Soja: mercado volta a recuar em Chicago e prêmios sobem no Brasil
Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago operam com pouca movimentação e sem uma direção bem definida nesta quarta-feira (2). Mais cedo, porém, o mercado tentava se manter do lado positivo da tabela e operava com ligeiras altas. Assim, por volta das 10h15 (horário de Brasília), os primeiros vencimentos registravam pequenos ganhos, enquanto as posições mais distantes trabalhavam com ligeira queda.
O mercado registrou esta semana duas semanas de intensas baixas na Bolsa de Chicago e perdeu importantes patamares de preços nos contratos mais negociados depois dos últimos números divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Os dados pegaram o mercado e seus participantes de surpresa e trouxeram os negócios para um novo patamar de preços.
Dessa forma, as cotações entram em uma fase de acomodação no mercado internacional. Como explicou o consultor em agronegócio Flávio França, esse é um momento em que o mercado ainda está assimilando uma nova realidade e o bom desenvolvimento da safra norte-americana 2014/15. As condições de clima nos Estados Unidos têm se mostrado bastante favoráveis e, até o último domingo (28), 72% das lavouras estavam em boas ou excelentes condições, o que é um número positivo em relação à média dos últimos anos e, principalmente, os das safra 2013/14.
Com esse quadro climático e a última projeção do USDA para uma área de plantio de mais de 34 milhões de hectares, a produção americana de soja poderia chegar a mais de 100 milhões de toneladas e o efeito psicológico desses números é o que tem exercido uma pressão mais acentuada nos vencimentos referentes à nova safra dos EUA.
"O mercado está agora assimilando essa nova realidade e a questão do bom andamento das lavouras. Mas a colheita ainda nem começou (...) Só teremos números da soja na segunda quinzena de setembro", disse França. "A definição da safra de soja acontece somente em agosto, o que quer dizer que ainda temos um tempo maior de possibilidade de alguma novidade climática", completa.
Paralelamente, no curto prazo, o mercado segue sustentado pelos fundamentos. Falta soja nos Estados Unidos, é o auge da entressafra no país nesse momento, e as exportações e embarques semanais, a 10 semanas do final do ano comercial, seguem acelerados. E é esse cenário que reforça a necessidade que os primeiros vencimentos ainda têm de racionar o consumo nesse período de escassez nos EUA e vendedores retraídos na América do Sul.
Mercado Interno
No Brasil e na Argentina, os produtores de soja têm evitado realizar novas vendas à espera de preços melhores e também de melhores oportunidades de comercialização. Por conta das baixas recentes em Chicago, as cotações no mercado brasileiro apresentaram algum recuo em importantes praças e também nos portos, porém, os altos prêmios - que já superam US$ 1,00 sobre o valor praticado na CBOT para os contratos julho e agosto - têm amenizado esse impacto.
Nesta quarta-feira, a saca da soja disponível é negociada a R$ 69,50 no Porto de Rio Grande, com um prêmio de US$ 1,30, o que sinaliza que a demanda pelo produto brasileiro continua aquecida, principalmente por parte dos Estados Unidos, segundo analistas, e acabam compensando as baixas dos últimos dias. Nas semanas anteriores, o valor da soja negociado nos portos chegou a superar os R$ 70,00 e ainda assim não estimularam novas vendas.
Em junho, as exportações de soja do Brasil somaram, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), 6,89 milhões de toneladas, contra 7,609 milhões de maio, registrando uma baixa de 10%, aproximadamente. Porém, em uma correlação com o cenário industrial, as vendas externas de farelo e de óleo de soja aumentaram em 18 e 21%, respectivamente.
"Isso significa dizer que o fator industrial está potencialmente aumentando o preço agregado ao produtor. As exportações estão menores no Brasil com as indústrias batendo cada vez mais na porta do produtor para garantir seu produto e o abastecimento no segundo semestre. Por isso, mercado industrial é o foco e o que vai demandar soja dos produtores", explica Mário Mariano, analista de mercado da Novo Rumo Corretora.