Restrições da Covid-19 travam comercialização de hortifruti no Brasil; alimentos mais perecíveis sentem os maiores impactos

Publicado em 19/03/2021 15:34 e atualizado em 21/03/2021 08:11
De acordo com o Cepea, impacto só não é maior porque oferta está controlada

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As recentes restrições impostas para conter a contaminação do Coronavírus vem impactando o setor de Hortifruti do Brasil. Segundo Marcela Guastalli Barbieri - Editora Econômica de Frutas do Cepea, praticamente todos os produtos acompanhados pelo Cepea apresentam algum tipo de dificuldade em avançar com a comercialização neste momento. A especialista destaca que a intensidade do impacto é diferente para cada produto, levando em considerção que muitos estão com a oferta controlada, e por isso, têm os impactos minimizados. 

Entre os produtos, se destacam os mais perecíveis como alface, mamão e tomate. "Está havendo limitações no funcionamento de alguns setores importantes compradores, como restaurantes, merendas, hotéis, entre outras. Além disso, apesar do varejo seguir funcionando, está com horários restritos e demanda limitada, o que também impacta no mercado", afirma. A especialista comenta ainda que os setores em questão só não estão sendo mais afetados porque a oferta do produto está controlada neste momento. 

Marcela destaca ainda que a crise econômica ocasionada pela pandemia da Covid-19 também restringe o comércio de maior valor agregado, como melão e uva, em um momento em que o mercado passa a focar em produtos considerados mais essenciais na alimentação. Devido ao cenário atípico, as cotações ficam pressionadas ao produtor, mas que como a entrega é limitada, comenta que ainda não há necessidade de movimentação ou alteração no trabalho do campo. 

"Porém, no ano passado, observamos que o varejo acabou concentrando boa parte do consumo e as exportações foram essenciais para algumas culturas, como manga, melão e uva, por exemplo, pra tentar dar uma "enxugada" de oferta no mercado interno", comenta. No cenário a longo prazo, a especialista destaca que o setor precisará aguardar o desfecho da pandemia no país. 

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, neste semana, Marcela destacou que o setor de maçã também sente os impactos da pandemia. De acordo com análise do Cepea, a demanda não está acompanhando a quantidade de fruta ofertada. "Isso porque as medidas de controle da covid-19 ainda mais restritiva em praticamente todo o Brasil, com restrições mais severas de funcionamento de escolas, cozinhas industriais e alguns serviços, por exemplo, retraíram a demanda", afirma a análise. 

Além disso, agentes relataram que, mesmo realizando descontos nos preços da maçã, os clientes varejistas, sobretudo de pequeno porte (como feirantes), têm comprado volumes limitados, com receio de dificuldade nas vendas diante das incertezas econômicas. Segundo Marcela, a expectativa é de uma retomada nos preços a partir do segundo semestre, com a expectativa de retomada na demanda e uma oferta mais restrita da fruta. 

foto cna hortifruti frutas
Retomada no setor deve acontecer no segundo semestre, à medida que a vacinação avança 

Veja o balanço semanal divulgado pelo Cepea 

Alface

Em relação à alface, o Cepea divulgou nesta sexta-feira (19) que as cotações tiveram leves reajustes. Algumas lavouras sofreram perdas por conta do sol forte, enquanto, em outras, a ocorrência de chuvas e granizo prejudicou a produção. Desta forma, a oferta mais restrita sustentou as cotações em melhores níveis, mesmo diante da baixa procura. A demanda dos supermercados e feiras, por serem atividades essenciais, foram os grandes responsáveis pelas compras na roça.

A crespa em Mogi registrou estabilidade (+0,99%) a R$ 21,93/cx com 20 unidades; a americana se elevou apenas em 1,00%, a R$ 21,64/cx com 12 unidades. Em Ibiúna (SP), a disponibilidade de produtos foi maior, e a menor saída pressionou os preços. A variedade crespa apresentou retração de 4,26%, custando R$ 15,00/cx com 20 unidades; a americana finalizou a semana valendo R$ 16,00/cx com 12 unidades, desvalorização de 3,03%. Para a próxima semana, os produtores apostam em manutenção dos valores das alfaces, caso a demanda de serviços essenciais do setor alimentício seja mantida, evitando baixas mais expressivas.

