Mercado de açúcar: "Índia pode favorecer Brasil e preços", por Arnaldo Luiz Correa

Publicado em 05/06/2021 18:06
da Archer Consulting

A semana foi encurtada pelos feriados nos EUA, na segunda-feira, e no Brasil, na quinta-feira. O contrato futuro de açúcar em NY, com menor volume, encerrou a sexta-feira a 17.69 centavos de dólar por libra-peso, para o vencimento julho/21, uma variação positiva de 33 pontos em relação à semana passada, ou 7.28 dólares por tonelada. O real continuou se valorizando em relação à moeda americana e fechou a R$ 5,0479, apreciando 3.4% na semana. Já as cotações convertidas em reais, encolheram cerca de 35 reais por tonelada até o final da curva (março/22).

O hidratado chegou na paridade com o açúcar e como falamos há algumas semanas, tenho algum receio de que usinas com aperto financeiro possam empurrar seus compromissos de entrega de açúcar desta safra para a próxima e fazer mais etanol para aproveitar os preços bem acima do nível de fixação. Espero estar muito errado.

O mercado continua irregular, imprevisível e inconsistente e o que se vê, na maioria das vezes, é um amoldamento da narrativa de tal sorte, que ela possa justificar as altas e as baixas nos fechamentos diários do mercado. É pau, é pedra, é a falta de chuva, á muita chuva, é o ciclo de alta das commodities, é o fim do mês, é o início do mês. Uma variedade de justificativas.

Nós (humanos) não fomos programados para não ter respostas concretas aos nossos questionamentos. E quando se trata de commodities, nossa visão não poderia ser diferente. Como diria Taleb no delicioso livro “Iludido pelo Acaso”: “tendemos a olhar para o que confirma nosso conhecimento, e não para a nossa ignorância”. Não é à toa que precisamos de narrativas que justifiquem o que ocorre em nossa volta. Ou, quando acreditamos piamente num conceito, numa história falsa compartilhada em grupos de WhatsApp ou num político corrupto, procuramos olhar apenas a parte de justifica nossas escolhas. Uma boa dose de “não sei” seria de bom tom para nossas análises diárias. Ainda Taleb, “a dificuldade é o que desperta o gênio”.

A notícia de grande impacto na semana veio da Índia, embora não tenha se refletido (ainda) nas cotações da bolsa de futuros de NY. O governo indiano em linha com a política nacional de biocombustíveis examina antecipar o aumento do percentual de etanol misturado à gasolina dos atuais 10% para 20% em 2023 (era 2025). Para atender à demanda de etanol nesse percentual, a Índia vai precisar de 12 bilhões de litros, uma parte vinda de grãos e 7 bilhões de litros vindos da cana.  

A redução da dependência na importação de petróleo com a alocação de mais cana para a produção de etanol, fortalece o mercado interno de açúcar da Índia, cujo consumo vai saltar dos atuais 28.5 milhões de toneladas para 31.0 milhões de toneladas em cinco anos, diminui a disponibilidade de açúcar para o mercado internacional e reduz o gasto do governo com subsídios. O governo é favorecido por menor gastos em US$ na importação de petróleo, menos gastos em rúpias para o subsídio de exportação de açúcar, provocando o natural fortalecimento do mercado interno e o enxugamento de excedentes para a exportação.

Para o Brasil, se delinearmos o cenário de uma década adiante, grandes são as chances de a Índia – caso não expanda o cultivo de cana – tornar-se ao final desta década um importador de açúcar, deixando para o Brasil a dura missão de suprir o mercado internacional que deve crescer, pelo menos nos próximos 5 anos, a uma taxa conservadora de 1% ao ano.

Quando digo “dura missão”, não estou sendo irônico. A expansão da área canavieira no Brasil nos últimos 10 anos foi de 0.83% ao ano. O consumo de etanol total cresceu 1.75% ao ano, no mesmo período. O PIB brasileiro tem crescido abaixo do PIB mundial. Se imaginarmos um quadro de recuperação da economia, com a retomada do consumo de combustíveis, não é difícil afirmar que vamos precisar de mais cana para atender a demanda que se avizinha.

Antes da pandemia, o consumo de combustíveis (ciclo Otto) estava crescendo à média de 3.8% ao ano nos últimos dez anos. O baque sofrido pela economia brasileira devido à pandemia reduziu o crescimento em dois pontos percentuais. Resumindo, olhando dez anos adiante, podemos ter a combinação de vários fatores com maior ou menor intensidade, mas claramente construtivos em termos de trajetória dos preços internacionais do açúcar:

  1. a) Índia sendo um exportador apenas residual de açúcar;

  2. b) maior demanda mundial para os combustíveis renováveis;

  3. c) recuperação da economia brasileira com expansão no consumo de combustíveis;

  4. d) aumento da frota brasileira de veículos leves;

  5. e) consumo mundial de açúcar ampliando em pelo menos 1% ao ano para os próximos 6 anos, liderado pela Ásia;

No entanto, para que o Brasil possa aproveitar o desafio que deve chacoalhar o setor nos próximos anos, qual seja, o de suprir a provável expansão no consumo interno de combustíveis e o vigoroso aumento do consumo per capita de açúcar na Ásia, o País terá que - assumindo que manterá a mesma participação no mercado internacional – encerrar a década de 20 moendo entre 780 e 850 milhões de toneladas de cana. Grosso modo, entre 15 e 20 novas/renovadas usinas moendo pelo menos 5 milhões de toneladas por ano.

