Café: Com salto nos preços do robusta, indústria migra para o arábica; variedades registram menor diferença em mais de dois anos
A diferença média nos preços do café arábica e robusta no mercado físico brasileiro, ambos tipo 6, foi a menor em abril deste ano desde janeiro de 2014, com R$ 87,37 a saca de 60 kg, segundo o Indicador CEPEA/ESALQ do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP. Essa valorização nos preços do robusta brasileiro, ou conillon, motivou a indústria a buscar alternativas para substituir o grão.
"A indústria de café torrado e moído encontrou na substituição do conillon pelo arábica uma alternativa para não precisar repassar esse aumento de preço ao consumidor final. Antes, cerca de 50% da composição dos blends era de conillon, agora, esse volume representa 40% e podem reduzir até para 30%", explica o diretor da Pharos Consultoria de risco em commodities, Haroldo Bonfá.
Com a proximidade da colheita e a expectativa de melhor produção nesta safra, os preços do café arábica registram consecutivas quedas nos últimos meses. No início do ano, o Indicador CEPEA/ESALQ para a variedade estava em cerca de R$ 500,00 a saca. Na última sexta-feira (20), fechou cotado em pouco mais de R$ 450,00. Já o mercado do robusta repercute mais uma safra de quebra no Espírito Santo e maior percentual de peneiras miúdas na colheita desta temporada. No início deste ano, o Indicador estava em cerca de R$ 380,00 a saca, mas chegou próximo de R$ 400,00 na semana passada.
Apesar do Indicador CEPEA/ESALQ levar em conta preços do tipo 6, para ambas as variedades, que não é o mais utilizado pela indústria, essa análise consegue sim dar um panorama da realidade atual do mercado, segundo o diretor executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), Nathan Herszkowicz.
As principais estimativas da safra 2016/17 de café do Espírito Santo apontam para mais uma queda na produção. Em 2015, as plantações capixabas enfrentaram uma das maiores secas dos últimos 50 anos, que impactou a produção agrícola de diversos setores. Em uma medida preventiva, em meio ao risco de desabastecimento, e com suas reservas de água extremamente baixas, o Governo do estado priorizou o consumo humano e proibiu a irrigação das lavouras em algumas cidades. Cerca de 80% das plantações de café robusta do Espírito Santo utilizam sistemas de irrigação.
No início do mês, a Justiça do estado proibiu o uso de água por irrigação nas lavouras da cidade de Rio Bananal. A polícia chegou a lacrar bombas em algumas fazendas. Além da decisão judicial, uma resolução da AGERH (Agência Estadual de Recursos Hídricos) do estado proíbe a irrigação, em qualquer horário, no município do Norte do estado.
Segundo Bonfá, essa situação no Espírito Santo não é passageira e pode ter reflexos na próxima safra. "Alguns produtores capixabas já tem migrado para outras culturas, como a pimenta do reino e o cacau", pondera o especialista em mercado. Para ele, a safra de robusta do Brasil neste ano deve ficar entre 9 e 13 milhões de sacas, já que outros estados produtores como a Bahia e Rondônia não tiveram problemas com a safra.
De acordo com o diretor da Abic, Nathan Herszkowicz, apesar da adequação na composição de blends pela indústria seguir critérios econômicos, também são levados em conta aspectos técnicos para que o café não apresente mudanças ao consumidor. "Quando o conillon [ou robusta] sobe muito, causa um desequilíbrio na indústria, que por sua vez, tem dificuldade de fazer esse repasse para o consumidor final e acaba mudando a composição de seus produtos", afirma.
Já na indústria de café solúvel, em que o robusta representa cerca de 80% da composição final do produto, a migração para o arábica ainda não ocorre de forma representativa e a valorização nos preços do robusta tem sido passada para o consumidor. "O café conillon tem melhor rendimento para se fazer café solúvel. Além disso, a indústria tem que manter o padrão de bebida dos seus produtos, então essa migração para o arábica ocorre de forma muito pontual", diz o diretor de Relações Institucionais da ABICS (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel, Aguinaldo José de Lima.
Não é só no Brasil que os preços do café robusta têm apresentado alta. Em outros países produtores, o grão também teve problemas na produção por conta do clima. Em reportagem publicada pela agência de notícias financeiras, Dow Jones Newswires, a consultoria BMI Research projeta para o mercado cotações sustentadas no mercado internacional. "Nos últimos meses, as cotações tiveram suporte de condições climáticas excepcionalmente secas na Ásia, por causa do El Niño, e esperamos que a escalada dos preços continue diante da deterioração dos fundamentos", aponta a BMI.
A consultoria estima que a produção de café robusta na Índia tenha queda de 10% nesta temporada e de 8% no Vietnã, apontando que os sistemas de irrigação, adotados como alternativa para reverter as perdas na safra, não foram suficientes para proteger as lavouras.
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