Investigados pela Lava Jato movimentaram R$ 23,7 bi em 3 anos
Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do governo federal encarregado de monitorar transações financeiras suspeitas de constituir lavagem de dinheiro, indicam que pessoas e empresas investigadas na Operação Lava Jato da Polícia Federal movimentaram de forma atípica 23,7 bilhões de reais entre 2011 e 2014. As informações são do jornal O Globo.
Relatório obtido pelo jornal mostra que o grupo movimentou, só em espécie, 906,8 milhões de reais no período. Ao todo, foram produzidos pelo órgão 108 relatórios que citam 4.322 pessoas e 4.298 empresas que, de alguma maneira, participaram da movimentação de dinheiro resultante de negócios com a Petrobras – parte dele, de origem ilegal. O Coaf salientou, porém, que os mesmos nomes são citados diversas vezes nos documentos, por isso, os números não são absolutos.
Os papéis do órgão alertam, de acordo com O Globo, para possíveis irregularidades envolvendo movimentações financeiras do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef, de empreiteiras e demais investigados. Tais relatórios acabaram originando investigações que levaram a PF a deflagrar a Lava Jato.
Lava Jato
Perda da Petrobras pode chegar a R$ 21 bi, diz Morgan Stanley
O banco americano fez suas estimativas com base na declaração de Paulo Roberto da Costa de que as propinas representaram 3% do que foi investido pela empresa nos últimos anos
Paulo Roberto Costa disse à Polícia Federal que as propinas representaram 3% do que foi investido pela Petrobras nos últimos anos (Ueslei Marcelino/Reuters)
O banco americano Morgan Stanley foi um dos primeiros a divulgar a investidores uma estimativa das eventuais perdas com os desvios citados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Para o Morgan, as perdas podem chegar a 21 bilhões de reais, o que comprometeria todo o lucro de 2014 da estatal.
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O Morgan Stanley fez suas estimativas com base na informação dada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa de que as propinas representaram 3% do que foi investido pela empresa nos últimos anos. Levando em conta uma margem de erro, o banco considerou perdas de 1% a 5%, o que significariam baixas contábeis entre 5 bilhões e 21 bilhões de reais.
Neste último caso, se o registro das perdas na contabilidade for feito todo neste ano, não haverá pagamento de dividendos para os detentores das chamadas ações ordinárias (com direito a voto nas principais decisões das empresas). Os bancos estão fazendo as contas depois que a própria Petrobras admitiu que terá de reduzir o valor de seus ativos caso sejam confirmadas as denúncias de corrupção. Além disso, vários analistas financeiros alertam os investidores para a redução no pagamento de dividendos este ano e retiram a recomendação para a compra das ações da Petrobrás.
Os analistas do banco Safra que até esta terça-feira acreditavam que as ações da Petrobras teriam desempenho melhor do que outras ações, sugerindo oportunidade de compra, rebaixaram a ação para "neutro", ou seja, nem comprar nem vender. O Itaú BBA disse em relatório assinado por seus analistas que a cada 1 bilhão de reais de registro de baixa contábil que a Petrobras tenha de fazer, os detentores de ações com direito a voto, que deveriam receber 37 centavos por ação, vão receber 2 centavos menos. Na prática, se o rombo for de 10 bilhões de reais, o dividendo a ser pago cairá pela metade.
Contas públicas
Um dos maiores prejudicados seria o próprio governo federal que é dono de mais de 50% dessas ações e espera fechar as contas com esses dividendos. O BNDES tem outros 10%. Já os investidores estrangeiros, que possuem a ação negociada em Nova York, têm quase 20%. Os investidores que têm ações preferenciais serão menos afetados porque, pela lei, a Petrobras é obrigada a pagar dividendo mínimo, mesmo que tenha prejuízo.
Os relatórios dos analistas se mostram cautelosos, mas alertam para o potencial de a situação da Petrobras se agravar caso permaneça por um longo período sob investigação a ponto de impedir que os auditores avalizem seu balanço até meados do próximo ano. Se o balanço anual não for auditado e publicado até lá, a empresa não terá como refinanciar sua dívida que vence em 2015 e poderá ser forçada a pagar antecipadamente, de uma só vez, 57 bilhões de dólares em empréstimos, segundo dados do Morgan.
