Mercado de café: "Stops atingidos!. E agora?", por Marcelo Fraga Moreira*

Publicado em 04/04/2021 10:39
*Marcelo Fraga Moreira escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

Como falamos há duas semanas “O Set-21 fechou @ 132,95, em cima da média móvel dos 50 dias @ 132,80 centavos de dólar por libra-peso! Rompendo esse importante suporte poderá buscar o próximo suporte @ 129,40 e @ 124,30 centavos de dólar por libra peso. Próximas resistências @ 135,40 e 141,40 centavos de dólar por libra-peso! Nos próximos 45-60 dias o mercado estará nas mãos dos fundos, consolidando, “2 pra lá, 2 pra cá”... e aguardando o inverno chegar!

Fundos!! Ahh os fundos! Semana passada os stops de venda foram acionados e o mercado caiu -780 pontos! A segunda-feira começou de lado, caindo apenas -145 pontos, com baixo volume negociado (apenas 29.300 contratos) e fechando @ 131,00 centavos de dólar por libra-peso. Nos outros 3 dias da semana o volume diário praticamente dobrou negociando 64.400/69.600 e 55.600 lotes e fechando @ 126,60/127,30 e 124,75 centavos de dólar por libra-peso respectivamente na terça-feira, quarta-feira e quinta-feira. Os números oficiais do CFTC já saíram e os fundos novamente reduziram a posição comprada vendendo aproximadamente -6.000 lotes e seguem comprados em “apenas” 12.000 lotes.

O Real voltou a oscilar, entre R$/US$ 5,80-5,63, e não foi esse o motivo para o mercado “derreter”.

Na noite da quarta para quinta-feira ocorreram fortes chuvas no Estado do Espirito Santo, com chuvas de granizo em algumas áreas e consequente prejuízo em algumas propriedades. Chuvas voltaram a cair nas principais zonas produtoras e para a próxima semana a previsão segue com mais chuvas pontuais também.

Mercado físico spot e vendas para entrega futura (para julho-dez-22 e julho-dez-23) estão praticamente parados. No mercado spot os produtores (que ainda possuem estoque disponível) aguardam por   preços acima dos 900/1.000 r$/saca (ouvimos relatos de produtores carregando mais de 50.000 sacas de café e sem pressa para vender!). Para vendas futuras, como já tem muita quantidade vendida, compromissos assumidos, produtores seguem reticentes, aguardando o início da colheita e os resultados tão aguardados. Do lado comprador os preços ofertados reduziram em função da queda do mercado em Nova Iorque e Londres (com bids reduzindo 50-80 r$/saca comparado a semana passada) e os diferenciais voltando a fechar para tentar atrair os vendedores.

A safra do robusta no Brasil começa neste mês de Abril com maior intensidade e a do Arábica a partir de Maio. Até lá, o mercado continua buscando motivos para seguir a dança dos “2 pra lá 2 pra cá”. E todos de olho em qual será o próximo movimento dos fundos!

Para o Set-21, se os fundos/algorítimos dispararem novos stops e forçarem os preços a trabalhar abaixo do importante suporte dos 124,50 centavos de dólar por libra-peso, com apetite e força para irem “vendidos” num mercado prestes a entrar em um período de inverno rigoroso, poderemos ver o mercado cair mais 900 pontos e testar os 111.00 centavos de dólar por libra-peso (cenário possível mas não acreditamos ser provável em acontecer).

Por outro lado, seguimos construtivos e acreditamos que os fundos irão voltar a comprar, construir uma nova tendência de alta buscando romper as resistências dos 130/133 e finalmente dos 140 centavos de dólar por libra-peso. Nestes novos movimentos não vemos venda de origem dando forças para um novo movimento de baixa, e da mesma forma não enxergamos volume de vendas para segurar o mercado caso stops de compra sejam acionados.

Os sinais positivos para o médio prazo seguem sendo o avanço da vacinação nos Estados Unidos (previsão da população estar toda vacinada até final de junho-21) e o novo pacote de estímulos econômicos anunciado pelos Estados Unidos na última quarta-feira com reflexos em todas as principais economias mundiais (injetando mais 2 trilhões de dólares na economia americana focando investimentos na infraestrutura do pais) . Na Europa a vacinação continua e segue o otimismo para que esse verão europeu não seja mais um verão perdido, com as viagens/consumo voltando ao normal (porém França voltou a anunciar novo lockdown por mais 30 dias).

