Dow Jones afunda e coronavírus leva a queda trimestral acentuada em mais de três décadas

Publicado em 31/03/2020 18:44

(Reuters) - Os três principais índices de Wall Street recuaram nesta terça-feira, com o Dow Jones registrando seu maior declínio trimestral desde 1987 e o S&P 500 sofrendo sua queda trimestral mais profunda desde a crise financeira, com evidências crescentes de danos econômicos maciços em decorrência da pandemia de coronavírus.

Em uma das transformações mais rápidas para um "bear market", o S&P 500 e o Dow Jones encerraram o primeiro trimestre mais de 20% inferiores em comparação ao final de 2019, quando a crise da saúde piorou nos Estados Unidos e paralisou as atividades comerciais.

Também foi o maior declínio registrado no primeiro trimestre para a S&P, já que os consumidores foram aconselhados a ficarem em casa, levando as empresas a anunciarem fechamento temporários e licença em massa para funcionários.

Como resultado, os economistas têm reduzido as expectativas de crescimento de 2020 e os investidores, observando relatórios financeiros trimestrais sombrios, têm temido que as inadimplências corporativas e as demissões em massa levem a uma profunda recessão.

Uma rodada sem precedentes de estímulo fiscal e monetário tinha ajudado os mercados acionários a subirem mais na semana passada, após fortes oscilações que viram o índice S&P 500, de referência, avançar 9% e recuar 12% em duas sessões consecutivas.

Mas isso não foi suficiente para dar confiança aos investidores. "Após o impacto que tivemos no mês passado, as pessoas não estão dispostas a fazerem grandes apostas em nenhuma direção no momento, principalmente porque teremos mais informações dos comentários nos primeiros relatórios de balanço a partir da próxima semana", disse Carol Schleif, vice-diretor de investimentos da Abbot Downing em Minneapolis.

Muitos investidores também devem estar cautelosos antes da divulgação de dados sobre pedidos de auxílio-desemprego na quinta-feira e do relatório de folha de pagamento não agrícola de março na sexta-feira, disse Steven DeSanctis, estrategista da Jefferies.

O Dow Jones recuou 1,84%, para 21.917,16 pontos, o S&P 500 perdeu 1,60%, para 2.584,59 pontos e o Nasdaq Composite caiu 0,95%, para 7.700,10 pontos.

A Nasdaq, que concentra ativos de tecnologia, registrou seu maior declínio trimestral desde o fim de 2018.

Coronavírus faz índice Ibovespa despencar 30% em março, pior resultado em mais de 20 anos

SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista fechou com o Ibovespa em queda nesta terça-feira, acumulando em março o pior desempenho mensal em mais de 20 anos, afetado pela forte aversão a risco que tomou conta dos mercados com a rápida disseminação de um novo coronavírus.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 2,17%, a 73.019,76 pontos. O volume financeiro somou 23,7 bilhões de reais.

Em março, o tombo foi de 29,90%, maior declínio percentual mensal desde agosto de 1998, ano marcado pela crise financeira russa, o que fez o Ibovespa acumular queda de 36,86% no ano, pior resultado de trimestre calendário desde pelo menos 1994.

Todas as ações do Ibovespa terminaram março com performance negativa no acumulado do mês e do ano.

"Os preços perderam qualquer referência", resumiu o gestor Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital.

No último mês, o 'circuit breaker', mecanismo que suspende as negociações quando o Ibovespa registra quedas expressivas a partir de 10%, foi acionado seis vezes, refletindo preocupações com os efeitos da pandemia do Covid-19 mas economias.

Governos do mundo todo anunciaram uma série de medidas de alívio dos efeitos da pandemia na atividade econômica, mas sem muito sucesso ainda no ânimo dos investidores, uma vez que não há trégua no ritmo de contágio e cada vez mais ações de confinamento estão sendo adotadas em vários países.

A alta acumulada na semana passada, que quebrou uma série de cinco com resultados negativos, trouxe algum alento, mas é consenso que a volatilidade não deve arrefecer, sem sinais claros do 'timing' de qualquer recuperação das economias ainda.

Economistas reduziram projeções para os PIBs, bem como organizações e governos. No mesmo sentido, foram cortadas projeções para os resultados de empresas, com muitas delas também suspendendo suas próprias estimativas para 2020.

"Esse 'bear market' tem sido incomum, não por causa da escala do declínio, mas por causa da velocidade e da volatilidade", avaliaram Peter Oppenheimer e equipe, do Goldman Sachs, em relatório a clientes.

PESSOA FÍSICA SURPREENDE

No Brasil, várias empresas adiaram planos de abrir capital na bolsa, enquanto o fluxo de capital externo continuou mostrando saída líquida no mercado secundário. A 'surpresa' veio do segmento de pessoas físicas, que comprou mais do que vendeu.

Até o último dia 26, o saldo no mês estava positivo em 15,1 bilhões de reais. No caso dos estrangeiros, negativo em 21,3 bilhões.

"O que vemos mais são pessoas com um fluxo reduzido de operações, tentando achar oportunidades e esperando as coisas melhorarem", afirmou Gabriel Mallet, especialista de produtos da Pi, plataforma aberta de investimentos do Grupo Santander.