Vai ser uma década que promete prosperidade ao setor. Mais ainda se fusões e aquisições ocorrerem juntamente com a entrada de novos e financeiramente robustos atores. Meu maior receio é uma eventual interferência deletéria do governo federal na política de formação de preço da gasolina retrocedendo aos anos de preços administrados favorecendo grupos de apoiadores políticos.

Jeffrey Abrahams é um dos maiores headhunters do Brasil e um cara respeitadíssimo no agronegócio. Não tem executivo de ponta no setor ou fora dele que não o conheça. Jeffrey pegou covid-19 e teve que ser internado num hospital de São Paulo. A saúde do amigo se complicava e ele já achava que seus dias estavam dramaticamente se abreviando quando os médicos quiseram entubá-lo. Naquele momento de angústia Jeffrey resolveu fazer uma promessa como último recurso. São-paulino ferrenho, prometeu que se saísse dessa iria virar corintiano. Jeffrey saiu dessa. Está muito bem, voltou a trabalhar com a habitual força e grande senso de humor. E o time de Parque São Jorge ganhou um inesperado torcedor.

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Um bom final de semana a todos

Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar salta mais de 1% nesta 6ª em NY e acumula ganho semanal de mais de 2%

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As cotações futuras do açúcar encerraram esta sexta-feira (04) com ganhos expressivos em Nova York e Londres, suportando alta acumulada de mais de 2% na semana. O dia foi marcado por seguimento da preocupação com a safra brasileira 2021/22 de cana e um financeiro positivo.

O principal vencimento do açúcar bruto na Bolsa de Nova York registrou valorização de 1,61% no dia, cotado a US$ 17,71 c/lb, com máxima de 17,82 c/lb e mínima de 17,43 c/lb. Enquanto que o tipo branco em Londres teve um salto de 1,50%, negociado a US$ 466,50 a tonelada.

Na semana, o vencimento julho/21 em Nova York saltou mais de 2%.

Os impactos climáticos na safra 2021/22 de cana-de-açúcar seguem sendo monitorados pelo mercado global de açúcar, com consenso em menores produções de açúcar e etanol neste novo ciclo. Além disso, houve atenção dos operadores para as oscilações do financeiro no dia.

"Até agora, o ano de 2021 tem um volume de chuva acumulado que é 44% abaixo da média histórica no Centro-Sul do Brasil", disse em nota a trading inglesa Czarnikow.

Açúcar em armazém - Foto: Copersucar/Divulgaçã
Fortalecimento do petróleo contribui para ganhos do adoçante com relação com etanol - Foto: Copersucar

No estado de São Paulo, maior produtor do Brasil, a irregularidade climática pode gerar uma quebra de até 7% na produção ante a temporada anterior, segundo estimativas do Consecana-SP (Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo).

Porém, há regiões com produtores que relatam quebras acima dos 20%. Acompanhando esse cenário, a média do Indicador Cepea/Esalq do cristal em maio atingiu recorde nominal na série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP).

Veja mais:
» Preço médio do açúcar em maio bate recorde nominal na série histórica do Cepea

Por outro lado, na safra global 2020/21 (outubro-setembro), a Organização Internacional do Açúcar (OIA) estimou um déficit global de açúcar menor do que o estimado antes, em 3,1 milhões de toneladas na atual temporada 2020/21, ante uma previsão de 4,8 milhões de t em fevereiro.

Porém, para 2021/22, a entidade estima no mercado global de açúcar um déficit de 2,7 milhões de t.

Veja mais:
» OIA reduz projeção para déficit global de açúcar em 2020/21

No financeiro, as cotações do petróleo avançavam levemente nesta tarde de sexta-feira, contribuindo para o suporte do açúcar. Além disso, o dólar registrava queda sobre o real, o que tende a desencorajar as exportações das commodities, mas dá suporte aos preços internacionais.

"Os preços mais altos do petróleo beneficiam os preços do etanol e podem levar as usinas de açúcar do Brasil a desviarem a moagem da cana para a produção de etanol, reduzindo assim o fornecimento do adoçante", disse em nota a fornecedora de informações de commodities Barchart.

Mercado interno

Antes do feriado no Brasil, o açúcar no mercado interno registrou preços praticamente estáveis. Como referência, na última quarta, o Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar, cor Icumsa de 130 a 180, mercado paulista, saltou 0,09%, cotado a R$ 116,34 a saca de 50 kg.

No Norte e Nordeste do Brasil, o açúcar registrou estabilidade, a R$ 124,52 a saca, segundo dados da consultoria Datagro. O açúcar VHP, em Santos (SP), tinha no último dia de apuração disponível o preço FOB cotado a US$ 18,65 c/lb com queda de 0,06%.

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Fonte:
Archer Consulting/NA

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