Agronegócio em 2020: ventos favoráveis, mas com riscos no radar, por Guilherme Bellotti e Cesar de Castro Alves

Publicado em 14/01/2020 14:57

O ano de 2020 se descortina e as perspectivas para a geração de renda das empresas do agronegócio brasileiro são novamente positivas. Espera-se que esse pujante setor, que representa 20% do PIB nacional, siga contribuindo para a geração de mais de 18 milhões de empregos e atraindo divisas na casa dos US$ 100 bilhões por meio de suas exportações.

No tocante ao segmento de proteína animal, o céu tende a seguir de brigadeiro, por conta, em grande parte, da redução sem precedentes da produção de suínos na China e da expectativa de melhora do consumo doméstico na esteira da recuperação gradual da economia brasileira. Estimativas do Itaú BBA indicam que o PIB do Brasil deva crescer 2,2% em 2020.

Do lado dos grãos (soja e milho), o cenário também é positivo, a reboque do bom fluxo esperado de exportações, demanda local aquecida refletindo o crescimento da produção de proteína animal, elevação dos impostos na Argentina e do câmbio desvalorizado.

Para o setor sucroenergético, os ventos favoráveis sopram da trajetória mais positiva para os preços do açúcar associado a um déficit global substantivo (na casa dos 10 milhões de toneladas) e também das cotações remuneradoras do etanol. Esse último tende a seguir beneficiado pelos preços firmes do petróleo, câmbio desvalorizado e crescimento da demanda de combustíveis de ciclo Otto.

Além disso, neste ano deve ocorrer a implementação do programa Renovabio – que possui como principal pilar o estabelecimento de metas de redução de emissões de carbono para o mercado de combustíveis – e deverá trazer reconhecimento monetário das externalidades positivas da utilização de biocombustíveis.

No entanto, a despeito dessa bonança esperada pelo setor, há riscos que permeiam o ambiente de negócios e que devem estar no radar dos players da cadeia. O primeiro deles diz respeito a uma eventual greve de caminhoneiros no âmbito da discussão que envolve o tabelamento do frete. Como visto em 2018, um evento como esse pode causar uma ruptura na logística de escoamento e suprimento da produção nacional, o que causaria impactos significativos na geração de renda do setor. É esperado que a discussão sobre esse tema volte à tona neste início do ano.

Não se pode descartar também os efeitos que a primeira fase do acordo entre China e Estados Unidos – e o inerente compromisso chinês de aumentar as compras de produtos agrícolas norte-americanos – podem ter sobre as exportações nacionais (o Brasil exportou US$ 35 bilhões de produtos agrícolas em 2019). Em que pese o fato que não acreditamos que o comprador chinês simplesmente fechará as portas para o produto brasileiro (ninguém quer ficar dependente de apenas um grande fornecedor), provavelmente, parte significativa do apetite do dragão tende a ser satisfeito com produtos do Tio Sam. Assim, por mais que haja um rearranjo de destinos, cadeias como a da soja, algodão e proteína animal poderiam ver seus preços afetados.

Outro ponto de atenção é a evolução das tensões geopolíticas, principalmente a que envolve Estados Unidos e Irã. Um agravamento dessa tensão pode impactar as exportações para um mercado que absorve US$ 2 bilhões de produtos agrícolas do Brasil, com destaque para milho e carne bovina. Se houver desdobramentos para outros países do Oriente Médio, o fluxo de vendas para o bloco, que soma US$ 7,5 bilhões, também deverá ser afetado, impactando o açúcar. Além disso, tais eventos podem afetar os preços do petróleo e, consequentemente, reduzir as taxas de crescimento global e diminuir as exportações de produtos agrícolas para outros países.

Essas tensões geopolíticas e as consequentes incertezas em relação ao crescimento econômico global, do mesmo modo, tendem a aumentar a volatilidade da taxa de câmbio. Isso aumenta as possibilidades de que uma eventual apreciação do dólar coincida com o momento de pagamento de obrigações na moeda norte-americana e, assim, impactar os resultados das empresas.

Portanto, apesar de todo o cenário positivo vislumbrado para o agronegócio em 2020, é recomendável que os agentes do setor sejam prudentes no gerenciamento do seu fluxo de caixa – com especial atenção ao descasamento cambial – e também nas decisões de investimento de modo a preservar a saúde financeira das companhias e não se colocar em posição de grande fragilidade.

Guilherme Bellotti é gerente de consultoria de agronegócio no Itaú BBA

Cesar de Castro Alves é consultor de agronegócio no Itaú BBA

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Guilherme Bellotti e Cesar de Castro Alves

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