Ele citou que não observou movimento de saída acentuada de aplicações em investimentos de risco, mas redução nas entradas, conforme investidores preferem aguardar uma definição do mercado.

O número de mortes em decorrência do novo coronavírus no Brasil avançou para 201 nesta terça-feira e os casos confirmados de Covid-19 no país atingiram 5.717, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.

Em todo o mundo, a pandemia já infectou cerca de 800 mil pessoas e matou quase 39 mil. Veja gráfico em: https://graphics.reuters.com/CHINA-HEALTH-MAP/0100B59S39E/index.html

Para o analista Jasper Lawer, chefe de pesquisa no London Capital Group, o primeiro trimestre está quase acabando e há um monte de medidas de alívio no mundo. "Um mês novo pode oferecer alguma perspectiva nova, e talvez uma mais construtiva."

DESTAQUES

- COGNA ON desabou 20,95%, após resultado trimestral, que mostrou queda de mais de 70% no lucro líquido ajustado, com aumento de provisões, receita líquida quase estável e diminuição na base de alunos do ensino superior. A empresa disse que está preparando medidas de apoio financeiro a alunos impactados pela crise desencadeada pela epidemia de coronavírus no país. No setor, YDUQS perdeu 17,18%.

- CVC BRASIL ON fechou em baixa de 14,29%. A operadora de turismo afirmou que não divulgará suas demonstrações financeiras de 2019 no prazo regulamentar, citando efeito do Covid-19 no trabalho das equipes e auditores. No mês, marcado pela pandemia e também revelação de indício de erros contáveis, contabilizou um tombo de 56,86%

- ITAÚ UNIBANCO PN caiu 4,23% e BRADESCO PN recuou 3,44%, após ganhos fortes na véspera, conforme as ações seguem voláteis diante da piora nas perspectivas econômicas devido à pandemia Covid-19. BANCO DO BRASIL ON fechou em baixa de 3,79%. No mês, Itaú caiu 27,81%, Bradesco cedeu 31,93% e BB acumulou queda de 40,18%

- PETROBRAS PN avançou 4,56%, oferecendo algum suporte, apesar do comportamento volátil dos preços do petróleo no mercado internacional. No mês, porém, caiu 44,79%.

- VALE ON valorizou-se 3,47%, tendo ainda de pano de fundo relatório do Goldman Sachs elevando a recomendação dos ADRs das ações da mineradora para 'compra', enquanto o preço-alvo para 11 dólares, de 11,4 dólares antes. A mineradora avalia que corre risco de enfrentar uma postergação da retomada de capacidade de produção em razão dos reflexos da pandemia do novo coronavírus. Em março, a ação caiu apenas 2,46%.

- AZUL PN recuou 8,07% e GOL PN cedeu 7,56%, com o setor aéreo entre os mais afetados na bolsa desde a pandemia, que provocou forte queda no tráfego de passageiros e levou as companhias a cortarem drasticamente as ofertas de voos. No mês, caíram 60,51% e 55,59%, respectivamente.

- SUZANO subiu 5,30%, em dia de alta do setor exportador com o dólar voltando a superar os 5,20 reais. A empresa também disse nesta semana que está elevando os preços de celulose na China em abril em 30 dólares a tonelada. KLABIN UNIT avançou 1,65%.

Preços do petróleo fecham março com maiores quedas mensais e trimestrais da história

NOVA YORK (Reuters) - Um trimestre volátil chegou ao fim nesta terça-feira com os valores de referência do petróleo acumulando as maiores perdas da história, uma vez que tanto WTI quanto Brent foram nocauteados em março pela paralisação econômica global em face da pandemia de coronavírus e pelo início de uma guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita.

Ambos os contratos de referência perderam praticamente um terço de seu valor no trimestre, com os declínios de cerca de 55% em março sendo responsáveis pela maior parte das retrações.

No último dia do mês, o petróleo dos Estados Unidos ainda registrou uma modesta alta de 2% nesta terça-feira, enquanto o Brent terminou a sessão em leve queda.

A demanda global por combustíveis foi destruída pelas restrições a viagens motivadas pela pandemia de coronavírus. Previsões de grandes comercializadoras e bancos veem a demanda recuando entre 20% e 30% em abril, com o consumo fraco permanecendo pelos próximos meses diante da atividade econômica severamente reduzida.

O petróleo dos EUA fechou o dia em alta de 0,39 dólar, cotado a 20,48 dólares por barril. O valor de referência norte-americano despencou 54% em março e 66% no primeiro trimestre, as maiores quedas desde o estabelecimento do contrato em 1983.

Já os contratos futuros do petróleo Brent fecharam em queda de 0,02 dólar, a 22,74 dólares o barril. O "benchmark" internacional também recuou 66% no trimestre, além de 55% em março, maiores baixas percentuais da história tanto para um trimestre quanto para um mês.

"O Covid-19 tomou o mercado do petróleo como refém", disse Michael Tran, diretor-gerente de Estratégias em Energia da RBC Capital Markets em Nova York.

"O ritmo sem precedentes de destruição de demanda forçou uma série de refinarias, em um nível global, a iniciar cortes de operação".

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Fonte:
Reuters

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