As dúvidas e a grandes questões no mercado continuam sendo as seguintes:

- Qual o real estoque de passagem global referente 30 de abril 2020?  

- Qual o tamanho real da safra brasileira 19/20 (entre 60-75 milhões de sacas)? E a safra 20/21 será de quanto (estimada entre 43-57 milhões de sacas)?

- Qual o consumo mundial real durante os últimos 12 meses (segundo algumas pesquisas divulgadas nessa semana houve aumento do consumo doméstico nos Estados Unidos e Europa. Esse aumento de consumo, nos países ricos, foi suficiente para compensar a redução do consumo nos cafés/restaurantes/hotéis/aviões ao redor do mundo?);

- Qual o consumo real nos demais países consumidores? Houve redução ou crescimento na demanda? E qual será o aumento da demanda para os próximos 6-18 meses? Haverá aumento real nos países mais pobres ou a crise econômica/desemprego irá afetar o consumo de café nesses países?

- O aumento das exportações brasileiras nos últimos 6 meses reflete o aumento real do consumo? Alguns alegam que as exportações brasileiras seguiram fortes entre out-20-março-21, e, que isso significa aumento da demanda! Ora, esses compromissos de “compra e venda” e os compromissos logísticos foram assumidos antes da pandemia começar, e todos estes compromissos precisam e estão sendo honrados para evitar “quebras de contratos/inadimplências!

- Todo esse café exportado, não só pelo Brasil, mas também por outras origens (como Vietnam, América Central, Colômbia, Ruanda, Uganda dentre outros) vem sendo processados ou apenas estocados nos destinos? Estão encontrando compradores ou apenas sendo depositados contra os estoques certificados nas Bolsas de Nova Iorque e Londres e/ou nos portos de destino?    

- Como será o inverno brasileiro? Teremos geadas? Vamos ter nova redução na safra 20/21?

- E a safra 21/22 e 22/23? As chuvas necessárias entre set-dez-21 vão voltar? As lavouras vão conseguir se recuperar?

Seguimos cautelosos com as seguintes visões para o curto prazo e para o médio/long prazo:

  1. Para o curto prazo, para a safra em andamento 20/21: seguimos sugerindo a compra de proteção contra a alta no Set-21 através da compra de “Calls” strike 150/160, ou através da compra da “Call-Spread” strike +150/-190. Nesse caso, como já temos muitas vendas comprometidas, o risco que vemos será no caso do inverno ser muito rigoroso e geadas venham a ocorrer destruindo e reduzindo ainda mais a produção brasileira. Geadas ocorrendo agora irão prejudicar a produção para as próximas safras 21/22 e 22/23... e o Set-21 poderá explodir para 150-200 centavos de dólar por libra-peso!

  2. Para o média/longo prazo, vemos 2 cenários para as próximas safras 21/22 e 22/23: O aumento dos custos brasileiros são reais. Tivemos aumento em tudo no Brasil nos últimos 12 meses. O custo de produção dos produtores aumentou significativamente. Porém, o que dita a regra dos preços ainda é a regra da “oferta e demanda”. Se a safra brasileira não sofrer com geadas, se as chuvas voltarem ao normal, e a próxima safra 21/22 e 22/23 conseguirem se recuperar e voltarem a ser acima dos 70 milhões de sacas (e as safras nas outras origens também voltar a se recuperar e os números de oferta mundial forem normais), então para o Set-22 acreditamos em preços novamente próximos dos 110/100 centavos de dólar por libra-peso

Como NÃO temos bola de cristal recomendamos no Set-22 a compra da “Put-Spread” +135/-110 e a venda da “Call-Spread” -160/+190. Desta forma o produtor estará garantindo uma remuneração ao redor dos 790 R$/saca (cobrindo os novos custos de produção), e poderá maximizar os resultados se protegendo contra eventual alta nos livros caso o pior cenário venha a ocorrer, podendo vir a vender ao redor dos 900 r$/saca (com base no fechamento do mercado na quinta-feira essa operação custava aproximadamente 69 R$/saca – e DESDE que o contrato Set-22 feche acima dos 110 centavos de dólar por libra-peso e abaixo dos 160 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções).

Como sempre, sejam prudentes! Cuidado com os acumuladores, as estruturas que “aparecem/desaparecem/dobram”!

Não coloquem riscos desnecessários nos seus livros!

Feliz Páscoa a todos e uma ótima semana! 

Marcelo Fraga Moreira*

** “Call” = opção de Compra

** “Put” = opção de Venda

** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício  mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;

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Fonte:
Archer Consulting

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