Manga

A manga palmer registrou o primeiro recuo de preços de 2021 nesta semana (15 a 19/03), à média de R$ 3,54/kg no Vale do São Francisco, queda de 7% em relação à última semana. A oferta continua restrita, mas agentes não descartam desvalorizações para as próximas semanas, visto a dificuldade no repasse dos preços altos ao atacado e ao consumidor. Além disso, no semiárido, maiores volumes passam a ser colhidos a partir da última semana de março, o que pode provocar queda gradual nos preços, em decorrência do aumento da oferta nacional.

Pesa negativamente sobre a demanda, também, as restrições de mobilidade ainda mais severas, que podem impactar o mercado desta variedade. O que pode trazer alívio e manter preços firmes é o cenário externo, visto que, com a redução dos volumes enviados pelo Peru à Europa, pode haver mais espaço para as mangas brasileiras.

Banana

Nesta semana (15 a 19/03), produtores consultados pelo Hortifruti/Cepea relataram que as vendas de banana deixaram a desejar no Norte de Santa Catarina. Isso porque as medidas mais rígidas contra o avanço da covid-19, que visam diminuir a circulação de pessoas, afetaram alguns setores compradores – como o mercado institucional, por exemplo, que está pedindo menores volumes. Houve comentários também de redução no volume solicitado por redes varejistas nos últimos dias. Porém, isso é considerado comum durante a segunda quinzena do mês, visto ao poder de compra do consumidor mais limitado no período.

Desta forma, mesmo com a oferta controlada na região, a banana nanica de primeira qualidade foi vendida na média de R$ 1,35/kg, valor 2% inferior a semana anterior. A prata litoral também apresentou recuo de 11% na mesma comparação, sendo comercializada por R$ 1,78/kg. A concorrência com outras praças, também, influencia neste cenário. Para a próxima semana, produtores acreditam que os preços de banana se mantenham, já que um aumento no volume demandado ainda não deve ocorrer por conta da proximidade de fim de mês e dos mesmos entraves citados acima.

Maçã

A colheita da maçã fuji está avançando nos pomares do Sul do País. E, apesar de ainda não haver grande volume da variedade para comercialização, uma vez que boa parte tem sido armazenada, os preços da fuji estão em queda nas regiões classificadoras em março. Vale destacar que a elevada oferta nacional de gala, a qual a colheita se aproxima do fim, também pressionou as cotações. A gala 110 Cat 1 foi vendida a R$ 64,53/cx de 18 kg na média das classificadoras na parcial do mês (1° a 19/03), recuo de 17% frente ao mesmo período de fevereiro – quando os preços já estavam em queda. Particularmente, nesta semana (15 a 19/03), foi cotada a R$ 61,87/cx de 18 kg.

De acordo com agentes consultados pelo Hortifruti/Cepea, junta-se a isso a demanda abaixo do esperado diante das incertezas econômicas atuais e da maior rigidez das medidas de combate à pandemia da covid-19, que afetou o funcionamento de algumas atividades. Além disso, a queda de preços no varejo, principalmente nos supermercados, ainda não ocorreu com a mesma intensidade que nas classificadoras, o que tem desestimulado o consumo. Para a próxima semana, ainda não há expectativa de retomada de preços da maçã, tendo em vista que a oferta deve permanecer elevada e a demanda, enfraquecida, com a proximidade do fim de mês.

Melancia

Como era esperado, os preços da melancia registraram nova alta nas roças nesta semana (15 a 19/03). Segundo colaboradores do Hortifruti/Cepea, o motivo foi a diminuição da oferta. Em Teixeira de Freitas (BA), a graúda (>12 kg) teve avanço de 29,7% em comparação com a semana anterior, sendo comercializada a R$0,89/kg. Nas regiões de SP, que já apresentavam preços elevados, a de mesmo calibre foi cotada em média a R$ 0,88/kg, valor 5,8% superior nas mesmas comparações. Em ambas as praças, o preço máximo chegou a R$ 1,00/kg.

No atacado, os preços também continuam em alta, com a fruta de mesmo calibre sendo vendida por R$ 1,72/kg. Mesmo com a alta nas cotações, atacadistas relatam menor demanda, apesar das altas temperaturas nas principais regiões consumidoras, por conta das medidas mais restritivas quanto à circulação e abertura de comércios. Para as próximas semanas, há expectativa de manutenção de preços altos nas praças produtoras, principalmente por conta da diminuição na oferta das frutas baianas e menor área destinada à safrinha paulista.

