Desabafo de um citricultor, por Luiz Antonio da Cunha
Hoje estou aqui vendo as máquinas arrancando meu pomar e com o coração apertado, segurando as lágrimas, vejo as plantas irem tombando uma a uma como se fossem soldados esgotados no fim de uma batalha.
Começo a olhar aquele campo, as árvores tombadas e minha imaginação volta para anos atrás, quando elas estavam ali, em pé, viçosas e produtivas, trazendo o sustento para mim, minha família e todos os trabalhadores de várias funções, que ali ganhavam o pão de cada dia.
Para ser citricultor a gente precisa, antes de tudo, ter o dom para isso. Temos a terra e a preparamos para receber as mudas, que cuidamos para chegarem na fase produtiva como se fossem nossos filhos. Damos de comer, preparamos o ambiente para que cresçam no mais acolhedor conforto e da maneira mais nutritiva possível, para nos recompensarem com um sucesso esperado.
Por anos, esse trabalho foi muito bom. Agora, de alguns anos para cá, fomos perdendo o controle de nossos produtos, não por culpa nossa, mas como conseqüência de um monte de abusos sobre nossa produção e, logicamente, sobre nossa vida.
Somos vitimas de governos que não se preocuparam, um mínimo sequer, para regulamentar o setor e trazer-nos algum tipo de tranqüilidade e segurança, tudo diante do descaso com os produtores rurais, que são os responsáveis pela alimentação desta imensa população brasileira.
Não colocou-se um limite na ganância das indústrias, que com seu poder monetário, foram tomando conta do negócio e agindo sempre da maneira que quisessem, criando regras no ramo do suco que só davam vantagens e condições para elas próprias.
Com isso, fomos perdendo cada ano um pouco e terminamos esmagados pela ganância do poder econômico e descaso dos governos chegando ao ponto de perdermos tudo. Cada negociação que fazíamos, parecíamos pobres mendigos com uma canequinha na mão, pedindo esmolas. E por fim, há dois anos, não compram laranja dos produtores que não fazem parte de suas preferências.
Resumindo, temos a terra, compramos a muda, plantamos em área previamente preparada, adubamos com fertilizantes, podamos, desbrotamos, damos empregos para milhares de pessoas e famílias, produzimos, colhemos, transportamos e para chegar aqui gastamos o que não temos com defensivos para proteger as plantas e os frutos, sem falar das pragas que afetam os pomares, sem condições de controle.
Assumimos dívidas com custeios, compras de tudo que usamos para o sucesso de nossa missão que é produzir alimentos para a mesa de nosso povo.
Fertilizantes, defensivos, tratores, oficinas, mão de obra de colhedores, fretes de caminhões, tratoristas, empregados, inspeção de pragas, etc, etc... São coisas e elementos que não farão mais parte do nosso dia a dia e de nossa folha de pagamento.
E voltando aqui e agora, vendo as máquinas erradicando os meus pés de laranja, vejo deitando junto um monte de sonhos que realizei e outros sonhos que não poderei mais tornar realidade, pois cada árvore que cai, se transformando em nada, ou seja em cinza, sinto uma pontada no meu coração e uma vontade de gritar de dor e de ódio contra aquilo e aqueles que me fizeram chegar a esse ponto, e lá bem baixinho, falando comigo mesmo, me pego dizendo:
- Obrigado por tudo que vocês me deram, e estou muito triste porque vocês tem que ir.
Assim como a gente não quer que um filho parta de junto de nós, também não queremos que aquilo que amamos, que faz parte da nossa vida, parta. Mas isso acontece para nos provar que temos que estar sempre prontos, para ganhar ou perder, e partir para novos desafios.
“LUTAR SEMPRE, GANHAR ÀS VEZES E DESISTIR JAMAIS. TENHO ORGULHO DE SER ROCEIRO E PRODUZIR ALIMENTOS” - “A AGRICULTURA AGRADECE AOS POLÍTICOS E GOVERNANTES POR FINALMENTE DESCANSAR EM PAZ”.
LUIZ ANTONIO DA CUNHA (LUIZ URIAS)
– Itápolis-SP - 05 de julho de 2013 –
1 comentário

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Táccio Rocha Amparo - SP
O citricultor nessa etapa teria que unir forças, não pra realizar protesto em Brasília e sim fechar os portões das indústrias por um dia ou mais, e se ocorrer perseguição das indústrias aqueles que participarem ai que entra a união de todos, reivindicando os direitos do Citricultor.