Pastagens a serviço da sociedade, por Bruno Pedreira e Lynn E. Sollenberger

Publicado em 01/04/2020 10:38 e atualizado em 01/04/2020 12:17
Bruno Pedreira, Pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril. Lynn E. Sollenberger, Professor do Departamento de Agronomia, Universidade da Flórida, Gainesville, FL, EUA.

As pastagens estão entre os ecossistemas mais extensos do mundo, abrangendo cerca de 40% da superfície sem gelo da Terra. As pastagens para produção pecuária são a maior classe de uso da terra no planeta, ocupando aproximadamente 3,5 bilhões de ha, e a fonte predominante de forragem para animais em pastejo no mundo. As pastagens são responsáveis por produzir alimentos para animais, para humanos e outros produtos agrícolas que proporcionam inúmeros benefícios à sociedade. Nós, humanos, somos fundamentalmente dependentes desses benefícios, os quais definimos como serviços ecossistêmicos, embora seu valor nem sempre seja reconhecido.

No entanto, apenas recentemente, começamos a entender as pastagens como fornecedoras de produtos importantes para a sociedade, o que inclui a forragem produzida para alimentar os animais. Isso resulta na produção de alimentos de origem animal destinados ao consumo humano (carne e leite), contribuindo com o atendimento da demanda global de alimentos e com a geração de outros produtos de origem animal (lã, medicamentos, cosméticos, couro, etc.).

Nos últimos anos, um amplo esforço de pesquisa vem sendo feito para auxiliar produtores na otimização da produção de forragem, ciclagem de nutrientes via palhada e excrementos dos animais, fixação de nitrogênio, habitat para garantir biodiversidade, manejo de pastagens e, por fim, aumentar a produção pecuária. Pastagens bem manejadas podem contribuir recarregando as bacias hidrográficas, filtrando a água à medida que se move pelo solo,  garantindo a conservação e evitando a degradação dos nossos solos. Isso é o resultado da manutenção da cobertura vegetal e da diversidade de espécies nas pastagens que auxiliam a minimizar a erosão do solo, a lixiviação de nutrientes para as águas subterrâneas ou o escoamento para as águas superficiais. Além de aumentar a matéria orgânica do solo e a reter mais água e nutrientes no solo.

Os ecossistemas de pastagens também são capazes de oferecer benefícios não materiais para as pessoas, como recreação ao ar livre, observação da vida selvagem, fotografia, manutenção de estilos de vida tradicionais, realização espiritual e projetos de pesquisa e educação. Portanto, as pessoas, especialmente os entusiastas da natureza, podem ser atraídas para visitar fazendas e desfrutar de atividades recreativas, como a observação de pássaros, por exemplo, hoje ainda pouco exploradas economicamente.

Nos próximos anos, na medida em que haja o reconhecimento pela sociedade, será preciso encontrar uma maneira de compensar os produtores por essa prestação de serviços. De Groot et al. (2012), estimando serviços de ecossistemas em escala global, calcularam que o valor médio de uma variedade de serviços nas pastagens era de U$ 4.605 por hectare/ano [convertidos em dólares de 2017 por Hodges et al. (2019)]. Seguindo essa mesma lógica, o estado de Mato Grosso, detentor do maior rebanho de bovinos do Brasil, com 23 milhões de hectares de pastagens destinados à indústria pecuária, teria o potencial de gerar mais de U$ 100 bilhões/ano em serviços ecossistêmicos.

Esse montante oferece uma perspectiva de valor dos serviços ecossistêmicos para a sociedade e para os pecuaristas, indicando o potencial que ainda há em melhorar o manejo de pastagens e na inserção de sistemas integrados de produção para promover uma indústria pecuária ainda mais sustentável.

Referências

de Groot R, Brander L, van der Ploeg S, et al (2012) Global estimates of the value of ecosystems and their services in monetary units. Ecosyst Serv 1:50–61. doi: 10.1016/j.ecoser.2012.07.005

Hodges AW, Court CD, Rahmani M, Stair CA (2019) Economic Contributions of Beef and Dairy Cattle and Allied Industries in Florida in 2017. Gainesville, FL

Millenium Ecosystem Assessment (2005) Ecosystems and Human Well-being: Synthesis. Island Press, Washington, DC.

 

 

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Fonte:
Embrapa

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