Cebola

Nesta semana (15 a 19/03), pela terceira vez consecutiva, as cotações de cebola em Ituporanga (SC) recuaram, atingindo a média de R$ 1,77/kg ao produtor (-10,1%), enquanto em Lebon Régis (SC), fecharam a R$ 2,03/kg, com leve recuo de 2%. Mesmo com a oferta controlada, o agravamento da pandemia e as medidas mais restritivas contra a covid-19 impostas pelo governo neste mês resultaram na diminuição das comercializações.

O preço mínimo do bulbo em Ituporanga foi de R$ 1,50/kg ao produtor, o que prejudicou alguns comerciantes da região, não cobrindo seus custos, uma vez que adquiriram a mercadoria nas semanas anteriores por valores maiores. Além disso, alguns produtores relataram redução da compra por parte dos atacados em função do baixo fluxo de vendas. Diante da redução dos preços, parte dos cebolicultores deixou de vender cebola nesta semana, o que deve fazer com que o maior volume para ser escoado de março a abril seja um pouco maior que o esperado anteriormente.

A expectativa é de que no próximo mês a oferta nacional se eleve, uma vez que as praças de Irecê (BA) e do Vale do São Francisco (PE/BA) intensificarão a colheita da safra 2021. Mesmo com as restrições e a maior disponibilidade nacional, o cenário ainda é favorável ao produtor.

Batata 

Na parcial de março (1° a 17/03), os preços da batata lavada tipo ágata estão em R$ 84,75 (ponderado pela classificação), na média das lavadoras do País, valor 2,4% abaixo dos de fevereiro/21 – os quais se encerraram em R$ 86,87 (ponderado pela classificação). Os primeiros 10 dias deste mês, conforme o previsto, foram marcados por alta nos valores do tubérculo, devido à desaceleração da oferta da safra das águas.

Porém, desde então, o mercado de batata tem registrado tendência de queda nos preços, sobretudo pela demanda mais lenta, após as novas medidas restritivas impostas para a contenção do avanço de casos da covid-19. Além disso, problemas na qualidade também vêm sendo relatados em parte do que é ofertado, devido à requeima, canela-preta e lenticelose.

Para o decorrer desta safra, a tendência é que a oferta continue se reduzindo, à medida em que a temporada se aproxima do final. Entretanto, a menor demanda pode continuar se sobrepondo à redução na oferta, pelo menos em março, período que ainda registra colheita expressiva da safra e, que, ao que tudo indica, poderá ter restrições ainda mais rigorosas quanto ao funcionamento do comércio. Já a partir de abril, a redução no volume de batata deve ser maior.

Preços de tomate e batata apresentam tendência de queda em março no atacado (Conab)

As cotações desses produtos já tiveram queda em fevereiro nas Ceasas do país, conforme a Conab

Levantamento de preços da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que os preços da batata e do tomate devem continuar em trajetória de queda no mês de março.

De acordo com o 3º Boletim Prohort, divulgado nesta quinta-feira (18), os preços desses alimentos já apresentaram baixa em fevereiro nas principais centrais atacadistas do país. Em São Paulo, a cotação do tomate chegou a uma queda de 26%. Já o tubérculo teve uma redução ainda maior: perto de 52% no Rio de Janeiro.

“O ritmo acelerado de colheita da safra das águas, verificado em fevereiro e esperado para março, especialmente na sua primeira quinzena, tenderão a pressionar os preços do tubérculo [batata] para baixo”, explica o boletim.

Segundo a Conab, a oferta de tomate deve reduzir em março em razão das condições climáticas. Outro produto com tendência de queda de preço é a maçã gala por causa do aumento da colheita e a procura regular pela fruta. Em relação à melancia, apesar da menor busca da fruta em fevereiro, os preços não tiveram impacto. Uma boa alternativa para escoar a produção tem sido a exportação, principalmente das minimelancias cearenses e potiguares.

Por outro lado, conforme o boletim, a cebola continua com valores em alta. A concentração da oferta no Sul e a importação do bulbo influenciam no aumento do produto.

>> Acesse o Boletim Hortigranjeiro Março 2021

 

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Tags:
Por:
Virgínia Alves
Fonte:
Notícias Agrícolas/Conab

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