Escassez de soja, milho e trigo é a mais ampla dos últimos anos, explica Liones Severo

Publicado em 22/01/2021 10:40 e atualizado em 23/01/2021 09:29
Liones Severo - Diretor do SIMConsult
Serão necessários ao menos três anos de safras cheias para normalizar o cenário e equilibrar o quadro de oferta e demanda. Assim, preços obrigatoriamente voltarão a subir para ajudar a racionar o consumo.

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Entrevista com Liones Severo - Diretor do SIMConsult sobre o Mercado da Soja

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As baixas fortes e consecutivas que o mercado da soja na Bolsa de Chicago vem registrando nos últimos dias é um movimento natural e que já vinha sendo esperado, dada a velocidade da escalada das cotações nos últmos meses, como explicou o diretor da SIMConsult, Liones Severo, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta sexta-feira (22). Trata-se de uma perda acumulada de quase 6% na semana. 

No entanto, há uma latente necessidade de racionamento do consumo não só da soja em grão, mas do farelo e do óleo com preços que deveriam estar ainda mais elevados para que esse movimento se concretize frente a um quadro de oferta muito limitada. 

Os fundos investidores vêm carregando posições compradas recordes na oleaginosa, nos derivados, e também no milho e no trigo, o que os incentivou a aproveitar a oportunidade dos preços bastante altos para realizar lucros. Mas, "na medida em que eles atuam dessa maneira eles destroem a capacidade de racionar. E o racionamento é, exatamente, a necessidade de destruir o processamento industrial. E os fundos, nessa competição, atuam de forma diversa da necessidade do mercado de fazer esse racionamento", diz. 

Soja destacão

Serão necessários três anos, pelo menos, de safras de soja cheias para recompor os estoques globais

E o racionamento tem de acontecer. "Não vai ter mais soja no mundo para o mercado consumir e os preços vão subir", complementa Severo, afirmando que o mundo registra, atualmente, a mais ampla escassez de grãos - soja, milho e trigo - dos últimos anos. "A escassez soberana nos EUA é evidente e já reconhecida por todo mercado". 

Ao lado da oferta passando por uma rápida da drenagem, a demanda por soja registra um crescimento além de muito forte, também bastante rápido, intensificado pela recomposição dos rebanhos na China, o que consolida mais um sinal da necessidade de os preços refletirem esse quadro e, ainda como explica o consultor, os preços voltarem a subir. 

"E não deve demorar muito, porque não tem mais produto. O fundamento é o produto e não tem mais, é a lei natural do mercado. Temos que ter um pouco de calma porque o mercado também se constrói no tempo", explica Severo. E complementa dizendo as distâncias, tempos logísticos e custos também têm de ser considerados para a formação dos preços. 

Já há um déficit de ao menos 10 milhões de toneladas na oferta e serão necessários mais três anos, pelo menos, de safras cheias para trazer alguma normalidade e recuperação aos estoques. O diretor do SIM afirma ainda que a situação do milho pode ser ainda mais grave e apertada do que a da soja, o que se estende também para o trigo. 

"Eu considero esse momento com a escassez de produtos mais ampla de todos os tempos (...) O mundo tem que pagar para que se produza mais e conseguirmos alimentar essa população que está crescendo todos os dias. E vai pagar", diz Severo. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Elton Szweryda Santos Paulinia - SP

    Parabens, Carla, pela entrevista. Mas nao tem segredo, quem sabe, sabe... e o sr Liones é professor dos professores de comercializacao em materia de graos.

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    • Carlos Massayuki Sekine Ubiratã - PR

      Uma sugestão de leitura para quem gosta de ler: "A maré humana" de Paul Morland. A princípio parece que não tem nada a ver com o agronegócio, mas na verdade tem tudo a ver. O livro explica a evolução das populações e os movimentos migratórios ao longo da história em todo o planeta. Todos os países, na sua dinâmica demográfica, passam por fases que são mais ou menos parecidas. Em algum momento da história das nações, a melhoria das condições sanitárias com a conseqüente redução da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida, resulta em um aumento rápido nas populações, que só começam a se estabilizar e declinar quando a população feminina passa a participar do mercado de trabalho e, principalmente elas, chegam a um nível de educação que as capacita a gerar filhos de forma planejada. Essa explosão populacional já aconteceu na Europa e nas Américas na segunda metade do século passado, no chamado baby boom do qual nós, que temos mais passado do que futuro, fazemos parte. Também já aconteceu no leste da Ásia e atualmente está ocorrendo no oriente médio, no sul da Ásia e na África subsaariana. O Brasil recentemente foi ultrapassado pelo Paquistão, perdendo o posto de quinto país mais populoso do mundo e está prestes a perder a sexta posição para a Nigéria. A África que é o único continente além da América do sul que ainda tem possibilidade de expansão das áreas agrícolas está vivendo uma explosão populacional e vai ter que ampliar rapidamente a sua produção agrícola para atender a própria população ou vai se tornar também uma grande importadora de alimentos. Esqueçam a África como potencial exportadora de alimentos pelo menos em um futuro próximo.

      Existe algo de singular nessa escassez de soja, milho e trigo no mundo. Ela se deu muito mais pelo aumento de demanda do que por quebra de safra. Além do crescimento populacional, sabemos que o crescimento do poder aquisitivo também aumenta o consumo de alimentos, principalmente de proteínas. Tenho minhas dúvidas se essa falta de grãos vai se normalizar dentro de três anos. O mundo vai precisar de cada vez mais alimentos, com qualidade, segurança, alto valor nutricional e preço acessível.

      Não é à toa que estamos vendo notícias como a de que Bill Gates passou a ser o maior proprietário de terras agrícolas dos Estados Unidos ou que o senado aprovou a venda de terras para estrangeiros aqui no Brasil. Tem muita gente de olho no nosso negócio.

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