Na crise, ANP flexibiliza compra de etanol anidro por distribuidora

Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) publicou nesta segunda-feira, no Diário Oficial da União, resolução que flexibiliza obrigações contratuais de aquisição de etanol anidro pelas distribuidoras, em meio ao recuo na demanda em função de medidas de isolamento para combater o coronavírus.
"Tal medida decorreu da verificação de queda na demanda por gasolina C, em razão da pandemia do Covid-19, que trouxe consequências para a economia e para a demanda de combustíveis no país", afirmou a ANP.
Por questões de garantia de abastecimento, as distribuidoras são obrigadas a adquirir por contrato determinados volumes de etanol anidro das usinas --o produto é misturado na gasolina em uma proporção de 27,5%.
Por uma resolução da ANP de 2011, as aquisições de etanol anidro devem ser compatíveis com no mínimo 90% da gasolina C comercializada no ano civil anterior, considerando-se a mistura obrigatória vigente.
Mas, devido à queda acentuada de demanda, será aplicado redutor de 16% sobre o total comercializado, considerando apenas o volume referente a 11 meses de 2019, de acordo com a ANP.
Excepcionalmente, a alteração na norma terá validade para os contratos de fornecimento de etanol anidro com validade de julho de 2020 a maio de 2021, avançando assim dois meses da safra do ano que vem --o ciclo inicia-se oficialmente em abril.
Segundo o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, a alteração temporária na regra foi feita em comum acordo com as distribuidoras e o setor de etanol.
"Chegamos a um consenso, o fundamental no momento era manter os princípios da resolução", afirmou Padua à Reuters, admitindo que a nova meta é "conservadora" e, se houver necessidade, as distribuidoras poderão buscar o produto no mercado spot.
De qualquer forma, ele ressaltou que era imperativo reduzir a meta de contratos, sob pena de sobrar anidro.
"Obrigar a fazer mais anidro do que o mercado precisa não seria uma coisa ideal", disse.
MERCADO REAGINDO?
Embora o mercado de combustíveis esteja reagindo na comparação com as mínimas registradas no pico do isolamento, a demanda ainda está muito menor do que em tempos normais.
"O mercado de ciclo Otto será menor, vai ter queda de gasolina e etanol... Vai ter redução de demanda", disse Padua, destacando que o setor já produzirá menos etanol em função disso, ao mesmo tempo em que está elevando a produção de açúcar, fortemente demandada no mercado global.
O diretor técnico da Unica disse que a demanda por etanol nas usinas, que em abril ficou 34% abaixo do mesmo período do ano passado, melhorou, mas ainda assim há indicações de que as vendas do biocombustível tenham ficado entre 25% e 30% mais baixas em maio.
"Teve melhora em maio, mas ainda está muito distante do ano passado... Ano passado foram entregues 2 bihões de litros de etanol hidratado em maio, agora deve ficar entre 1,5 bilhão e 1,6 bilhão", comentou.
0 comentário
Be8 anuncia aquisição de usina de biodiesel em MT; produção no Brasil deve crescer mais de 40% em 2025
Vibra inicia oferta de SAF para aviação comercial no Brasil, com 2 voos diários na Bahia
Na COP30, a agricultura mostrou seu potencial para impulsionar uma verdadeira revolução de combustíveis sustentáveis na próxima década
Governo Trump pode adiar cortes nos créditos de importação de biocombustíveis
Para CNA, decisão do STF evita prejuízos ao RenovaBio
Alta do biodiesel pressiona preço do diesel: variação chega a 57% entre 2020 e 2025