Após grande volume de chuvas, Argentina pode ter perdas na soja e no trigo
Nas últimas semanas, a Argentina recebeu um grande volume de chuvas que afetou severamente algumas áreas agrícolas. De acordo com as Perspectivas Climáticas divulgadas pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA), este período agora está em sua "etapa final" e atinge o nordeste da área agrícola nesta semana, enquanto as áreas afetadas anteriormente devem receber "apenas valores escassos".
Porém, a chuva deixou rastros. De acordo com o Eng. Sebastián Gavaldá, consultor da argentina Globaltecnos, o plantio de soja para a nova safra já está saindo de sua janela ideal. "Se as chuvas excessivas voltarem, podemos perder muito potencial de produção".
Enquanto o plantio de soja está atrasado, o milho já está com uma boa porcentagem de implantação. O último Panorama Agrícola Semanal (PAS) da BCBA, divulgado em 27 de outubro, aponta que o avanço do plantio já está em 35,9%, de uma área que deve ficar em 4.900.000 hectares, um aumento de 25% a 35% em relação à última safra.
Por outro lado, também se espera uma queda na área de soja, já definida "há muito tempo", como conta Gavaldá, com perspectivas de colher 52 milhões de toneladas. No entanto, a retirada das taxas de exportação, as chamadas "retenciones" das áreas compreendidas pelo Plano Belgrano do presidente Maurício Macri e a perspectiva de que essas mesmas taxas só começarão a ser diminuídas mensalmente em 0,5% em 2018 para o restante do país não afetaram diretamente as decisões. O consultor lembra que o grande fator de importância, neste caso, são os preços internacionais dos dois grãos. "Atualmente, o milho é mais rentável do que a soja na maioria das zonas produtoras da Argentina", destaca.
Nesta safra, a Argentina deve exportar entre 25 a 27 milhões de toneladas de milho, segundo Gavaldá.
Perdas na área de trigo
Embora não seja uma parte de grande importância para a agricultura nacional, o oeste da província de Buenos Aires, o Sul de Córdoba e o Oeste de La Pampa foram as regiões que mais sofreu com os impactos das tempestades, com algumas localidades, como General Villegas, em Buenos Aires, tendo sua emergência agropecuária decretada. De acordo com Gavaldá, a região pode ter perdas sobre a área potencial para o plantio de soja, mas ainda há tempo para realizar a colheita do trigo, uma vez que faltam 30 dias. "No entanto, não é uma zona importante para o trigo. O que está em jogo agora são os efeitos de uma geada que afetou boa parte da província de Buenos Aires", explica. "Deve haver uma perda de 50 a 60 mil hectares de trigo com as geadas, mas este número ainda é bem prematuro".
O PAS lembra ainda que a volta dos produtores atingidos pela chuva ao campo podem trazer "vários quadros diferentes" registrados para o trigo. Nas regiões afetadas, durante grande parte da janela de plantio do milho também foram registradas chuvas que impediram o plantio do cereal.
Embora o susto inicial tenha sido grande, as perspectivas para os próximos meses na Argentina devem ser boas, mesmo que haja a incidência de um La Niña. "O La Niña não deve afetar a Argentina porque ocorre como no sul do Brasil, com chuvas leves, mantendo os níveis de umidade bons para o plantio", finaliza.