Quando a empresa faz um empréstimo, ela se compromete a manter margens financeiras do seu negócio, que servem como garantia de solvência, e também prestar informações atualizadas. Entre essas informações, estão os balanços auditados por empresas independentes. Na semana passada, a PricewaterhouseCoopers se negou a assinar o balanço trimestral antes do fim da investigação que está sendo feita para apurar as perdas com os desvios nas refinarias Abreu e Lima e Comperj. As informações são do jornalO Estado de S. Paulo.
(Com Estadão Conteúdo)
Lava Jato: Executivos deixam a prisão com rostos cobertos
Justiça determinou a libertação de 11 investigados na operação, desde que entreguem passaportes e não mudem de endereço sem autorização. Diretores de empreiteiras saíram da da PF escoltados por advogados
Executivos presos na sétima fase da Operação Lava Jato deixam a Polícia Federal em Curitiba (PR), nesta terça-feira, após terem a soltura determinada (Paulo Lisboa/Estadão Conteúdo)
Executivos de empreiteiras presos temporariamente na Operação Lava Jato deixaram a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba na noite desta terça-feira. Eles saíram do local com os rostos cobertos e escoltados por advogados. Nenhum deles quis se pronunciar. Motoristas em carros importados aguardavam o grupo, suspeito de fraudar licitações da Petrobras e pagar propinas a diretores da estatal e políticos.
Onze investigados na operação deixaram a prisão por decisão do juiz Sérgio Moro. Foram libertados: Othon Zanóide (diretor da Queiroz Galvão), Ildefonso Colares Filho (ex-diretor-presidente da Queiroz Galvão), Jayme de Oliveira Filho (ligado ao doleiro Alberto Youssef), Valdir Lima Carreiro (diretor-presidente da Iesa), Otto Sparenberg (diretor da Iesa), Alexandre Barbosa (OAS), Carlos Alberto da Costa e Silva (advogado), Newton Prado Junior (diretor da Engevix), Carlos Eduardo Strauch (diretor da Engevix), Walmir Pinheiro Santana (UTC) e Ednaldo Alves da Silva (UTC).
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Para deixar a prisão, os executivos tiveram de assinar um termo de compromisso, em que garantem não mudar de endereço sem autorização judicial e não deixar o país. Também ficam obrigados a entregar passaportes brasileiros ou estrangeiros no prazo de cinco dias e a comparecer a todos atos processuais do caso. Se descumprida qualquer medida, a Justiça poderá decretar a prisão deles.
Dos libertados, o Ministério Público Federal tinha requisitado que continuassem presos, por prazo indeterminado, Othon Zanóide, Ildefonso Colares Filho, Jayme de Oliveira Filho, Valdir Lima Carreiro e Alexandre Barbosa. Mas o juiz Sérgio Moro não considerou necessário que continuassem em reclusão.
Permanecem presos, por prazo indeterminado, doze suspeitos. Desses, seis investigados tiveram a prisão convertida de temporária em preventiva nesta terça-feira: Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa; João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da construtora; José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS; Mateus Coutinho de Sá Oliveira, diretor financeiro da empresa; e Ricardo Pessoa, presidente da UTC.
Outros seis suspeitos eram alvo de prisão preventiva desde sexta-feira passada e também não possuem previsão de deixar a cadeia: Eduardo Hermelino Leite, da Construtora Camargo Correa; José Ricardo Nogueira Breghirolli, da OAS; Agenor Franklin Magalhães Medeiros, da OAS; Sergio Cunha Mendes, da Mendes Júnior; Gerson de Mello Almada, da Engevix; e Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia.
A sétima fase da Operação Lava Jato foi deflagrada no dia 14 de novembro. Desde então, apenas Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro Mário Negromonte e auxiliar do doleiro Alberto Youssef, permanece foragido. Nesta terça-feira, o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, se entregou aos policiais na sede da PF em Curitiba.
Os principais alvos desta etapa da investigação são o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e sócios, diretores e conselheiros de empreiteiras que formaram um cartel para fraudar licitações. De acordo com as investigações, as empresas pagavam propinas a diretores da estatal e políticos, como condição para a assinatura de contratos milionários com a petrolífera. A Lava Jato começou investigando quadrilhas de doleiros que tinham movimentado mais de 10 bilhões de reais em operações de lavagem de dinheiro.