Dólar dispara contra real e supera R$ 5,65 com preocupação fiscal

Publicado em 20/08/2020 09:30 e atualizado em 20/08/2020 11:07

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Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava contra o real nesta quinta-feira, chegando a superar a marca de 5,65 reais em meio a pessimismo dos investidores sobre a saúde fiscal do Brasil, principalmente depois que o Senado derrubou o veto que impede reajuste salarial de servidores.

Às 10:29, o dólar avançava 1,95%, a 5,6389 reais na venda. Na máxima do dia, a divisa saltou mais de 2%, a 5,6544 reais, maior patamar intradiário desde 21 de maio.

O principal contrato de dólar futuro subia 1,56%, a 5,647 reais.

O Senado derrubou na quarta-feira veto presidencial a projeto sobre reajuste salarial a categorias do serviço público durante a pandemia de Covid-19, medida que foi chamada de "péssimo sinal" pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

A proibição da concessão de aumentos havia sido estabelecida pelo governo como contrapartida ao auxílio federal de 60 bilhões de reais repassado a Estados e municípios para o enfrentamento da crise do coronavírus. A derrubada do veto ainda terá de passar por votação na Câmara dos Deputados.

"O clima está bem pesado", disse à Reuters Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. "Essa derrota ontem no Senado foi inacreditável. O principal risco do Brasil é o fiscal, e em meio a conversas sobre extensão do auxílio emergencial, isso vai continuar prejudicando as contas públicas."

"Se realmente a Câmara confirmar a derrubada desse veto, não acharia estranho ver o dólar voltar a buscar os 5,80 reais", completou, acrescentando que a confiança em Paulo Guedes é um fator que tem amparado a moeda brasileira.

A disparada do dólar acontece em meio a um cenário de incertezas políticas, depois que boatos sobre uma possível demissão do ministro da Economia abalaram os mercados.

Ainda que tanto Guedes quanto o presidente Jair Bolsonaro tenham desmentido os rumores, afirmando que seguirão juntos na administração e que o teto de gastos será respeitado, a cautela permanecia, principalmente no contexto da grave crise sanitária e econômica causada pela pandemia de Covid-19.

"Grosseiramente, poderíamos afirmar que 'está caindo a ficha', e, então, se constata que grande parte das projeções e perspectivas precipitadamente assumidas para construção de ambiente otimista não têm sustentabilidade, e que o país pode estar simplesmente insinuando o 'voo da galinha', disse em nota Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora.

"O dólar é o fator que demonstra mais imediatamente os reflexos de preocupação com o agravamento da questão fiscal e, assim, na medida em que aumenta a percepção de risco, repercute no seu preço e se descola do comportamento externo da moeda americana", completou.

Nesta quinta-feira, dentro de uma cesta de mais de 30 moedas de todo o mundo, o real registrava o pior desempenho em relação ao dólar. A moeda norte-americana operava em alta contra uma cesta de pares fortes.

Segundo Victor Beyruti, há expectativa de mais intervenções do BC diante do comportamento exagerado do real quando comparado a outras divisas emergentes. "O BC muito provavelmente deve anunciar intervenção, e o mercado vai precisar de mais proteção. O Banco Central tem tentado conter essa volatilidade devido às expectativas e pânico", mas não consegue, sozinho, levar o dólar de volta a um patamar mais baixo, comentou.

Nesta quinta-feira, o Banco Central fará leilão de swap tradicional de até 10 mil contratos com vencimento em março e setembro de 2021.

O dólar negociado no mercado interbancário fechou a última sessão em alta de 1,14%, a 5,5309 reais na venda, maior patamar desde 22 de maio.

Dólar sobe até R$ 5,6338 com dúvidas se Câmara vai derrubar veto a reajustes

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O dólar segue em firme valorização nesta quinta-feira, 20, e o mercado de câmbio não descarta nova intervenção do Banco Central. A cautela é reforçada pela dúvida se a Câmara irá derrubar decisão do Senado sobre reajuste a servidores públicos. O Senado derrubou o veto do presidente Jair Bolsonaro à medida que permite reajuste salarial para algumas categorias do funcionalismo público até o final de 2021. O desconforto é geral e apoia também a ampliação de "prêmios" embutidos nos juros futuros e a queda de cerca de 1,30% do Ibovespa futuro.

Em Nova York, o principal fundo de índice (ETF) do Brasil, o iShares MSCI Brazil (EWZ), recua no pré-mercado desta quinta-feira, refletindo o maior pessimismo do Federal Reserve (Fed) quanto à perspectiva de recuperação da economia americana após o choque do novo coronavírus. A tendência também se reflete nos futuros de Nova York, nas bolsas europeias e na Ásia, onde os mercados fecharam em baixa generalizada, após a China falhar em adotar estímulos monetários adicionais. Às 8h45, o EWZ registrava baixa de 2,18%.

Mais cedo, a ata da última reunião de política monetária do Banco Central Europeu indicou que a incerteza sobre perspectiva econômica permanece elevada e mais dados são necessários para avaliar trajetória futura da economia.

O revés do governo no Senado acontece em um momento crítico, de decisão sobre o encaminhamento do orçamento de 2021, e mostra que os interesses político-eleitorais do Centrão, aliado de ultima hora do presidente Jair Bolsonaro, se sobrepõem à defesa do ajuste fiscal pela área econômica.

Às 9h28, o dólar à vista subia 1,45%, a R$ 5,6098, após tocar em máxima a R$ 5,6338. O dólar futuro de setembro ganhava 0,95%, a R$ 5,6145, ante máxima a R$ 5,6355.

Senado deu "péssimo sinal" ao derrubar veto que limita reajustes de servidores, diz Guedes

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Senado deu um "péssimo sinal" ao derrubar na quarta-feira o veto do presidente Jair Bolsonaro a trecho de projeto que abria exceções à proibição de reajustes salariais de servidores públicos até o fim de 2021.

A proibição da concessão de aumentos foi estabelecida como contrapartida ao auxílio federal de 60 bilhões de reais repassado a Estados e municípios para o enfrentamento da crise do coronavírus. A derrubada do veto, que ainda terá de passar por votação na Câmara dos Deputados, deixa de fora da restrição categorias como as de profissionais de segurança pública, saúde, educação, agentes penitenciários e militares.

"O Senado deu hoje um sinal muito ruim permitindo que justamente os recursos que foram para a crise da saúde possam se transformar em aumento de salários, isso é um péssimo sinal. Isso tem efeito sobre a taxa de juros, muito ruim, muito ruim", afirmou Guedes a jornalistas na noite de quarta-feira. "Vamos torcer para a Câmara conseguir segurar a situação."

O ministro destacou que o veto foi feito pelo presidente em um momento decisivo, em que o país começa a se recuperar economicamente e está empenhado em dar um sinal de disciplina fiscal após despesas extraordinárias direcionadas à crise.

"Não pode o desentendimento político estar acima da saúde do Brasil na hora que o Brasil começa a se recuperar. Quer dizer, pegar o dinheiro da saúde e permitir que se transforme em aumento de salário de funcionalismo é um crime contra o país", disse o ministro.

Ele acrescentou, sem detalhar, que a iniciativa do Sendo pode gerar perdas de até 120 bilhões de reais.

O pacote de auxílio federal envolveu o repasse de 60 bilhões e reais a Estados e municípios e a suspensão do pagamento de dívidas dos entes com a União e bancos públicos, o que levou o valor total do pacote a 125 bilhões de reais.

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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