Uma semana de volatilidade em Chicago, por Andrea Cordeiro

Publicado em 17/05/2021 11:50 e atualizado em 17/05/2021 12:36

Tivemos uma semana agitada com múltiplos fundamentos e fatores processados por fundos de investimentos. O reflexo disto você já sabe: foi volatilidade pura e pregões malcriadamente desrespeitando níveis de suporte e resistência exatamente como se não existissem critérios técnicos ou fundamentais que balizassem o racional.

Foi uma semana para deixar muita gente zonza, não foi? Umas com os bolsos cheios e aposto o que quiser que outras tantas com os bolsos vazios. Isso mesmo, você não leu errado. Esse quando tiramos o contexto de proteção, de hedge e pensamos em especulação, este pode ser um risco real para quem atua com mercados futuros.

E acredite ou não, este cenário quase sempre é construído pelos próprios participantes do mercado. Muitas vezes seguindo a tendência dos grandes players, outros participantes de menor participação ou que inclusive não têm tradição no agro, mas que ganham dinheiro investindo e especulando em agrícolas, entram para alimentar a ciranda surfando a onda do momento. E nós sabemos que a onda do momento já vem sendo há algum tempo a soja e milho.

Essa ciranda especulativa toda, em algum ponto acaba distorcendo o próprio mercado, mas como a atuação em massa é intensa e global já alcançando o varejo – ou seja, o produto caiu na boca do povo – os movimentos em bolsa passam a ser cada vez mais irracionais e nervosos.

E na maioria das vezes é na hora que TODO MUNDO ENTRA e o produto está hiper inflacionado que fundos e investidores tradicionais e profissionais aproveitam para sem dó nem piedade, fazer o que melhor sabem: realizar lucro.

E foi o que aconteceu nesta semana. A famosa sacudida da goiabeira – expressão bem conhecida para quem está no mercado. Altistas ou bullish, representados em sua maioria por grandes fundos de investimentos com posições mega compradas cavaram uma oportunidade de lucro poderosa um dia após a divulgação do primeiro relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA para a próxima temporada norte americana.

Inicialmente com um pretexto que os estoques finais da próxima safra em 140 milhões de bushels ainda são desconfortáveis, os preços subiram no dia do relatório para então caírem acentuadamente na quinta após o mercado sentir o peso de uma projeção de exportação mais fraca.

Como componente baixista extra, o tráfego de barcaças no Rio Mississippi bloqueado por problema estrutural em uma ponte na divisa entre os estados de Tennessee e Arkansas gerou preocupações sobre a logística portuária.

e foi neste pregão de quinta que muita gente no varejo se assustou e se machucou feio, precisando colocar ordem de stop pra liberar margem e ajudar a cobrir saldo negativo.

A pegadinha desta história é que muitos destes fundos que venderam nas máximas do dia na quinta recompraram posição, repondo média em carteira e muita gente no varejo realizou prejuízo.

Após ter cotado máximas de 9 anos, o contrato da soja encerrou a semana respeitando resistência em área próxima a $15,90.

Certamente se você leu o texto até aqui deve estar se fazendo a pergunta que vale milhões: Esse mercado continua apontando para novas altas?

É fácil analisar o que já aconteceu, embora eu conheça quem mesmo assim não consiga ou não aprenda com o processo, mas a resposta vai ser construída por alguns fatores que ainda estão acontecendo e que precisam ser monitorados.

Sempre relembrando que existem situações que fogem ao controle e entendimento como pandemias, guerras, conflitos calamidades, mudanças agudas na política internacional ou questões tributarias envolvendo países importadores e concorrentes, mas considerando que:

# o plano de vacinação em andamento aumentará a confiança na retomada da economia mundial e os países voltarão a apresentar índices crescentes no PIB;

# que a febre suína africana estará sob controle e que a China está no caminho de reposição gradativo de seu plantel suíno;

#que existe um aperto mundial do quadro de óleos vegetais;  

# que 70 % da safra atual brasileira de soja já está comercializada;

# que estoques de passagem da oleaginosa nos EUA são apertados

# que não há espaço para perdas de área e produtividade na temporada que inicia no hemisfério norte e mesmo com uma projeção de área maior de soja nos EUA, qualquer adversidade climática pode colocar em risco a produtividade da próxima safra que ainda está sendo plantada no meio oeste norte americano. - Durante a semana o NOAA – divulgou o fim do fenômeno La Nina o que tranquiliza o mercado.

É possível que os fundos de investimento mantenham suas posições compradas a espera de notícias da safra norte americana. Ainda está muito presente para estes mesmos fundos o prejuízo que tiveram há dois anos atras quando tiveram que desmontar às pressas suas posições vendidas à medida que produtores do meio oeste ficaram sem finalizar seus plantios devidos ao excesso de chuva.

Monitorar a entrada da temporada e acompanhar a evolução das lavouras será tarefa obrigatória para estes investidores e será daí que o mercado terá a chave para a tendência dos preços da soja para os próximos meses. Anote aí, até final de junho, quando o USDA divulgará o relatório final de área de plantio, mais conhecido como acreagem, ondas especulativas sobre disputa de área entre soja e milho no meio oeste não devem deixar o mercado nosso de cada dia entediante. Até lá, fortes emoções estão garantidas. Destaque garantido também para a evolução climática e acompanhamento das condições de lavoura e se for pra apostar, acredito que o clima sul-americano este ano entrará no contexto dos trabalhos mais cedo que o normal.

E é claro que como sempre, a cereja no topo do bolo dependerá da China.

Até agora ainda não está claro para o mercado qual a linha diplomática que o atual governo dos EUA adotará com China. Guerra comercial é um ponto importante na pauta do mercado.

Vale pontuar que com praticamente uma safra inteira a negociar 2022/2023, as famílias produtoras brasileiras também precisam monitorar o posicionamento diplomático brasileiro, especialmente após recentes comentários que o governo brasileiro fez através de representantes da alta cúpula sobre a relação da pandemia e China.

Estejamos atentos, são muitos fundamentos o que torna o mercado dinâmico e sensível às oscilações. Quanto mais profissional o agronegócio nacional estiver e quanto mais conhecer ferramentas para gerenciar riscos e se proteger da volatilidade que compromete resultados e determina prejuízos, mais sustentável o setor se torna.

Um abraço,
Andrea Cordeiro. 

Volatilidade - Artigo Andrea Cordeiro

 

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Andrea Cordeiro

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