em nosso relatório anterior, só que agora ela é apoiada pelo fato de que o governo está, de fato, considerando um desvio adicional de 800kt de açúcar ainda em 23/24”, diz.
Como resultado, não deve haver nenhuma disponibilidade adicional ao fluxo comercial vindo do país, ao mesmo tempo em que os estoques possivelmente terminarão o ano em um nível um pouco mais baixo, mas ainda superior ao das últimas duas temporadas.
“Em nossa opinião, o desvio de 800kt a mais para o açúcar garantiria cerca de 31,1Mt do adoçante e, portanto, um estoque final de quase 6Mt. Devemos lembrar que o movimento de preços observado por causa desses rumores não significou nenhuma mudança nos fundamentos, é apenas uma discussão sobre onde colocar essa disponibilidade ‘extra’”, observa.
A discussão também não altera o otimismo com relação à safra 24/25 do país. Apesar de um possível desvio de 800kt para o etanol e de estoques ligeiramente menores do que os projetados anteriormente, as condições climáticas mais típicas favorecem uma perspectiva de baixa.
“Espera-se que a Índia tenha uma monção "normal" este ano, de acordo com a previsão meteorológica realizada pela agência privada Skymet e compartilhada na última terça-feira. Essa previsão nos permite esperar uma melhora na produtividade após um 2023 desafiador”, pontua.
Em 2023, a Índia recebeu precipitações dispersas e abaixo do normal que afetaram negativamente a produtividade agrícola em várias regiões. De acordo com a agência, espera-se que as chuvas sejam 102% da média durante a principal janela de desenvolvimento da cana: junho e setembro.
“Portanto, a Índia pode voltar ao jogo das exportações! Mas uma nota de cautela: antes de exportar qualquer volume, é muito provável que o país retome totalmente o programa de etanol, desviando cerca de 5,5 Mt de açúcar para a produção de biocombustível. Isso permitiria que a Índia contribuísse com até 1,2 Mt ao fluxo de comércio internacional em 24/25 - supondo que a produtividade retorne à média de três anos”, pondera.
“Ainda sobre o clima, as principais áreas produtoras de açúcar do Brasil, que receberam precipitação mínima de dezembro a fevereiro, estão se recuperando da seca. Muitas voltaram à faixa histórica e outras se aproximaram de níveis médios. Embora isso não apague os danos causados durante o período de entressafra, a cana do meio e final da safra se beneficia deste clima. Isso significa que o Brasil também adiciona à tendência de baixa”, acredita.
E segue: “Além disso, a temporada 23/24 do Brasil está oficialmente encerrada! Foi uma safra recorde, com uma moagem de 654,4Mt de cana, gerando 42,4Mt de açúcar graças a um mix de açúcar mais alto, de 48,87%. O Centro-Sul provou ser um participante essencial, com uma capacidade crescente devido a mais investimentos no setor”, ressalta.
No âmbito das exportações, foram embarcadas 34,3 Mt em 23/24, segundo a SECEX, facilitando os fluxos comerciais e evitando que os preços disparassem. Estabelecido como um dos fornecedores mais relevantes, todos os olhos estão voltados para a safra 24/25 do CS.
Com relação ao lado da demanda, os preços atingiram 20,5c/lb. Em teoria, isso significa que as regiões não produtoras da China se sentiram a vontade para comprar açúcar.
“No entanto, a produção do adoçante está avançando bem no país, já 10% maior em relação ao ano anterior, com aproximadamente 9,6 Mt. Portanto, pode-se esperar que, com maior disponibilidade doméstica, o prêmio local seja menor e a paridade de importação não tenha a mesma força. Para entender se essa tendência é verdadeira, precisamos aguardar e analisar as importações de abril e maio”, considera.
O mercado viu uma modesta recuperação nos preços do açúcar bruto, já que o governo indiano pode retomar o programa de etanol em vez de permitir as exportações, apoiado por discussões sobre o desvio de mais 800kt de açúcar na temporada 23/24.
Apesar da possível redução dos estoques, o otimismo permanece para a safra 24/25 da Índia, devido à previsão de condições normais de monções, o que pode ajudar na recuperação da produção após um 2023 desafiador e permitir as exportações (se o governo consentir). As regiões produtoras de açúcar do Brasil estão se recuperando da seca, o que corrobora o atual sentimento de baixa do mercado.
Quanto a um dos principais suportes altistas, a paridade de importação da China, pode-se imaginar que ela deva enfraquecer, já que a produção está mostrando um ritmo excelente. Assim, o apetite de importação do país pode ser reduzido no curto prazo.
Acesse o relatório completo clicando aqui.
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